Macallan Harmony Intense Arabica

Dois anônimos apaixonados por café sentam-se no balcão de uma cafeteria. O combustível da humanidade é o café – disse o primeiro, olhando para a frente. Eu sei. Não se toma café para acordar, mas se acorda para tomar café, respondeu o outro. Com um sorriso no rosto, concluiu o primeiro: o nível tecnológico da sociedade seria muito inferior àquele que é hoje, não existisse café. Ao que ambos brindaram com suas xícaras, e com as duas mãos, levaram o líquido quente e marrom à boca. A história acima é totalmente fictícia. Mas, certamente, ocorre todo dia com milhares de admiradores de café. No panteão das bebidas, o café está quase par a par com o whisky, em nível de veneração. Prova disso são as centenas de citações e frases espirituosas sobre café. Ainda que, suspeito, a cafeína ajude nessa parte. É possível escrever uma matéria inteira utilizando apenas lugares comuns sobre café. Café é, também, um combustível para a arte. O cantor Henry Rollings disse, certa vez, que o melhor acompanhamento para uma xícara de café é outra xícara de café. Este Cão e a The Macallan, porém, discordam. A melhor combinação é com o novo The Macallan Harmony […]

High West Double Rye – Da Vontade

O homem livre é senhor da sua vontade e escravo somente da sua consciência, escreveu Aristóteles. Schopenhauer, no entanto, séculos depois, discordou. Para o alemão, o homem é escravo de sua vontade. Como um hamster, correndo desesperadamente em uma roda de exercícios em sua jaula. Tão logo um passo é dado, há necessidade de outro. O conjunto destes passos, entretanto, não chega a lugar nenhum. É um movimento elíptico eterno. Nas palavras de Schopenhauer, “o desejo, por sua natureza, é dor. A sua realização traz rapidamente a saciedade; a posse mata todo o encanto; o desejo ou a necessidade de novo se apresentam sob nova forma. Senão, é o nada, é o vazio (…).” Saciado um desejo ou necessidade, outro surgirá. A sina é estar sempre insatisfeito. Segundo o filósofo, uma das formas de saltar da roda dos desejos é pela apreciação das artes. A contemplação da arte é o bálsamo que aplaca o desejo. Se Schopenhauer se erguesse do túmulo atualmente, ficaria surpreso com Romero Britto e o mercado das artes. Coitado. Arrisco dizer – quiçá um pouco enviesado – que a redenção da vontade é beber. Mas, mesmo aí, há o desejo. Aquele, de experimentar sempre algo melhor. Mais sofisticado, lapidado, mais intenso ou […]

Union Autograph Extraturfado PX Finish

Sábado, sete da manhã. Meu filho se esgueira pela porta entreaberta do meu quarto, e chega bem pertinho da cama. Mas eu não sabia disso, porque eu estava inconsciente, dormindo. Ele me olha do fundo daquele olho branco, e sussurra bem baixinho “papai, papai“, enquanto cucuta meu braço com a delicadeza de uma pluma. Vagarosamente abro os olhos e dou um pulo de susto que quase me faz quicar no teto e voltar. Cruzes, rapaz, quase tenho uma parada cardiorespiratória achando que você é o capiroto! “papai, hoje tem festa junina da escola, vamos?“. Proferida a frase, começo a me convencer que aquilo é, de fato, um pesadelo e ele é o capiroto. Ou que eu morri e fui pro inferno. Olho pra baixo, pra ver se meu corpo está inerte na cama. Mas tudo que eu vejo é o travesseiro. É verdade. Não só acordei de madrugada no sábado, como tenho que acompanhar a criança nessa quermesse do diabo. Mas nem sempre foi assim. Quando eu era criança, também amava festa junina. Mas, pra mim, hoje, festa junina – especialmente da escola – siginifica pegar fila pra comer um hot-dog mais ou menos, carregar uma porção de prendas inúteis […]

