Balvenie Portwood 21 – Quarentena

Estou há nove dias de quarentena. Mas talvez sejam onze. Os dias da semana não importam mais. A quarentena deu todo um novo sentido para o carpe diem. Eu acordo quando acordar, durmo quando dormir e como quando tiver fome. Minha agenda é do mais cândido vazio. Não há mais horário para nada. É socialmente aceitável beber whisky às nove horas da manhã. Não tenho feito muito exercício, também. A única coisa que tenho exercitado ultimamente é meu ódio. Por exemplo, pelas pessoas que em breve morrerão de inanição mas com a bunda limpa, depois de terem saqueado todo papel higiênico do supermercado. Já tentei uma série de passatempos, dos mais sofisticados – xadrez com a Cã – até os mais triviais, como tentar engolir a própria língua e tentar não pensar em nada, mas continuar pensando em não pensar. Há, porém, algo positivo. Tenho aproveitado o tempo para provar whiskies que há tempos tinha em casa, mas jamais abrira. Talvez por falta de coragem. Talvez por aguardar um momento especial. Bem, não há momento mais especial do que agora, uma segunda-feira. São nove e trinta e dois da manhã, e todo mundo aqui em casa está dormindo. Para melhorar, […]

(mais) quatro whiskies que fazem falta no Brasil

Esta é a segunda edição de um post sobre whiskies que fazem muita falta no Brasil. Para ler a primeira edição, clique aqui . Talvez o momento atual, com um virus que tirou do Aedes Aegypti o monopólio sobre o apocalipse, não seja o ideal pra contar isso. Mas eu adoro viajar. E apaixonado por whiskies e comida que sou, uma das coisas que mais me fascina é a gastronomia. Amo descobrir novos sabores e juro que não há quase nada que eu não provaria. No Peru – quando viajei no ano passado – por exemplo, a primeira coisa que eu resolvi experimentar foi cuy. Que por aqui é conhecido como o fofinho e amável porquinho da índia. É uma iguaria no país, e restaurantes bem conceituados servem o prato. No final, me decepcionei. Tem gosto de frango, e eu detesto frango. Mas a experiência valeu a pena. Outra coisa que eles tem por lá são refrigerantes diferentes. Mais ou menos a mesma história das tubaínas por aqui, mas alguns são bem grandes e famosos. O maior deles é a Inca Kola. Se eu pudesse definir o que é a Inca Kola, em uma frase, eu diria que ela tem […]

Sobre o tema do momento – COVID-19

Talvez vocês não saibam, mas acho que este é ao mesmo tempo o melhor e pior momento para descobrirem. Há mais ou menos três meses abrimos um bar em São Paulo. O Caledonia Whisky & Co. É um lugar que, se eu pudesse definir com uma frase, seria “ele é o Cão Engarrafado materializado”. Tudo que tem por aqui, tem lá. Coquetéis, comida e whisky. Mais de cento e vinte rótulos diferentes de whisky. Por quase três meses, recebemos clientes e amigos, e tem sido uma absoluta delícia. Temos inclusive, já alguns “habitués”- se é que podemos considerar que realmente existem clientes recorrentes em uma casa que, se fosse um bebê, ainda estaria fazendo fezes explosivas. Mas bem, espiritualmente citando Allen Saunders, há coisas que acontecem enquanto fazemos planos, e essa coisa foi o COVID-19. Durante esta semana, nos perguntamos bastante se deveríamos suspender nossas atividades por conta do COVID-19. Mas, como dizem, muitas vezes as respostas para nossas indagações estão nas próprias indagações. Suspender um estabelecimento comercial com pouco menos de três meses de vida, que depende cem por cento de seus clientes no lugar físico não é uma decisão trivial. É uma apneia para todos – clientes e […]

Saratoga Cocktail – Diversidade

Meu pai costuma dizer que o tempero da vida é a diversidade. Tenho que concordar com meu progenitor. Ainda mais em uma época do ano quanto o carnaval. Os bloquinhos são um exemplo. Fico fascinado com o ânimo das pessoas para ir nos bloquinhos, mas, tenho que assumir, não me vejo participando de um nem por dinheiro. Nem por dinheiro não, nem por whisky. Sou totalmente a favor de qualquer manifestação de alegria, ainda mais uma tão espontaneamente agregadora quanto o carnaval. Em especial os bloquinhos de rua. Não ligo nem um pouco para o trânsito causado, e – como dono de um bar recém aberto – nada me revolta a falta de movimento trazida pelas festividades. Mas os bloquinhos reúnem três coisas absolutamente equivocadas: cerveja ruim quente, suor e muita gente. Aliás, gente já seria um motivo mais do que justificável para me demover dos planos carnavalescos. Com calor, ainda pior. Odeio passar calor. Nem piscina quente, eu gosto. Aliás, nunca entendi essa tara das pessoas por piscinas quentes. Que coisa mais sem graça. Para qualquer atividade em uma piscina ficar minimamente interessante, é necessário adicionar ao menos um de dois elementos – álcool ou jogo. Talvez tenha sido […]

