Wild Turkey Rye Whiskey – Cognição

Hoje vou tratar de um assunto que anda em baixa. Ou, para falar a verdade, que talvez nunca esteve em alta. A Capacidade Cognitiva. A capacidade cognitiva é, de uma forma simplificada, nossa capacidade de receber estímulos do meio ambiente e responder a elas. Ela engloba habilidades cada vez mais subutilizadas por nós, como pensamento, raciocínio, linguagem e memória. Vou recorrer a exemplos, para não extenuar a capacidade cognitiva de ninguém aqui. Quando, por exemplo, temos fome e resolvemos fazer um misto quente, usamos a cognição. E ao substituirmos o presunto por peito de peru porque ficamos com preguiça de usar a cognição pra comprar mais, também. Quando bebemos, alteramos nossa capacidade cognitiva. Por isso que às vezes, quando saio, acho que sou o Elon Musk e pago a conta de todo mundo. Ou viro uma versão invertida de James Joyce, que fala coisas profundas que ninguém entende. Mas que, no meu caso, não fazem sentido mesmo e nem são profundas. A capacidade cognitiva dos bartenders brasileiros foi bem exercitada nos últimos anos. Não tínhamos ginger ale para o Moscow Mule, por exemplo – o que exigiu uma bela espuma de criatividade. E tampouco rye whiskey para o Manhattan. Algo […]

Jefferson’s Ocean – Drops

Se você for um apreciador de café, talvez já tenha ouvido falar do famoso Kopi Luwak. Ele é conhecido como o café mais caro do mundo. Uma xícara pode custar até cem dólares, e um quilo passa tranquilamente dos mil dólares. A razão deste preço surreal passa por um pequeno mamífero africano. A civeta. Aliás, literalmente passa. É que o fruto do café é comido, digerido e o grão excretado por esses animais. Os fazendeiros então coletam esses grão – sim, de dentro das belas obras das civetas – e vendem para torradores, que o preparam para o consumo humano. É um método pouco ortodoxo. Porém, de acordo com muitos especialistas, este indigesto processo traz um sabor muito característico para o café. No mundo do whiskey, um bourbon que passa por um processo quase tão esquisito – ainda que menos escatológico – é o Jefferson’s Ocean. É que parte de sua maturação acontece dentro de um navio. Isso – de acordo com a Jefferson’s – o expõe a elementos extremos, como flutuações de temperatura, maresia e o balanço da embarcação, o que acelera a maturação e aumenta sua complexidade. A ideia começou de uma forma modesta. O primeiro lote contou apenas […]

Drops – Booker’s True Barrel Bourbon

O mundo do whisky escocês é cheio de exageros. Single malts com graduação alcoólica superior a 60%. Whiskies maturados por mais de cinco décadas e vendidos a milhares de libras. Maltes insanamente defumados, que preenchem o ambiente com seu característico aroma de fumaça tão logo sejam abertos. Normalmente produzidos em pequenos lotes ou edições limitadas. Há uma certa curiosidade quase doentia nisso. Uma dúvida de até onde se pode chegar e quais seriam os resultados práticos disso. Naturalmente, do outro lado do Atlântico, a indústria do whiskey americano não fica para trás. Bourbons com mais de vinte anos de idade e cujos preços alcançam quatro casas decimais são cada vez mais comuns. Os Pappy Van Winkle provam isso com louvor. Assim como aqueles whiskeys insanamente alcoólicos, mas incrivelmente saborosos. Um dos expoentes máximos deste estilo é o Booker’s, também conhecido como Booker’s True Barrel Bourbon. O Booker’s é um bourbon engarrafado sem filtragem ou diluição (cask strength ou barrel strength, como preferir). A maioria das barricas do Booker’s é selecionada de uma área específica do armazém. As prateleiras do meio – onde, segundo a Jim Beam, as condições de temperatura e umidade são mais favoráveis a criar um whiskey mais […]

