Drink do Cão – Flying Scotsman

Há uns cinco anos atrás viajei para o Peru com a querida Cã. Uma viagem que no papel parecia no máximo interessante, mas que superou muito minhas expectativas. Muito provavelmente porque, também, eu não tinha tantas expectativas assim. Aliás, talvez este seja o segredo para a repentina alegria. Não esperar nada. Nunca. É como aquele whisky barato, que não promete muita coisa, mas entrega o mundo. Mas estou a digressionar. De volta à viagem que muito me surpreendeu. Fiquei apaixonado pelas ruínas de Macchu Picchu – ainda que ruínas de civilizações antigas não sejam muito minha preferência – e adorei voar sobre as linhas Nazca. Mas o ponto alto, o melhor mesmo, foi a viagem ferroviária entre Cuzco e Aguas Calientes, à bordo do Hiram Bingham. Um trem incrível, decorado no estilo dos Pullmans da década de vinte, que conta com um vagão-bar, inteiramente de vidro. Achei aquela ideia magnífica. Era a união de três elementos: a tontura causada pelo mal de altitude, o sacolejar do vagão sobre os trilhos e um balcão open-bar de coquetéis. A receita perfeita para um Cão confortavelmente trôpego. Achei aquela a melhor experiência que alguém poderia ter sobre trilhos. Quer dizer, até descobrir que […]

Jameson Tea & Lime – Drink do Cão

Hoje, meu caros leitores, falarei de um assunto bastante improvável. Falarei de botânica. Mais especificamente de uma fruta. O Prunus persica. Talvez você não o conheça pelo nome científico, mas certamente já experimentou. Ele é rosado, arredondado e possui uma textura curiosamente aveludada e agradável. É bastante consumido em sua forma natural e muito saboroso. Falo do pêssego. Uma rápida pesquisa na internet revela que o fruto também é muito benéfico. O pêssego é rico em fósforo, potássio e vitamina A, importantes nutrientes para os ossos e a visão. Além disso, eles contém muitos fenóis e carotenoides, que – conforme minha pesquisa de duvidável autenticidade – combatem tumores e são extremamente benéficos para a pele. E como se tudo isso não fosse suficiente, a pele do pêssego é rica em fibras, excelente para regular o intestino. Reúna o pêssego com o limão e você terá uma panaceia em forma de fruta. O limão auxilia na digestão – produzindo um interessante combo com o pêssego – e é riquíssimo em vitamina C, essencial para o sistema imunológico. Você poderia, claro, consumir as duas frutas em sua forma pura, sentindo-se saudável e recompensado. Porém, este Cão possui uma solução melhor. Uma solução que envolve […]

Drink do Cão – Rusty Nail

“A simplicidade é o tom de toda verdadeira elegância” A frase acima, atribuída a Coco Chanel – sim, a da grife de moda – provavelmente tinha como objeto algum artigo de alta costura. Um belo vestido, um chapéu ou uma bela bolsa. Se este Cão não soubesse melhor, porém, poderia afirmar que a frase fora dita pela estilista ao preparar e provar um Rusty Nail. Composto por apenas dois ingredientes – Drambuie e whisky – o coquetel é a liquefação da citação de Chanel. Um drink simples, facílimo de ser preparado, mas um clássico atemporal. Tanto é que atualmente, o Rusty Nail figura entre os “inesquecíveis” da International Bartender’s Association (a Associação Internacional de Bartenders) e está entre os cem mais do Difford’s Guide. O engraçado é que até hoje, a origem de seu nome, que significa “prego enferrujado” em inglês, é desconhecida. O sucesso do Rusty Nail, porém, demorou um pouco para – perdão pela metáfora oportunista – pregar. De acordo com David Wondrich, historiador especializado em coquetelaria, nas quase três décadas iniciais de vida do Drambuie, nenhuma referência foi feita a ele. Segundo Wondrich, sua primeira aparição foi em 1937, pelas mãos de certo  F. Benniman, sob a alcunha de  B.I.F. O coquetel […]

