O Chef Canídeo – Whiskey Carbonara (com salmão defumado)

Quando era criança, meu prato preferido era macarrão. Preferencialmente, com qualquer molho que possuísse mais de cem calorias por colher de sopa. Quatro queijos e molho branco eram meus favoritos, de longe. Talvez por isso, quando adolescente, eu estivesse um pouco acima do peso. Nada demais. Uns dezessete, vinte quilos. No mínimo. Lá pelos meus dezenove anos de idade, resolvi que faria uma reeducação alimentar, de forma que eu e meu umbigo pudéssemos novamente nos encarar. Assim, comecei a dispensar a sobremesa, troquei o molho branco pelo de tomate e incluí em meu cardápio algo inimaginável para mim. Salada. E a medida que o tempo passou, comecei a adquirir preferências por alguns alimentos que antes desprezava. Peixes, por exemplo. Frutos do mar. Chocolate amargo. E ainda que meus horizontes tenham se expandido consideravelmente durante essa minha expedição pelo mundo da gastronomia, a verdade é que o bacon e o macarrão sempre tiveram seu espaço reservado no meu coração gástrico. Hoje em dia, uma das minhas massas preferidas quando quero relembrar a aurora de minha maioridade é o clássico carbonara. O Carbonara é a versão adulta dos meus tão estimados pratos de infância. Ele é também a prova de que coisas […]

Sobre o Necessário e o Supérfluo – Whiskies para seu bar em casa

Estamos no carnaval. O Carnaval é o feriado mais festivo do ano. A festa está em toda parte. Nos bloquinhos de rua, no sambódromo, no boteco na esquina da sua casa. Todo mundo – literalmente – transpira Carnaval. Há festas para todos os bolsos e gostos musicais. Para mim, entretanto, o grande apelo do Carnaval é o feriado. Quatro dias e meio para fazer o que bem quiser. E o que bem quiser, normalmente, significa trocar o calor e a cerveja quente na rua por um bom  whisky no conforto do lar. Ou isso, ou viajar com a Cã e a querida Cãzinha. Mas aí acabo desembocando em um problema. Eu não sei arrumar uma mala. É uma incapacidade que me acomete desde criança, mas que, por mais esquisito que seja, piorou à medida que fiquei mais velho. Provavelmente porque, quando eu era criança, minha mãe revisava minha mala. Ela tirava os dez gibis que coloquei lá dentro, e os substituía pela minha escova de dente e meia dúzia de cuecas, que eu sempre esquecia. Minhas malas são verdadeiras caixas surpresa. Mas a surpresa é quase sempre desagradável. Como, por exemplo, quando fui para um casamento, no interior, e esqueci de levar […]

Drops – Jack Daniel’s Silver Select

Gosta de Jack Daniel’s? Então conheça o Jack Daniel’s Silver Select, uma versão vendida exclusivamente nos Duty-Frees de aeroportos internacionais. O Silver Select é, resumidamente, uma versão turbinada do Jack Daniel’s Single Barrel, engarrafado com menos diluição, resultando em uma graduação alcoólica maior, de 50%. Isso o torna mais adocicado, mas também bem mais picante e – talvez – até um pouco mais agressivo.  Assim como o Single Barrel, cada garrafa do Silver Select é preenchida com o conteúdo de um único barril. Isso faz com que garrafas de barris diferentes sejam levemente distintas. A Jack Daniel’s reserva apenas os melhores barris para seu Silver Select. São aqueles guardados nas partes mais altas do armazém, onde há maior variação de temperatura, acelerando o processo de maturação. Segundo a marca, apenas um em cem barris são escolhidos para as expressões Silver Select e Single Barrel. A marca não divulga sua idade. Segundo eles, o que importa é o sabor final do produto. Talvez eles estejam certos, porque o Silver Select é realmente muito bom! Assim como nos demais whiskeys da marca, o destilado do Silver Select passa por um filtro de carvão vegetal de bordo (maple tree) de três metros de profundidade, […]

