
Ultimamente, tenho tido tempo razoável para rever uma série de filmes. Prerrogativa da quarentena. Essa semana, revi Segundas Intenções. Sei lá porque, também. E olha, é bem ruim. Você pode argumentar que não, que isso é um absurdo, porque é um clássico. Afinal, é uma adatação pop do romance Les liaisons dangereuses, de Pierre de Laclos, e integrante da corrente de grandes filmes baseados no romance, como Ligações Perigosas do Stephen Frears e Os Sonhadores de Bertolucci.
Você pode argumentar. Mas, se o fizer, você está equivocado. Ligações Perigosas sempre foi bom, e envelheceu bem. Os Sonhadores, ao ser lançado, foi arrebatador, a ponto de se tornar um clássico instantâneo. Mas não Segundas Intenções. Segundas Intenções era ruim, apelativo, afetado e raso. Melhorou um pouco, mas não é porque algo ruim envelheceu bem, que se tornou bom.

Em resumo, nem tudo que é antigo é clássico. É necessário ter qualidade. Um diferencial, algo que proteja do oblívio e dialogue com as pessoas – independente da era em que foi criado.
Mas há coisas que são tão boas, mas tão boas, que prescindem a passagem do tempo para virarem clássicos. Algumas – poucas – películas são assim (Os Sonhadores, por exemplo). E a coquetelaria, também, é povoada por clássicos modernos. Um deles é o Gold Rush. Ele foi criado na virada de nosso milênio, durante os primeiros anos do bar Milk & Honey, em Nova York. Seu criador foi o bartender T. J. Siegal. A primeira publicação que fez menção ao drink foi o PDT COcktail Book de Jim Meehan.
O Gold Rush é aquele tipo de criação que parece tão genial, mas tão óbvia ao mesmo tempo, que você mesmo começa a se perguntar porque não teve essa ideia antes. Ele é, basicamente, um whiskey sour. Só que o xarope de açúcar é substituído por uma calda de mel – na realidade, quase mel puro, diluído com um pouco de água morna apenas para garantir que não encapsule. Além disso, não há clara de ovo na receita do gold rush – o que o torna uma alternativa interessante para aqueles que não consomem o emulsificante de origem aviária.

É engraçado como o Gold Rush possui semelhanças com diversos coquetéis conhecidos, alguns mais antigos, outros ainda mais recentes que ele. Um destes é o Bees Knees – basicamente, a mesma coisa que o Gold Rush, só que com gim. Outro – dessa vez, posterior – é o maravilhosamente delicioso (é, este é um quase-pleonasmo proposital) Penicillin. Que, aliás, foi criado por um outro bartender que passou pelo Milk & Honey – o lendário Sam Ross.
Sensorialmente, a maior diferença entre o Whiskey Sour e o Gold Rush está, justamente, na calda de mel. Assim, investir em um mel de qualidade é importante. Além disso, a recomendação deste Cão é que o coquetel seja produzido com um whiskey americano adocicado e com álcool bem integrado – como, por exemplo, o Jack Daniel’s Gentleman Jack que utilizamos. O mel – que funciona como um agente de dulçor – possui uma enorme complexidade, ainda que delicada. Um whisky muito forte iria, certamente, esconder essa complexidade.
Assim, meus caros, preparem seus shakers e seus meles (como adoro o plural de mel). Hoje prepararemos um coquetel genial de tão óbvio, e muito melhor do que qualquer coisa filmada com a Sarah Michelle Gellar. O clássico instantâneo, o incrivel – e incrivelmente singelo – Goldrush.
GOLD RUSH
(receita revista por Rodolfo Bob do O Bar Virtual)
INGREDIENTES
- 20ml de Xarope de Mel (2 de mel para 1 de água está ótimo!)
- 30ml suco de limão siciliano fresco
- 60ml Bourbon Whiskey ou Tennessee Whiskey (aqui, recomendaríamos algo adocicado e delicado. Fizemos com Gentleman Jack)
- Parafernália para bater
- copo baixo
- gelo
PREPARO:
- Coloque todos os ingredientes na coquetelaria, com bastante gelo.
- Bata até ficar cansado (você tem se exercitado durante a quarentena?), desenvolver bursite ou sentir uma leve condensação do lado de fora do shaker.
- Desça em um copo baixo com gelo.
Legal! Lembrou-me uma caipirinha (caso você não tenha preconceito contra a cachaça), só que com uísque e mal, ao invés de cachaça e açúcar. Espero não ter cometido nenhuma “heresia” com a comparação rs.
Meu caro, aqui nao há preconceito e nem heresia. Lembra mesmo. A base é próxima né? Caipirinha é um sour.
Adoro drinks
Esse está bem acessível para minhas habilidades, mestre hahaha.
Vou tentar.
Abraço