Drops – Bowmore 10 anos Tempest

Se amor à segunda vista existe no mundo do whisky, então, para mim, ele é a Bowmore. Antes de conhecer pessoalmente a destilaria, não tinha qualquer fascínio pelos seus maltes. A maioria deles me parecia uma tentativa defumada de agradar aqueles que não gostam do sabor enfumaçado. Seus nomes, como Darkest, Black, Tempest, Sea Dragon – soavam pretensiosos, e uma forma de demonstrar poder onde não havia nenhum. Mas, para falar a verdade, nunca havia me interessado pela Bowmore. Bem, isso até visitar a destilaria e realmente enxergar de perto a meticulosidade na elaboração dos Bowmore. Da defumação da cevada até a escolha e mistura das barricas, tudo é detalhadamente pensado. Soma-se a isso o armazém de whisky mais antigo de toda Escócia – os famosos No. 1 Vaults – e mais de duzentos e trinta anos de experiência na produção de whisky. A Bowmore é a destilaria mais antiga da ilha de Islay, conhecida por produzir incríveis maltes enfumaçados. E o Bowmore Tempest é  um perfeito exemplo do melhor que Islay tem a oferecer. A maturação do Bowmore Tempest acontece em barricas de carvalho americano que antes contiveram bourbon whiskey. São barricas de primeiro uso – ou seja, é […]

Como investir em whisky – O Cão Didático

Hoje vou começar o texto com um conceito basilar da economia. A lei da oferta e da procura. É um princípio da microeconomia, que postula que o preço de um bem será determinado pelo equilíbrio entre a quantidade procurada e a oferecida. Assim, se há muita demanda por algo, mas poucos exemplares, o preço tende a subir. Porém, se o produto está largamente disponível, mas poucas pessoas têm interesse nele, seu preço diminuirá. O conceito clássico dessa teoria foi cunhado por Adam Smith e, mais tarde, aprimorado por estudiosos e economistas. Mas deixe-me ilustrar com algo mais concreto. Minha filha de três anos, brócolis e brigadeiros. Brigadeiros são produtos de altíssimo interesse para ela. Se minha filha tivesse dinheiro, pagaria uma grana preta por brigadeiros. Mas ela tem apenas três anos e só umas duas ou três moedinhas que demos para ela colocar no cofre de dinossauro. Brócolis, no entanto, não exercem o mesmo fascínio. Se ela pudesse, jamais comeria brócolis novamente. Numa economia regida pelas regras da cãzinha, brigadeiros custariam uma fortuna, mas brócolis seriam terrivelmente baratos. Sua demanda por brigadeiros é muito maior do que a minha oferta. Mesmo porque a demanda dela por brigadeiros quase não tem […]

Drops – Säntis Malt Edition Dreifaltigkeit Peated Cask Strength

Pense na Suíça. O que lhe vêm a cabeça? Vacas malhadas em campos verdejantes com montanhas salpicadas de neve ao fundo. Bancos, muito dinheiro, concentração insana de contas offshore. Obsessão por neutralidade e esportes de inverno. Leite e derivados do leite. Chocolate, queijo suíço. O recém-redescoberto pelas redes sociais queijo raclette. Canivetes. Relógios. Livros infantis sobre crianças, alpes, bodes, e avós. Eu poderia continuar esta lista por bons quatro parágrafos, e, provavelmente, jamais chegaria em whisky. Acontece que a Suíça também produz whisky. E ele é bem bom. Há mais de vinte destilarias no país, produzindo bebidas com a qualidade característica e atenção as detalhes daquele povo. Uma delas é a Locher, que produz os whiskies Säntis. Em 1886 a família Locher comprou uma cervejaria, localizada em Appenezell, que produzia cervejas desde 1830. Na época, era proibido que fosse produzido destilado na Suíça – em grande parte por conta da febre do absinto. Porém, em 1999 a proibição foi revogada. Então Karl Locher, proprietário da cervejaria naquele ano, passou a produzir whisky de malte, maturando-o nas barricas previamente utilizadas para sua cerveja. A primeira expressão da destilaria chegou ao mercado em 2002. O whisky da foto é provavelmente a mais […]

