“Eu vou fazer uma oferta que ele não poderá recusar” diz, Vito Corleone, fechado em seu escritório a Johnny Fontane. No jardim da mansão, um idílio italiano: música, uma noiva sorridente e fartura à mesa. Don Vito é duro e determinado. Johnny tenta parecer forte, mas é inseguro. Hagan é calmo e calculista. O jovem Michael, por outro lado, parece alheio às dinâmicas familiares, e mantém certa distância. Essa sequência – que leva seus vinte minutos – é uma aula de roteiro.
É que Coppola poderia simplesmente contar, com um voiceover, sobre cada um dos personagens. Caberia, e nem ficaria esquisito. Mas ele prefere, ao invés de contar, mostrar. A festa de casamento entre Connie e Carlo é uma espécie de template, criado para revelar, com atenção aos detalhes, os desejos, inseguranças e forças da família Corleone.
A fórmula, na verdade, é bem conhecida, e já foi reproduzida uma centena de vezes. Como, por exemplo, na enorme festa de O Grande Gastby, no baile de máscaras de Romeu e Julieta e – para meu desgosto – no jantar daquela tortura melosa de três horas que é Titanic. Estas festas ficcionais são fascinantes porque condensam a essência de seus personagens. Suas interações revelam suas personalidades, medos, desejos, anseios.
Muitos coquetéis são assim, também. O Manhattan, por exemplo, que virou, meio que sem querer, uma fórmula para que bartenders pudessem exercer sua criatividade. Ou – e dessa vez, voluntariamente – o mais recente Pantheon. Que é uma mistura simples de Scotch Whisky, Benedictine e limão. O coquetel foi criado por Daisuke Ito, do Land Bar Artisan em Tóquio, justamente para que fosse um modelo em que outros bartenders pudessem se basear.
“O objetivo de criar uma receita de coquetel, para mim, é tê-la servida daqui a 50 anos em outra parte do mundo. Mas isso não vai acontecer se eu fizer uma receita com um licor obscuro e coisas que você precisaria comprar”, ele disse. “Todo barman tem uma garrafa de Bénédictine, mas a menos que alguém peça um B&B, eles provavelmente nunca tocarão nele” – disse Ito, em uma entrevista para a Punch Drink.
É, Ito, no Brasil não está fácil, porque nem Benedictine tem. Mas o drink, ainda assim, é um maravilhoso ponto de partida para qualquer um que quiser criar algo, mesmo que altere o licor. E quanto ao whisky, a regra é a mesma. “Eu faço com Dewar’s, ou com Talisker. É um absurdo dizer que uma receita só pode ser feita com uma expressão específica de um destilado” completa Ito. O brasileiro Rogerio Igarashi Vaz, do Bar Trench de Tóquio, sugere Cragganmore, por seu perfil herbal.
“Meu sonho é que daqui a três ou quatro anos alguém venha me perguntar se eu sei fazer um Pantheon” Se dependesse deste Cão, o sonho já estaria realizado há muito. E nem precisaria pedir para Don Vito Corleone qualquer favor.
PANTHEON
INGREDIENTES
- 60ml de scotch whisky
- 30ml Benedictine
- 30ml suco de limão siciliano
- parafernália para bater
- copo ou taça de sua preferência
PREPARO
- adicione todos os ingredientes líquidos na coqueteleira e bata com bastante gelo
- desça, coando o gelo, para seu copo de preferência
- Beba e faça novamente, com alguma modificação. Que tal trocar o Benedictine por Disaronno? Don Vito Corleone aprovaria.