International Scotch Day – Ou #lovescotch

Hoje é véspera de Carnaval – afinal, estamos em Fevereiro, e Fevereiro inteiro é véspera de Carnaval. Este são já é um excelente motivo para beber whisky, mesmo que para mim, não seja necessário qualquer pretexto para isso. Entretanto, se para você isto não for suficiente, não há razão para pânico. Hoje é um dia especial para o whisky. Hoje é o Dia Internacional do Scotch (International Scotch Day). Além do Dia Internacional do Scotch, a melhor bebida do mundo é celebrada em outras duas datas. No dia 20 de maio (World Whisky Day) e no dia 27 de março (International Whisky Day). Parece confuso e é. Mesmo porque, essencialmente, os dias comemoram a mesma coisa e do mesmo jeito, ainda que suas histórias sejam diferentes. Mas também, quem reclamaria de beber whisky por mais um dia do ano, não é mesmo? O International Scotch Day foi criado em 2017 pela Diageo, que – caso você tenha a sorte de estar na Escócia – abrirá todas as suas destilarias para visitação gratuita. Estamos falando de Clynelish, Talisker, Lagavulin, Cragganmore, Cardhu, Glenkinchie e Oban, entre outras. E, se você morar no futuro, Brora e Port Ellen também. Mas as comemorações não acontecerão apenas por […]

Drink do Cão – Whiskey Sour

Hoje, a caminho do trabalho, meu carro me disse que precisava de revisão. O módulo do controle eletrônico de amortecimento – ou algo assim – não estava funcionando. Chegando lá, liguei para a oficina enquanto preprava um café na nova máquina. Mas me confundi. A secretária atendeu bem na hora em que eu ajustava a temperatura e escolhia se meu expresso seria longo, normal ou ristretto. Acabei fazendo um chafé escaldante. Marquei a revisão do carro às pressas, e, irritado, fui à cafeteria. Pedi um café e um brigadeiro. A caixa então perguntou qual brigadeiro eu queria. Sei lá, brigadeiro não é tudo igual, retruquei. Não, agora temos uma seleção de mais de dez diferentes, tem, por exemplo, paçoca, chocolate belga, pistache, doce de leite, café. Sabe, não sou um nostálgico da desafetação. Mas naquele dia queria apenas um pouco de simplicidade. Um café espresso, um brigadeiro de brigadeiro e um carro que não sabe falar e que não tira peças com nomes esquisitos da sua metafórica cartola eletrônica. Mas eu sei que esse é um movimento natural das coisas em nossa sociedade. Elas começam simples, mas à medida que o tempo passa, vão se sofisticando. É uma característica que não […]

Como identificar um whisky falso (de verdade) – O Cão Engarrafado

Comprei um fone de ouvido. Outro, porque aquele meu fantástico encontrou seu destino ao despencar no chão. Durou menos de dois anos e custou mais caro que prosecco no réveillon. Revoltado, resolvi que compraria algo bem mais em conta, ainda que quisesse também um visual bonito. Um website internacional de réplicas resolveu meu problema. Um belíssimo fone preto, estilo aviador. A marca, não fosse uma vogal de diferença, seria uma das melhores para equipamentos eletrônicos da espécie – Buse. Aquele Buse era quase idêntico ao original. Sério, era quase impossível desmascará-lo. Exceto no que importava. O som. Os baixos eram altos demais, e os altos, muito baixos. O volume máximo era o correspondente àquele atingido por minha filha sussurrando. Mas o pior de tudo era um barulho de chocalho quando eu mexia a cabeça. Provavelmente por conta de algum parafuso lá dentro, que havia caído durante sua viagem intercontinental até chegar à minha mão. Era uma pena. No final das contas o fone quase-original não era original no que mais interessava, apesar da estética quase impecável. E como tudo na minha vida acaba desembocando em whisky, rapidamente um pensamento me ocorreu. Era como whisky falsificado. Assim, embalado por minha (nem […]

