Da Improvisação – Wild Turkey 101 Rye Whiskey

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Quando eu era criança, assistia muita televisão. Via todo tipo de programa. Pra falar a verdade, via qualquer coisa que estivesse passando. Mesmo porque eu não tinha muita escolha. Com apenas umas três ou quatro opções de canais, me encontrava constantemente no dilema entre ver jornal, jardinagem ou aquele mesmo filme, reprisado pela centésima vez. Aquele, com uma turminha do barulho, vivendo altas aventuras com Patrick Swayze, Winona Ryder e  Daryl Hannah. Dublado pela VTI-Rio*.

Mas havia também aqueles programas que eu realmente gostava. Entre eles, ocupando posição de destaque, estava MacGyver.  Caso você não viva neste mundo, ou tenha nascido após o advento da televisão a cabo, eu explico. MacGyver foi uma série cujo protagonista – Angus MacGyver – era um agente secreto, interpretado por Richard Dean Anderson. Suas missões consistiam, resumidamente, em derrotar inimigos de sua pátria ou prevenir hecatombes.

Até aí, MacGyver parecia um agente secreto ordinário da ficção científica, como muitos Bonds e Bornes por aí. Só que Angus era diferente. Por ter sofrido um trauma de infância envolvendo um revólver, ele não utilizava armas. Assim, a solução de seus problemas passava, quase sempre, por preparar alguma gambiarra sinistra, normalmente criada com o auxílio de seu canivete suíço. Alguma gambiarra como um desfibrilador, utilizando dois candelabros e um microfone. Ou uma bomba relógio, empregando goma de mascar. Ou mesmo o desarmamento de um míssil com um tênis.

Segundo a Wikipedia, a habilidade quase brasileira do agente secreto de criar objetos improváveis a partir componentes toscos tornou-se tão notória que um novo termo – que eu, sinceramente, nunca havia ouvido antes – foi criado. MacGyverismo. O MacGyverismo é aquela silver tape ao redor do retrovisor. Ou aqueles clips de papel, no zíper daquela sua mochila velha. Ou até mesmo aquele coquetel, que você precisava experimentar, mas não tinha todos os ingredientes. Assim, com um pouco de criatividade e bom senso, colocou outra coisa, e ficou ótimo.

Churrasco. Estilo MacGyver.
Churrasco. Estilo MacGyver.

Aliás, quando o assunto é coquetelaria, o Brasil proporciona, até hoje, boas oportunidades para a prática do MacGyverismo. Por exemplo, não temos por aqui Lillet Blanc. Assim, preparar um Negorni Bianco ou um Vesper Martini tornam-se exercícios de criatividade dignos de agentes secretos. Outro ingrediente que simplesmente não aterrissava em nossas terras era o Rye Whiskey, essencial para o Manhattan e tantos outros drinks.

Por conta desta falta, os bartenders brasileiros são obrigados a recorrer a algum Bourbon whiskey para preparação daqueles coqueteis, como Woodford Reserve ou Maker’s Mark. Entretanto, a partir de abril deste ano, este MacGyverismo deixou de ser necessário. A Campari, detentora da marca Wild Turkey, resolveu, finalmente, trazer para nosso país um Rye Whiskey. O Wild Turkey 101.

Antes de qualquer coisa, aí vai um pouco de whiskey-geeking. A maior diferença entre rye whiskeys e bourbons é a composição de seu mosto. Enquanto bourbons devem utilizar mais do que cinquenta e um por cento de milho em seu mosto, rye whiskeys utilizam cinquenta e um por cento de centeio. O centeio traz sabor de especiarias, menta e canela para o whiskey, enquanto o milho traz dulçor. Os outros quarenta e nove são, geralmente, uma mistura entre milho, cevada e trigo. No caso do Wild Turkey 101 Rye, a proporção é de cinquenta e um por cento de centeio, trinta e sete por cento de milho e doze por cento de cevada (51-37-12).

Ainda que não carregue idade estampada em seu rótulo, o Wild Turkey Rye matura por, em média, cinco anos em barricas virgens tostadas de carvalho americano. Ainda que isto pareça pouco tempo, é importante lembrar que whiskeys americanos utilizam barricas virgens e passam sua maturação em clima quente, o que potencializa bastante a transferência dos sabores da madeira para o destilado.

