Sobre Aperol e Aeronaves – Paper Plane – Drink do Cão

Vou contar uma coisa pra vocês. Se vocês acharem muito esquisito, ou ficarem revoltados, paciência. Podem fechar o navegador, deixar de seguir o Cão no Instagram e me bloquear no Facebook. Pensei por muito tempo se deveria ou não contar isso, porque, afinal, em um mundo tão polarizado e ao mesmo tempo cheio de verdades absolutas, é sempre difícil assumir que se tem uma opinão diferente do que parece ser um consenso quase geral. Demanda um certo sangue frio e maturidade para enfrentar as consequências. Mas vou falar. Não gosto de Nutella. Mentira, Não é que eu não gosto de Nutella. Eu não gosto de frango, o que é bem diferente. Mas eu eu simplesmente não ligo pra Nutella. Nunca entendi o fervor online causado por essa pasta. E isso me incomoda um pouco, porque me sinto excluído desse Zeitgeist gastronômico. Especialmente quando não compartilho do entusiasmo causado por coisas relacionadas que levam os outros à loucura. Como, por exemplo, um enroladinho de nutella e bacon, que encontrei num site de receitas online recentemente. A Nutella encabeça uma longa lista de coisas que não me incomodam, mas também não me emocionam – outras são camarão, pizza, The Beatles (é, eu sei, eles foram revolucionários, okey) e […]

Drops – Cachaças Sebastiana

  Nada como um programa cultural no domingo para escapar um pouco da rotina. Como, por exemplo, o Museu da Casa Brasileira, em São Paulo. Caso você more ou esteja de passagem pela (progressivamente) cinzenta capital paulista, vale a pena conhece-lo. A ideia do Museu – um casarão de estilo neoclássico construído na década de quarenta – é mostrar a arquitetura e design brasileiros, tanto do passado quanto contemporâneo. Há, inclusive, um prêmio de design criado por eles, para justamente incentivar a produção de peças de mobiliário autorais e arquitetura. E apesar de mobiliário e arquitetura serem assuntos bacanas, a real razão pela qual o Cão visitou o museu foi outra. É que ocorreu no fim de semana do dia 08 de dezembro a Feira Sabor do Brasil – uma feira gastronômica com alguns dos melhores produtores brasileiros de quase tudo que é comestível ou bebível: queijos, embutidos, pipoca, pães, queijos (e que queijos!), doces, gim (Virga, que já esteve nestas páginas caninas) e, claro, cachaça – a ótima Sebastiana, que o Cão teve a oportunidade de conhecer e provar. Se você está se perguntando por que o Cão está falando de cachaça, a explicação é simples. A Sebastiana é […]

Como Whisky é Feito – Parte 3 de 3

Este é o terceiro texto de uma série sobre como whisky – com ênfase em single malts – é produzido. Já abordamos assuntos tão diferenciados quanto crianças curiosas, fabricação de automóveis e nuggets de frango. Falamos de notícias indigestas, cevada, fermentação, destilação, turfa e maturação. Caso você tenha perdido, clique aqui para a primeira parte, ou aqui para a segunda. Senão, fique aqui comigo. Hoje falarei um pouco de botânica – afinal, barricas são feitas de carvalho, que são árvores – e um pouco de química (esteres, aminoácidos, proteínas e tudo aquilo que sua professora ou professor falavam enquanto você dormia, vandalizava a sua mesa como um entalhador-mirim-fora-da-lei ou desenhava). Preparem-se para a derradeira parte de um déja-vu acadêmico. Mas, dessa vez, sobre um assunto bem mais legal. Whisky. MATURAÇÃO 2/2 Scotch whiskies normalmente são maturados em barricas que já foram utilizadas por alguma outra bebida, ainda que haja exceções – o delicioso Laphroaig An Cuan Mór sendo uma delas. A maior parte dos scotch whiskies é envelhecida em barricas de carvalho americano que antes continham Bourbon whiskey, ainda que a frequência de whiskies maturados em barricas que envelheceram Jerez tenha aumentado bastante nos últimos anos. O tempo de maturação para atingir […]

Drops – Ardbeg Corryvreckan – O Cão Engarrafado

Esta não é uma prova. Nem um drops, para ser sincero. É um relato. É que meu primeiro encontro com o Ardbeg Corryvreckan não foi meu. Pois é. Eu estava lá apenas de figurante. Um coadjuvante em uma curiosa cena que havia pouquíssimas vezes tido o prazer de presenciar. Na verdade, a protagonista foi a querida Cã, durante um jantar de nossa viagem à Escócia há alguns anos. Estávamos há algumas quadras do hotel em um restaurante que tínhamos – por muita sorte – conseguido uma mesa. Um daqueles lugares concorridos, que você precisa usar a lanterna do celular para ler o cardápio, e que serve pequenas porções de coisas com ruibarbo e espuma. Mas estávamos animados e com fome. E eu ansioso para provar algum whisky que não conhecia. Afinal, estava na Escócia. Havia uma considerável carta de single malts. Decidi que escolheria algo ao mesmo tempo familiar e estranho. Uma destilaria conhecida por mim, mas uma expressão diferente. Fui pela graduação alcoolica. O Ardbeg Corryvreckan, com 57,1%. Quando a taça chegou, mesmo antes de experimentar, notei o olhar interessado da Cã. Que cheiro bom, o que é? É um Ardbeg forte. Deixa eu provar – pausa, gole – nossa, você precisa […]