Especial Escócia – Visita à Laphroaig

“Uma mistura maltada com a infusão de turfa em urina de ovelha, filtrada através de meias de lã molhadas e suadas de pastores.” “é como lamber turfa queimada de uma fogueira na praia, que grudou na bota de um pescador”. e minha preferida: “como um dragão em conserva de iodo, assado sobre um vulcão, e servido em uma cama de algas marinhas.”. Não é um campeonato de metáforas nojentas. Não. São opiniões sinceras de consumidores que – assim como este Cão – são apaixonados pela Laphroaig. Estas opiniões fazem parte de uma campanha de marketing, e estão impressas por toda parte na destilaria. E apesar de parecerem todas desfavoráveis, na verdade, são apenas francas. Não há como descrever Laphroaig sem vigor. Se Ardbeg é bravura; Bruichladdich, inovação,Lagavulin, aristocracia, Bowmore, detalhismo e Bunnahabhain sutileza, então Laphroaig é intensidade. Os maltes da Laphroaig são conhecidos como alguns dos mais medicinais e iodados de Islay. Não é bem a turfa que o diferencia. Mas este caráter iminentemente marítimo, que também o torna bem polêmico. Com Laphroaig, a relação somente pode ser de intenso amor ou ódio. Para mim, de amor. A Laphroaig é uma das minhas destilarias preferidas – e a que mais queria […]

O Cão Didático – Copos e taças para whisky

O uso de ferramentas. Por muito tempo, acreditava-se que essa era nossa principal diferença com os animais. Nós, seres racionais, teríamos o poder de moldar elementos ao nosso redor para servir de utensílio para certo fim. Atualmente, sabemos que alguns outros bichos fazem isso. Primatas utilizam gravetos de bengala e vara. Essa história é bem ilustrada no filme 2001 – Uma Odisséia no Espaço, de Kubrick. Na primeira cena do filme, um macacão – na verdade, um hominídeo pré-histórico – tem a brilhante ideia de utilizar um osso como porrete. Uma ferramenta rudimentar, que, ao longo do tempo, foi se tornando cada vez mais especializada e específica. Atualmente, há milhares de instrumentos que podemos usar para arrebentar coisas. Tacos de beisebol, martelos, espadas, machados. Enfim, qualquer coisa com uma haste e, de preferência, com algo bem dolorido ou afiado na outra ponta. A evolução do ferramental humano é incrível. A cozinha é outro exemplo claro disso. Há cinquenta anos, jamais poderíamos sonhar com a especificidade de utensílios que temos hoje. Há cortadores para tudo – maçãs, abacaxis e até manteiga. E se sua ideia não for cortar, mais sim conservar, você sabia que existe um recipiente desenhado especialmente para guardar […]

Como Bourbon (e Tennessee Whiskey) é feito – Parte II

Esta é a segunda parte de um texto sobre o processo de fabricação da maior contribuição norte-americana para a humanidade. O Bourbon Whiskey. Não, meus caros, não foi o iPod. Nem o automóvel, tampouco o telefone. Muito menos o termostato ou a metralhadora. No texto anterior paramos justamente no processo de destilação. O white dog acabara de sair dos destiladores. Continuaremos hoje com esta incrível história. É neste momento, logo após a destilação, que nosso cãozinho branco pode tomar dois caminhos. O primeiro é ir para as barricas, onde passará alguns anos até emergir um whiskey. O segundo é passar pelo que se chama Lincoln County Process. O Lincoln County Process é o que diferencia bourbons de Tennessee Whiskeys – além, claro, do fato dos Tennessee whiskeys serem produzidos no Tennessee. Por este processo, o destilado passa por um filtro de carvão de bordo antes de ir para as barricas. O destilado pinga vagarosamente por pequenos tubos em um grande tanque contendo o carvão. Para que consiga atravessar o filtro, o white dog pode levar dias. Também conhecido como charcoal mellowing, muitas pessoas julgam que este processo adiciona sabores ao whisky. Porém, na opinião deste canídeo, o processo é subtrativo. […]

Especial dia dos Namorados – Almas gêmeas do whisky

Olha, isto aqui é um texto sobre o dia dos namorados. Eu sei. E eu sei que o que você espera é que eu indique três ou quatro whiskies perfeitos para data. Ou passe a receita de algum coquetel afrodisíaco que leva a bebida. Mas terei que desapontá-lo. Aqui não há nada disso. Primeiro porque o whisky perfeito para a data é aquele que você mais gosta, e seria muita presunção da minha parte propor algo diferente. Em segundo, porque convenhamos, whisky pode ser quase tudo, mas afrodisíaco é algo que ele não é. Mas a terceira e a mais eminente razão é que eu detesto o dia dos namorados. O dia dos namorados não é bom pra ninguém. Ele é péssimo para quem é solteiro – que se sente excluído das comemorações – e especialmente detestável para alguém que está em uma relação. Para aqueles, é difícil ignorar o dia dos namorados. Para estes, é desaconselhável. Se você discorda, segure em minha proverbial mão e acompanhe-me nesta singela digressão: quantos de vocês já brigaram no dia dos namorados por conta do dia dos namorados? A obrigação de fazer algo especial, dar um presente único – leia-se, caro – ou demonstrar […]