Reminiscência – Jim Beam Black

Sábado, São Paulo, oito horas da manhã. Saudáveis dez graus centígrados. Janela aberta, pouca luminosidade. Nuvens de chuva se formando. Fecho os olhos numa vã tentativa de dormir novamente. Sonho, por uma fração de segundo, na minha ex-professora de geografia, que explica, flutuando sobre uma espécie de algodão doce, a formação dos cirros, cúmulos e nimbos. Caramba, quanta coisa que aprendi e nunca usei. Platelmintos, angiospermas, actinopterígeos, lactobacillus. Trovão. Acordo num ressalto e espio o despertador. Oito e sete. Deslizando como um nematelminto até o chão, me coloco de pé. Banho, dentes. Mas que diazinho mais ou menos para fazer qualquer coisa.  Lembro-me, ainda reminiscente de minha professora voadora, que convidei alguns amigos da época do colegial para tomar alguns coquetéis – temerariamente feitos por mim – e jantar. Era o que precisava: propósito. Decido ir a um supermercado novo que abriu perto de casa. Fico animado a ponto de até dar um discreto salto de resolução. Se você não acha supermercado um programa, então deveria experimentar o tédio e a fome proporcionados por uma manhã de sábado. Vou caminhando e chego em menos de cinco minutos. Lugar amplo, teto alto, prateleiras de madeira. Tem até um pequeno pinheiro – uma gimnosperma […]

Ole Smoky Harley Davidson Moonshine – Drops

Easy Rider, estrelado por Peter Fonda e Dennis Hopper é, provavelmente, o filme de motocicletas mais conhecido do mundo. Apesar de não ter muita história, a película celebra o clichê sexo, drogas e rock n’ roll perfeitamente. Porque, claro, com tanto rock, maconha e sexo, ninguém vai lembrar do roteiro mesmo. O filme foi o ícone de uma geração e definiu um gênero. E com ele, tudo que o acompanhava – cabelos ao vento, jaqueta de couro e corrente no pescoço. Mas nada – e nada mesmo – é mais representativo do estilo Easy Rider do que uma certa marca de motos. Uma que talvez, pelo título do post, você já imagine qual é. Harley Davidson. As Harleys são a versão motorizada do espírito iconoclasta e anti-establishment dos motoqueiros de Easy Rider. Ainda que – convenhamos – ela sempre fora bem alinhada com esse establishment. É obvio que todo esse sucesso deve ser aproveitado. Harley Davidsons não são apenas motos. Como disse, são símbolos máximos de um estilo de vida. E nada mais natural que a marca enverede então para produtos relacionados com esse lifestyle. A loja oficial da Harley tem de tudo. Jaquetas, capacetes, botas, luvas. Copos baixos, posteres. E […]

Wild Turkey 81 – Sobre aves granjeiras

  Não é segredo pra ninguém que eu odeio frango. Não é que eu não como frango, porque eu como quase qualquer coisa. Sério, se você me servir algo bem nojento, como, sei lá, olho de bode ou aquele ovo verde chinês, talvez eu tenha alguns segundos de ponderação. Mas, depois disso, há uma enorme possibilidade que eu vá provar. Aí, talvez, depois, eu vá dizer que aquele negócio é bem ruim ou absolutamente asqueroso, e ele entre no rol de coisas que eu provavelmente vou comer de novo porque sou teimoso, mas não gosto. E o frango está aí. Eu como frango com desgosto. Não é um preconceito – preconceito seria se eu nunca tivesse provado – mas um pós-conceito. Eu já comi frango. Várias vezes. Em. Infinitos. Lugares. E é sempre ruim. Eu odeio tanto frango que uma vez fui pra uma fazenda no interior e visitei um galinheiro. Uma galinha, talvez farejando (galinhas farejam?) o ódio no ar, não pensou duas vezes. Me atacou em um voo tão agressivo quanto ridículo. E aí passei a não gostar de frango vivo, também. Mas a beleza do mundo é a diversidade. Do outro lado do espectro da ojeriza por […]

Jack Daniel’s 150th Anniversary Edition

Se você assistiu ao filme Magnólia, talvez esteja familiarizado com o Premio Darwin. Mas se não estiver, eu explico. O Prêmio Darwin é uma espécie de Oscar póstumo, que premia indivíduos que conseguiram, graças à total ausência de inteligência, se remover da cadeia hereditária humana de uma forma espetacularmente idiota. Ou seja, se mataram de jeitos estúpidos. Como, por exemplo, o americano que, inconformado com o barulho que sua caminhonete fazia, resolveu que tentaria descobrir de onde vinha o ruído olhando embaixo do automóvel. Enquanto ele estava em movimento. A sessenta quilômetros por hora. Ou o adolescente do Texas que  praticou roleta russa usando uma pistola semiautomática. Ou o nosso próprio representante deste proeminente prêmio, o padre do balão, cuja fama prescinde explicações. Tanto é que foi cunhada em sua homenagem uma nova expressão “tão doido quanto o padre do balão“. O que muita gente não sabe é que há um personagem muito famoso que poderia, muito bem, ter recebido um prêmio desses. É o Sr. Jasper Newton “Jack” Daniel, o ilustre criador do whiskey americano mais consumido no mundo. Segundo registros históricos, Jasper possuía um cofre em seu gabinete. Certo dia, frustado por não lembrar a combinação, deu um chute […]

