Se você assistiu ao filme Magnólia, talvez esteja familiarizado com o Premio Darwin. Mas se não estiver, eu explico. O Prêmio Darwin é uma espécie de Oscar póstumo, que premia indivíduos que conseguiram, graças à total ausência de inteligência, se remover da cadeia hereditária humana de uma forma espetacularmente idiota. Ou seja, se mataram de jeitos estúpidos.
Como, por exemplo, o americano que, inconformado com o barulho que sua caminhonete fazia, resolveu que tentaria descobrir de onde vinha o ruído olhando embaixo do automóvel. Enquanto ele estava em movimento. A sessenta quilômetros por hora. Ou o adolescente do Texas que praticou roleta russa usando uma pistola semiautomática. Ou o nosso próprio representante deste proeminente prêmio, o padre do balão, cuja fama prescinde explicações. Tanto é que foi cunhada em sua homenagem uma nova expressão “tão doido quanto o padre do balão“.
O que muita gente não sabe é que há um personagem muito famoso que poderia, muito bem, ter recebido um prêmio desses. É o Sr. Jasper Newton “Jack” Daniel, o ilustre criador do whiskey americano mais consumido no mundo. Segundo registros históricos, Jasper possuía um cofre em seu gabinete. Certo dia, frustado por não lembrar a combinação, deu um chute no móvel. Sua unha quebrou, o dedo infeccionou, gangrenou e o genial cavalheiro acabou morrendo de septicemia aos 61 anos de idade.
Apesar da igualmente trágica e prosaica morte, o legado de Jasper continuou e a Jack Daniel’s se tornou a mais conhecida marca de whiskey americano no mundo. Atualmente pertencente à gigante Brown-Forman, a destilaria comemorou em 2016 seu 150° aniversário. E para marcar a data, lançou uma edição especial de seu whiskey, o Jack Daniel’s 150th Anniversary.
Aqui há uma curiosidade. Apesar da Jack Daniel’s comemorar seus cento e cinquenta, sua operação não foi contínua. Em 1909 o Tennessee se tornou um estado seco (adotou uma Lei Seca), e a destilaria foi apenas reaberta em dezembro de 1933. Porém, apesar deste hiato de vinte e quatro anos, a Jack Daniel’s permanece por um século e meio funcionando no mesmo lugar em que foi fundada.
O Jack Daniel’s 150th Anniversary é produzido de uma forma bem semelhante ao seu irmão Jack Daniel’s Old No. 7. Sua mashbill é a mesma, composta 80% de milho, 12% de cevada e 8% de centeio. A filtragem em carvão de bordo – o conhecido Lincoln County Process – também é igual. Porém, o Jack Daniel’s 150th Anniversary possui graduação alcoólica mais alta, de 50%. Além disso, segundo a Jack Daniel’s, o whiskey passa por um processo de maturação sensivelmente diferente.
O destilado é colocado em barricas de carvalho americano virgens lentamente tostadas – seja lá o que isso significar – especialmente desenvolvidas para essa expressão. A maturação acontece em um dos mais antigos armazéns da destilaria. Nas palavras da Jack Daniel’s “após serem enchidos, o barris são colocados no andar superior (o “angel’s roost”) de um dos mais antigos armazéns da destilaria, onde o whiskey foi maturado por gerações em uma elevação e exposição ao sol que cria o clima perfeito para uma das melhores interações entre whiskey e barril“.
O resultado é um whiskey adocicado, com caramelo e baunilha bem mais acentuadas do que na versão standard. A graduação alcoólica também ajuda, adicionando uma bem-vinda pungência e um final bem apimentado, mas sem muita agressividade. É um whiskey bem acabado, e que inegavelmente carrega o material genético da Jack Daniel’s.
No Brasil, uma garrafa do Jack Daniel’s 150th Anniversary sai por, em média, R$ 500,00. Isso o torna o primeiro ou segundo whiskey americano mais caro à venda em nossas terras, junto com o – também edição limitada – Jack Daniel’s Sinatra Select. Comparado a ele, o Jack Daniel’s 150th Anniversary é mais alcoólico e picante, mas, na opinião deste Cão, também mais interessante.
