Sabe qual o maior problema dos remakes? É que raramente são melhores que os originais. Um claro exemplo disso é o filme Cidade dos Anjos. Caso você não saiba, Cidade dos Anjos é baseado em um filme europeu chamado Asas do Desejo, dirigido por Wim Wenders. Asas do Desejo esteve, por muito tempo, no meu top dez filmes preferidos de todos os tempos. Já Cidade dos Anjos, bem, esse passou longe.
O argumento dos dois filmes é praticamente o mesmo. Um anjo que decide abrir mão da existência eterna para tornar-se humano. Em Asas do Desejo, sua motivação é compreender o significado da vida e experimentar e o prazer – e o sofrimento – de ter carne e osso. Essa experiência é personificada em uma bela trapezista de circo, pela qual o anjo se apaixona. O filme é de um existencialismo extremamente sutil, todo em preto e branco, e conta com as antológicas atuações de Bruno Ganz e Solveig Dommartin.
Já Cidade dos Anjos é um pouco diferente. Em Cidade dos Anjos, um querubim estrelado por Nicholas Cage desenvolve uma paixão platônica pela Meg Ryan, que é uma médica. Ele não dá a mínima para o significado da vida ou a natureza humana. Ele está simplesmente obcecado em faturar a cirurgiã. Então começa a persegui-la angelicalmente, como um pervertido angelical, que seriamente devia ir para a cadeia angelical.
Mas como Meg – que convenientemente é o único ser humano que consegue ver anjos – não é muito normal, ela acha seu doentio stalker irresistível, e resolve passar o resto de sua existência com ele. Existência, esta, que não durará muito. Tudo isso ao som de uma música dos Goo Goo Dolls que me faz chorar. Chorar de desgosto.
Mas ao contrário de Hollywood, a indústria do whisky sabe o valor da tradição. Um exemplo é o Glenlivet 18 anos. O Glenlivet 18 anos é talvez a versão mais clássica de uma das mais clássicas destilarias, localizada em uma clássica região produtora de single malts – Speyside. Não dá para ficar mais clássico que isso, exceto se você for, sei lá, um arquiteto de talento duvidoso.
O Glenlivet 18 anos é maturado em barricas de carvalho americano que antes continuam bourbon whiskey, bem como barricas de carvalho europeu que antes maturaram vinho jerez. Há uma combinação de barricas de primeiro e segundo uso, com objetivo de criar constância e dar harmonia ao produto final.
Conforme já falado neste blog, a Glenlivet é atualmente uma das maiores destilarias em volume de produção do mundo. o Glenlivet é o single malt mais vendido nos Estados Unidos, e o seguindo mais vendido no mundo, apenas atrás do Glenfiddich. O rótulo mais vendido é seu doze anos, ainda que o quinze e o dezoito estejam perto.
O destilado produzido pela Glenlivet é pouco oleoso se comparado a outras destilarias famosas da região de Speyside, como Aberlour e Glenfarclas. Isso se deve ao formato de seus alambiques, que possuem pescoços altos, em formato de lanterna.
Um pouco de história. Na Escócia, no início do século dezenove, um homem chamado George Smith destilava whisky de forma ilícita dentro do ducado do Duque de Gordon. E ainda que ilegal, a destilaria era famosíssima. Chamava-se Glenlivet. Mas o duque não sabia de nada. Ele nem suspeitava. Aliás, ele não tinha a mais rasa ideia do que seria aquele pequeno estoque de Glenlivet em seu suntuoso hall. Talvez algum anjo – invisível – tenha o deixado lá. Ou não.
Acontece que – por uma coincidência admirável – em 1823, o Duque de Gordon, de forma completamente altruísta e desinteressada, apoiou a alteração de legislação que permitia que destilarias adquirissem uma licença para funcionar de forma lícita. E quando o Rei George IV permitiu que as elas adquirissem uma licença para legitimar suas atividades, curiosamente, a Glenlivet foi uma das pioneiras. A história é cheia de coincidências.
A Glenlivet era tão conhecida, mas tão conhecida, que as demais destilarias da Escócia, até metade do século passado, utilizavam seu nome como denominação de origem em seus rótulos. Não era incomum, por exemplo, encontrar garrafas estampadas com o nome Aberlour-Glenlivet, por exemplo. Em meados da década de oitenta, entretanto, a Glenlivet adquiriu o direito legal de utilização exclusiva do nome The Glenlivet, e pôs fim a essa casa-da-mãe-joana do mundo etílico.
