The Glenlivet 21 Anos – Tríade

Tese, antítese, síntese. Passado, presente, futuro. Corpo, mente e espírito. O número três tem um tipo de prestígio estranho — ele sempre aparece, sem muita explicação, e de forma natural. Eu, aqui, já coloquei três exemplos de três coisas. E foi quase sem querer, só porque meu instinto parassimpático de escrita relembra minha professora de português do ginásio. A cadência fica sempre melhor com três – dizia. O primeiro primo ímpar é também a base de muita coisa. Com três pernas, um banquinho não balança; com três atos, uma história não desaba. Cada pé, uma parte – começo, meio e fim. Ou, na formalização aristotélica, prótase, epítase e catástrofe. Não sem relação, a mesma estrutura aparece graficamente nos antepassados das histórias em quadrinhos: os trípticos medievais. Por fim, séculos depois, Joseph Campbell – que recentemente estudei, para um devaneio no Caledonia – pegou o mesmo esqueleto e rebatizou de Partida, Iniciação e Retorno, em sua famosa Jornada do Herói. A estrutura tripla é irrepreensível. Grego, medieval ou moderno; ateu ou religioso, o público tem o horizonte de atenção de um ouriço. E eu aqui, no terceiro parágrafo de tergiversação, já corro o risco de perder quem só veio para beber, […]

Royal Salute Miami Polo Edition – Jardinagem

Quando eu tinha uns treze anos, viajei com meus pais para Miami. E eu adoraria dizer que lembro-me de descer Miami Beach numa Ferrari Daytona preta, à la Miami Vice, ouvindo a música do Will Smith ou do LMFAO, enquanto apreciava a bela arquitetura Art-Decô das boates daquela praia. Mas eu não fiz nada disso. O que eu fiz foi falar portunhol com todo mundo – ainda que tentasse antes o inglês – e comer horrores. Lembro-me também de passar horas entediado, ao lado do meu pai, em alguma Wallgreens, enquanto minha mãe se regojizava entre os milhares de cremes e maquiagens. Então, não vou falar da minha fastidiosa viagem. Mas vou falar de uma coisa que todo mundo gosta em Miami – e em todo lugar, pra falar a verdade. Ficar pelado. Aliás, vi uma matéria recente no Miami Herald que a cidade foi nomeada a Capital da Jardinagem Nua da América. A honra foi concedida pelo site LawnStarter, especializado no cultivo de plantas. O prêmio decorreu de uma extensa pesquisa em mais de cem cidades, capitaneada pelo portal. E descobriu-se que os habitantes da maior capital brasileira fora do Brasil amam utilizar grandes tesouras de jardinagem ao lado […]

The Macallan 25 – Bolo Real

Abro, com o cuidado de quem desarma uma bomba, a fatura de meu cartão de crédito. O fim do ano não ajudou. Faço uma apostinha mental: se for menor que certo valor, fico sem beber hoje. Confiro o número com perplexidade. Clonaram meu cartão – sussurro, severamente, para minha esposa. Não é isso não, é que eu passei o cabelo e a maquiagem da festa de fim de ano nele. Pisco de incredulidade. Mas a turma da maquiagem usou fulerenos endoédricos pra fazer o brilho e justificar esse preço? O que sucedeu foi uma discussão conjugal que culminou numa reflexão óbvia, mas necessária. Cada um tem uma percepção diferente de valor das coisas. Pra mim, é um absurdo pagar o equivalente às reservas de capital de Honduras em uma maquiagem. Mas beber este valor é justificável. E tem gente ainda mais louca. Teve um cara que pagou 7.500 (sete mil e quinhentas libras) por um pedaço de bolo de frutas do casamento da Kate com o Príncipe William. Isso foi em 2014, três anos depois do casamento. Aliás, bolos de frutas e whisky tem vários pontos de tangência. O perfil de sabor é um deles. Outra coisa, é que bolos […]

Royal Salute 21 The Lost Blend – Das distinções

Em julho deste ano viajei, a convite da Royal Salute, para a Coréia do Sul, para provar o novo portfólio permanente da marca. E me surpreendi. Tanto com os whiskies quanto o país. É que a Coréia do Sul, para falar a verdade, é bem parecida com a gente. Lá tem tudo que tem aqui, mas as coisas são um pouquinho diferentes. Por exemplo, no prato, tem frango, carne, peixe. Mas o tempero é outro. E não tem muito feijão. Mas quase virtualmente em toda refeição tem alguma coisa de kimchi. Na nossa superstição, o número treze dá azar. Lá, é o quatro. As ruas não tem muitas palmeiras por lá, mas são cheias de cerejeiras. Na Coréia do Sul, quase todo mundo usa maquiagem, e tudo bem. Os semáforos falam e fazem um barulhinho engraçado quando você atravessa a rua, sei lá por que. E as pessoas usam máscaras contra poluição. E a língua, bom, a língua é totalmente e desesperadoramente diferente, a ponto de eu não saber nem como falar sim e não ou pedir pro taxista me levar pro hotel, porque, quando eu pedi, ele entendeu outra coisa e me deixou em um bar. O que até […]