Insanidade Coletiva – Maker’s Mark

Loucura é um tema recorrente aqui no Cão. Hoje, vou novamente falar de loucura. Mas de loucura coletiva. Daquelas vezes que todo mundo enlouquece, e você não entende bem a razão. Porque, afinal, na sua cabeça, aquele é um motivo banal, que não deveria tirar ninguém do eixo. Ou não. Para ilustrar meu ponto, vou falar sobre o McRib. Ele já foi vendido no McDonald’s aqui no Brasil, mas, caso você não tenha tido a oportunidade de degustar esta revolução da baixa gastronomia, elucidarei do que se trata. O McRib consistia em um pão tipo baguete, recheado de cebola, picles, e um paralelepípedo feito de uma substância que se assemelhava a carne suína. Segundo a lanchonete, o sanduíche era produzido com as costelas do porco. Para finalizar, algo parecido com molho de churrasco era utilizado para dar liga à iguaria. Acontece que o McRib fora criado na década de oitenta, quando as pessoas achavam normais coisas como um chocolate voltado ao público infantil em forma de cigarro e não tinham a mais rasa ideia do que era colesterol. Mas com a redescoberta do bom senso nos anos noventa, as vendas do McRib foram diminuindo, e culminaram em sua extinção em […]

Drink do Cão – Rat Pack Manhattan

  Esses dias estava conversando com um amigo sobre o Rat Pack. Você sabe o que foi o Rat Pack? O Rat Pack foi um grupo de artistas americanos – cantores e atores – cujo líder era o lendário Humphrey Bogart. O nome Rat Pack foi criado durante a década de cinquenta, provavelmente por Lauren Bacall, esposa de Humphrey, que se referiu a ele e seus amigos como “um grupo de ratos” ao vê-los completamente transtornados e embriagados após uma das incontáveis noitadas em Nova Iorque. O grupo teve diversas formações ao longo do tempo. Alguns de seus membros mais proeminentes foram Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Joey Bishop, Lauren Bacall, David Niven, Peter Lawford e, obviamente, Bogart. Os mais jovens incluíam Marilyn Monroe e Angie Dickinson. O Rat Pack foi, provavelmente, o grupo de amigos mais talentoso que já existiu na história moderna. Seus membros reuniam uma gama variadíssima de interesses e talentos. Mas havia uma habilidade comum a todos eles. O poder quase sobrehumano de entornar absolutamente qualquer coisa que continha álcool. E em quantidades leviatanescas. Naturalmente, tamanha habilidade não poderia passar sem o devido reconhecimento. Já no novo milênio, no ano de dois mil, quando […]

O Cãoboy Sofisticado – Jack Daniel’s Sinatra Select

Vou contar uma coisa para vocês. Uma coisa que talvez muitos leitores já tenham concluído. Ter filho é uma delícia. O nascimento da Cãzinha foi, sem nenhuma sombra de dúvida, a melhor coisa que já aconteceu comigo. Uma distante segunda coisa foi o dia que tomei Lagavulin pela primeira vez. Ah, e quando me casei com a Cã. Quando me casei com a Cã, claro. Do tempo que estou com a Cãzinha, noventa por cento é como voar de robe de chambres entre as nuvens, olhando as poéticas luzes da cidade abaixo de mim. Tipo aquela viagem do Grande Lebowski. A sensação é de completude absoluta. Mas existem os outros dez por cento. Dez por cento em que eu preferia estar sendo esfolado por uma esmeriladeira. Nesses dez por cento, estão os momentos em que ela se alivia na banheira, come a pipoca bicada pelo pombo que estava na sarjeta, lambe a mesa imunda da lanchonete ou enfia a chupeta na boca da amiguinha doente, para depois sorvê-la como se degustasse uma iguaria. E quando ela assiste a Galinha Pintadinha. Olha, eu não tenho nada contra a Galinha Pintadinha. Pra falar a verdade, o desenho é mais ou menos bem […]

Drink do Cão – Boulevardier

Você já tomou Negroni? Negroni é um drink feito, essencialmente, de gim, vermute tinto e Campari. Hoje, acho uma das coisas líquidas mais deliciosas que existe fora do universo do whisky. Mas minha relação com aquele coquetel nem sempre foi assim. A primeira vez que tomei um Negroni tinha pouco mais de dezoito anos. E queria morrer. Achei uma das piores coisas que já tive o desprazer de beber. Incluindo uma vez que acidentalmente tomei um pouco de gasolina tentando fazer um sifão para abastecer meu carro. Sério. Teria preferido fazer qualquer coisa a terminar aquele coquetel. Se, naquele momento, alguém me desse a escolha entre ser atravessado por um cutelo gigante em brasa ou bochechar aquele Negroni, teria preferido o cutelo escaldante. Fácil. Eu devo ser muito teimoso ou absolutamente estúpido, porque aquela experiência horrível não me dissuadiu de experimentar o drink mais uma meia dúzia de vezes. E o mais estranho é que, à medida que tomava, passava a gostar cada vez mais daquele negócio amargo. Até que passei a adorá-lo.     Mais recentemente, comentei com Fernando Lisboa, barman por trás do Bar Cuttelo e dos Coquetéis Treze, que era uma pena que o Negroni não tivesse […]