Chivas Extra – Juntos e Extraordinários – Final

Qual seu programa de domingo? Bem, em um domingo qualquer, um domingo ordinário, eu provavelmente acordaria tarde, almoçaria e veria um filme em casa. Talvez prepararia algum texto para este blog. Ou acordaria cedo e sairia com a Cãzinha para algum parque ou museu. E a tarde, quando ela dormisse, me afundaria no sofá ao confortável e constante som da rota de aviões que passa próxima à minha casa. O que, convenhamos, é ótimo. Mas este domingo – dia 09 de julho – foi um dia extraordinário. Não, não é por conta do feriado da revolução constitucionalista. Mas porque este Cão foi convidado para participar, como jurado, do primeiro campeonato de coquetelaria do whisky Chivas Extra. Um convite decerto extraordinário. O Concurso,  batizado de “Juntos & Extraordinários” marcou o lançamento do Chivas Extra para os bares brasileiros. A ideia é mostrar a versatilidade do whisky também do lado de lá do balcão. Assim, o bartender deveria elaborar um coquetel que tivesse como base o Chivas Extra, dentro do tema “Quais ingredientes que juntos formam um drink extraordinário” e divulgá-lo via Instagram. Dentre os competidores, cinco de cada região foram selecionados. Para a  segunda etapa de São Paulo, que aconteceu neste extraordinário […]

Drink do Cão – Sazerac

Há algumas semanas falei sobre a incrível combinação de influências que trouxe a cidade de New Orleans sua riqueza cultural. Na oportunidade, entretanto, deixei de mencionar o cinema. É que a cidade também foi palco de mais de uma dezena de filmes memoráveis, como Bad Lieutenant, Um Bonde Chamado Desejo, O Curioso Caso de Benjamin Button, Ray e Doze Anos de Escravidão. Além destas películas incriveis, New Orleans também foi a ambientação escolhida para o filme mais esquisito e surreal de James Bond. Live and Let Die – em português, Com 007 vida e deixe morrer. Se você nunca viu, ou não acha estranho, deixe-me apresentar alguns elementos da película. Há o improvável assassinato de um homem por uma banda de instrumentos de sopro. Há a tradicional misoginia, magia negra, um espírito imortal do vodu, tarô – ou melhor, uma taróloga – e um personagem que explode ao engolir um tanque de ar comprimido. Elementos que aparentemente não combinam. E, na verdade, não combinam mesmo. Apesar de estar lá na borderline entre o medíocre e o cult, Live and Let Die possui alguns ótimos momentos. A perseguição de lanchas, que conta com uma piscina, um casamento e um incrível salto é excelente. E, claro, aquele […]

Drink do Cão – Vieux Carré – Revisto 05/20

New Orleans é uma cidade curiosa. Ela possui pouco menos de trezentos e noventa mil habitantes. Porém, é um verdadeiro caldeirão de influências e produção cultural. É um pólo da cultura Creole e Cajun. Foi o lar de Tennessee Williams, dramaturgo e autor de peças como Boneca de Carne e Gata em teto de Zinco. Além disso, a cidade foi um dos berços do Jazz. Toda essa prolífica produção tem uma razão. A incrível conjunção das mais distintas culturas. Ao longo de sua história, New Orleans foi influenciada por franceses, espanhóis, ingleses e negros de diversas nações africanas. Foi a combinação de elementos destes povos que trouxe à cidade sua riqueza cultural – hoje um pólo turístico para amantes de música, literatura, cinema, arquitetura e culinária. Aliás, a cidade é excelente em justamente isto. Misturar. Porque lá foi lá também que nasceram alguns dos mais incríveis coquetéis clássicos, como o Sazerac e o Vieux Carré. Este último, batizado justamente em homenagem ao quarteirão mais conhecido da cidade – o French Quarter, também conhecido como Vieux Carré (“praça velha”). O Vieux Carré foi criado na década de trinta por Walter Bergeron, do Carousel Bar – que até hoje existe, dentro do […]

Sobre Aperol e Aeronaves – Paper Plane – Drink do Cão

Vou contar uma coisa pra vocês. Se vocês acharem muito esquisito, ou ficarem revoltados, paciência. Podem fechar o navegador, deixar de seguir o Cão no Instagram e me bloquear no Facebook. Pensei por muito tempo se deveria ou não contar isso, porque, afinal, em um mundo tão polarizado e ao mesmo tempo cheio de verdades absolutas, é sempre difícil assumir que se tem uma opinão diferente do que parece ser um consenso quase geral. Demanda um certo sangue frio e maturidade para enfrentar as consequências. Mas vou falar. Não gosto de Nutella. Mentira, Não é que eu não gosto de Nutella. Eu não gosto de frango, o que é bem diferente. Mas eu eu simplesmente não ligo pra Nutella. Nunca entendi o fervor online causado por essa pasta. E isso me incomoda um pouco, porque me sinto excluído desse Zeitgeist gastronômico. Especialmente quando não compartilho do entusiasmo causado por coisas relacionadas que levam os outros à loucura. Como, por exemplo, um enroladinho de nutella e bacon, que encontrei num site de receitas online recentemente. A Nutella encabeça uma longa lista de coisas que não me incomodam, mas também não me emocionam – outras são camarão, pizza, The Beatles (é, eu sei, eles foram revolucionários, okey) e […]

