Drunk Uncle – Metamorfose

Estamos em novembro, mas o comércio já sinaliza a – relativa – proximidade do natal. E com ele, vêm guirlandas, luzinhas coloridas, música brega e decorações verdes e vermelhas. Ah, e neve artificial num calor de trinta graus à sombra. Mas nada disso supera o mais temido personagem desta época do ano. Que não é o Grinch, caso tenham tentado adivinhar antes de chegar à próxima frase. Mas o tiozão do pavê. O tiozão do pavê vem em várias formas. Às vezes, ele nem é um tio. Mas um primo, uma tia, um amigo da família. É aquela pessoa que voce evita o ano inteiro, apenas para ter a insatisfação de ficar preso em uma conversa angustiante nas festividades de fim de ano. Sóbrio, ele já é desagradável, mas, manobrável. Bêbado – e você sempre o verá bêbado – fica pior. Porque lança mão de piadinhas como o tomate que foi no banco tirar extrato. Ou resolve que vai discutir política, religião, diversidade sexual ou a receita do dry martini como se aquela conversa fosse determinar o futuro da humanidade. O encontro com o tiozão do pavê é quase irremediável. Quase, porque há uma forma quase quântica de evitá-la. Algo […]

Kentucky Buck – Whiskey de bermudas.

Trinta graus. Trinta graus no meio do inverno, em São Paulo. Céu tão limpo que parece até que passaram aquele filtro do Photoshop que usavam na Playboy na década de noventa, e de vez em quando sumia o umbigo de alguma modelo. Cara, como eu odeio calor. Ainda mais um calor assim inesperado, no meio da mais deliciosa estação do ano, que é o inverno. Inverno é pra ser deliciosamente frio, cinza, nublado e taciturno. Aliás, já que abri a porta mimizenta, tem outra coisa que me dá raiva no calor. Quando alguém chega e diz que tá um dia tão lindo, só porque faz sol e tá quente. Não tá não, meu jovem, tá um tempo desgraçado de quente, propenso a todo tipo de coisa nojenta, tipo virilha suada, proverbiais pizzas debaixo do braço, meias úmidas e mullets pegajosos pingando. Não há elegância que resista a trinta graus no inverno. Se o príncipe William duque de Cambridge morasse aqui, a indumentária tradicional seria bermuda, chinelos e litrão na mão. É, eu sei que litrão é cringe. Sabe o que mais é cringe? Passar calor. A única vantagem desse clima incivilizado é a possibilidade de beber coisas refrescantes. O que, […]

Especial Dia do Bartender – Boardwalk Empire

Hoje é dia do bartender. Uma das figuras mais importantes de toda a indústria da bebida. Bartender é muito mais do que a pessoa que prepara seu gim-tônica ou negroni. O bartender é a mão visível da inovação etílica. Os porta-vozes das tendências nos bares e – por que não – em casa. Atrás do balcão, o bartender é um ser iluminado e multidisciplinar. Ele consegue sorrir educadamente para sua grosseria enquanto prepara algum coquetel com o esmero de um apotecário. Para ele, “me vê um gim-tônica” é uma resposta mais comum do que “tudo, e você” para a pergunta “Boa noite, como vai“. É capaz de demonstrar interesse, independente da quantidade de álcool que você ingeriu, e das proporções gargantuais da abobrinha que você disser. Por dentro, o bartender é quase um dry-shake. É aquele que tem vontade de quebrar o mixing glass na sua cabeça quando você pede para ele te surpreender (bem, ninguém especificou que seria uma surpresa agradável). E que se imagina cortando sua jugular com um golpe certeiro da pá de gelo, toda vez que você pede seu coquetel menos gelado. Que assiste, em seu teatro mental, sua vida vagarosamente se esvaindo de seus olhos, quando você […]

Worldclass 2018 – Sobre a Copa

Não foi dessa vez. Lutamos com garra, mas apesar de toda torcida, do canarinho pistola e do russo esquisitão, fomos derrotados pela Bélgica. Numa copa bem atípica, sem Argentina, Alemanha e Espanha, o Brasil também ficou de fora. Mas apesar de nossa derrota no futebol, ainda podemos trazer a taça para casa. Mas não da Copa do Mundo. De uma outra competição que, na opinião – assumo que um pouco enviesada – desse Cão, é ainda mais importante: o Worldclass Competition. O Worldclass, pertencente à Diageo, é um dos maiores campeonatos de coquetelaria do Brasil, e dos mais importantes do mundo. São mais de dez anos de competição, em mais de cinquenta países. Nessa década de existência, mais de sessenta mil profissionais participaram do campeonato. Em 2018, foram 250 inscritos apenas em nosso país. Após diversas etapas, foram selecionados oito semifinalistas. Adriana Pino, Anderson Santos,  Gabriel Santana, Gustavo Guedes, Heitor Marín, Miguel Paes, Rafael Domingues e Romero Brito. Os jurados da final regional foram os reconhecidos bartenders Ale D’Agostino, Fabio la Pietra, Jean Ponce, Márcio Silva e Spencer Amereno. A final da etapa brasileira do Worldclass aconteceu no restaurante Seen – localizado no último andar do hotel Tívoli Mofarrej, em São Paulo. Lá, os […]