Pode até ser que Jasper Newton “Jack” Daniel tenha falecido de uma forma inesperadamente estúpida. Mas sua destilaria, ao contrário, parece disposta e saudável após um século e meio, para sobreviver por muito mais tempo. Um brinde a estes e aos próximos cento e cinquenta anos da Jack Daniel’s.
JACK DANIEL’S 150TH ANNIVERSARY
Tipo – Tennessee Whiskey
ABV – 50%
Região: N/A
País: Estados Unidos
Notas de prova
Aroma: adocicado, caramelo, açúcar mascavo, baunilha.
Sabor: adocicado, frutas em calda, baunilha, mel, especiarias. Final longo, com baunilha, pimenta e especiarias.
Com água: a água torna o final mais adocicado e curto.
Preço: Aproximadamente R$ 520,00 (aqui)
Salve, Senhor Cão! Eu ganhei um Jack Single Barrel. Nunca fui muito fã do jack e pensei que este, por ser algo mais requintado, fosse me agradar. Mas não!
Eu acho que é um Whiskey extremamente agressivo, nada suave. O Jim Beam por exemplo, bem mais simples, é algo que desce bem menos agressivo. Mas, é apenas minha opinião. Hehehe
Eduardo, essa impressão deve ser por conta da graduação alcoolica, que é maior no Single Barrel e nesse 150th. Tenta diluir com água (você ainda tem o single barrel?). 1/4 de água para 3/4 de whisky.
Pode ser mesmo pela graduação. Mas eu noto isso também no Jack mais comum. Enfim, vou anotar essa tua dica da água. Eu já tomei com água com gás e fica boa. Seria sem gás mesmo? Single Barrel já acabei. Mas acabei fazendo bastante drink com ele (jack sour) ou tomando com mais gelo mesmo (mesma ideia da água)
Sem gás mesmo! Com gás vai interferir no sabor. Mas talvez fique gostoso – agora quero testar…rs
Eu sei que essa é uma pergunta extremamente subjetiva, e que são dois whiskies completamente diferentes entre si, mas, se vc tivesse cerca de 600 reais para comprar um whisky, compraria esse Jack Daniels ou um Dalmore 18?
Lucas, se você tivesse R$ 700.000,00, você compraria uma BMW M6 ou uma Mercedes-Benz ML63 AMG?
Sou um absoluto fã dessa marca, sendo que minha preferência é o Jack Daniel’s Old No. 7., embora também goste muito dos outros títulos, principalmente do Sinatra. Quanto ao Jack Single Barrel, esse realmente é mais potente, sendo mais forte do que os outros, mas também bem apreciado por mim, embora o beba com mais cautela. Vou experimentar esse rotulo comemorativo e agradeço pelas informações. Em São Paulo existe um bar que é uma referência para quem consome do Jack Daniel´s, o Charles Eduard reúne os grandes apreciadores dessa marca, local em que tive oportunidade de ver disponíveis todos os rótulos.
Fala Henrique! Você não vai se arrepender. Eu gostei de verdade.
Charles Edwards é um belo bar, referência para quem gosta de whisky, agora que ficamos órfãos do Admiral’s Place!
Não dá conta bebe leite
Tenho um Single, um Gentleman e um nº7. Adoro todos.
Né? Ninguém tem tanto sucesso assim por acaso. Os caras tem padrão e mandam bem.
Não conhecia a trágica história do Mr. Jack, mestre. A fama da destilaria dispensa comentários. A propósito, em minha aldeia temos o Jack Picanha. Um lanche caseiro com cebola caramelizada no JD 07.
Abraço!
Caraca, esse negócio deve ser bom!
O que me diz na sua opinião para adquirir, seja esse de 150 aniversário ou o Sinatra?
Olha…. 150!