Eagle Rare 10 anos – Medalhista

Você sabe quem é Michael Phelps? Provavelmente sim. Ele é o nadador mais famoso do mundo, maior medalhista olímpico da história e atualmente detentor de quatro recordes mundiais, ainda que eu não tenha a mais frágil ideia de quais sejam. Para você ter uma ideia, há uns anos, o Phelps estava empatado com a Índia – sim, o país – no número total de medalhas. Mas ele tinha bem mais de ouro. Considerando toda a história dos jogos olímpicos, Phelps conquistou mais medalhas do que Portugal, Chile, Bahamas e o Quirguistão, seja lá onde isso for. No universo dos bourbons, Phelps poderia ser comparado ao Eagle Rare 10 anos, que acaba de desembarcar oficialmente no Brasil. Ele é um dos mais premiados whiskies americanos do mundo. O Eagle Rare conquistou mais de trinta prêmios na última década, incluindo alguns da Los Angeles International Wine & Spirits Competition, International Spirits Competition e International Wine & Spirits Challenge, três dos mais importantes campeonatos mundiais de bebidas. Ele foi o único whiskey a conseguir cinco medalhas de duplo ouro na San Francisco Spirits Competition, sendo que três delas foram concedidas em anos consecutivos – de 2003 a 2005. O Eagle Rare 10 anos é […]

Sal no Whisky – um complô sensorial

Eu não me lembro da primeira vez que vi o oceano. Nem deveria. Provavelmente tinha menos de um ano de idade. Mas bastava chegar perto de algo com o mesmo aroma, que minha memória remetia, imediatamente, àquela praia apinhada de guarda-sóis, com a rebentação das ondas no fundo. O cheiro de mar é inconfundível. Muitos anos mais tarde, li uma matéria que dizia que o cheiro de mar não era sal. Mas, sim, um composto químico, chamado dimetilsufeto (DMS). É uma substância liberada por bactérias marinhas e plâncton. Para criaturas marinhas, tem cheiro de almoço, porque é desses microorganismos que os peixes menores se alimentam. E os maiores se alimentam dos menores. Não é poético, não tem água de coco, raspadinha e castelos de areia. Ao menos, não para os peixinhos convertidos em refeição. Mas é o que é. Agora, imagine tentar identificar os aromas de certo whisky, e se deparar com essa memória do oceano. Soa estranho, e na verdade é mesmo. Mas, faz todo sentido. Muitos whiskies possuem um sabor salgado. É o caso, por exemplo, do Old Pulteney, recentemente lançado no Brasil. E muitos outros, como Clynelish, Oban e Talisker. Como um bom whisky geek, indaguei – […]

Frisco Cocktail – Mergulho

Quando eu tinha uns vinte e poucos anos, decidi, durante uma viagem, que ia tentar mergulhar. Na verdade, não decidi. Fui delicadamente coagido pela Cã, que, àquela altura, era minha recém consorte, e eu faria tudo para agradá-la. Na vertical, eu não fazia o menor sentido. Snorkel na boca, calção florido, pés de pato. Não poderia estar menos à vontade em uma camisa de força. Na horizontal, cabeça no mar e costas ao sol, tudo fez sentido. Mergulhar de snorkel era bem legal. Dava para ver um pequeno recife de corais e peixes que deslizavam graciosamente pelas cores do leito marítimo. Passei uma boa meia-hora lá – ou talvez umas três – e prometi que repetiria. Até, claro, descobrir que minhas costas haviam adquirido um curioso tom salmão, e ardiam ao primeiro toque. E, também, que meu ouvido, ao menor sinal de água, tornava-se uma enorme bexiga capaz de explodir, por pura pressão, meu canal auditivo. No final das contas, adorei e destestei a experiência ao mesmo tempo. Mas descobri que, às vezes, não é preciso muito esforço para descobrir algo completamente novo. Só uma certa boa vontade e uma natural inconsequência. Que, reconheço, é bem mais fácil de ostentar […]

AnCnoc 12 anos – Homonimos

Na escola, eu tinha um amigo que se chamava Christiarley. Ninguém acertava a fonética de primeira. Por outro lado, o nome trazia certa singularidade. Nomes são uma coisa engraçada, alguns são terrivelmente comuns, e exigem que seu detentor compense pela personalidade. Outros são tão únicos que precedem qualquer juízo. Isso inclusive, acontece muito no setor de entretenimento. Imagine tentar virar um grande artista, e, repentinamente, descobrir que alguém que já chegou lá tem o mesmo nome que você. Foi o caso de Michael Douglas e Michael Keaton, que, por acaso, se chama também Michael Douglas. Pode acontecer também de você ser um jogador de golfe profissional, e todo mundo te pedir autógrafo por causa de seu papel em Parks & Recreation. Aconteceu com o par de Adam Scotts. Nem o mundo do whisky está isendo destes homônimos. O mais famoso caso é do Michael Jackson. Não, não o rei do pop. Mas o estudioso de cervejas e destilados, e um dos maiores especialistas em whisky de todos os tempos. Foram os estudos de Michael Jackson que levaram a Scotch Whisky Association a delimitar as áreas de produção de whisky na Escócia. Quiçá, ao som de thriller. Há também outro par […]