Barricas na Wild Turkey
Barricas na Wild Turkey

Outra característica interessante sobre o Wild Turkey 101 Rye é que o destilado proveniente dos destiladores passa para as barricas com pouquíssima diluição. Isso faz com que o sabor do white dog (o produto da destilação, sem maturação) do whiskey fique mais evidente, mesmo depois de totalmente maturado.

O Wild Turkey 101 Rye possui graduação alcoólica de 50,5%. Apesar disso, está longe de ser um rye whiskey agressivo. Há um certo dulçor e um sabor de especiarias que contrabalança muito bem a impressão do álcool na língua. Mesmo puro, ele funciona muito bem. Mas seu grande talento é, na verdade, a coquetelaria. Se você é do tipo que gosta de coquetéis com sabores mais fortes, provavelmente adorará utilizar o 101 ao elaborar suas receitas.

Animou? Bem, há um pequeno senão. Por aqui, o Wild Turkey 101 Rye é uma ave rara, que somente pode ser vista em seu habitat natural. Ou seja, nos melhores bares especializados em coquetelaria do Brasil. Não há previsão sobre a venda do whiskey no varejo ainda.

Por enquanto, seguimos praticando o MacGyverismo.

WILD TURKEY 101 RYE WHISKEY

Tipo: Rye Whiskey

Marca: Wild Turkey

Região: N/A

ABV: 50,5%

Notas de prova:

Aroma: balinha de caramelo, manteiga, mel, baunilha.

Sabor: Caramelo, com bastante sabor de especiarias, como canela e pimenta. Final adocicado e com baunilha.

Com Água: A agua reduz um pouco a impressão da pimenta, tornando o whiskey menos picante.

*Não, este filme não existe. Não adianta tentar adivinhar.

13 thoughts on “Da Improvisação – Wild Turkey 101 Rye Whiskey

  1. Como vai, Maurício?

    O MacGyver não fez parte da minha infância, mas eu sempre gostei de ver na tv paga. Talvez seja esse sentimento de “orgulho nacional” que ele nos transmite hahaha. Inclusive tínhamos um MacGyver aqui no trabalho. Segundo ele, era capaz até de pilotar qualquer coisa, até um helicóptero (caso lesse o manual).

    O Wild Turkey 81 está na minha lista de alvos. A descrição dele me parece bem interessante e quem sabe não me prepara para a chegada do 101?

    Abraço!

    1. Hahahaha! Somos todos um pouco MacGyver, né (alguns mais, outros menos)?

      O Wild 81 é bem mais suave – tanto no álcool quanto no sabor. É mais doce, bem menos picante. Na verdade, acho que você vai gostar mais até do 81 do que do 101! Quais bourbons mesmo o senhor já experimentou?

      abraços!

  2. Hahaha acabei não experimentando nenhum. Entrei na Candy Shop para comprar algum e terminei com um Jameson na mão (não me arrependo, mas acabei ficando com alguns assuntos americanos inacabados).

    Dentre as opções que eu tinha (81, JD e JB), a que mais me interessou foi o 81 (pela descrição que vc me passou no e-mail), mas futuramente eu não me importaria de provar o 101. Sabe como é: todo desafio para minha persistência é bem vindo.

    Abraços!

  3. Seria legal vcs provarem um coquitel de WILD TURKEY 51..pirassinungão…kkkkkkk…Tô brincando gente…eu tô lendo tudo sobre Uisque/Whisky/Whiskey…mas o que eu falei é verade: experimente o WILD TURKEY 51 pirassinungão…kkkk

    1. Olá Mauricio boa tarde
      Adoro old fashioned. Pela dificuldade de achar rye whiskys acabo fazendo com o bullet. Qual rye vc indica para o drink? Fiquei na dúvida do jim bean / WT 101 / WT 81?

      1. Opa, fala mestre Gustavo. Voce prefere fazer old fashioneds com Rye? Tendo a fazer com bourbon mesmo, especialmente o Maker’s Mark, que tem delicadeza sensorial adequada pro drink que não “disfarça” o whiskey. Mas, dentre os Ryes, iria no Jim Beam. Acho menos unidimensional. O WT 101 é ótimo, mas muito caro!

    1. O 101 rye da Wild Turkey é 50% de graduaçao alcoolica. Mas ele nao vem mais pro brasil. Aliás, foi descontinuado. EM comparação ao Rye normal da Wild Turkey, o Jim Beam é mais adocicado. Mas são semelhantes e equivalentes.

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