Johnnie Walker Blender’s Batch Red Rye Finish

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Esses dias estava lendo sobre o AVE Mizar. Uma invenção ridícula, que entrou nos anais da história como como o famoso Pinto voador que matou seu inventor. O Mizar – assim como a rima cretina aliada ao trocadilho ridículo – era a prova de que a soma entre duas coisas ruins sempre resulta em algo muito pior.

A ideia já era risível desde o começo. Um carro alado, resultado da fusão entre a estrutura de voo de um Cessna Skymaster e um Ford Pinto, um carro medíocre mesmo sem um par de asas.

Seu inventor, Henry Smolinski, sonhava que quando o produto decolasse – figurativamente falando – todos pudessem ter seu automóvel voador. Tanto é que ele, ao se referir à invenção, dizia de uma forma indesculpavelmente misógina “até uma mulher vai poder combinar, ou separar, os dois sistemas sem qualquer ajuda”.

Por sorte, o projeto morreu com seu inventor. Durante um voo de teste pilotado pelo próprio Smolinski, uma das asas se soltou do carro, que despencou dos céus e ainda explodiu sobre um caminhão.

Mas mesmo se o voo tivesse dado certo, todo o resto estava completamente errado. O Mizar foi uma das experiências mais malsucedidas da aviação. Por conta do tamanho, o automóvel tornou-se ainda menos manobrável. E devido ao peso, ele também não conseguia voar direito.

Sério, que coisa mais ridícula.
Sério, que coisa mais ridícula.

E este é o risco que se corre ao tentar criar algo que alegadamente serve para tudo, mas, na verdade, não é excelente em nada. Um risco que Jim Beveridge, master blender da Johnnie Walker, e sua equipe correram ao tentar elaborar o recém-chegado ao Brasil Johnnie Walker Blender’s Batch Red Rye Finish. Um blended scotch whisky que promete funcionar tão bem na coquetelaria quanto um Rye Whiskey, mas que não faz feio ao ser consumido da forma tradicional.

O (doravante denominado) Red Rye é composto de apenas quatro whiskies, entre single malts e whisky de grão, maturado em barricas de primeiro uso que antes continham Bourbon whiskey e – como você pode ter deduzido pelo nome gigante – finalizado em barricas de whiskey de centeio. Sua base é o single malt Cardhu, e entre os ingredientes está o grain whisky da destilaria Port Dundas, demolida em 2011.

O Johnnie Walker Blender’s Batch Red Rye Finish é o resultado de mais de cinquenta experimentos, explorando duzentas e três amostras de whisky. Ele é o primeiro da série Blender’s Batch, que no futuro contará também com o Bourbon Cask and Rye Finish e o Triple Grain American Oak.

A vocação para coquetelaria do Red Rye fica clara em uma peça publicitária lançada pela Johnnie Walker, chamada Blenders’ Batch – Emma’s Red Rye In New York (assista aqui). Nela, Emma Walker – cujo sobrenome parece até mesmo uma prova da existência do determinismo – master blender da marca escocesa, viaja a Nova Iorque para comparar o Red Rye aos whiskeys americanos. Nela, os bartenders e mixologistas da metrópole, como Dave Arnold, comparam coquetéis criados com Rye Whiskey e o Red Rye.

O veredito é unanime. O Johnnie Walker Blender’s Batch Red Rye Finish está longe da inépcia do AVE Mizar. O whisky funciona muito bem puro, mas substitui o rye whiskey na coquetelaria com uma improvável e admirável eficiência. E a humilde opinião deste canídeo não diverge muito. Ainda que o Red Rye careça um pouco daquele sabor de especiarias característico dos whiskeys norte-americanos de centeio, o resultado final em um drink se aproxima muito deles.

Manhattan ou Rob Roy?
Manhattan ou Rob Roy?

Em comparação ao – também experimental – Johnnie Walker 10 anos Rye Finish, já revisto nestas páginas, o Red Rye é muito mais adocicado e suave. Há um certo aroma floral, e o característico defumado da Johnnie Walker, se estiver lá, é praticamente imperceptível.

De acordo com seu criador, Jim Beveridge, o “Red Rye é inspirado em minha fascinação pelos sabores vigorosos dos whiskeys americanos que me foram apresentados quando trabalhava com bourbons e ryes em Louisville, Kentucky, há mais de vinte e cinco anos (…) ao produzir um blended scotch whisky, gostamos de pensar na perspectiva do bar, garantido que os bartenders tenham líquidos perfeitos na mão, que possam ser servidos puros, on the rocks, ou como base de algum coquetel irrepreensível – como é o caso do Manhattan de Red Rye da Emma.

Se você ficou interessado, pode comemorar. O Johnnie Walker Blender’s Batch Red Rye Finish já está disponível no Brasil, e seu preço médio é de R$ 170,00 (cento e setenta reais) para a clássica garrafa retangular de setecentos mililitros.