Drink do Cão – Brown Derby

Você sabe o que é uma toranja?  Eu descobri apenas recentemente. Uma toranja é uma fruta. Mais especificamente, uma fruta híbrida, resultado do cruzamento entre uma laranja e um pômelo – outra coisa que eu nunca tinha ouvido falar. Se você é afeito a americanismos, talvez a conheça pelo nome internacional: grapefruit. A toranja – como quase toda fruta – possui um punhado de vitaminas e substâncias benéficas à saúde. Ela ajuda no emagrecimento, e há até uma dieta baseada nela (ainda que exista dieta baseada em tudo hoje em dia). Ela também ajuda a prevenir doenças do coração, como infarto do miocárdio. Como se não bastasse, reduz também a chance de algumas moléstias bem nojentas e feias, como a gota. Por fim, também evita o envelhecimento precoce, por ter propriedades antioxidantes. A toranja é um milagre em forma de vegetal. No entanto, até a semana passada, ignorava totalmente a existência do fruto. Para mim, não passava de uma laranja que cresceu demais. Porém, meu desdém por ela desapareceu tão logo esbarrei em algo que muito me chamou a atenção. Um elixir da juventude. Um coquetel que une as maravilhas da toranja com a melhor bebida do mundo. o whisky. […]

Drink do Cão – Bobby Burns

Se você está procurando um pretexto para beber, chegou ao lugar certo. E na data perfeita. É que hoje é uma das noites mais especiais para os amantes de whisky. A Burn’s Night, criada em homenagem ao mais famoso poeta de toda história escocesa – Robert Burns. Se quiser saber mais sobre a comemoração, o bardo e sua paixão por embutidos de tripas e estômago de bode, leia nosso texto do ano passado sobre a Burn’s Night aqui. Senão, continue aqui comigo. Robert Burns nasceu em 1759 em Ayshire, e foi um dos precursores do movimento romântico. Ele escreveu sobre temas de grande intensidade – e atuais até hoje – como liberdade, identidade nacional, iniquidade e igualdade de gênero. Mas, além disso, Burns também tratou de assuntos corriqueiros. Bem corriqueiros. Mesmo. Um exemplo é seu poema “To a Mouse” (Para um Rato) que ele teria escrito após se sentir mortalmente arrependido de ter acidentalmente pisado em uma toca de ratos, durante uma de suas caminhadas. Ou “To a Mountain Daisy” (Para uma Margarida da Montanha), concebido por ele após, em outra feita, esmagar uma flor. De onde podemos concluir que Burns devia passar o dia pensando em poesia, e realmente não prestava […]

Quatro Coquetéis (com whisky) para o Verão

Estamos naquela época do ano. É janeiro, está calor e faz sol. A combinação perfeita entre a falta de trabalho e a inclinação climática ideal para ir à praia. E o meu Instagram não deixa dúvidas, todos estão bronzeados, felizes e devidamente alcoolizados neste incivilizado calor infernal. Todos, menos eu. Primeiro porque eu não fico bronzeado – eu fico queimado mesmo, tipo um leitão que ficou muito tempo no forno. E o calor insiste em atrapalhar minha felicidade que passa, em grande parte, pelo conforto térmico. Pelo conforto térmico e pela possibilidade de beber algo mais acalentador. Como whisky. Porque beber whisky é bom em qualquer temperatura, mas é bem – realmente bem – melhor quando está frio. E aí, longe da praia e transpirando, penso em alternativas para tomar minha bebida preferida sem recorrer ao gelo ou congelador. E a melhor saída, é, sem nenhuma dúvida, a coquetelaria. A coquetelaria é quase uma espécie de bruxaria que consegue tornar completamente palatável até o mais defumado e alcoólico whisky, mesmo na temperatura do inferno dantesco. Se você é como eu, talvez este post lhe seja de utilidade. Aí vão três drinks já revistos nestas páginas – e um inédito – para lhe […]