Como Bourbon (e Tennessee Whiskey) é feito – Parte I

Recentemente lancei um texto em três partes sobre a produção de whisky. Naquela oportunidade foquei em single malts. Ou melhor, single malts escoceses. Caso tenha perdido estes textos, leia a primeira, segunda e terceira partes aqui. Agora é a vez do  mais famoso destilado da terra das pós verdades e do alto índice de LDL. Da maior contribuição dos americanos para o mundo da gastronomia, seguida de perto pelo hambúrguer e pelos ovos beneditinos. O Whiskey Americano. Para facilitar, o foco desta vez serão os Bourbon whiskeys – de longe a maior classe de whiskeys nos Estados Unidos. Mas falarei um pouco dos demais tipos e suas especificidades. Antes de explicar o nascimento de um bourbon, aqui vai uma pequena introdução em legislação. Para que um bourbon whiskey possa ser assim chamado, ele deve seguir as seguintes premissas, dispostas no Code of Federal Regulations, title 27, part 5, subpart C. (i) o destilado deve ser produzido nos Estados Unidos, e sair dos destiladores com o máximo de 80% de graduação alcoólica; (ii) deve ser feito com ao menos 51% de milho; (iii) o destilado deve ir para os barris tostados (charred) e virgens de carvalho com o máximo de 62.5% de graduação alcoólica (normalmente diluído […]

Como Whisky é Feito – Parte 3 de 3

Este é o terceiro texto de uma série sobre como whisky – com ênfase em single malts – é produzido. Já abordamos assuntos tão diferenciados quanto crianças curiosas, fabricação de automóveis e nuggets de frango. Falamos de notícias indigestas, cevada, fermentação, destilação, turfa e maturação. Caso você tenha perdido, clique aqui para a primeira parte, ou aqui para a segunda. Senão, fique aqui comigo. Hoje falarei um pouco de botânica – afinal, barricas são feitas de carvalho, que são árvores – e um pouco de química (esteres, aminoácidos, proteínas e tudo aquilo que sua professora ou professor falavam enquanto você dormia, vandalizava a sua mesa como um entalhador-mirim-fora-da-lei ou desenhava). Preparem-se para a derradeira parte de um déja-vu acadêmico. Mas, dessa vez, sobre um assunto bem mais legal. Whisky. MATURAÇÃO 2/2 Scotch whiskies normalmente são maturados em barricas que já foram utilizadas por alguma outra bebida, ainda que haja exceções – o delicioso Laphroaig An Cuan Mór sendo uma delas. A maior parte dos scotch whiskies é envelhecida em barricas de carvalho americano que antes continham Bourbon whiskey, ainda que a frequência de whiskies maturados em barricas que envelheceram Jerez tenha aumentado bastante nos últimos anos. O tempo de maturação para atingir […]

Como Whisky é Feito – Parte 2 de 3

Tendo acompanhado as notícias das últimas semanas acabei concluindo que, às vezes, não vale a pena sabermos como as coisas são feitas. Para um apaixonado por churrasco ou um entusiasta dos alimentos processados, as manchetes são, no mínimo – perdão pela ambiguidade cretina – difíceis de engolir. Porém, incentivado por aquelas notícias indigestas (hoje estou genial), tomei coragem para escrever algo que há muito planejava. Um (nem tão) pequeno texto, explicando sobre alguns detalhes e curiosidades sobre a produção da melhor bebida do mundo. Esta é a segunda parte de um especial sobre como o whisky é feito. Na primeira parte, expliquei um pouco sobre a cevada, sua fermentação, o uso da turfa e o processo de destilação. O texto inicial terminou com reticências, no exato momento em que a primeira gota de destilado cintilava no ar, antes de cair dentro de uma barrica. Hoje falarei um pouco mais sobre destilação e maturação. Continuem com este Cão. Destilação 2/2 Single malts costumam ser destilados duas vezes em alambiques de cobre. Normalmente, os alambiques de primeira destilação – chamados wash stills – são um pouco maiores do que os de segunda destilação – os spirit stills – e possuem formatos diferentes. […]