O Glenlivet 18 anos custa, no Brasil, em torno de R$ 450,00 (quatrocentos e cinquenta reais). Ele é um dos mais acessíveis single malts dezoito anos disponíveis em nosso mercado, junto com o Glenfiddich 18 anos. Se você é fã dos whiskies clássicos, certamente apreciará este single malt. Ele é como um bom filme existencialista. Sutil, equilibrado, complexo, sem grandes surpresas, mas extremamente agradável. Um clássico moderno. E, ainda bem, sem remakes.
GLENLIVET 18 ANOS
Tipo: Single Malt com idade definida – 18 anos
Destilaria: Glenlivet
Região: Speyside
ABV: 43%
Notas de prova:
Aroma: cítrico, com mel, baunilha e especiarias.
Sabor: sabor frutado, com bala de caramelo e mel, levemente cítrico, apimentado e com final longo e amargo.
Com água: o sabor fica mais adocicado e menos picante, mas as especiarias se sobressaem. O final fica mais curto.
Preço: R$ 450,00 (quatrocentos e cinquenta reais)
Olá, você poderia dizer onde encontrar esse whisky por R$ 450,00? seria interessante que você divulgasse o local que você compra, ajudaria bastante nós leitores. Abraço!
Opa! Fala Luiz Paulo, tudo bem? Normalmente o preço que faço é uma média de lugares (lojas virtuais e físicas). Costumo arredondar, porque é uma estimativa, só para servir de referência. O Glenlivet 18 pode ser encontrado em alguns supermercados Pão de Açúcar, mais ou menos nessa faixa de preço. Se preferir comprar online, veja na Loja de Whisky: http://lojadewhisky.com.br/prod,idloja,24143,idproduto,4618020,whisky-single-malt-glenlivet-18-anos
Abraços!
Dear Oráculo das Terras Altas, não encontrei no blog o local adequado pra fazer este comentário, então vai aqui mesmo. Na verdade não se trata de um comentário mas mais uma consulta. Ultimamente toda vez que vou adquirir um bem ou serviço, para avaliar a relação custo-benefício, comparo o seu preço a litros de whiskies. Assim, por exemplo, se vou comprar uma calça vejo o seu valor e comparo com o custo de, digamos, um litro de Chivas 18 anos. Se vou trocar uma peça do carro, comparo o preço do mecãnico com o preço de um Glenfiddich 12 anos. E assim por diante. Com isso consigo traçar um paralelo e avaliar a vantagem de fazer o serviço ou comprar doses de pura satisfação líquida.
Caro Oráculo, vc acha que isso reflete algum transtorno ou compulsão? Ou devo simplesmente beber e relaxar?
Abs.
P.S. eu não tinha mesmo o que fazer.
Meu caro Antonio, segundo meu psicanalista, o Sr. Mac Allan, isso não é uma compulsão. É uma forma de medida exata, que demonstra que o senhor é uma pessoa ajuizada e previdente. Eu faço exatamente a mesma coisa. Semana passada me vi obrigado a trocar o para-choques de meu automóvel. Fazendo a conta, decidi que seria melhor investir em um Laphroaig 18 anos. Afinal, pode ser que o whisky não vá reparar meu carro. Mas meu bom humor voltou muito mais rápido do que teria em uma visita ao funileiro.
Comprei essa semana Glenlivet 18 anos por 315,00 no Pão de Açúcar
O 12 anos está por 149,00
Comprei essa semana o Glenlivet 18yo por 315,00 no Pão de Açúcar.
O 12 nos está por 149,00
Pechincha!!!
Excelente Blog, suas impressões (histórias) aguçam a minha curiosidade, vamos então ao “The Glenlivet”
Muito obrigado, Avelino!
Caro, estou entre o Glenfiddich 18 e o Glenlivet 18 para ser meu primeiro single malt. Pretendo combiná-lo com algum charuto. Você tem alguma preferência nesse caso? Se souber de algum charuto também, seria ótimo. Agradeço pelos textos, sempre acompanho.
Christian, você já leu nosso review sobre o Fiddich 18? Acho que irá se identificar e te ajudar a decidir! Minha experiencia foi a mesma!
https://ocaoengarrafado.com.br/glenfiddich-18-anos/