Buffalo Trace Bourbon – Gabarito

Hoje vou contar para vocês a história do mais perfeito carro do mundo. Tão perfeito que falhou miseravelmente. O Ford Edsel. Ele foi lançado em 1957, após uma exaustiva pesquisa, que questionava os consumidores sobre o que esperavam de um automóvel. Centenas de pessoas opinaram sobre sua criação. O Edsel possuía basicamente tudo que era tecnologicamente possível na indústria automobilística dos anos cinquenta. Direção hidráulica, câmbio automático, freios auto-ajustáveis e até uma grelha frontal que parecia uma tampa de privada que fora violentamente arrancada e depois perfurada. Acontece que, tentando ser bom em tudo, o Edsel era péssimo. O motor era forte, mas como ele tinha que ser espaçoso, era também pesado. A direção tinha que ser leve, mas sem sacrificar a performance, o que o deixava sua manobrabilidade no meio do caminho entre um navio de cruzeiro e um trator. E para terminar este – literalmente – fracasso rolante, o carro era tão caro quanto um Porsche. Este é o problema de tentar agradar a todos. É quase impossível. Porém, no mundo do whiskey americano, há um rótulo que talvez tenha conseguido. O Buffalo Trace. Se aliens descessem dos céus e perguntassem a todos os bebedores o que esperam […]

Murray McDavid e as Engarrafadoras Independentes

Mil e uma utilidades. Energia que dá gosto. A verdadeira maionese. Todo mundo usa ou use e abuse. Todas as frases anteriores são slogans de marcas famosas. Mas eu nem precisava contar isso para vocês, porque vocês já sabiam. É impossível não pensar no Pão de Açúcar quando alguém fala “lugar de gente feliz”, ainda que eu já tenha ido bem contrariado pro supermercado. Quase todos os slogans trazem uma mensagem comum. São positivos e alegres, e transmitem valores como autenticidade ou confiança. Quase todos, porque há uns poucos bem esquisitos por aí. Como, por exemplo, o da engarrafadora independente Murray McDavid. O slogan deles, em gaélico, é clachan a choin. Antes de contar o que clachan a choin significa, deixe-me falar um pouco sobre a Murray McDavid. Sua sede atualmente é a destilaria de Coleburn, na região escocesa de Speyside. Ela é uma das mais prolíficas engarrafadoras independentes da Escócia. Caso você não saiba, engarrafadoras independentes são empresas que visitam e escolhem barris de diversas destilarias – que não pertencem a ela – e produzem sua própria linha de whiskies. Às vezes, edições bastante limitadas. Outras, nem tanto. O sucesso de uma engarrafadora independente reside, em boa parte, na […]

Celebridades e suas marcas de whisky

Esses dias estava vendo um programa sobre os passatempos das celebridades. Um que me chamou a atenção foi o Nicholas Cage. Ele coleciona animais raros. Uma vez, o Nicholas Cage comprou um polvo de 150 mil dólares, porque, segundo ele, isso aprofundaria sua compreensão sobre outras formas de vida, e melhoraria sua carreira. Sinceramente, moluscos devem ter um péssimo gosto por cinema, porque só de ver a cara do Nicholas Cage, já pulo pra outro filme. Outro que me surpreendeu foi o Tommy Lee Jones. Além de ser especialista em interpretar ele mesmo nos mais variados papéis, Tommy é um entusiasta ferrenho do polo equestre. O ator cria cavalos para o jogo – conhecidos como ponies – em seu rancho no Texas, financia dois times e tem um centro de treinamento de polo em Buenos Aires. Já a Angelina Jolie possui uma enorme coleção de adagas, e o Brad Pitt, de bonecas da Barbie. O que talvez explique o relacionamento conturbado entre os dois. Há, porém, celebridades com hobbies – ou talvez negócios paralelos – menos aleatórios. Muitas delas, por exemplo, gostam tanto de whisky que resolveram lançar suas próprias marcas. Um passo que, para mim, parece absolutamente natural: o […]