A fortuna favorece os audazes, teria escrito Virgílio. Só quem arrisca ir longe demais descobre até onde pode chegar, completaria T.S. Eliot. Destemido foi aquele que primeiro comeu uma ostra, arremataria Jonathan Swift. Com tanta gente importante dando conselhos motivacionais, duvido que o leitor não se sinta compelido a tentar algo novo.
E por algo novo, não quero dizer nada imprudente. Mantenha seus documentos bem guardados, evite dar – e receber – cadeiradas, e sempre olhe para os dois lados antes de atravessar a rua. Consuma seu espírito de aventura provando um whisky diferente, por exemplo.
Para o mercado brasileiro, os últimos meses foram bastante prolíficos, em lançamentos. Tivemos o primeiro bourbon maturado em barris de vinho; um whisky japonês raríssimo; um blend inovador, dentre outros. Essa lista reúne alguns destes lançamentos, para que você, querido leitor, possa extinguir o décimo terceiro que nem recebeu. Viva perigosamente.
Glenmorangie 18 Infinita
Por muito tempo, a Glenmorangie apostou em sua linha básica no Brasil. 10 anos, e mais três whiskies com finalizações diversas. Atualmente, o portfólio foi expandido, com a adição do Glenmorangie 18 The Inifnita. É o mesmo líquido do antigo 18 Extremely Rare, mas com uma roupagem mais coerente com o novo visual da marca.
A maturação do Glenmoranige 18 the Infinita ocorre em uma combinação de barricas de carvalho americano que antes contiveram bourbon whiskey, e carvalho europeu, que maturou vinho jerez. É um dos preferidos do diretor de criação de whiskies da Glenmorangie, Dr. Bill Lumsden. “Para mim, o Glenmorangie Infinita encapsula cada elemento do nosso estilo de casa em perfeita harmonia e é nossa criação mais deliciosamente complexa.
Angel’s Envy Bourbon
O maior diferencial do Angel’s Envy Bourbon – assim como seu irmão, o Angel’s Envy Finished Rye, já revisto por aqui – é justamente sua maturação um tanto incomum. O whiskey, depois de passar em torno de cinco anos em barris de carvalho americano virgens e tostados, é finalizado por um período de três a seis meses em barricas de vinho do porto. Isso traz ao whiskey um certo aroma vínico doce e frutado.
Isso é bem incomum no mundo dos bourbons, tanto é que tem gente que até acha que a técnica é proibida. Whiskies americanos tendem a maturar em barricas virgens de carvalho americano torradas. Isso se dá por conta da legislação do país – que obriga que todo bourbon, rye ou wheat whiskey estagie nessas barricas. Para os apaixonados por bourbons super-premium, este é escolha certa.
Suntory Hibiki 21
Sempre digo isso quando conduzo eventos com este whisky, e repito aqui. É inacreditável que o Hibiki 21 esteja à venda no mercado brasileiro. É um whisky extremamente raro e concorrido, mesmo em mercados internacionais, bem menos burocráticos e nichados que o nosso. O que indica que, talvez, esta seja a última vez que veremos essa maravilha por aqui.
O Hibiki 21 anos é um blended whisky cujo coração é o single malt Yamazaki, e que leva whiskies das destilarias Hakushu – single malt – e Chita – grain whisky. Whiskies, estes, maturados em barricas de carvalho americano, europeu e japonês – o famoso Mizunara. O componente mais novo tem 21 anos, mas, o aroma e paladar sugerem um overaging relevante. É daqueles capazes de converter até o mais ferrenho entusiasta de single malts para o mundo dos blends.
Macallan Night On Earth
Este é parte de três whiskies da The Macallan que estrearam recentemente no Brasil. O Night On Earth faz uma estranha promessa: “um unboxing espetacular“. São duas caixas, uma dentro da outra, com ilustrações da artista chinesa Nini Sum.
Na composição, o The Macallan Night on Earth leva barricas de carvalho americano de ex-jerez, europeu de ex-jerez e americano de ex-bourbon, algo que acontecia na finada linha Triple Cask. É um whisky sem idade declarada. Sensorialmente, traz notas de frutas e um certo caramelo queimado, ou bala toffee, que é bem agradável, e o destaca dos atuais The Macallan à venda no Brasil. É um malte que sempre convida ao próximo gole.
Royal Salute 21 Miami
Esse nem chegou direito aqui. O que, talvez, faça disso um spoiler. O whisky foi criado por Sandy Hyslop, master blender da Royal Salute. Depois de composto, o blend é finalizado em uma mistura de barris first-fill, previamente usadas para maturar bourbon e rye whiskey. É a primeira vez que a Royal Salute utiliza essa combinação.
Sensorialmente, o Royal Salute Miami Polo Edition é adocicado e levemente apimentado, com uma curiosa nota herbal, que relembra menta fresca, no fundo. Este aroma está mais presente na finalização. O whisky é delicado – mas não tão delicado quanto o tradicional Royal Salute Signature Blend. Em seu coração, ainda está o single malt base de Royal Salute, Strathisla, que também traz um floral perfumado ao blended whisky.