Drink do Cão – Sazerac

Há algumas semanas falei sobre a incrível combinação de influências que trouxe a cidade de New Orleans sua riqueza cultural. Na oportunidade, entretanto, deixei de mencionar o cinema. É que a cidade também foi palco de mais de uma dezena de filmes memoráveis, como Bad Lieutenant, Um Bonde Chamado Desejo, O Curioso Caso de Benjamin Button, Ray e Doze Anos de Escravidão.

Além destas películas incriveis, New Orleans também foi a ambientação escolhida para o filme mais esquisito e surreal de James Bond. Live and Let Die – em português, Com 007 vida e deixe morrer. Se você nunca viu, ou não acha estranho, deixe-me apresentar alguns elementos da película. Há o improvável assassinato de um homem por uma banda de instrumentos de sopro. Há a tradicional misoginia, magia negra, um espírito imortal do vodu, tarô – ou melhor, uma taróloga – e um personagem que explode ao engolir um tanque de ar comprimido. Elementos que aparentemente não combinam. E, na verdade, não combinam mesmo.

Sério, que viagem.

Apesar de estar lá na borderline entre o medíocre e o cult, Live and Let Die possui alguns ótimos momentos. A perseguição de lanchas, que conta com uma piscina, um casamento e um incrível salto é excelente. E, claro, aquele já antecipado momento em que nosso agente secreto preferido vai aos copos.

Em Live and Let Die, 007 troca sua bebida de combate. Ao invés de dry martinis ou The Macallan, 007 bebe Sazeracs. Há uma cena em que ele e Felix leiter – sua versão americana na CIA – entram em um bar. Bond pede bourbon sem gelo. Mas Felix o impede, e solicita dois Sazeracs. Ao notar o semblante surpreso do agente inglês, Felix diz “onde está seu apetite pela aventura? – Estamos em Nova Orleans, relaxa!”.

E se eu fosse Leiter, teria feito justamente o mesmo pedido. É que o Sazerac, um dos mais clássicos coqueteis de todos os tempos, foi justamente criado naquela cidade. Seu nome vem do conhaque Sazerac de Forge, que compunha sua receita original. O tal conhaque era importado por um bartender chamado Sewell Taylor, que possuía uma espécie de híbrido entre loja e bar, o Merchants Exchange Coffee House, em New Orleans, lá por 1850.

Algum tempo mais tarde, Sewell vendeu seu empreendimento para Aaron Bird, que resolveu renomeá-lo de “Sazerac Coffee House”. Para promover o lugar, Bird inventou um drink da casa, que levava o aclamado conhaque, açucar e Peychaud’s bitters, produzidos pelo apotecário do Sr. Peychaud, que ficava apenas alguns metros distante.

Crocodilos. Porque faz mais sentido que o filme do 007.

Acontece que, mesmo sendo uma invenção excelente, aquele Sazerac não seria o mesmo por muito tempo. Durante a segunda metade do século dezenove, obter conhaque estava cada vez mais difícil. O fungo phylloxera – o mesmo que auxiliou o whisky escocês ganhar espaço internacional – havia devastado as vinícolas francesas. Assim, engenhosamente, aquele brandy foi substituído por Rye Whiskey.

E esta não foi a única mudança. O absinto era outra bebida em alta naquela época. Assim, nada mais natural do que, em algum ponto do percurso, alguém ter a ideia de adicioná-lo ao coquetel. E assim nasceu o Sazerac que hoje conhecemos. Com Rye Whiskey ao invés de conhaque. E com um toque de absinto.

A preparação do Sazerac é interessantíssima. O absinto é apenas usado para untar o copo. Os demais ingredientes, porém, são preparados como em um old fashioned – que provavelmente foi a inspiração da receita original daquele coquetel de conhaque.

Mas vamos parar com o papo. Com vocês, um dos mais clássicos entre os clássicos. Uma reunião de ingredientes tão improvável quanto um filme que une espionagem, magia negra e tráfico de drogas. A fusão entre o absinto e o whiskey. O Sazerac.

SAZERAC

INGREDIENTES

  • 2 Doses de Rye Whiskey (se não tiver, aposte em um bourbon com boa proporção de centeio em sua composição, como o Woodford Reserve ou o Bulleit).
  • 1/2 dose de calda de açúcar (proporção 1:1. Veja como fazê-la aqui) ou 1 torrão de açúcar
  • 3 dashes de Peychaud’s bitters – Se não tiver, vá sem, ou use sua criatividade.
  • 2 dashes de Angostura bitters
  • Absinto
  • Copo baixo ou taça coupé (existe uma certa polêmica aqui. Sério, escolha o que você achar mais bonito)
  • Mixing Glass (ou um copo para misturar)
  • Colher bailarina (ou algum instrumento apto a misturar)
  • Strainer (já sabe, improvise com uma peneira)
  • gelo
  • casca de limão siciliano para guarnição

 

PREPARO

  1. Pegue o copo baixo ou a taça coupé e despeje uma pequena quantidade de absinto. Gire a taça, como se a tivesse untando e depois descarte o excesso de absinto. A ideia é que a taça – ou copo – fique com o aroma da bebida.
  2. No mixing glass com bastante gelo, adicione o whiskey, a calda de açúcar e os bitters. Misture com a bailarina. Se optar pelo torrão de açúcar, adicione o torrão, depois embeba com os bitters. Adicione o whiskey e mexa até que o açúcar tenha se dissolvido quase inteiramente. Depois, adicione o gelo e mexa novamente.
  3. Com o auxílio do strainer, desça naquele primeiro copo, que você passou o absinto.
  4. Adicione uma pequena casca de limão siciliano como guarnição.

 

 

 

6 thoughts on “Drink do Cão – Sazerac

  1. Como vai, mestre?
    007 tem sempre boas indicações alcoólicas, ainda que muitas vezes a história não faça muito sentido haha.
    Grande abraço!

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