Jefferson’s Ocean – Drops

Se você for um apreciador de café, talvez já tenha ouvido falar do famoso Kopi Luwak. Ele é conhecido como o café mais caro do mundo. Uma xícara pode custar até cem dólares, e um quilo passa tranquilamente dos mil dólares. A razão deste preço surreal passa por um pequeno mamífero africano. A civeta. Aliás, literalmente passa.

É que o fruto do café é comido, digerido e o grão excretado por esses animais. Os fazendeiros então coletam esses grão – sim, de dentro das belas obras das civetas – e vendem para torradores, que o preparam para o consumo humano. É um método pouco ortodoxo. Porém, de acordo com muitos especialistas, este indigesto processo traz um sabor muito característico para o café.

No mundo do whiskey, um bourbon que passa por um processo quase tão esquisito – ainda que menos escatológico – é o Jefferson’s Ocean. É que parte de sua maturação acontece dentro de um navio. Isso – de acordo com a Jefferson’s – o expõe a elementos extremos, como flutuações de temperatura, maresia e o balanço da embarcação, o que acelera a maturação e aumenta sua complexidade.

A ideia começou de uma forma modesta. O primeiro lote contou apenas com três barris, que foram colocados no navio de pesquisa da OCEARCH, enquanto procuravam por tubarões brancos. As garrafas – por conta da maturação inusitada – tiveram enorme procura. E, devido à demanda, a Jefferson’s hoje comercializa o experimento com centenas de barricas ao redor do mundo.

O navio da Ocearch

Cada viagem do Jefferson’s Ocean tipicamente cruza o equador quatro vezes, visita cinco continentes e mais de trinta portos” conta Trey Zoeller, fundador da Jefferson’s. Além disso, cada viagem é única. A garrafa provada por este Cão, durante uma degustação no Cateto Pinheiros capitaneada por Fabio Lobosco, é um cask-strength, da décima jornada.

Ao visitar o website da Jefferson’s, pode-se obter mais detalhes sobre cada lote e sua respectiva viagem. Há variações de composição do bourbon, bem como da graduação alcoolica. Mais uma vez, esta foi uma garrafa especial. Era uma expressão cask strength, engarrafada sem diluição, diretamente do barril, com 56% de álcool.

A Jefferson’s não possui destilaria própria. Os whiskeys que o compõe são escolhidos pela empresa a partir de amostras de diversas destilarias, num processo semelhante àquele usado por blended whiskies escoceses. Em 2015 a marca fechou um contrato com a Kentucky Artistan Distillery (uma destilaria por contrato) para seleção e maturação da maioria de suas expressões.

O Jefferson’s Ocean (Voyage 10) na opinião deste Cão, é muito interessante. A maturação em alto mar trouxe ao whiskey um discreto sabor salgado e seco, que funcionou muito bem com o adocicado do caramelo e baunilha trazidos pela maturação. É quase como aquela balinha de caramelo salgada. Só que é ainda melhor, porque, bom, porque é whiskey.

Se você é um apaixonado por bourbons, ou gosta de inovações inusitadas, prove o Jefferson’s Ocean. Ele vai te balançar mais do que um navio em uma tempestade.

JEFFERSON’S OCEAN CASK STRENGTH VOYAGE 10

Tipo – Kentucky Straight Bourbon (Esse “Kentucky” depende da viagem. Algumas expressões são apenas bourbons, comprados de outros estados americanos além do KY)

ABV – 56%

Região: N/A

País: Estados Unidos

Notas de prova

Aroma: caramelo, baunilha. Açúcar mascavo. Levemente frutado.

Sabor: adocicado, com açúcar mascavo e baunilha. O começo traz um sabor seco e discretamente salino, que se abre até desaparecer no final de baunilha. Pimenta do reino.

Com água: A água torna o whiskey menos apimentado e reduz a sensação salina.

12 thoughts on “Jefferson’s Ocean – Drops

  1. Gostaria de sua opinião sobre o JW XR 21, principalmente comparando-o com o Blue label.
    Estou em uma terrível indecisão de qual garrafa devo escolher para comemorar minha formatura e ouvir este cão não seria nada mal..

    1. Eduardo, XR 21 é um whisky bem bom. Ele é mais defumado e apimentado que o Blue Label. O Blue é mais suave, equilibrado e adocicado. Os dois são muito bons. Mas qual a sua intenção? Se for impressionar, talvez o Blue funcione melhor, já que o XR é mais desconhecido. Se a escolha for para beber, iria no XR. Mas isso é meu gosto – prefiro whiskies carregados nas especiarias e mais secos do que os mais adocicados.

  2. Cara apareceu a oportunidade de arrematar um Glenfiddich Vintage Cask. Acabei de tomar um Glenfiddich 15 anos e achei espetacular. O que tu pode dizer desse Vintage Cask? Abraco!

    1. Caro Falcão, ainda dá tempo??

      Eu adoro o Vintage. Porém, cuidado – ele é defumado. Nem tanto quanto um Laphroaig ou Ardbeg, mas bem mais do que um Double Black, por exemplo. Eu compraria num bater de asas (viu o que eu fiz aqui?), mas assumo que é um gosto peculiar.

  3. Quando vejo algo sobre esse café, a única coisa que penso é “como foi que o primeiro cara teve a ideia de fazer isso?”

  4. Mestre, adoro café. Gosto dele forte e não defecado se possível.
    Certa vez, vi o Jefferson’s standard a venda, mas acabei não comprando. A versão CS me parece bem boa.

    Abraço!

  5. Fantástico.

    Mestre, pelo que vi é relativamente fácil encontrar em lojas no EUA, mas será que é possivel encontrar esse whisky em Duty Free’s ?

    Abs,

    1. Makiley, nunca vi o Jefferson’s Ocean em duty. No Dufry aqui no Brasil, sei que não tem. Mas talvez em algum internacional!

    1. Gabriel, não vem oficialmente para o Brasil. Se encontrar em algum lugar pra vender por aqui, ou é contrabando ou falso. Eu fugiria. Se viajar para o exterior, procure!

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