Whiskey Mule

  Quando era criança, não ligava muito para modinhas. Nunca encostei em um tazo e nunca colecionei mini-coca-colas. Mas havia uma coisa que me pegava sempre. Kinder Ovo. Pensando friamente, talvez eu nem gostasse tanto do chocolate. O que mais queria era mesmo a surpresa. Porém, o engraçado é que se eu pudesse encontrar a surpresa sem o tradicional envolvimento de seu delicioso recipiente, eu provavelmente não me interessaria por ela também. O genial do Kinder Ovo é a combinação daqueles elementos. As duas coisas juntas, aliadas à expectativa daquilo que está dentro da capsula o tornam algo irresistível para qualquer criança, tenha ela três ou sessenta anos. Ninguém consegue ficar indiferente e não esboçar, nem que seja a menor curiosidade, ao abrir um Kinder Ovo. Ele é a perfeita fusão entre a obsessão gastronômica e a sede acumuladora. Na coquetelaria, um caso muito parecido é o do Moscow Mule, a versão tradicional do coquetel tema deste post. O Whiskey Mule. O Moscow Mule é a reunião de três elementos que ninguém prestava atenção. Mas que, reunidos, resultaram em um dos coquetéis mais famosos do mundo. Sua história começa na década de 30, com um senhor chamado John Martin, presidente da G.F. Heublein & […]

Drops – Springbank 15 anos

Se você gosta de carros, deve já ter ouvido falar do Nissan GT-R. O Nissan GT-R é o herdeiro do Skyline, um superesportivo japonês ora produzido pela Prince Motor Company. Em 2009, o GT-R entrou para o Guinness como a aceleração mais rápida de 0-100km/h (0-60mph) por um carro com quatro lugares. Mas isso não é importante. O importante é que o GT-R (e seu progenitor, o Skyline) é um dos carros mais desejados e defendidos por qualquer auto-geek. Talvez seja porque o carro tenha sido vedete de algum jogo de videogame, ou tenha ganhado fama ao desbancar carros bem mais caros quando o assunto é performance. Mas fale mal de um GT-R para algum entusiasta, e você estará em maus lençóis. O GT-R é a versão automobilística daquela piada do dry martini. Se algum dia estiver sozinho, perdido em um deserto, ou terrivelmente sozinho, simplesmente recite com determinação. O Porsche Carrera é melhor que o GT-R. Algum apaixonado pelo último sairá de dentro de um buraco ou pulará de trás de uma pedra para provar o contrário. No universo do whisky, a Springbank é o Nissan GT-R. Um single malt muito bom, mas cuja fama o torna além de irrepreensível. […]

Meritocracia – Glenkinchie 12 anos

Se você for um engenheiro ou metereólogo, provavelmente conhece a Teoria do Caos. Mas se não, eu explico. A Teoria do Caos postula que em sistemas complexos, onde há grande número de variáveis, a sensibilidade torna certo resultado imprevisível a longo prazo, devido a ação e iteração, ainda que haja recorrência destas variáveis, ou elementos. Se não entendeu, permita-me exemplificar com um singelo objeto. O guarda-chuvas. Decidir se levará ou não um guarda-chuvas depende de muitos fatores. A temperatura, a quantidade de nuvens no céu, a umidade do ar, entre outros. E talvez você acerte. Mas talvez você erre e fique terrivelmente molhado. Ou esqueça aquele equipamento absolutamente inútil em um restaurante, durante um belíssimo dia ensolarado de verão. A verdade é que impossível prever o tempo com certeza absoluta, porque há muitas variáveis. Mas a teoria do Caos não serve apenas para explicar fenômenos meteorológicos. Ela pode ser aplicada a tudo em nossa vida. E a indústria do whisky não é exceção. Um bom exemplo é a história da Glenkinchie e de sua finada – e agora renascida – irmã Rosebank. É que no começo do século XVIII, quando ambas foram fundadas, nunca alguém imaginaria que a eutanásia de […]

Bebendo o Oscar 2018 – Comparando whiskies e filmes – O Cão Engarrafado

Quando era criança, fazia todo tipo de atividade inútil. Não academicamente inútil, como aprender sobre nematelmintos e platelmintos, mas realmente inútil. Como, sei lá, tentar não pensar numa coisa que eu acabei de pensar. Ou adivinhar a cor do próximo carro que passaria pela janela. Ou – uma das minhas preferidas – repetir uma palavra um zilhão de vezes até que a impressão de seu significado se esvaísse completamente, restando somente a sonoridade. À medida que cresci, essas atividades se sofisticaram. Uma das mais elaboradas envolve uma lombada eletrônica quase em frente ao meu prédio. Toda vez que passo por ela de carro, tento chegar o máximo que posso perto do limite de velocidade, que é de quarenta quilômetros por hora. É um joguinho legal, especialmente quando marco trinta e nove ou trinta e oito. Sorrio por dentro em reconhecimento de minha precisão com o pedal do acelerador. Mas é tão legal quanto inútil, porque, quando eu venço, eu não ganho nada. Mas quando eu perco, levo uma multa. Outra atividade da mesma natureza é tentar relacionar coisas quase não relacionáveis. Encontrar pontos de tangência entre John Lennon e papel higiênico ou entre McRib e loucura. Ou ainda filmes e […]