Para os amantes da coquetelaria e os admiradores da marca do andarilho, o Red Rye é um whisky que vale a pena ser provado. E por ser versátil e não muito custoso, é também o artigo ideal para seu bar de casa. É quase como um carro voador. Mas, ao contrário deste, o Red Rye realmente tem tudo para decolar.

JOHNNIE WALKER BLENDER’S BATCH RED RYE FINISH

Tipo: Blended Whisky sem idade definida (NAS)

Marca: Johnnie Walker

Região: N/A

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: Mel, açúcar mascavo, floral. Pouquissimo agressivo no aroma.

Sabor: Mel, frutas vermelhas, açúcar mascavo. Finalização média, progressivamente mais adocicada, com canela e mel.

Disponibilidade: disponível no Brasil

59 thoughts on “Johnnie Walker Blender’s Batch Red Rye Finish

  1. Caro Maurício, descobri o JW Red Rye Finish ontem, por acaso, na prateleira de uma rede de supermercados aqui onde moro. Comprei por R$ 116,90 e logo fui prová-lo. É delicioso! Tem sabor e doçura de rye whiskeys, mas sem a picância das especiarias tradicionais de um american rye. Esse é pra brincar com os amigos na degustação sem mostrar a garrafa. Ninguém vai dizer que é um Johnnie Walker. Foi uma ótima surpresa, gostei muito!

    1. Opa, que legal! E o preço está ótimo, hein?

      Faça aí um teste com o pessoal – coloque ele, e depois faça eles compararem com algum bourbon (Bulleit seria perfeito). O pessoal provavelmente vai ficar confuso…rs

      1. Consegui ele pela internet, pela loja virtual oficial da Johnnie Walker no Mercado Livre, por míseros R$ 77,00 e ainda vem na caixa, com Nota Fiscal e tudo! Vale muito a pena!! Se quiserem deixo o link.

          1. Conheço esse mercado não, Zé Roberto, ele fica atrás ou na frente?

        1. chegou até no nordeste.
          comprei por 96 reais em natal.
          comprei varios no extra via internet bem mais barato, salvo engano, 82 reais mas com o frete termina ficando quase a mesma coisa, exceto se comprar mais alguns outros e terminar barateando o frete. tem buchanan’s num preço bom lá.

          1. ops parece q confundi. lamento aí o equivoco. vcs falavam do Bourbon Cask & Rye Finish.
            eu falo do JW Red Rye Finish.

  2. Como vai, Doutor?
    Me interessei por ele, mas me interessei bem mais pelo Rye Finish.
    Mas entendo que a tendência é buscar algo que agrade a maioria.

    Grande abraço!

    1. Grande Felipe. Então, eu também. Na verdade, eles aparentemente são o mesmo whisky – só que o Rye Finish (rotulo verde) tem graduação alcoolica maior. Posso estar errado, mas comparando os dois, o sabor é muito semelhante.

  3. Olá mais uma vez Maurício. Mais um rótulo que com certeza, quando encontrar, vai para minha coleção. Meus preferidos, sem dúvida, são os whiskies da Johnnie Walker. O JW Red Label ainda é um dos meus favoritos, porém de toda a “prole” o que mais me identifico é o JW Double Black, questão de gosto hehe… Abraços!

  4. bom dia a todos, vou ter que experimentar pra saber se realmente é bom mesmo depois deixo a minha nota.

    1. Fabrício, em SP, no Rei dos Whiskies e Varanda das Frutas. mas fica de olho que já já aparece online em algum canto!

      1. Muito obrigado!! Achei em São Carlos na casa Deliza… loja que conta com uma variedade bem legal de bebidas.
        Abraços!!!

  5. Olá meu camarada! Seus post’s como sempre muito interessantes. Resgatou a te o quase imemorável “pinto” kkkkk hoje vi o red rye em um supermercado de Natal/RN por 111,00. Quase comprei (pq nao resisto a nocidades hehehe) mas lembrei q nao costumo gostar de produtos da JW…. daí devolvi para a prateleira…. agora ao ler seu post estou reconsiderando…talvez eu dê uma chance e compre amanhã. Sendo bem objetivo, por favor me responda c sinceridade: tendo em vista doçura, notas florais e tudo mais, vc considera o Red Rye uma melhor compra do que o Gold Label? Obrigado pelas informacoes.

    1. Fala Tio (hahaha!)!

      Sinceramente, eu acho o Red Rye um whisky mais versátil e mais corajoso. O Gold Label é bom, mas é muito puxado para o mel, e o sabor muito suave nem sempre funciona bem com coquetelaria (quer dizer, quase nunca funciona na minha modesta opinião). E por metade do preço do douradinho, eu não teria dúvidas em ficar com o Red Rye. Mas, mais uma vez, isso é uma questão de gosto. O Gold Label é mais “licoroso”, enquanto que o Red Rye é mais seco. Os dois são muito suaves e pouquissimo agressivos!

      Abraços!

  6. Boa tarde!!!! Achei aqui em Curitiba, no mercado Big, por 115,00. Vou provar e logo posto o que achei!! Preço muito bom!!!

