Como Whisky é Feito – Parte 1 de 3

  A Cãzinha está finalmente na fase dos porquês. Ela é capaz de indagar sobre a razão de uma centena de coisas por dia. E, para mim, na maioria das vezes é absolutamente delicioso explica-la por que o céu é azul, por que ela precisa comer, ou como um avião voa. Mesmo que às vezes ela não entenda bem todos os conceitos. Há, porém, algumas perguntas meio perniciosas. Na verdade, duas categorias de questões que me desafiam. Da primeira, fazem parte todas aquelas que não seria apropriado responder agora. Papai, como eu fui feita? Não sei filhota, vai perguntar pra mamãe, vai. Ela sabe. A segunda é a categoria das indagações que nem eu sei direito a resposta. E essas são as mais difíceis. Como se faz um carro? E um nugget? Filhota, papai não sabe direito, e vou te falar um negócio, papai não quer saber. Papai quer viver no conforto da ignorância, imaginando que eles surgem magicamente do ar. Mesmo porque um é complicado de explicar, e o outro bem asqueroso.  É claro que eu não contei isso para a Cãzinha. Mas whisky, porém, é outra história. Ao contrário de automóveis e embutidos, o processo de produção de […]

Sobre Gelo e Molho Shoyu – Gelo no Whisky

Nota: Este texto foi originalmente escrito pelo Cão Engarrafado e publicado na página de nossos parceiros da Charutando.com.br . Mas, dada a relevância do assunto, achei que seria uma boa reproduzi-lo por aqui também. Hoje em dia as pessoas tem regra para tudo. Há uns meses fui a um restaurante japonês famoso e me sentei ao balcão. E como tenho mania de sempre experimentar o diferente, fui logo pedindo o menu de especialidades. O sushiman preparou quatro niguiris. Primeiro, passou um pouco de raiz forte. Aí pegou um pincel, molhou em um potinho de shoyu, e cuidadosamente sacudiu o pincel sobre o sushi, deixando que algumas gotinhas do molho caíssem sobre o peixe cru. Tipo o Pollock, se o Pollock fosse um sushiman. Até aí, lindo. Mas como eu gosto de shoyu, pedi a ele que me desse um potinho com um pouco mais do molho. E a resposta dele foi não, de forma nenhuma, porque é assim que você deve comer sushi, para sentir o real sabor do peixe. Frente à negativa, argumentei que já conhecia o sabor do peixe, porque eu já tinha comido sushi com shoyu e sem shoyu, e em minha opinião, com era melhor que sem. […]

O Cão Didático – Cereais usados no Whisky

Conhecimento é sempre bom. Mesmo sobre assuntos enfadonhos, como botânica. Esta foi minha conclusão após uma viagem com alguns amigos para o sítio de um deles, lá pelos meus dezoito anos de idade. Como quase todo adolescente recém-chegado à maioridade legal, nosso foco principal era beber. Beber qualquer coisa. Não tínhamos muitos critérios. Só podia ser natural. Afinal, não havíamos tido tempo de criar quaisquer critérios.  Nosso manifesto de viagem contava com umas quatro garrafas da vodka – da mais barata encontrada no supermercado local – bem como uma dúzia de engradados de uma cerveja que poderia ser definida, de forma muito benevolente, como a pior coisa que já bebi depois de gasolina (leia mais sobre isso aqui). Com o problema líquido solucionado, nosso próximo passo seria decidir o que comer. E ainda que a ideia de adquirir um estoque de salgadinhos fosse tentadora, em um lampejo de consciência, resolvemos que teríamos tempo de sobra para cozinhar. Assim, resolvemos preparar uma massa. Uma pequena caixa de spaghetti e alguns tomates dariam uma refeição decente e descomplicada. No primeiro dia, demos cabo de boa parte da cerveja e duas garrafas daquela maravilha cristalina destilada e – bastante animados – começamos a […]

Seis Whiskies Para se Tomar com Gelo (e sem culpa)

