Eu sou péssimo com datas comemorativas. No último dia das mães, por exemplo, só lembrei da efeméride na véspera. Minto. Fui alertado que o dia aconteceria com antecedência de três semanas – minha própria mãe me avisou, talvez na vã esperança de que eu programasse algo. Mas, como meu horizonte de planejamento não é nem de dez dias, deixei para depois. Aí fui surpreendido pela chegada do evento. A reação de minha progenitora, porém, foi ainda mais surpeendente. É, não esperava nada menos de você. O menos pegou. O que é menos do que nada? – pensei. Mães sabem cutucar.
Dia dos namorados é assim também. No ano passado, descobri que acordara no dia 12 de Junho lá pela hora do almoço, ao me deparar com o sistema de reservas do bar lotado. Sob o olhar reprovador da Cã, comprei guanciale, e preparei um carbonara em casa – que mesmo que fosse o melhor mundo, ainda teria sabor de derrota. Talvez uma sessão de terapia revelasse algo que não sei. Mas, numa perigosa autoanálise, acho que esse meu relaxo com efemérides tem a ver com um certo ódio por elas. Eu não preciso de uma data para demonstrar meu apreço por alguém. Aliás, eu sou péssimo nisso também.
O Dia Mundial do Whisky – ou World Whisky Day, no original – vem como um alento. O whisky, em si, provavelmente não me condenaria por esquecer dele. O whisky é compreensivo. Mas minha obrigação, porém, não é com a bebida, mas, com vocês, queridos leitores e entusiastas. Assim, decidi, pela quinta vez, fazer um post sobre a data. Que é hoje, e foi criada por Blair Bowman há mais de uma década, para reunir os apaixonados pela melhor bebida do mundo.
Hoje, escolhi quatro whiskies com perfis sensoriais bem distintos um do outro. Para mostrar que tem whisky para todos os gostos. Vamos a eles. Do mais delicado ao mais intenso.
Royal Salute 21 The Blended Grain
Este é para aqueles que gostam de whiskies delicados, adocicados, e perigosamente fáceis de beber. E também para todos que procuram uma embalagem primorosa e, ao mesmo tempo, inovadora. Luxo em sua forma mais pura.
O Royal Salute 21 The Blended Grain é um lançamento da marca no Brasil. Previamente exclusivo do mercado asiático, a ideia é que ele seja ainda mais delicado do que o Royal Salute 21 Signature – o tradicional, que conhecemos. Para tanto, ele utiliza exclusivamente whiskies de grão em sua mistura. Todos, maturados por no mínimo 21 anos, exclusivamente em barricas de carvalho americano. De fato, são apenas duas destilarias em sua composição: Dumbarton e Strathclyde. Pode ser comprado no LeCercle
Old Pulteney 12
O Old Pulteney é um whisky frutado, com sabor de nozes e castanhas. Mas não quaisquer castanhas. Castanhas salgadas. Bem salgadas. Tipo aquelas que você come de tiragosto, enquanto toma whisky.
Existe uma discussão séria sobre a origem do sabor salgado do Old Pulteney. Muitos afirmam que advém de sua maturação. Ele seria o resultado de anos e anos de ondas quebrando no litoral rochoso, ao lado da destilaria, e do efeito da maresia nos barris. Entretanto, os mais céticos afirmam que, para que fosse possível efetivamente sentir sabor de sal, seria necessário adicionar litros e litros de água salgada diretamente dentro de cada barril. Para estes, o gosto salgado do Old Pulteney não é sal.
Tamnavulin Sherry Cask
Este é para aqueles que buscam um whisky intenso e vínico, com notas frutadas e de especiarias. Ou para quem quer um single malt “sherry” com preço e qualidade sensorial ótimos.
A Tamnavulin é uma espécie de herói anônimo na Escócia. Ela foi fundada em 1966 pelo grupo Invergordon, mais tarde, Whyte & Mackay. Seu objetivo era simplesmente suprir uma demanda crescente por blended whiskies. Porém, em 2016, a Whyte & Mackay resolveu trazer a Tamnavulin à luz, e lançou uma série de seus single malts. Dentre eles um Wine Cask – exclusivo de Duty Free – o Double Cask, já revisto por aqui, e o Sherry Cask, que desembarcou recentemente em nossas terras. O Sherry é o mais temático deles.
Laphroaig Quarter Cask
Este é para aqueles que gostam de sabores defumados, salinos e medicinais. O Laphroaig Quarter Cask é tipo fazer um churrasco num hospital, na frente do mar. Como você já deve ter presumido – ou não – o nome quarter cask vêm dos barris utilizados para maturar o destilado. Após algum tempo nos barris tradicionais de ex-bourbon, o whisky é transferido para o chamado quarter cask, que é uma barrica menor. Isso aumenta a área de contato entre a madeira e o líquido, acelerando o processo de maturação.