Pequenas fatias alaranjadas, cuidadosamente aplicadas sobre um arroz glutinoso. O salmão, atualmente, é o campeão de vendas dos restaurantes de culinária oriental. Ele está – quase – por toda parte, da temaqueria na loja de conveniência do posto de gasolina, até o omakase. Mas, nem sempre foi assim. O salmão prativamente não era consumido cru no Japão, até lá pela década de oitenta. Os japoneses consideravam o peixe sujo, porque o salmão pescado no Pacífico era propenso a parasitas. Era preciso aquecê-lo para garantir a segurança.
Quem mudou essa história foi a Noruega. O país lançou o “Projeto Japão” em 1986, com o objetivo de duplicar o consumo do peixe no Japão em três anos. O norueguês Bjorn Eirik Olsen capitaneou a empreitada, que consistia em convencer os japoneses que o salmão de cativeiro norueguês era limpo e diferente do japonês. O projeto envolveu dar um nome diferente para o bicho e se aproximar do consumidor, menos detalhista do que a indústria, sobre o perfil de sabor e textura do salmão.
O projeto deu tão certo que hoje, menções à Noruega remetem a geralmente três assuntos: frio, vikings e salmão. Mas engana-se quem acha que o produto mais importante do país é o tal do peixe. Na verdade, a economia norueguesa é liderada pelo petróleo. O produto é extraído do Mar do Norte, que fica entre o supramencionado país e a Escócia – que também possui exploração do combustível fóssil da região .E é daí que vem a inspiração do North Sea Oil, coquetel tema desta matéria.
O North Sea Oil foi criado em 2018 pelo chefe de bar do NoMad de Nova Iorque, Leo Robitschek. Ele tem uma base compartilhada, de scotch whisky turfado e aquavit. Que, para quem não sabe, é um destilado infusionado com botânicos, como se fosse um gim. Mas ela não usa zimbro. Os ingredientes mais frequentes são funcho, cominho, anis estrelado e cascas de cítricos. Um dos maiores produtores de Aquavit do mundo é, sem surpresa, a Noruega. Se você gosta de anis ou alcaçuz, há grandes chances de gostar do destilado.
O que gosto especialmente sobre o North Sea Oil – o coquetel, não a extração de petróleo, claro – é o fato de que, numa primeira leitura, os ingredientes fazem pouco sentido combinados. Mas, ao misturá-los, ocorre uma rara mágica de transmutação, que os torna perfeitamente harmônicos. Poucos drinks são assim, especialmente considerando sua estranha base compartilhada.
Antes de prosseguir, deixe-me esclarecer dois ingredientes. Já Cocchi Americano é um aperitivo de vinho italiano, semelhante a vermute. Porém, ao invés de usar artemisia, usa genciana como o agente de amargor.
De volta ao drink. Caso você não tenha Cocchi Americano, pode usar um vermute branco, como Dolin Blanc. Note, entretanto, que o coquetel ficará menos amargo. Já o triple sec pode ser Cointreau, ainda que a receita original peça outra marca. Os ingredientes restantes, entretanto – o whisky turfado e a Aquavit – não permitem adaptações. Por conta destas especificades, o North Sea Oil não é exatamente um coquetel fácil. Mas é, certamente, um daqueles que você se lembrará por muito tempo, depois de experimentar. Harmonize com um salmão defumado norueguês ou alguns niguiris.
NORTH SEA OIL
INGREDIENTES
- 45ml Aquavit
- 15ml single malt turfado
- 22,5ml Cocchi Americano
- 7,5ml Triple Sec
- Parafernália para misturara
PREPARO
- Adicione tudo em um mixing glass. Misture até ficar gelado
- Desça em um copo baixo com gelo – de preferência, uma grande pedra cristalina