Talvez vocês não saibam, mas acho que este é ao mesmo tempo o melhor e pior momento para descobrirem. Há mais ou menos três meses abrimos um bar em São Paulo. O Caledonia Whisky & Co. É um lugar que, se eu pudesse definir com uma frase, seria “ele é o Cão Engarrafado materializado”. Tudo que tem por aqui, tem lá. Coquetéis, comida e whisky. Mais de cento e vinte rótulos diferentes de whisky.
Por quase três meses, recebemos clientes e amigos, e tem sido uma absoluta delícia. Temos inclusive, já alguns “habitués”- se é que podemos considerar que realmente existem clientes recorrentes em uma casa que, se fosse um bebê, ainda estaria fazendo fezes explosivas. Mas bem, espiritualmente citando Allen Saunders, há coisas que acontecem enquanto fazemos planos, e essa coisa foi o COVID-19.
Durante esta semana, nos perguntamos bastante se deveríamos suspender nossas atividades por conta do COVID-19. Mas, como dizem, muitas vezes as respostas para nossas indagações estão nas próprias indagações. Suspender um estabelecimento comercial com pouco menos de três meses de vida, que depende cem por cento de seus clientes no lugar físico não é uma decisão trivial. É uma apneia para todos – clientes e equipe. Mas é o tipo de decisão cujo singelo enunciado já traz a resposta.
Por mais que desejássemos oferecer alguma hospitalidade durante estes tempos incertos, a prioridade estava clara desde o começo. É – e sempre foi – a segurança e a saúde de nossa equipe, clientes e comunidade. Clientes maravilhosos e destemidos, que saíram de sua zona de conforto para conhecer um lugar novo criado por dois malucos apaixonados por whisky. E uma equipe que por algum motivo acreditou em nós, e tem feito um trabalho excepcional. É preciso uma bela porção de coragem para isso.
Por conta disso, e imbuídos de uma coragem quiçá semelhante, que a partir de 17/03, o Caledonia Whisky & Co. suspendeu suas atividades. Suspendeu, porque claro que, em breve, voltaremos. Avaliaremos diariamente as medidas do governo e o avanço da pandemia para definir nossa volta – torcendo para que seja breve. Preferimos nos resguardar agora, do que arriscar um fôlego muito maior no futuro. Mas é importante dizer que nada adianta fazermos nossa parte. Dependemos, também, de você, querido leitor.
Fiquem em casa e peçam para seus amigos, vizinhos e familiares fazerem o mesmo. Não sejam rebeldes – não há nada, exceto o absolutamente essencial para sobrevivência, que não possa ser adiado. Uma viagem, um culto, um cinema, um show, uma festa. Não se cobrem e não deixem ser cobrados. Seu #wanderlust, sua fé (sua divindade entenderá, se ela não entender, é culpa de seus representantes. Mude de religião. O mundo está cheio delas), cinefilia, audiofilia ou sociofilia podem aguardar. O mundo raríssimas vezes é binário. Mas desta vez é. Há o certo e o errado. E o certo é ficar em casa.
Na hipótese altamente improvável de você não saber ainda, a gente explica. O COVID-19 pode ser transmitido pelo ar ou por contato pessoal com todo tipo de fluido corporal nojento que você não gostaria de ter contato nem se a pessoa fosse saudável: gotículas de saliva, espirro, tosse e catarro. E tudo que decorre disso, como toque ou aperto de mão, e contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos. Atenção redobrada com os botões do elevador e da maquininha de cartão de crédito. Mas eu nem preciso falar isso, porque você não vai pegar o elevador e apertar os botões, porque vai ficar em casa. Se ainda tiver dúvidas, leia esse especial do Bar Virtual sobre o COVID-19
Assim, cuidem dos seus, não assumam riscos desnecessários. Mesmo que você seja um jovem bêbado tão resiliente quanto um ratel, aposto que há alguém em seu círculo social que faz parte do grupo de risco. Um pai cardíaco, um amigo com problemas respiratórios. Assim, sejam solidários. Lavem as mãos constantemente. Não encostem no rosto. Usem álcool gel sempre. Não compartilhem copos – nem mesmo de um maravilhoso Johnnie Walker Blue Label Ghost & Rare. Não cumprimentem pessoas com as mãos – mesmo porque, se você não vai sair de casa, não tem ninguém pra cumprimentar com as mãos.
Mas nem tudo é desespero. Aqui, no Cão Engarrafado, a versão imaterial do Caledonia Whisky & Co., traremos a vocês as novidades do mundo do whisky, e uma porção de informações legais para você curtir daí, da segurança de seu lar. Aproveite a oportunidade para abrir aquela garrafa empoeirada de whisky que estava guardando para um momento especial. Ou prepare-se para testar alguns dos coquetéis de nosso bar em casa. Aguardem, as próximas semanas serão difíceis, mas melhores tempos virão.
Parabéns pela postagem! Gostei muito, da mesma forma que gosto das postagens de vocês sobre uísque, uma bebida que comecei a apreciar nos últimos dois anos. Tenho aprendido muito com vocês e espero continuar a aprender. Que a reabertura do bar seja em breve e que um dia em possa sair de Petrópolis e conhecer o Celdonia Whisky & Co!
Recebam, como todos os cidadãos do mundo, minha modesta solidariedade. Entendo como deva ser difícil suspender atividades quando a casa começava a engatinhar. Mas, tenham confiança que vamos superar está fase e irrigar nossos sorrisos brevemente.
Obrigado, caro Paulo!
Gosto muito do senhor, mestre.
Fico feliz que o senhor tenha tomado essa sábia, porém difícil decisão.
Por aqui resolvemos de um dia pro outro. Partimos para um home office, o qual ainda não existia rs.
Força! Sejamos conscientes no momento para que este adversário não tome proporções com as quais não seja possível lidar.
Como lhe disse, ainda tenho que conhecer o Caledônia e ainda tenho que tomar um trago com o senhor.
Abraço cuide -se!
Parabéns pela coragem e lucidez, tão necessários ultimamente.
Não garanto que irei nesta confraria, mas aos que forem, muita saúde..
Obrigado, meu primo canino!!
Salve Cão. Compreendemos a dificil decisão. A vontade de conhecer o seu bar ficou para um futuro proximo, pois uma viagem para São Paulo esta adiada pela mesma razão posta por voce. Por enquanto, so o consumo do estoque de casa.
Cara, comecei a ler recentemente seu blog, e essa postagem me fez admirar ainda mais toda a empreitada.
Vocês fecharam o bar em um momento que as coisas não eram tão claras pra todo mundo, isso demonstra uma tremenda empatia com o público e, especialmente, os funcionários, que geralmente não têm voz nesses momentos.
Assim que toda essa loucura acalmar um pouco, vou a pé (trabalho bem perto) conhecer e tomar alguma coisa.
Fiquem firmes, tudo isso vai passar.
Pedro, muito obrigado pela força! Estamos fazendo o máximo!!