O Cão Sofisticado – Kavalan Solist Vinho Barrique

Hoje vou falar do Kavalan Solist Vinho Barrique, whisky produzido em Taiwan, que ganhou prêmio de melhor whisky do mundo em 2015. Mas antes, vou falar um pouco de cinema. Do cinema. Do senhor cinemà: Jean Luc Godard.  Godard, muito além de uma referência em uma música do Legião Urbana, é, talvez, o melhor cineasta da história. O cinema do mundo inteiro foi influenciado por Godard. É possível ver referências a suas obras em diretores tão diferentes quanto Bernardo Bertollucci e Quentin Tarantino. Mas vou confessar uma coisa: para mim, sentar no sofá e tentar relaxar com um filme do Godard é um exercício de futilidade maior do que tentar encontrar poesia em uma música do Mr. Catra. É que cada plano e cada contraplano de seus filmes tem uma razão de ser. Um objetivo por trás, muito além de simplesmente contar uma história. Cada cena é milimetricamente montada para desconstruir dogmas férreos do audiovisual, ou para deliberadamente tirar o espectador de sua zona de conforto, reafirmando que aquilo é apenas um filme, e que o espectador é o que ele realmente é – um espectador de uma obra de ficção. Isso sem falar da fase Dziga Vertov, em que ele […]

O Cão Didático – Single Malts para Iniciantes

Quando comecei a escrever o Cão, não sabia absolutamente nada sobre escrever um blog. Para falar a verdade, tinha um preconceito quase natural em relação a blogs. Afinal, o que de especial eu teria para falar não pudesse ser encontrado com uma rápida pesquisa no Google? Absolutamente nada. E eu sei que você espera que eu diga que com o tempo essa impressão foi se esvaindo, até se tornar apenas uma remota lembrança de alguém que não tinha a mais rasa ideia do que estava por começar a fazer. Mas não. Olha, desculpem-me pela quebra de expectativa. Na verdade, eu realmente não tenho nada de novo para falar. Mas ainda que eu seja só mais uma pessoa com um modem e um gosto quase doentio por whiskies, esses meses de vida do Cão trouxeram algo que eu jamais poderia sequer prever. Comecei – na verdade, redescobri – o prazer de escrever. E o que antes era preconceito, virou mania. Então, uns meses atrás, resolvi dar uma pausa em minhas pesquisas e estudos sobre whisky para me dedicar a aprender a escrever um blog. Um blog sobre whisky. E durante minhas explorações, descobri uma série de ferramentas incríveis. Você sabia que […]

Drink do Cão – Boulevardier

Você já tomou Negroni? Negroni é um drink feito, essencialmente, de gim, vermute tinto e Campari. Hoje, acho uma das coisas líquidas mais deliciosas que existe fora do universo do whisky. Mas minha relação com aquele coquetel nem sempre foi assim. A primeira vez que tomei um Negroni tinha pouco mais de dezoito anos. E queria morrer. Achei uma das piores coisas que já tive o desprazer de beber. Incluindo uma vez que acidentalmente tomei um pouco de gasolina tentando fazer um sifão para abastecer meu carro. Sério. Teria preferido fazer qualquer coisa a terminar aquele coquetel. Se, naquele momento, alguém me desse a escolha entre ser atravessado por um cutelo gigante em brasa ou bochechar aquele Negroni, teria preferido o cutelo escaldante. Fácil. Eu devo ser muito teimoso ou absolutamente estúpido, porque aquela experiência horrível não me dissuadiu de experimentar o drink mais uma meia dúzia de vezes. E o mais estranho é que, à medida que tomava, passava a gostar cada vez mais daquele negócio amargo. Até que passei a adorá-lo.     Mais recentemente, comentei com Fernando Lisboa, barman por trás do Bar Cuttelo e dos Coquetéis Treze, que era uma pena que o Negroni não tivesse […]

Inu Engarrafado – Suntory Hibiki 17 anos

Vou confessar a vocês algo difícil. Um desejo profundo, que tenho certeza que todo mundo tem, mas que quase ninguém admite ter. Talvez vocês me condenem depois de saber, ou julguem que seria melhor se eu visitasse um psicanalista. Mas não me importo. Preciso tirar isso do meu peito. Preparem-se, porque aí vai. Às vezes eu queria ser outra pessoa. Mas não qualquer outra pessoa. E não, eu não queria ser um cachorro, apesar do nome do blog. E nem um sheik árabe bilionário, tampouco um astronauta. Quem eu realmente, mas realmente queria ser, se pudesse escolher entre todas as pessoas do mundo inteiro, seria o Bill Murray. E aí você vai argumentar comigo que isso é realmente insano. Afinal, porque alguém quereria ser o Bill Murray, se você pudesse ser, sei lá, o Neymar? Ou o Donald Trump? E aí eu vou responder que é porque nem o Neymar, nem o Donald Trum possuem licença para serem completamente malucos – ainda que ultimamente o Donald Trump tenha tentado bastante – e todo mundo achar normal. Mas o Bill Murray tem. E ele faz isso sem precisar mexer nem um músculo da face. Quase como uma vaca hindu. Para você […]

Macallan Sienna e um Novo Dia para Beber

A ficção está cheia de ébrios. Bons exemplos são Jack Torrence, de O Iluminado, e “O Cara”, interpretado por Jeff Bridges em O Grande Lebowski. Para você ter uma ideia, O Cara, durante os cento e dezessete minutos do filme, toma nove White Russians. Isso equivale a um coquetel a cada treze minutos de filme. Mas o mais célebre atleta ficcional do álcool é, indiscutivelmente, James Bond. O espião bebe mais do que um Escort XR3. Um estudo envolvendo médicos da Universidade de Nottingham mostrou que Bond, no decurso de suas histórias, tomou o equivalente a mil cento e cinquenta doses de álcool, em apenas oitenta e oito dias. Isso equivale a uma garrafa e meia de vinho, ou cinco martinis de vodka, todo dia. Mas James Bond não apenas bebe como se vivesse apenas duas vezes. Ele é uma biblioteca etílica. Prova disso é o diálogo que trava com M e o Sr. Donald Munger, ao tomar um cálice de Jerez pertencente àquele último, em Diamantes são Eternos. Bond diz “temo pelo seu fígado, meu senhor. Este é um Solera excepcional. Safra de 1951, acredito”. M, então, retruca “não há safra para Jerez, 007”, ao que Bond responde “Me […]