No domingo passado levei a Cãzinha no zoológico. Em certo ponto do passeio entramos na sala dos insetos. E dentre artrópodes mais ou menos asquerosos, das mais variadas formas, cores e tamanhos, um me chamou bastante a atenção. O bicho pau. Não pelo nome ambíguo, mas por conta de um conceito que lembrava de minha época de biologia, e que expliquei para os olhos fascinados da cria. O mimetismo.
Mimetismo é, segundo o oráculo digital, “adaptação na qual um organismo possui características que o confundem com um indivíduo de outra espécie“. A vantagem principal é enganar outras espécies, fazendo com que o mimetizador se pareça com algo que ele não é. Além do sugestivo bicho-pau, há centenas de exemplos – dentro e fora da biologia. A falsa coral com a coral verdadeira, a borboleta vice-rei com a monarca,o Lifan 320 com o Mini Cooper e aquele sapato da Ardidas, que comprei há uns dois meses e já está se dissolvendo.
O problema do mimetismo, no entanto, é que às vezes ele não é proposital. E, nestas situações, às vezes ele atrapalha mais do que ajuda – principalmente se uma marca tenta estabelecer uma identidade própria e tornar-se conhecida. É o caso, aqui no Brasil, do Evan Williams Kentucky Straight Bourbon, também conhecido como Evan Williams Black, por conta da cor de seu rótulo. Sua garrafa poderia ser facilmente definida como um híbrido entre um Jim Beam White e um Jack Daniels Old No.7.
O mais incrível é que fora de nosso país, o Evan Williams Black é muitíssimo conhecido. É o segundo bourbon whiskey mais vendido do mundo, logo atrás do Jim Beam White Label. Ele é produzido pela destilaria Heaven Hill, também detentora de conhecidas marcas premium de whiskey, como Parkers e Elijah Craig.
Por falar em mimetismo, não é apenas a garrafa que apresenta um visual conhecido. Talvez você já tenha percebido, mas o bourbon leva o mesmo nome do fundador do Twitter, além de um goleiro escocês que jogava pelos Celtics na década de 70. Porém – e perdão se estiver decepcionando alguém aqui – o nome da marca não faz referência a qualquer destes proeminentes indivíduos. Aliás, não faz referência a qualquer dos dez outros Evan Williams listados na Wikipedia (dentre políticos, jóqueis, tenores e artistas), mas sim a um imigrante galês, que mais tarde abriria a (discutivelmente) primeira destilaria comercial do Kentucky, às margens do rio Ohio.
De volta ao bourbon. A Mashbill (a composição do mosto) do Evan Williams é de 75% milho, 13% centeio e 12% cevada. O percentual alto de milho traz certo dulçor e suavidade, enquanto que o centeio é responsável pelo sabor levemente apimentado e de especiarias. A cevada fornece um certo corpo, além das enzimas que auxiliam na fermentação do whiskey.
Como todo bourbon whiskey, sua maturação ocorre em barricas de carvalho americano virgens bastante queimadas. A graduação alcoolica é de 43%, algo relativamente incomum no mundo dos bourbons econômicos – a maioria deles possui apenas 40%. O tempo exato que o destilado passa nos barris não é claramente divulgado – como também é o caso da vastíssima maioria dos bourbons. No entanto, segundo o website da Heaven Hill, a maturação ocorre por 4-5 anos.
Em comparação a seu irmão mais refinado já revisto por aqui, o Evan Williams 1783, o Kentucky Straight Bourbon tem finalização mais curta. O sabor de caramelo – bem evidente na versao premium – proveniente das barricas não é tão pronunciado. Porém – ainda que não faça feio ao ser consumido puro – por conta da graduação alcoólica e perfil de sabor, ele é uma alternativa interessantíssima para alguns coquetéis. O website da destilaria, inclusive, traz uma receita de mint julep como sugestão de consumo.
Escondido por coincidências e homônimos, o Evan Williams Kentucky Straight Bourbon é um whiskey honesto, bem feito e com preço justo. Algo raro hoje em dia. E neste mundo de infinitas reproduções, réplicas e recriações que tentam desesperadamente parecer originais, criativas e inovadoras, talvez seja ele – em seu modesto mimetismo – a mais autêntica de todas.
Evan Williams Kentucky Straight Bourbon
Tipo: Bourbon whiskey
Destilaria: Heaven Hill
Região: N/A
ABV: 43%
Notas de prova:
Aroma: caramelo, balinha de doce de leite (!), um certo creme-brulee.
Sabor: baunilha, mel, calda de açúcar. Final médio. Álcool um pouco agressivo, mas que não chega a atrapalhar. Final seco com baunilha.
Preço: R$ 100,00 (cem reais)
Disponibilidade: Lojas brasileiras
* é que a Katy Perry na verdade se chama Katheryn Elizabeth Hudson. Assim como a Kate Hudson!
Gostaria de receber 02 garrafas de cada para exposição, divulgação e degustação aqui na escola .
Enviaremos fotos.
41 99903 6110
Julio Romario Pascoal.
Olá Julio, boa tarde. Infelizmente o Cão é apenas um blog de análise e curiosidades sobre whisky. Não vendemos garrafas e tampouco fazemos importação. Me desculpe.
Abraços!
Muito interessante a análise, mestre!
Ele tem um preço bem justo aqui na Candy Shop mais próxima. Talvez ocorra uma futura aquisição, apesar que pra mim é um pouco difícil deixar o WT 81.
A propósito, alguma previsão de fazer uma review do 101?
Grande abraço!
O 101 Rye já foi! O 101 normal… bem, talvez em breve! Preciso cobrir mais os Wild Turkeys!
Bendito seja! Semana passada, comprei uma garrafa. Me surpreendi com o sabor…
É legal né? Também achamos!
Fala Maurício, é o Diego Gaúcho, nos falamos ontem no campeonato Chivas Extra. Depois manda aqueles links sobre Bourbon, pronúncia escocesa etc. Valeu!
Fala Diego!! Tudo bem, meu caro? Alguns das pronuncias. Vá por “Brian Cox whisky” no buscador do youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=HPQJtz8Nfoc&index=2&list=PL1ABF6820EA98D487
Otimo review, mas me diga entre ele e o buffalo trace qual mais te agrada, no meu caso o Buffalo tem seu lugar em meu bar
Celio, Buffalo Trace não é vendido oficialmente no Brasil. Apenas em mercado paralelo, infelizmente. Mas é um belo whiskey. Mas não sei qual deles escolheria, se tivesse que pegar apenas um! Ainda bem que não preciso fazer essa escolha…rsss!
comprei uma garrafa desse whisky e me surpeendi com o sabor, maravilhoso…..chega proximo de um jack daniels old n7 até achei melhor que o old….sinceramente muito gostoso, digno do kentuchy, fui la e comprei mais duas garrafas…..podem comprar é muito bom mesmo ….
Bem superior ao Jim Beam Black, mesma faixa de preço, e infinitamente melhor que o Jack Daniels No 7, que tem aquele perfume velho e ranço das senhoras de cabelo azul que o destino coloca as vezes nos elevadores que usamos… Nesta faixa de preço é ao meu ver, o melhor Bourbon/Whiskey americano. Costumo toma-lo puro mas, com uma pedra de gelo melhora muito, aliás como todos os whiskeys americanos. Não vou falar de uso em cocktails já que seria uma diversão e fugiria da qualificação da bebida. Obrigado amigo !!
Excelente Whiskey, já tinha experimentado o Wild Turkey Bourbon. Mas esse realmente me surpreendeu.