Como Whisky é Feito – Parte 2 de 3

Tendo acompanhado as notícias das últimas semanas acabei concluindo que, às vezes, não vale a pena sabermos como as coisas são feitas. Para um apaixonado por churrasco ou um entusiasta dos alimentos processados, as manchetes são, no mínimo – perdão pela ambiguidade cretina – difíceis de engolir. Porém, incentivado por aquelas notícias indigestas (hoje estou genial), tomei coragem para escrever algo que há muito planejava. Um (nem tão) pequeno texto, explicando sobre alguns detalhes e curiosidades sobre a produção da melhor bebida do mundo. Esta é a segunda parte de um especial sobre como o whisky é feito. Na primeira parte, expliquei um pouco sobre a cevada, sua fermentação, o uso da turfa e o processo de destilação. O texto inicial terminou com reticências, no exato momento em que a primeira gota de destilado cintilava no ar, antes de cair dentro de uma barrica. Hoje falarei um pouco mais sobre destilação e maturação. Continuem com este Cão. Destilação 2/2 Single malts costumam ser destilados duas vezes em alambiques de cobre. Normalmente, os alambiques de primeira destilação – chamados wash stills – são um pouco maiores do que os de segunda destilação – os spirit stills – e possuem formatos diferentes. […]

Drops – Craigellachie 13 anos

Você desvia de escadas na rua? Anda por aí como um chaveiro, com olho grego, pimenta e pé de coelho pendurados no pescoço ou na bolsa? Coloca o sal na mesa para a outra pessoa pegar, e, se porventura o saleiro cai, rapidamente joga um pouco para trás, por cima do ombro? E paraskevidekatriaphobia, você tem? Se você não entendeu essa última, eu explico. Paraskevidekatriaphobia é o medo de sexta-feira treze. A palavra foi criada por um psicoterapeuta norte-americano, o Dr. Donald Dossey, e é formada por três elementos – “paraskevi”, “dekatria” e “phobia”, que em grego significam, respectivamente “sexta-feira”, “treze” e “medo”. E como você já deve ter adivinhado pela explicação etimológica, define o medo da sexta-feira treze. Segundo ele, de uma forma bem humorada, quem conseguisse pronunciar a palavra estaria magicamente curado daquela fobia. O Cão Engarrafado, no entanto, tem outra cura. Uma que não exige qualquer habilidade léxica e que também envolve o amaldiçoado número. Tomar uma dose do Craigellachie 13 anos, à venda nos Duty Frees dos aeroportos brasileiros, no embarque e desembarque de voos internacionais. O Craigellachie 13 anos é a espinha dorsal dos single malts da destilaria Craigellachie, localizada em Speyside, e pertencente à Bacardi. Junto dos demais single malts […]

Gigante Oculto – Evan Williams 1783

A fama pode ser enganosa. Não apenas com pessoas, mas com todo tipo de coisa. Vamos falar de fast-food. McDonald’s todo mundo conhece, que tem aquele clássico sanduíche que leva dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial e mais alguns acepipes. Além daquela batata frita fininha e crocante, que algumas pessoas sem costume tem o hábito de enfiar no sorvete. Por outro lado, você nunca deve ter ouvido falar da Yum!. Acontece que ela é talvez a segunda onomatopéia mais poderosa do mundo corporativo, logo depois do Yahoo!. A marca é uma das mais importantes do mundo no ramo dos fast-foods. Só que você não a conhece porque seus acionistas tem vergonha do nome cretino que escolheram. Ou talvez porque a fama resida em suas subsidiárias. A Yum! é a responsável por controlar e franquiar conhecidíssimas marcas, como KFC, Taco bell e Pizza Hut. Ela nasceu da Tricon Global Restaurants, antes controlada pela Pepsico. Atualmente, a megacorporação, sediada no Kentucky, tem presença em mais de uma centena de países. Em 2015, ela possuía mais de trinta mil franquias, cinquenta mil restaurantes e faturou aproximadamente treze bilhões e cento e cinco milhões de dólares. Eu não fiz a conta, mas me parece muito frango, burrito e pizza de […]