Ontem, quando cheguei do escritório, a Cã perguntou se – ao invés de jantarmos fora – eu não queria pedir comida. Eu disse que sim, claro, afinal, estava cansado. E indaguei a ela o que queria. Pizza? Não, pizza não quero, estou gorda. Japonês? Não, quero algo quente. Uma massa? Não. Árabe então? Não, árabe não também. Hambúrger foi a derradeira opção, igualmente recusada. Mas afinal, amada Cã, o que você quer pedir? Ah, não sei, o que você quiser está bom para mim. Na verdade, eu queria qualquer coisa. Só não queria pensar muito. Tenho dias assim. Esse era um deles. No trabalho, me disseram para ouvir Penderecki enquanto traduzia um contrato de M&A, porque música clássica auxiliava na concentração. Mas o máximo que queria ouvir era Rolling Stones. Durante o almoço, recomendaram que pedisse o polvo. Mas eu queria mesmo era um belo mexidão. Me disseram para ver um filme do Godard. Mas meu desejo mesmo era ver um J. J. Abrams. Por fim, falaram que eu deveria ler Dostoievski. Aí concordei, afinal, a vida é muito curta para desperdiçá-la com literatura ruim. Mas hoje não, hoje eu não leria nada. Aliás, cinema, literatura e whisky tem muita […]

Sobre o Necessário e o Supérfluo – Whiskies para seu bar em casa

Estamos no carnaval. O Carnaval é o feriado mais festivo do ano. A festa está em toda parte. Nos bloquinhos de rua, no sambódromo, no boteco na esquina da sua casa. Todo mundo – literalmente – transpira Carnaval. Há festas para todos os bolsos e gostos musicais. Para mim, entretanto, o grande apelo do Carnaval é o feriado. Quatro dias e meio para fazer o que bem quiser. E o que bem quiser, normalmente, significa trocar o calor e a cerveja quente na rua por um bom  whisky no conforto do lar. Ou isso, ou viajar com a Cã e a querida Cãzinha. Mas aí acabo desembocando em um problema. Eu não sei arrumar uma mala. É uma incapacidade que me acomete desde criança, mas que, por mais esquisito que seja, piorou à medida que fiquei mais velho. Provavelmente porque, quando eu era criança, minha mãe revisava minha mala. Ela tirava os dez gibis que coloquei lá dentro, e os substituía pela minha escova de dente e meia dúzia de cuecas, que eu sempre esquecia. Minhas malas são verdadeiras caixas surpresa. Mas a surpresa é quase sempre desagradável. Como, por exemplo, quando fui para um casamento, no interior, e esqueci de levar […]

Um pretexto para beber (e recitar poesia) – Burns Night

Hoje é um dia muito importante para o whisky. Vinte e cinco de janeiro é a data de nascimento do poeta escocês Robert Burns. Robert Burns, também conhecido como o bardo de Ayrshire, é considerado o poeta mais importante de toda a história da Escócia. Nascido no século dezoito, ele foi um pioneiro no movimento romântico, bem como um ícone cultural e político. Burns abordou em sua obra temas tão diversos quanto socialismo, liberalismo, mulheres, amores platônicos e cultura popular. A maior parte da obra de Burns foi escrita em Scots, dialeto escocês. Um de seus mais notórios poemas é “Address to Haggis”, que, em uma tradução mais ou menos safada, significaria algo como “Homenagem ao Haggis” ou “Homenagem a uma Salsicha”. Ou talvez, de uma forma mais livre “Ode ao Salsichão de Bode”. É isso mesmo, eu não escrevi errado. É um poema sobre um embutido. Um embutido que consiste, basicamente, das tripas moídas e cozidas de um bode, embutidas em seu estômago. O prato preferido de Burns. Até aí, Robert Burns, admirador do reino das salsichas, não tem muitos pontos de tangência com whisky. Mas acontece que Robert Burns é um orgulho nacional. Um orgulho nacional como Haggis […]

Especial de Final de Ano – Whisky e Réveillon

“O passado não importa muito. O que importa são seus planos para o futuro. Anime-se com seus planos para o futuro”. Quando ouvi essa frase de um conhecido há uma dezena de réveillons passados, logo me animei. Me animei, porque tudo que havia planejado para meu futuro era terminar aquela taça de prosecco. E, ao termina-la, me encostar novamente no balcão do bar para pedir a próxima. Afinal, é ano novo. Eu posso. O ano novo é uma festa interessante. Aliás, é minha data comemorativa coletiva preferida. Não é muito difícil, já que eu odeio natal, não suporto a monomania do carnaval e não ligo muito para a páscoa. Mas a verdade é que o réveillon traz um temporário otimismo ingênuo até mesmo para as pessoas mais taciturnas. Com o tempo, aprendi que não adianta muito fazer planos para o ano vindouro. Nem ouvir conselhos. Porque não importa qual foi sua promessa ou a recomendação. Ano que vêm, você provavelmente estará pesando a mesma coisa que está agora. E continuará trabalhando com o mesmo empenho e visitando a academia com a mesma frequência. Você, inclusive, estará bebendo a mesma quantidade que bebe o ano inteiro. Quer dizer, com exceção da […]