Old Pulteney 12 anos – Aurora Boreal

Há milhares de anos, vikings e indígenas na América do Norte observavam o céu mesmerizados. Uma cortina de luz pulsante e sinuosa se apresentava no horizonte. Era como se um grande rio entremeado por montanhas se estendesse pelo céu, brilhando numa paleta de cores que variava do verde claro ao roxo, com vividez impressionante. Inuítes, Chipewyan e Vikings tinham nomes diferentes para aquele fenômeno, que hoje conhecemos como Aurora Boreal. A explicação também era diferente. Os Nórdicos acreditavam que as luzes vinham das cintilantes armaduras das Valquírias, que cavalgavam no congelante céu do inverno. Atualmente, entretanto, a ciência já desvendou o mistério. São partículas carregadas de vento solar, que colidem com a atmosfera da terra e produzem este maravilhoso efeito. Curiosamente ou não, em minha opinião, a explicação moderna é muito mais bela e poética. Mas há centenas de mistérios ainda não resolvidos, mesmo sob o excruciante olhar da ciência. O mecanismo de Antikythera, o chupacabras, o manuscrito Voynich e os raios-bola por exemplo. E claro que o mundo do whisky não sairia ileso desta. Ele tem seus próprios mistérios e segredos. Um deles envolve uma marca que acaba de desembarcar no Brasil. Old Pulteney. A indagação sobre a origem […]

World Whisky Day – Whiskies do Mundo

Eu nem ia fazer este post, porque já fiz três vezes. Mas senti, num último minuto, que a data não podia passar em branco. Afinal, é um dos dias mais importantes do ano, que supera muito o natal, e nem se compara com o dia dos namorados. Ontem foi o World Whisky Day. Se você duvida da relevância da efeméride, só reflita: se você esquecer o dia dos namorados, provavelmente sofrerá retaliações nefastas. Esqueça o WWD e nada ocorrerá. O whisky é compreensivo e companheiro. O World Whisky Day foi criado em 2012 por um rapaz chamado Blair Bowman. A ideia de Blair era simples: criar um dia para que as pessoas pudessem se encontrar, comemorar e descobrir mais sobre a bebida nacional da Escócia. A ideia não só deu certo, como decolou. Atualmente, o World Whisky Day é um dos dias mais importantes do ano para a cultura do whisky, juntamente com o segundo dia do whisky o International Whisky Day. Aliás, pense novamente. Dia dos namorados tem um só. Whisky tem dois. E não, Valentine’s Day é coisa de gringo, não conta. Há uns anos, indiquei cinco whiskies para se beber com os amigos. Agora, vou indicar mais […]

Revolver – Dos Triciclos

Quando eu era criancinha, tive um triciclo. Eu ia da sala pra cozinha pedalando como se o capiroto tivesse possuído minhas pernas, tão rápido que meus braços gordinhos nem conseguiam segurar o guidão reto. O que, naturalmente, resutlava em toda espécie de pequeno acidente doméstico. Raspar uma parede, acertar um vidro – esse foi um pouco mais grave – e passar por cima do pé dos adultos. Até aqui, nada demais sobre isso, afinal, quase toda criança teve um. Faz sentido – é um meio de transporte que transpira infância. O que não cabe em minha cabeça, é o triciclo para o adulto que mora em cidade. E não tô falando de algo como um tuk-tuk, mas aquele bem caro, que parece que foi parido por um caça F-117. Há um sortilégio de modelos por aí, alguns bem bonitos. Aliás, tão belos quanto inúteis. O triciclo é o contrário da coxinha de calabresa, que une o melhor dos dois mundos. Ele reúne, sobre três rodas, todo desconforto de uma motocicleta com a impossibilidade de usar o corredor de motos. Em outras palavras, se começa a chover, você fica molhado e parado no trânsito igual um carro. Ridículo. Devo confessar que […]