Aberlour 12 anos – Memória
Chamo o Uber e corro para pegar minha carteira no quarto, antes de descer. Aperto os dentes de frustação ao ver que ela não está lá. Sempre coloco numa caixinha, perto da mesa. Pode ser que tenha deixado do lado do computador, na sala. Não, lá não está também. O Uber chegou, e eu aqui em cima ainda, procurando essa carteira. Será que ficou no carro desde ontem? Não, porque à noite comprei umas tralhas na Aliexpress, e usei o cartão. O que, aliás, indica que ela devia estar perto do notebook. Aumento minha busca em locais menos óbvios – dentro do armário, no banheiro, na cozinha. Nada. Cancelo o uber e dou um soco na própria perna, de desapontamento. Memória é uma desgraça, mesmo. Uma vez li um estudo que dizia que nossa memória é pouquíssimo confiável, porque a gente tende a criar encadeamentos coerentes para acontecimentos pontuais. Quer dizer, você se lembra de partes de algo que aconteceu, e seu cérebro completa as lacunas entre os pontos, como um preenchimento regenerativo de inteligência artificial. Ou melhor, natural. O que significa que às vezes você lembra de coisas que não aconteceram de verdade, só porque elas deveriam ter acontecido, […]