Jim Beam Bourbon – Sobre unanimidades

Talvez muitos dos leitores aqui não saibam disso. Já contei uma vez há algum tempo – sou advogado. Meu primeiro trabalho foi em um escritório relativamente grande de São Paulo, na área de Mercado de Capitais – talvez a segunda especialidade com a maior fauna de estereótipos, depois da famigerada trabalhista. A equipe era formada por quatro pessoas. Ou melhor, quatro personagens, todos com jeitos e gostos diferentes. O que, de certa forma, era enriquecedor, porque sempre conseguíamos abordar os problemas com diferentes enfoques, discutir e chegar à melhor saída. A equipe funcionava muito bem graças à essa diversidade. Quer dizer, quase sempre. Menos no almoço de equipe. O almoço de equipe era um conflito quase irresoluto. Um era apaixonado por uma hamburgueria tão cara, mas tão cara, que o preço só se justificaria se os hambúrgueres fossem feitos de carne do rebanho de gado do Senhor Todo Poderoso, se o Senhor Todo Poderoso tivesse um rebanho de gado. Outra sempre queria comida japonesa. O sócio, Sr. Roberto, preferia o árabe, por conta das esfirras de ricota. E eu, recém-formado, com minha carteirinha da ordem meramente ornamental, topava qualquer um que não me transformasse em um camponês medieval, preso à […]

Drops – Woodford Reserve Double Oaked

Se você gosta de corridas de cavalos, ou se é fã de Hunter S. Thompson – o jornalista bêbado – há grandes chances de já ter ouvido falar do Kentucky Derby. De toda forma, deixe-me aqui defini-lo com uma auto-paráfrase: O Kentucky Derby é conhecido como a mais famosa corrida de cavalos do mundo. O tempo rendeu-lhe o título de  “os dois minutos mais emocionantes do esporte”. É a primeira das três disputas que compõe a Tríplice Coroa, juntamente com o Preakness Stakes e Belmont Stakes. Realizada em Louisville, Kentucky, o Derby é um festival de roupas extravagantes e indivíduos excêntricos. Chapéus vitorianos dividem espaço com fraques, monóculos e cartolas. O Kentucky Derby é, na verdade, uma espécie de festa a fantasia universitária, onde todo mundo bebe loucamente e faz de tudo um pouco. Só que no Kentucky Derby também há cavalos. Muitos justificam que os belos equinos são, na verdade, os protagonistas do espetáculo. Eu, no entanto, tenho minhas dúvidas. Afinal, o evento possui um coquetel oficial – o Mint Julep. O que sugere que os animais de grande porte estão lá apenas para justificar uma coisa ou outra. Essa impressão fica mais forte ao saber que a corrida possui também um […]

Do Mimetismo – Evan Williams Bourbon

No domingo passado levei a Cãzinha no zoológico. Em certo ponto do passeio entramos na sala dos insetos. E dentre artrópodes mais ou menos asquerosos, das mais variadas formas, cores e tamanhos, um me chamou bastante a atenção. O bicho pau. Não pelo nome ambíguo, mas por conta de um conceito que lembrava de minha época de biologia, e que expliquei para os olhos fascinados da cria. O mimetismo. Mimetismo é, segundo o oráculo digital, “adaptação na qual um organismo possui características que o confundem com um indivíduo de outra espécie“. A vantagem principal é enganar outras espécies, fazendo com que o mimetizador se pareça com algo que ele não é. Além do sugestivo bicho-pau, há centenas de exemplos – dentro e fora da biologia. A falsa coral com a coral verdadeira, a borboleta vice-rei com a monarca,o Lifan 320 com o Mini Cooper e aquele sapato da Ardidas, que comprei há uns dois meses e já está se dissolvendo. O problema do mimetismo, no entanto, é que às vezes ele não é proposital. E, nestas situações, às vezes ele atrapalha mais do que ajuda – principalmente se uma marca tenta estabelecer uma identidade própria e tornar-se conhecida. É o caso, aqui no Brasil, do Evan […]