O Cão Didático – Um Micro-Manual para Entender o Rótulo de um Whisky

Este texto foi originalmente elaborado para nossos amigos da charutando.com.br, portal dedicado à cultura do charuto no Brasil. Mas por sua relevância, resolvi também que faria constar deste blog. Porque, afinal, não é sempre que whiskies e utilidade pública se reúnem. Pode ser óbvio o que vou falar,  mas adoro combinar puros e whiskies.  Por isso, inclusive, que aceitei com orgulho fazer parte do grupo de colunistas da Charutando. Aliás, tenho uma poltrona na varanda de meu apartamento, estrategicamente posicionada ao lado de uma mesa baixa, exatamente para que possa me dedicar a esta saudável e extenuante atividade. A de fumar um bom habano, acompanhado, quase sempre, de algum single malt e de boa literatura. E ainda que este programa já seja, em si, excelente, sempre sentia que faltava algo. Havia lá um metafórico espaço vazio a ser preenchido, para que aquela sensação quase kitsch de conforto efetivamente decantasse. Não sabia bem o que era. Até que um dia, sendo forçado a escutar a seleção da Valeska Popozuda que meu vizinho insistia em ouvir no volume mais alto, finalmente entendi o que precisava. Música boa. Encomendei, então, um bom fone de ouvido. Aliás, um excelente fone de ouvido, capaz de […]

O Cão Didático – Single Malts para Iniciantes

Quando comecei a escrever o Cão, não sabia absolutamente nada sobre escrever um blog. Para falar a verdade, tinha um preconceito quase natural em relação a blogs. Afinal, o que de especial eu teria para falar não pudesse ser encontrado com uma rápida pesquisa no Google? Absolutamente nada. E eu sei que você espera que eu diga que com o tempo essa impressão foi se esvaindo, até se tornar apenas uma remota lembrança de alguém que não tinha a mais rasa ideia do que estava por começar a fazer. Mas não. Olha, desculpem-me pela quebra de expectativa. Na verdade, eu realmente não tenho nada de novo para falar. Mas ainda que eu seja só mais uma pessoa com um modem e um gosto quase doentio por whiskies, esses meses de vida do Cão trouxeram algo que eu jamais poderia sequer prever. Comecei – na verdade, redescobri – o prazer de escrever. E o que antes era preconceito, virou mania. Então, uns meses atrás, resolvi dar uma pausa em minhas pesquisas e estudos sobre whisky para me dedicar a aprender a escrever um blog. Um blog sobre whisky. E durante minhas explorações, descobri uma série de ferramentas incríveis. Você sabia que […]

Pretexto – World Whisky Day

Sabe que dia é hoje? Se você respondeu que é o dia do casamento real, se equivocou. Quer dizer, não se equivocou, mas tem prioridades bem estranhas para alguém lendo essa matéria. É que hoje é o dia que você tem o melhor pretexto do ano para beber whisky. Hoje é o World Whisky Day. O World Whisky Day foi criado em 2012 por Blair Bowman, um rapaz de apenas vinte e três anos de idade. A ideia de Blair era simples: criar um dia para que as pessoas pudessem se encontrar, comemorar e descobrir mais sobre a bebida nacional da Escócia. A ideia não só deu certo, como decolou. Atualmente, o World Whisky Day é um dos dias mais importantes do ano para a cultura do whisky, juntamente com o International Whisky Day. O dia é comemorado em mais de quarenta e oito países. Para você ter uma ideia, em 2017, o website do World Whisky Day registrou mais de cento e setenta e cinco eventos, em mais de cento e vinte e oito cidades. Inclusive, em 2015, houve até um evento na Antártida. Pesquisadores da Austalian Antarctic Division promoveram uma degustação dos whiskies que levaram para aquecê-los durante […]