Drinque do Cão III – Old Fashioned

Esses dias descobri que a música mais tocada no dia do meu nascimento, ao redor do mundo, foi Like a Virgin, da Madonna. Já no dia de nascimento da minha filha, a música que encabeçava as listas de sucessos era Black Horse, da Katy Perry, com participação especial de um tal de Juicy J (tive que googlar para ver quem era). Quando contei a um amigo sobre essa descoberta, ele me disse que realmente a música havia piorado muito. Afinal, Like a Virgin é um clássico do pop, uma das músicas mais emblemáticas de uma década, e, bom, Black Horse é só um monte de barulho eletrônico com uma morena – na minha opinião “bem” – bonita cantando. E que tudo era ridículo sobre aquela música, inclusive o nome do convidado especial que, em uma tradução livre, seria “O Jota Suculento”. Tive que discordar. Tudo bem que Jota Suculento é um nome bem tosco, principalmente para um cara gigante, e que Madonna é um pouco melhor. Mas, analisando friamente, os versos “como uma virgem, tocada pela primeiríssima vez, como é gostoso aqui dentro, quando você me abraça” não são nenhum Bob Dylan perto de “o amor dela é como uma […]

O Cãoboy – Woodford Reserve Distiller’s Select

Se você já acompanha o blog há algum tempo, sabe que hambúrguer é um problema para mim. Na verdade, um problema não, pelo contrário. É uma solução. Adoro qualquer tipo de hambúrguer. Gosto especialmente daqueles mal passados, bem altos e suculentos. Mas mesmo um baixinho sola-de-sapato funciona, se devidamente temperado. Aliás, aquela frase “pizza é como sexo, até quando é ruim, é bom”, não devia ser com pizza. Devia ser com hambúrguer. Porque pizza nem sempre é bom. Pizza pode ser de alguma coisa nojenta, como brócolis, berinjela ou sardinha. Enquanto que a única base admissível para um hambúrguer é carne, que é sempre bom. Ou, em alguns raros casos, calabresa e cordeiro. Fora isso, não é hambúrguer. E nem comecem a falar de frango. Hambúrguer, mesmo quando é ruim, é bom. Nesse sentido, ele se aproxima bastante de outro produto originário da terra da liberdade e do frango frito. O whiskey. Não tem como um whiskey ser ruim. Eles são, no mínimo, decentes. Mesmo porque, com algumas exceções, são sempre variações sobre um tema mais ou menos constante. Um tema delicioso. Um tema que envolve baunilha, caramelo e pimenta. E pelo fato de todo whiskey ser no mínimo decente […]

O Cãoboy – Jack Daniel’s Single Barrel

Chuck Norris é uma lenda. Já ouvi que uma vez, Chuck Norris levou uma facada no olho. A faca ficou cega. Dizem, inclusive, que o coração de Chuck Norris não bate, porque ninguém bate em Chuck Norris. E também que uma vez ele foi picado por uma cascavel e, após quatro dias de dor lancinante e agonia, a cobra morreu. Chuck Norris está para as pessoas assim como Jack Daniel’s está para os whisk(e)ys. Diversos mitos envolvem o famoso destilado. Por exemplo, o significado do número sete no Jack Daniel’s Old No. 7. Dizem que sete era o número da sorte do Sr. Jack Daniel. Outra explicação é que, após algumas tentativas de produzir o whiskey, o que mais lhe agradou foi a amostra de número sete. Existe também a lenda – um tanto misógina – de que o Sr. Jack tinha várias namoradas, e a número sete era sua preferida. Seja como for, hoje em dia, o Jack Daniel’s Old No. 7 é o rótulo individual de whisk(e)y mais vendido no mundo. A marca possui um séquito de fãs que só pode ser comparado ao da Harley Davidson. Só que você não precisa usar barba e jaqueta de couro. E […]