Sazerac Rye – Herança de homônimos

Talvez você não tenha notado o cabeçalho deste site. Ou, talvez, entrado por um link, direto nesta matéria. Neste caso, recomendo que clique no “home” e contemple a foto. Aí depois, volte aqui. Esse cara peludo aí é o Sazerac. Ele é carioca, residente em São Paulo. Tem seus sete anos, vinte e seis quilos, e – como o tutor – um apetite voraz por tudo que parece, remotamente, comestível. Quando ele era jovem, uma vez, comeu uma zamioculca inteira. Vaso incluído. O Sazerac ganhou este nome por causa de um drink, que é o preferido deste Cão. Quero dizer, meu, não dele, porque óbvio que ele não bebe (note que, a título de desambiguidade, usei “deste”, e não “desse”). Mas o que é mais legal é que o Sazerac só se chama Sazerac por causa do Sazerac drink, que só se chama Sazerac por causa do Sazerac Rye, que só tem esse nome por causa de uma “coffee house” homônima, em Nova Orleans. Que, por sua vez, herdou o nome de um cognac – Sazerac de Forge. E antes de entrar nos pormenores desta história – que começa lá por 1850 e desemboca em um pastor autraliano red merle […]

Jim Beam Rye Perfect Manhattan – Perfeição

É engraçado como, às vezes, uma pequena fração de algo se torna quase tão célebre quanto seu todo. Um bom exemplo é uma singela frase que Tolstoi, em certo ponto de sua obra prima Anna Karenina, coloca na boca de uma personagem. “Se você procurar por perfeição, nunca estará satisfeito“. A declaração, promovida a aforismo, é um trecho de um papo entre Lvov e sua esposa, lá pelo meio da obra. Mas hoje, pouca gente sabe de onde veio a simples mas significativa frase. É como se Tolstoi, em pessoa, a tivesse proferido, em algum momento marcante de sua vida. Descontextualizar a declaração da esposa de Lvov não a faz perder o sentido. Pelo contrário – eleva e expande seu significado. Talvez seja isso que torne Anna Karenina tão clássico. Apesar da barreira da linguagem – afinal, falar russo não é nada simples – e da época em que foi escrito. O livro é o ícone de uma era e de um estilo, e, mesmo assim, continua atual e significativo. Se pudesse traçar um paralelo entre a obra-prima de Tólstoi e um coquetel, escolheria o Manhattan. O Manhattan é um coquetel clássico, um dos maiores ícones de uma época que […]

Jim Beam Rye – Resgates

Sábado, dez horas da manhã. Interfone toca. Dois pacotes na portaria. Dou um discreto salto de antecipação enquanto, quase que simultaneamente, chamo o elevador e amarro a máscara sobre os inevitáveis mullets de quarentena. Adoro receber o que comprei pela internet – a distinção de tempo entre pagar e receber faz tudo parecer um presente. Resgato os dois pacotes, abro o primeiro. Sinto meu semblante de antecipação derreter lentamente para um de decepção. Um quebra-cabeças, comprado pela Cã. Hábito antigo, de criança, que voltou que graças ao tédio proporcionado pela reclusão social. Entendo. É um passatempo perfeito para dois mil e vinte – barato, intelectualmente desafiador e cem por cento compatível com o distanciamento social. Não é à toa que a tradição de montar quebra-cabeças está voltando. Mas acho um saco. Me volto para o segundo pacote, ainda com resquícios de decepção do primeiro. Mas, aqui, a história muda. Meus olhos brilham quando vejo o pescoço verde de uma garrafa que há muito antecipei. O Jim Beam Rye – que acaba de chegar ao Brasil oficialmente. Ignoro o horário – ainda é antes do almoço – e já vou logo abrindo a garrafa. Adoro whiskey de centeio. Aliás, falando sobre […]

Angel’s Envy Finished Rye – Drops

Não é segredo pra ninguém que sou totalflex. Minha paixão é whisky, mas adoro cerveja, bebo gim com gosto e sou um admirador da coquetelaria. Aliás, neste último tema, adoro whiskey sour e suas variações. Mas assumo que, quando comecei este blog, não conhecia muitos deles. Apenas o básico mesmo, e o incrível Penicillin, que até hoje ostenta o corolário de meu coquetel preferido. Quer dizer, na maioria dos dias, pelo menos. Mas um que surgiu na minha vida depois da criação do Cão Engarrafado foi o New York Sour. O New York Sour é, basicamente, o whiskey sour normal, mas com um float – isso é uma camada – de vinho tinto em cima. Quando vi – e provei – o coquetel pela primeira vez, fiquei mesmerizado. Como é que eu nunca tinha pensado em colocar vinho em cima do meu whiskey sour? Hoje, parece uma ideia tão obvia quanto queijo no hambúrguer. No mundo do whiskey americano, talvez uma epifania semelhante tenha acontecido com o Angel’s Envy Finished Rye. Um Rye Whiskey delicioso, mas com uma finalização bem inortodoxa: barris de rum caribenho. Algo que parece óbvio – o dulçor do rum equilibraria o perfil seco do centeio […]

