Quando eu tinha uns vinte e poucos anos, decidi, durante uma viagem, que ia tentar mergulhar. Na verdade, não decidi. Fui delicadamente coagido pela Cã, que, àquela altura, era minha recém consorte, e eu faria tudo para agradá-la. Na vertical, eu não fazia o menor sentido. Snorkel na boca, calção florido, pés de pato. Não poderia estar menos à vontade em uma camisa de força. Na horizontal, cabeça no mar e costas ao sol, tudo fez sentido.
Mergulhar de snorkel era bem legal. Dava para ver um pequeno recife de corais e peixes que deslizavam graciosamente pelas cores do leito marítimo. Passei uma boa meia-hora lá – ou talvez umas três – e prometi que repetiria. Até, claro, descobrir que minhas costas haviam adquirido um curioso tom salmão, e ardiam ao primeiro toque. E, também, que meu ouvido, ao menor sinal de água, tornava-se uma enorme bexiga capaz de explodir, por pura pressão, meu canal auditivo.
No final das contas, adorei e destestei a experiência ao mesmo tempo. Mas descobri que, às vezes, não é preciso muito esforço para descobrir algo completamente novo. Só uma certa boa vontade e uma natural inconsequência. Que, reconheço, é bem mais fácil de ostentar às duas décadas de idade do que quase às quatro.
Com coquetelaria, a história é meio igual. Muitos de nós ficamos sempre nos mesmos. Negroni, Boulevardier, Gim-Tônica, Whiskey Sour, Manhattan, Dry Martini e, talvez mais recentemente, Fitzgerald. Mas acontece que cada um destes drinks representa uma pequena ilha num arquipélago de possibilidades. Troque o xarope de açúcar de um Old Fashioned, e você terá um fancy. O mesmo acontece com os sours – que talvez estejam par a par com os martinis em variações. Uma dessas é o Frisco, coquetel tema deste post.
O Frisco leva, basicamente, Rye Whiskey, Benedictine, Limão Siciliano e Limão Tahiti. Exceto talvez pelo Benedictine – que está em diversas outras receitas de clássicos – é um dos drinks obscuros a figurar nestas páginas com os ingredientes mais acessíveis.
De acordo com o website Tuxedo No.2, há duas versões de Frisco. O Frisco, e o Frisco Sour. O Frisco é basicamente rye com um xabláu de Benedictine e uma rodela de limão. O Frisco Sour, entretanto, leva suco de limão em sua receita, e tem as medidas um pouco mais definidas. O Frisco (não sour) apareceu pela primeira vez no livro World Drinks and How to Mix Them, de William Boothby, em 1934. Depois, ganhou diversas mudanças. Dentre elas, a conversão para um sour.
Uma dessas versões é a do bar Employee’s Only, de Nova York. Ela usa dois tipos diferentes de limão, para regular a acidez e trazer complexidade. Mas, você pode testar da forma que mais lhe agradar. Lembre-se que quanto mais ácida for a fruta, mais Benedictine será usado. Este Cão não aconselha trocar o rye por bourbon neste caso. O drink carece da pegada herbal, mentolada, dos rye.
Assim, caros leitores, sem maiores mergulhos, vamos à receita. Equipem-se com seus snorkels etílicos para uma submersão nos sabores cítricos e adocicados do Frisco. Ou Frisco Sour.
FRISCO
INGREDIENTES
- 60ml Rye (use Jim Beam Rye. Vai dar certo, confie na minha visão)
- 30ml Benedictine
- 45ml suco de limao tahiti
- 15ml suco de limão siciliano
- Parafernália para bater
PREPARO
- Adicione tudo numa coqueteleira com bastante gelo e bata vigorosamente
- Adicione a uma taça gelada
- Se estiver se sentindo sofisticado, decore com uma cereja maraschino ou um twist de limão.
Grande Mauricio boa tarde meu amigo.
Tenho em casa um Buillett, acha que seria uma razoável escolha para o citado coquetel ?!
Ou ocorre o risco de a pegada um pouco mais seca do Buillett não casar bem com o cítrico do limão ?!
Aguardo seu breve retorno, Abc Forte.
Gabriel Saint Martin