Drops – Ardbeg Kelpie

Minha filha estava estudando folclore brasileiro na escola. Ontem, ela veio me contar que seu animal folclórico preferido é o Saci. Faz sentido, pensei, já que ela não para quieta por um segundo sequer, e adora aprontar com tudo e todo mundo. Aí ela me perguntou qual era o meu preferido. E eu, para não dar uma resposta genérica sem graça e também ensiná-la algo novo, resolvi pesquisar. Recorri ao google. E não é que nosso folclore realmente é riquíssimo? Além dos conhecidos boto, curupira, lobisomem, mula e saci, há uma pletora de seres fantásticos que eu jamais poderia imaginar que existissem. Um deles é a Pisadeira. A pisadeira é uma velha que pisa na barriga das pessoas enquanto elas dormem, e causa falta de ar. Especialmente quando as pessoas comeram demais à noite. Olha, quando eu era criança, devo ter dado um belo trabalho pra essa tal Pisadeira. Mas não é apenas o Brasil que possui criaturas folclóricas, claro. Todos os países têm, e a Escócia não é exceção. Por lá, uma das lendas mais conhecidas é o Kelpie. O Kelpie é um espírito que muda de forma, e habita os lagos escoceses. Normalmente, toma forma de um cavalo. […]

Ardbeg An Oa – Sobre o Caos

Sabe, eu não acredito muito em destino. Na verdade, é bem o contrário. Acho que estamos aqui bem por acaso, que o mundo é um enorme caos que tende, cada vez mais, à entropia. Arrumar é mais difícil que bagunçar, encontrar é mais penoso do que perder. As coisas naturalmente se deterioram, ainda que, implacavelmente, tentemos conservá-las. É um movimento antinatural, em um universo que não é muito mais do que uma enorme bagunça. Destino é meramente coincidência. Deixe-me explicar, sem soar pedante ou descrente, com uma metáfora bem imbecil. O destino é uma espécie de roleta de cassino. Quando a bolinha estaciona em uma casa que não apostamos, simplesmente ignoramos o resultado. Não há reconhecimento. Porém, se ela porventura acabar naquela que elegemos, bem, aí nos deslumbramos com o destino. Reconhecemos que aquela bolinha e nós estávamos predestinados àquele resultado. Mas vou assumir algo aqui. Ainda que eu acredite nisso na maioria das vezes, em poucas delas, é realmente difícil aceitar que não existe qualquer espécie de destino. Uma delas aconteceu comigo há poucas semanas. Havia marcado uma viagem à Escócia, para visitar as destilarias de Islay. Sem qualquer razão específica, apenas curiosidade. No dia do meu embarque, soube […]

Dádiva Odonata #5 – Nossa própria cerveja maturada em barris de single malt!

Quando comecei a escrever o Cão Engarrafado, não sabia muito o que havia pela frente. Mas imaginava algumas coisas. Previa que – se tudo desse certo – em algum ponto do percurso guiaria alguma degustação de whiskies. Imaginava também que, invariavelmente, conheceria muita gente. O que não é necessariamente bom, porque como uma vez disse Sartre, o inferno são os outros. Sabia, no entanto, que – em certos casos excepcionais – teria contato com gente bacana. Tinha certeza de que descobriria uma centena de maltes apaixonantes, e provaria outros que não seriam muito além de medíocres. Sabia que beberia um pouco demais e gastaria além da conta. Em meus delírios mais sofisticados, antevia que poderia elaborar a carta de whiskies de certo bar ou restaurante. Todas essas coisas, apesar de bastante longínquas há três anos, me pareciam estágios do desenvolvimento de um blog sobre um assunto tão incrível quanto whisky. Mas uma coisa que jamais poderia prever, nem em meus devaneios mais estratosféricos, é que assinaria e faria parte do desenvolvimento de uma cerveja. Mas foi exatamente isso que aconteceu recentemente com este Cão. Há alguns meses fui convidado por Victor Marinho – mestre cervejeiro da Dádiva – para participar […]

Johnnie Walker Blender’s Batch Red Rye Finish

Esses dias estava lendo sobre o AVE Mizar. Uma invenção ridícula, que entrou nos anais da história como como o famoso Pinto voador que matou seu inventor. O Mizar – assim como a rima cretina aliada ao trocadilho ridículo – era a prova de que a soma entre duas coisas ruins sempre resulta em algo muito pior. A ideia já era risível desde o começo. Um carro alado, resultado da fusão entre a estrutura de voo de um Cessna Skymaster e um Ford Pinto, um carro medíocre mesmo sem um par de asas. Seu inventor, Henry Smolinski, sonhava que quando o produto decolasse – figurativamente falando – todos pudessem ter seu automóvel voador. Tanto é que ele, ao se referir à invenção, dizia de uma forma indesculpavelmente misógina “até uma mulher vai poder combinar, ou separar, os dois sistemas sem qualquer ajuda”. Por sorte, o projeto morreu com seu inventor. Durante um voo de teste pilotado pelo próprio Smolinski, uma das asas se soltou do carro, que despencou dos céus e ainda explodiu sobre um caminhão. Mas mesmo se o voo tivesse dado certo, todo o resto estava completamente errado. O Mizar foi uma das experiências mais malsucedidas da aviação. […]