Drinque do Cão III – Old Fashioned

Old Fashioned

Esses dias descobri que a música mais tocada no dia do meu nascimento, ao redor do mundo, foi Like a Virgin, da Madonna. Já no dia de nascimento da minha filha, a música que encabeçava as listas de sucessos era Black Horse, da Katy Perry, com participação especial de um tal de Juicy J (tive que googlar para ver quem era).

Quando contei a um amigo sobre essa descoberta, ele me disse que realmente a música havia piorado muito. Afinal, Like a Virgin é um clássico do pop, uma das músicas mais emblemáticas de uma década, e, bom, Black Horse é só um monte de barulho eletrônico com uma morena – na minha opinião “bem” – bonita cantando. E que tudo era ridículo sobre aquela música, inclusive o nome do convidado especial que, em uma tradução livre, seria “O Jota Suculento”.

Tive que discordar. Tudo bem que Jota Suculento é um nome bem tosco, principalmente para um cara gigante, e que Madonna é um pouco melhor. Mas, analisando friamente, os versos “como uma virgem, tocada pela primeiríssima vez, como é gostoso aqui dentro, quando você me abraça” não são nenhum Bob Dylan perto de “o amor dela é como uma droga, estava tentando só dar um pega, mas essa mamãezinha é tão dopante, que baguncei tudo e viciei”.

Porque o melhor sobre a Katy Perry é, provavelmente, a Katy Perry.
Porque o melhor sobre a Katy Perry é, provavelmente, a Katy Perry.

Meu ponto, em resumo, é que não é porque algo ruim envelheceu bem, que ficou automaticamente bom. E meu amigo finalmente colocou a mão na consciência e concordou comigo.

Entretanto, algo que já era bom, com o tempo, costuma ficar bem melhor. E é exatamente este o caso do Old Fashioned. Criado no século XIX, foi o primeiro coquetel da história. O Old Fashioned sobreviveu à sua quase extinção por conta da Lei Seca americana nas primeiras décadas do século XX, e finalmente se tornou um dos clássicos drinks de acordo com a International Bartenders Association – IBA. Quase como Like a Virgin, com a diferença que o Old Fashioned é bom.

Ainda que o Old Fashioned não seja tão famoso no mundo audiovisual como o Martini ou o Cosmopolitan, ele tem sua importância. É, por exemplo, a bebida de preferência de Don Draper, vivido por Jon Hamm na série Mad Men, e do personagem de Ryan Goslin na comédia “Crazy, Stupid Love”.

Mulheres: o foco da foto é o coquetel à esquerda.
Mulheres: o foco da foto é o coquetel à esquerda.

Ao contrário do Penicillin, fazer um Old Fashioned é mais rápido do que ouvir Black Horse inteira – ainda que eu não entenda bem por que você faria isso – e mais simples do que inventar um nome menos cretino que Jota Suculento. O único problema é que, por ser um coquetel bem antigo, existem centenas de variações e aperfeiçoamentos.

Então, para evitar polêmicas, vou ensinar a versão mais clássica possível, com apenas duas pequenas alterações (sendo uma delas completamente opcional), porque, bom, porque é assim que eu faço, e eu acho que é mais fácil e fica mais gostoso.

OLD FASHIONED

INGREDIENTES:

Para fazer o coquetel você vai precisar de:

  • 2 e ½ doses de Bourbon ou Tennessee Whiskey (esse Cão prefere com Woodford Reserve ou Maker’s Mark, mas Jack Daniel’s Single Barrel, Jack Daniel’s No. 7 ou Wild Turkey funcionarão perfeitamente também)
  • Angostura (isso é um bitter. Normalmente não sou nada fresco em relação a substituir ingredientes em coquetéis, mas, por favor, neste caso, nem tente. Use Angostura)
  • Água
  • Gelo
  • Um torrão de açúcar, ou uma colher de café de açúcar, bem cheia
  • Casca de laranja (pode ser opcional)
  • Cereja em calda (totalmente opcional)
  • Copo baixo

PREPARO:

No copo baixo, coloque o torrão de açúcar. Com toda sua perícia, mire a garrafinha de angostura nele, e chacoalhe duas vezes. Vai cair um pouco mais do que uma gota por vez, e embeber o torrão.

Pegue um pouco de água e, com muito cuidado, umedeça o torrão de açúcar até ele quase se desfazer. A ideia da água aqui é simplesmente auxiliar o açúcar a se dissolver, e evitar que ele se deposite no fundo do copo. Essa é a mudança. Algumas pessoas embebem o torrão com água antes. Elas não sabem o que fazem.

Coloque algumas pedras de gelo no copo (se for apenas uma, bem grande, melhor ainda) e, finalmente, adicione as duas doses e meia de whisky.

Aqui vai a segunda alteração da receita clássica. Se você quiser um aroma um pouco mais cítrico, descasque uma laranja e coloque uma fatia de mais ou menos dois por cinco centímetros dentro do copo. E se você ainda não estiver satisfeito com sua obra, coloque uma cereja em calda como – desculpe pela piadinha ridícula – a cereja do bolo.

Pronto. Sente-se confortavelmente e aproveite. Enquanto isso, contemple e reconheça. Algumas coisas ficam apenas velhas. Outras, tornam-se clássicas.

11 thoughts on “Drinque do Cão III – Old Fashioned

  1. Duas coisas me fazem estar sempre neste blog do Cão Engarrafado. A primeira são os whiskys e a segunda é a qualidade dos textos! Parabéns Maurício! Sensacional!

  2. Vou provar, talvez assim seja a unica maneira de eu ser capaz de tomar minhas garrafas de Bourbon(odeio).
    Abraço

  3. Caro Mauricio, cai na besteira de preparar esse drinque ontem, to ferrado, sensacional, tomei 3 e parei com vontade de quero mais!!!! Abraço!!!

    1. Opa! Que bom que gostou!! Pelo jeito alguém terá que comprar garrafas novas de bourbon em breve…. rs

  4. Grande Mauricio boa noite.
    Uma duvida me surgiu enquanto contemplo a elegância de seus textos, qual proporção usaria aou substituir o torrão de Açúcar por um xarope de Açúcar 2 pra 1.
    Grande Abraço.

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