Chivas 25 anos – Arquitetura Orgânica

“Menos é mais somente quando mais é demais“. A máxima, quase um trava-línguas, é de Frank Lloyd Wright, e uma provocação a Mies van der Rohe e a Bauhaus. O renomado arquiteto acreditava que a forma deveria acompanhar a função. Wright também dizia que cada projeto deveria ser individual, de acordo com sua localização e sua finalidade. As edificações projetadas por Wright são sofisticadas e belas, mas de uma sofisticação orgânica, quase natural. É como se fizessem parte do ambiente, e dele tivessem nascido e evoluído. Uma de suas obras mais célebres é o museu Guggenheim, em Nova Iorque. Ele foi projetado e construído entre 1943 e 1959 – seis meses após o falecimento de Wright. Linhas infrequentemente retas e uma rampa que lhe serve de espinha dorsal – e que também permite que o visitante vá, aos poucos, experimentando e descobrindo o prédio – o fazem incrivelmente impactante.  Até hoje o Guggenheim continua como um dos mais expressivos prédios da metrópole, ao mesmo tempo orgânico e impactante para sua localização. Se fosse um whisky, o museu Guggenheim provavelmente seria o Chivas Regal 25 anos. Sofisticado, mas ao mesmo tempo equilibrado e harmônico. E, assim como o museu, com seus […]

O Cão Explica – Por que whiskies (muito envelhecidos) são caros

  No ano passado, tive a oportunidade de fazer algo que jamais imaginaria. Provar um whisky com mais de cinquenta anos de idade. Foi no último dia do Whisky Show, em Londres. Eu estava ao lado de um dos quiosques dessas engarrafadoras independentes – mais especificamente, a Gordon & McPhail – quando ouvi uma rolha sendo aberta. Precisamos terminar com as doses dessa garrafa, ouvi do expositor, dirigindo-se para seu colega. A garrafa era um raro Glen Grant 1949, engarrafado em 2007. Ao meu lado, reunia-se uma meia dúzia de apaixonados por whisky que, assim como eu, tiveram a sorte de estar no lugar certo e na hora certa. Estendi minha copita. Que delícia, ouvi de um dos aficionados. Nossa, realmente, acho que é um dos melhores que já provei, veja esse final carnudo, disse outro. Uma senhora, à minha frente, porém, não parecia impressionada. Interessante, muito obrigado. E sorriu em direção ao expositor. Tive que interrompê-la. O que achou do whisky? Bem, acho incrível o que cinquenta anos pode fazer com um destilado. E, mais uma vez, sorriu com toda aquela enigmática elegância inglesa. Dei mais um gole e refleti. Pois é. A oportunidade de provar assim é incrível. […]

Luxo Portátil – The Trunk by The Macallan

O pôr do sol projetado em feixes, atravessando as diminutas janelas de um enorme hangar. Em seu interior, jatos executivos, helicópteros e automóveis de luxo, dividindo espaço com elegantes homens de terno. No porta-malas de um esportivo, uma belíssima caixa de couro, contendo três garrafas de single malt The Macallan e um curioso aparato cor de cobre. Pode parecer o prólogo de algum filme de James Bond. Se fosse, no entanto, os homens estariam armados. Aquela curiosa peça de metal maciço provavelmente seria uma ogiva nuclear, pronta para aniquilar a cidade. E todos estariam tensos, aguardando a chegada do agente menos secreto do mundo. Mas lá não havia nenhuma tensão. Aliás, muito pelo contrário. Todos pareciam relaxados, e conversavam animadamente com copos de whisky na mão. Porque aquilo não era um filme de espião. Era o Hangar Passaro Azul em Congonhas. Foi lá que aconteceu o lançamento de um exclusivíssimo kit da The Macallan na última quarta-feira, dia 22 de fevereiro. O The Trunk, um baú de madeira produzido artesanalmente, revestido de couro nobre e alcântara em seu interior. Interior, aliás, recheado de maravilhas. O The Trunk contém um Ice Ball Maker – uma peça metálica capaz de moldar os famosos gelos esféricos, perfeitos para gelar a bebida, […]