Algonquin Cocktail – Hábito

A vida é repetição. Há uma pletora de coisas que fazemos todos os dias, e que são praticamente incontornáveis. Acordar, comer, trabalhar. Se você for uma pessoa com padrões razoáveis de higiene, tomar banho e escovar os dentes. Algumas vezes, essas coisas nos trazem prazer. Outras, são mera obrigação. Para adicionar um hábito à rotina que não seja absolutamente necessário, ele tem que ser muito bom. Mas muito bom mesmo. Não imagino nada assim, nem, sei lá, beber whisky. E olha que eu realmente gosto de beber whisky. Mas foi isso que aconteceu com um grupo chamado Algonquin Round Table (ou A Távola Redonda de Algonquin) – formado por escritores, dramaturgos, atores e outros artistas que se reuniam praticamente todo dia no hotel Algonquin, em Nova Iorque, para o almoço. O grupo foi fundado pelo agente teatral John Peter Toohey e pelo crítico literário Alexander Wolcott. Ao longo do tempo, outras figuras proeminentes da cultura literária dos Estados Unidos se juntaram aos comensais. Harpo Marx, Dorothy Parker, Franklin Pierce Adams e Harold Ross eram alguns deles. Os almoços – que aconteciam praticamente todos os dias – duraram mais de dez anos, de 1919 até o começo da década de 30. […]

Wild Turkey Rye Whiskey – Cognição

Hoje vou tratar de um assunto que anda em baixa. Ou, para falar a verdade, que talvez nunca esteve em alta. A Capacidade Cognitiva. A capacidade cognitiva é, de uma forma simplificada, nossa capacidade de receber estímulos do meio ambiente e responder a elas. Ela engloba habilidades cada vez mais subutilizadas por nós, como pensamento, raciocínio, linguagem e memória. Vou recorrer a exemplos, para não extenuar a capacidade cognitiva de ninguém aqui. Quando, por exemplo, temos fome e resolvemos fazer um misto quente, usamos a cognição. E ao substituirmos o presunto por peito de peru porque ficamos com preguiça de usar a cognição pra comprar mais, também. Quando bebemos, alteramos nossa capacidade cognitiva. Por isso que às vezes, quando saio, acho que sou o Elon Musk e pago a conta de todo mundo. Ou viro uma versão invertida de James Joyce, que fala coisas profundas que ninguém entende. Mas que, no meu caso, não fazem sentido mesmo e nem são profundas. A capacidade cognitiva dos bartenders brasileiros foi bem exercitada nos últimos anos. Não tínhamos ginger ale para o Moscow Mule, por exemplo – o que exigiu uma bela espuma de criatividade. E tampouco rye whiskey para o Manhattan. Algo […]

Da Improvisação – Wild Turkey 101 Rye Whiskey

Quando eu era criança, assistia muita televisão. Via todo tipo de programa. Pra falar a verdade, via qualquer coisa que estivesse passando. Mesmo porque eu não tinha muita escolha. Com apenas umas três ou quatro opções de canais, me encontrava constantemente no dilema entre ver jornal, jardinagem ou aquele mesmo filme, reprisado pela centésima vez. Aquele, com uma turminha do barulho, vivendo altas aventuras com Patrick Swayze, Winona Ryder e  Daryl Hannah. Dublado pela VTI-Rio*. Mas havia também aqueles programas que eu realmente gostava. Entre eles, ocupando posição de destaque, estava MacGyver.  Caso você não viva neste mundo, ou tenha nascido após o advento da televisão a cabo, eu explico. MacGyver foi uma série cujo protagonista – Angus MacGyver – era um agente secreto, interpretado por Richard Dean Anderson. Suas missões consistiam, resumidamente, em derrotar inimigos de sua pátria ou prevenir hecatombes. Até aí, MacGyver parecia um agente secreto ordinário da ficção científica, como muitos Bonds e Bornes por aí. Só que Angus era diferente. Por ter sofrido um trauma de infância envolvendo um revólver, ele não utilizava armas. Assim, a solução de seus problemas passava, quase sempre, por preparar alguma gambiarra sinistra, normalmente criada com o auxílio de seu canivete suíço. […]