  7. Boa noite. Achei em uma rede de supermercados aqui na minha cidade por R$68,00, só não comprei mais pq só tinha um. Top demais!

  8. Meu caro! Tem alguma informação sobre o próximo da linha blenders batch?

    Valeu!!

    1. Thiago, sobre a chegada aqui no Brasil, nada. Mas é provável que venha com alguns meses de atraso. O Blenders Batch 1 fez bastante sucesso!

  9. Comprei hoje no supermercado Hiper Bompreço (Walmart) aqui em Maceió/AL por 89,90. Ainda irei provar, mas lendo esse artigo já sei que devo gostar.

  10. Comprei hj , no hiper Condor 89,90. Não provei ainda, mas Pelos comentários é parecido com o Jackie Daniels honey

    1. Não, não, totalmente diferente. O Jack Honey é um licor de mel com base de whiskey americano. Este é um bleded whisky escoces finalizado em barricas de carvalho americano que antes contiveram rye. Tem um certo dulçor, mas bem mais discreto. Vale experimentar!

  11. Cão, vi uma coisa q n gostei…. Corante caramelo i na composição….

    Fora isso goste e axo q funcionou bem com gelo

    1. Gui, o corante caramelo está em praticamente todos os blended whiskies do mercado. Na verdade não é para tornar o visual mais atrativo, ainda que isso aconteça. Mas é por uma questão de padronização. Pensa que a fórmula do Black Label, por exemplo, muda ao longo do tempo. Ela dependerá dos estoques de whisky disponíveis, e isso é algo que muda bastante. A prioridade deles é o perfil de sabor, que deve permanecer inalterado. Assim, por exemplo, se falta Caol Ila para dar o perfil enfumaçado, eles podem trocar por algo menos enfumaçado (um talisker por exemplo) e aumentar sua proporção. O problema é que, neste caso, o sabor será bem parecido, mas a cor mudará. A forma de padronizar isso também é o uso do corante.

      Eu sei que isso é um papo bem polêmico, mas tenho minhas dúvidas que percebemos o sabor do corante. Ele é amargo, mas é usado em quantidades tão pequenas, que dificilmente pegaríamos. Acho que o maior problema é a trapaça – um whisky bem escuro às vezes tem pouquíssimo tempo de barril. Uma coisa não corresponde a outra. Cabe a nós, apreciadores, entender a produção e as características de cada um para não sermos levados pelas aparências.

  12. Bom amigos, aqui vai uma pergunta de um cara que começou a entrar nesse universo de whisky recentemente, e recentemente adquiri Johnnie Red Rye Finish, gostei do sabor (puro), ainda não testei drinks com o dito cujo, então se mais delongas, vcs tem sugestões de drinks para se usar o whisky? E quais whisky vcs recomendariam para um mero iniciante nesse universo?

  13. Adote o sabor leve e aveludado.
    Mas fiquei intrigado pq todos os fabricantes resolveram adotar a embalagem de 750ml. Prefiro o tradicional litro.

    1. Caro Manoel, é simples. Você produz 4 litros de whisky, coloca em garrafas de 1 litro e vende por 100 reais cada. Receita de 400 reais. Ou você usa garrafas de 750ml e cobra um pouquinho menos – 90 reais. Só que 4 litros rende 5 garrafas, e ainda sobra 250ml. Receita de 450 reais, mais a fração que será destinada aos proximos 4 litros. É muito mais rentável. Existem destilarias/marcas que usam garrafas ainda menores, de 700 ou 500ml.

  14. Maurício, uma coisa me intrigou neste uísque. Tive a oportunidade de comprá-lo pois gosto muito dos uísques JW. A primeira vez que o tomei, foi junto de um amigo, senti um amargor acentuado bem agressivo no seu sabor, mas interessante ao mesmo tempo. Na segunda vez que o tomei, com o mesmo amigo, quando bebi a primeira dose, senti uma suavidade e um leve adocicado, bem diferente da primeira vez. Meu amigo quando tomou também até comentou: “Ele está bem suave, diferente da outra vez!”. A que se deve esta questão? Abraço!

    1. Thales, pode ser uma série de coisas. O tempo que ficou no copo, a temperatura, se vocês beberam (ou comeram) algo antes ou até mesmo o humor.

      Vou explicar o mais fácil – tempo. Com o tempo de copo, a bebida fica menos agressiva, e o que resta é a picância da madeira, mas não do álcool. Pode ter sido isso?

      1. Nós bebemos assim: Abro o uisque, sirvo no dosador, ponho no copo e a pessoa bebe. Há um intervalo de uns 20 segs entre eu servir e beber o uísque.

  15. Bem… Descobri o site hoje, juntamente com a bebida, paguei R$ 50 reais (Big “Black Friday”) em 750ml… Ainda não experimentei, porém gosto de ter variedades… Irei explorar mais o site e retornarei com a minha avaliação.

    1. Bom dia, Lucas. Ele não tem idade declarada – ou seja, o mínimo, pela lei escocesa, é 3 anos.

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