Blue Label Ice Chalet – Ambivalência

Não sou desses de fazer foto na academia, então, talvez vocês não saibam. Mas pratico corrida ao menos cinco vezes por semana. No entanto, tenho sentimentos ambivalentes sobre a atividade. Sou da opinião que todo bicho minimamente inteligente prefere economizar sua energia, a percorrer quilômetros parado, com a treimosia de um hamster numa rodinha. Porém, entendo que é necessário.

De todo modo, para tornar o exercício um pouco menos sacrificado, assisto filmes num tablet. Nunca filmes bons, mas sempre, eficientes – com explosões, destruição e diálogos terríveis. Isso, ao menos, é coerentemente cínico: se meu corpo vai se esforçar, que a mente faça o menor esforço possível. Neste contexto que assisti Baywatch – o filme, não a série.

Faz um tempo, então, não me recordo muito do roteiro. Lembro que o Zac Efron tenta agradar o Dwayne Johnson, e que a Alexandra Daddario é incrível. E só. Mas, mesmo assim, fiquei surpreso com a ineficácia de minha memória ao me ver obrigado a googlar “Priyanka Chopra Jonas“, para a presente matéria. Acontece que ela – que, caso você não saiba também, é uma atriz que participou de Baywatch – é a embaixadora do Blue Label Ice Chalet. O whisky é uma colaboração da Johnnie Walker com a marca de moda para esqui “Perfect Moment” – da qual Jonas é acionista.

O problema sou eu, demorei também pra reconhecer o cara do Jonas Brothers.

O curioso – ou não – é que, para mim, o marketing não poderia ser mais alheio. Não conhecia Chopra Jonas, e não esquio. Como disse, meu único esforço físico voluntário é correr na esteira. Mas comer e beber é comigo. Então, somente tomei conhecimento do Johnnie Walker Blue Label Ice Chalet quando vi a garrafa em um empório de luxo aqui em São Paulo, com sua roupinha de neve.

Antes de prosseguir, voltemo-nos para o bode – ou elefante, em inglês – na sala. O tradicional Johnnie Walker Blue label é um whisky famigerado entre os entusiastas. É inegável, e não me atreverei a avaliar o mérito disso. Ele serve de sarrafo, normalmente em um contexto depreciativo, quando alguém quer dizer que determinada garrafa tem preço e qualidade boas. Daria para comprar uns dez Blue Label, se eu recebesse um real para todo “esse dá uma surra no Blue” que eu já ouvi. E muitas vezes, nem dá.

Mas não vou entrar neste mérito aqui. Para isso, você pode ler minha matéria específica sobre o tal blend de luxo. O importante é ressaltar que o Johnnie Walker Blue Label Ice Chalet não é o mesmo whisky do tradicional. É um blend completamente diferente, com um perfil sensorial também distinto. A alcunha “Blue Label” é usada apenas para indicar que este é um whisky que faz parte da linha de luxo da poderosa Johnnie Walker. Como é o caso do Elusive Umami, Ghost and Rare, etc.

O Johnnie Walker Blue Label Ice Chalet foi criado pela master blender da Johnnie, Emma Walker – que, curiosamente, e se me permitem uma digressão, não tem qualquer laço consanguíneo com o fundador da marca. Walker usou maltes “da região mais ao norte da Escócia” como Brora, Clynelish e Dalwhinnie. “Temos sorte de poder selecionar entre mais de 29 destilarias para criar este uísque escocês, incluindo single malts de Speyside, como Cardhu e Benrinnes, maltes de Highland, como Clynelish, uísques de grãos de planície, incluindo aqueles de Port Dundas, e também trazemos notas defumadas de Caol Ila e Port Ellen de Islay.”, declarou Emma, em um release.

Emma: essa eu reconheceria!

De acordo com a marca, a variedade de barris utilizados para aumentar a complexidade sensorial é alta. Dentre eles, estão carvalho americano de reuso (refill american oak), barris first-fill de bourbon, barris que antes contiveram vinho tinto e jerez, e por último “barris altamente torrados e rejuvenescidos”, que é um nome bonito para STR – scraped (ou shaved), toasted and re-charred.

O marketing ao redor do Johnnie Walker Blue Label Ice Chalet é interessante – para não dizer, exasperador. E nem é pelos motivos acima elencados. É que recomendam que se consuma o blend direto do freezer. Ou congelado, dentro de um paralelepípedo de gelo “para que ele ganhe corpo e riqueza”. Deve ser sugestão da tal Priyanka. Para este Cão, não tem o menor cabimento congelar um whisky de mais de dois mil e quinhentos reais. Quando se paga este prêmio por uma garrafa, gosto de imaginar que o proprietário tenha, ao menos, a intenção de prová-lo, nem que seja uma singela vez, puro. E a temperatura baixa tornará a percepção dos aromas muito mais difícil, e alterará seu equilíbrio de dulçor.

Assim – e sem muitos julgamentos aqui – caso você compre uma garrafa, permita-se prová-lo a temperatura ambiente civilizada, sem adição de nada. Pelo menos numa oportunidade. Em primeiro, pelos motivos supra elencados, mas, também, porque nessas condições – puro e sem gelo – o Johnnie Walker Blue Label Ice Chalet é bem bom. Se comparado ao Blue Label tradicional, ele tem mais corpo, mais dulçor e um aroma mineral muito interessante. A fumaça está lá, mas um pouco mais discreta – muito provavelmente, porque os demais elementos ficam em evidencia.

Apesar do storytelling e sugestão de consumo curiosos, é inegável que a embalagem é belíssima. A garrafa tem um alto relevo em algumas de suas faces, e o rótulo é uma espécie de placa, colada na frente. Além disso, ele não tem estojo, mas vem em uma bolsa toda acolchoada, que remonta aos casacos usados nas estações de esqui. Reconheço que muita gente comprará a garrafa por esse motivo.

Sold

Mas, no final das contas, a contação de história é bem menos importante do que o líquido dentro da garrafa. E nisso, o Johnnie Walker Blue Label Ice Chalet se garante. É um blend luxuoso e equilibrado, mas com personalidade. Lembra bastante o Ghost & Rare: Brora, que, na opinião deste Cão, é um dos melhores da finada série com destilarias silenciosas. Você não precisa gostar de esqui, saber o que é a Perfect Moment ou a antagonista de Baywatch para reconhecer um bom whisky.

JOHNNIE WALKER BLUE LABEL ICE CHALET

Tipo: Blended Whisky

Marca: Johnnie Walker

Região: N/A

ABV: 43%

Notas de prova:

Aroma: Adocicado, mel, mineral.

Sabor: frutado caramelo, castanhas. Final floral, sulfúrico e mineral. Mais doce que o Blue tradicional.

*a degustação do whisky tema desta prova foi fornecida por terceiros envolvidos em sua produção. Este Cão, porém, manteve total liberdade editorial sobre o conteúdo do post.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *