Campbeltown Cocktail – Especificidade

“Me vê com ketchup, mostarda, maionese, batata palha, um pouquinho de vinagrete e purê“, dizia pro Roger, que tinha uma van de hot dog na frente do colégio, na minha época do colegial. Van de hot dog, não foodtruck. E colegial, não segundo grau. Dois termos propositalmente aqui usados, para auntenticidade, que talvez denunciem um pouco minha idade. Toda quinta-feira, esse era meu almoço, e o preferido da semana. O Roger acenava com a cabeça, cortava o pão torto, pegava a salsicha que já estava lá na água há umas boas duas horas, e, em menos de trinta segundos, entregava o lanche prontinho. Apesar da época quase medieval – quando não havia segundo grau e nem dijon no foodtruck – o Roger já tinha um cuidado todo especial com padronização e composição. O Ketchup tinha que ser do mais barato, aquele, quase vermelho neon. A mostarda, amarelo enxofre. Podia parecer só economia, mas ele sabia que, se melhorasse, piorava. O Hot Dog do Roger custava o equivalente a meio litro de gasolina hoje em dia. Mas transbordava de sabor. No entanto, como quase tudo no mundo, há opostos. E no universo do cachorro quente, não é diferente. Do outro lado […]

Glen Scotia 15 anos – Darwinismo

Você provavelmente já ouviu falar de Charles Darwin. Charles Darwin foi um naturalista britânico, que fez uma longa expedição a bordo de um navio chamado HMS Beagle, comendo tudo de exótico que encontrava pela frente. Aliás, um de seus traços era justamente a curiosidade para saber o gosto de tudo vivo que encontrava. Durante sua viagem no Beagle, Darwin se esbaldou em bichos como iguanas, tatus (sem piadinhas com os Mamonas, por favor) e tartarugas gigantes. Darwin foi o primeiro hipster gastronômico. Mas não foi por conta de seu gosto excêntrico que Darwin ficou famoso. Foi porque ele que cunhou a teoria da evolução. De acordo com sua teoria – que, convenhamos, é uma certeza – todas as espécies de organismos se desenvolvem por meio da seleção natural. Essa seleção faz com que apenas os organismos mais capazes de sobreviver conseguissem se reproduzir. O que garante mais chances de manutenção daquela espécie, em um meio ambiente selvagem e desafiador. O exemplo clássico é a girafa. A girafa parece um bicho desajeitado e pescoçudo, mas é, na verdade genial. Por conta de sua altura e pescoço, ela é capaz de alcançar os frutos mais altos das árvores, impossíveis para espécies – […]

Drops – Springbank 21

Não filtrado a frio. Sem corante caramelo. Produzido totalmente na destilaria. Há frases que são quase sensuais para um aficionado por whisky. E talvez a destilaria que concentre o maior número de whiskies capazes de serem assim descritos é a Springbank. A Springbank é o fetiche de quase todo whisky geek. E dentro de seu extenso portfólio – que conta com whiskies bastante turfados, outros apenas levemente, além de whiskies que passam por tripla destilação – o Springbank 21 é um dos mais desejados. Tão desejado que este Cão jamais conseguiu uma garrafa. Foi por intermédio de um amigo – poeta e amante dos maltes – que pôde experimentar este líquido. Aliás, da versão lançada em 2018. Isso é importante, já que, a cada edição, a composição das barricas é alterada. Tamanha procura e raridade tem uma razão. A expressão de vinte e um anos da Springbank não faz parte de seu portfólio permanente. Ela é lançada de tempos em tempos, e depende do estoque maturado da destilaria. Garrafas mais antigas – da década de noventa ou dos anos dois mil – atingem valores bastante altos quando leiloadas. Antes de prosseguir, devo admitir uma coisa. Este Cão possui sentimentos conflitantes […]

Drops – Springbank 15 anos

Se você gosta de carros, deve já ter ouvido falar do Nissan GT-R. O Nissan GT-R é o herdeiro do Skyline, um superesportivo japonês ora produzido pela Prince Motor Company. Em 2009, o GT-R entrou para o Guinness como a aceleração mais rápida de 0-100km/h (0-60mph) por um carro com quatro lugares. Mas isso não é importante. O importante é que o GT-R (e seu progenitor, o Skyline) é um dos carros mais desejados e defendidos por qualquer auto-geek. Talvez seja porque o carro tenha sido vedete de algum jogo de videogame, ou tenha ganhado fama ao desbancar carros bem mais caros quando o assunto é performance. Mas fale mal de um GT-R para algum entusiasta, e você estará em maus lençóis. O GT-R é a versão automobilística daquela piada do dry martini. Se algum dia estiver sozinho, perdido em um deserto, ou terrivelmente sozinho, simplesmente recite com determinação. O Porsche Carrera é melhor que o GT-R. Algum apaixonado pelo último sairá de dentro de um buraco ou pulará de trás de uma pedra para provar o contrário. No universo do whisky, a Springbank é o Nissan GT-R. Um single malt muito bom, mas cuja fama o torna além de irrepreensível. […]

Drops – Glen Scotia Victoriana

A era vitoriana foi bem esquisita. As pessoas possuíam uma pletora de hábitos estranhos. Por exemplo, como não existia televisão, Netflix, internet, smartphones e toda essa parafernália que nos auxilia a evitar o desagradável contato humano diário, os vitorianos tinham que recorrer a formas alternativas de diversão. Um costume bem comum era o de se fantasiar e posar para os outros. Pode parecer tranquilo, mas você gostaria de ver seu sogro vestido de odalisca? Bom, eu não. Outros hábitos estranhos incluíam fotografar os mortos como se estivessem vivos, correr atrás dos adolescentes até que eles estivessem cansados demais para se masturbar (é sério isso!) e comer cérebro de tartaruga. Credo, que nojo. Apesar dos costumes curiosos, a era vitoriana teve uma  prolífica produção cultural – com escritores como Oscar Wilde e Charles Dickens – e uma inegável evolução econômica e científica. Foi durante aquele período que inventaram coisas como a lâmpada, o telefone, pneus de borracha e a máquina de escrever. O petróleo e seus derivados também passaram a ser mais amplamente utilizados. Mas a maior contribuição da era vitoriana foi, sem dúvida, o whisky. Não é que o whisky foi inventado naquele período, não, claro que não. Ele foi criado muito antes disto. […]

Drops – Glen Scotia Double Cask

Às vezes nomes infelizes escondem bons produtos. Foi o caso, por exemplo, do Ford Pinto. Um ótimo automóvel dos anos setenta. Quer dizer, ao menos as unidades que não entravam em combustão espontânea. Não sei quanto a você, mas se eu não soubesse o que é um Pinto – sem trocadilhos aqui, veja que escrevi com “P” maiúsculo – daria simplesmente uma risada meio debochada, e pronto. Seguiria com a vida sem jamais prestar o devido reconhecimento – não sei bem por que – àquele automóvel. Este é o caso também do single malt Glen Scotia, cretinamente batizado de “vale escocês” em gaélico. Um nome óbvio e com todo ar de produto de segunda. Mas, no caso do Glen Scotia, esta impressão não poderia estar mais equivocada. É que assim como Springbank, a Glen Scotia é uma das únicas três destilarias sobreviventes de Campbeltown, cidade que fora, por muito tempo, considerada a capital mundial do whisky. A região, que chegou a contar com trinta e quatro destilarias durante a década de cinquenta, hoje possui apenas três delas. Springbank, Glen Scotia e Glengyle. Esta última, ressuscitada apenas no começo deste século. O que, aliás, causa uma certa confusão entre os admiradores da região. Porque o single malt denominado […]

Drops – Longrow 14 anos

Você já ouviu falar de Springbank? E Campbeltown? Esta última é uma cidade escocesa, que já foi conhecida como a capital mundial do whisky. O vilarejo já chegou a abrigar trinta distilarias distintas. Entretanto, por conta da recessão da década de 30 e a lei seca norte-americana – um dos maiores mercados consumidores na época – apenas três destilarias sobreviveram. Glen Scotia, Glengyle e, claro, a famosíssima Springbank.   A Springbank produz três linhas distintas de whisky. A primeira, homônima – Springbank – é muito levemente turfada. Já a segunda, Hazelburn, não possui qualquer defumação, e é triplamente destilada, dando origem a um whisky adocicado e extremamente leve. Já a terceira – batizada de Longrow – é o oposto da segunda. É um whisky bastante defumado e relativamente oleoso.   A Springbank é uma das únicas da Escócia que ainda faz sua própria malteação – em malting floors na própria destilaria – e engarrafa seus próprios whiskies. Aliás, cem por cento do processo é feito completamente “in-house”. Da malteação ao engarrafamento, tudo ocorre sob o teto da lendária Springbank.   Os primeiros Longrow foram destilados na Springbank em 1973, como uma experiência do então presidente da destilaria, que queria provar que […]