Drink do Cão – Blackthorne

Às vezes as coisas precisam apenas ser resgatadas para alcançarem o sucesso. Foi o que pensei, após assistir o filme The Disaster Artist, dirigido pelo ator James Franco. The Disaster Artist conta a história de outro filme, por muitos considerado o pior do mundo. The Room, escrito e dirigido por um curioso indivíduo chamado Tommy Wiseau. O filme de Franco – que é bem legal – me deixou genuinamente curioso para assistir àquele de Wiseau. E eu não fui o único. A internet está povoada de relatos de pessoas que viram este depois daquele. E olha, eu não poderia afirmar que The Room é o pior filme do mundo, porque eu não vi todos os filmes do mundo. Mas vou te garantir que ele é bem ruim. A pior parte é o roteiro. O roteiro não faz o menor sentido. Sabe, a próxima informação que vou passar vai parecer meio aleatória. Mas enfim. Aqui em casa a gente tem um gato, e às vezes eu noto que ele me olha meio angustiado quando estou fazendo algo que ele não entende a razão, como tomando banho ou escovando os dentes. Acho que se o gato em algum momento ficasse mais inteligente e […]

Rusty Compass – Drink do Cão

Vou começar o texto dizendo algo que pode soar pretensioso. Mas juro que não é. Me considero uma boa companhia para mim mesmo. Para os outros, bom para os outros não. Para os outros eu sou bem chato, meio antisocial, e bem calado. Especialmente quando estou sóbrio. Mas quando estou sozinho, não tenho muitos momentos de aborrecimento. Consigo preencher o tempo livre de minha agenda com banalidades sem a menor dificuldade. Coisas como ver algum filme, ler alguma coisa, inventar algum coquetel – que normalmente fica horrível e alcança imediatamente o oblívio – ou mesmo visitar algum bar recém-inaugurado. Quando menos percebo, o dia já acabou. Mas às vezes, muito raramente, fico terrivelmente entediado. Nenhum filme para ver ou livro para ler. Zero de criatividade para misturar coisas e vontade de sair. Bússola mental quebrada, apontando para todos os lados, mas sem tomar qualquer rumo certo. Se minha mente pudesse ser observada em uma tela, a única coisa projetada seria energia estática. Semana passada tive um dia desses. Sentei-me na frente do computador e comecei – sei lá por que – a pesquisar receitas em um famoso website de coquetelaria. Sem qualquer objetivo, apenas vendo as figurinhas e receitas passarem sem […]

Drink do Cão – Rusty Nail

“A simplicidade é o tom de toda verdadeira elegância” A frase acima, atribuída a Coco Chanel – sim, a da grife de moda – provavelmente tinha como objeto algum artigo de alta costura. Um belo vestido, um chapéu ou uma bela bolsa. Se este Cão não soubesse melhor, porém, poderia afirmar que a frase fora dita pela estilista ao preparar e provar um Rusty Nail. Composto por apenas dois ingredientes – Drambuie e whisky – o coquetel é a liquefação da citação de Chanel. Um drink simples, facílimo de ser preparado, mas um clássico atemporal. Tanto é que atualmente, o Rusty Nail figura entre os “inesquecíveis” da International Bartender’s Association (a Associação Internacional de Bartenders) e está entre os cem mais do Difford’s Guide. O engraçado é que até hoje, a origem de seu nome, que significa “prego enferrujado” em inglês, é desconhecida. O sucesso do Rusty Nail, porém, demorou um pouco para – perdão pela metáfora oportunista – pregar. De acordo com David Wondrich, historiador especializado em coquetelaria, nas quase três décadas iniciais de vida do Drambuie, nenhuma referência foi feita a ele. Segundo Wondrich, sua primeira aparição foi em 1937, pelas mãos de certo  F. Benniman, sob a alcunha de  B.I.F. O coquetel […]

Sobre Aperol e Aeronaves – Paper Plane – Drink do Cão

Vou contar uma coisa pra vocês. Se vocês acharem muito esquisito, ou ficarem revoltados, paciência. Podem fechar o navegador, deixar de seguir o Cão no Instagram e me bloquear no Facebook. Pensei por muito tempo se deveria ou não contar isso, porque, afinal, em um mundo tão polarizado e ao mesmo tempo cheio de verdades absolutas, é sempre difícil assumir que se tem uma opinão diferente do que parece ser um consenso quase geral. Demanda um certo sangue frio e maturidade para enfrentar as consequências. Mas vou falar. Não gosto de Nutella. Mentira, Não é que eu não gosto de Nutella. Eu não gosto de frango, o que é bem diferente. Mas eu eu simplesmente não ligo pra Nutella. Nunca entendi o fervor online causado por essa pasta. E isso me incomoda um pouco, porque me sinto excluído desse Zeitgeist gastronômico. Especialmente quando não compartilho do entusiasmo causado por coisas relacionadas que levam os outros à loucura. Como, por exemplo, um enroladinho de nutella e bacon, que encontrei num site de receitas online recentemente. A Nutella encabeça uma longa lista de coisas que não me incomodam, mas também não me emocionam – outras são camarão, pizza, The Beatles (é, eu sei, eles foram revolucionários, okey) e […]

Drink do Cão – Brown Derby

Você sabe o que é uma toranja?  Eu descobri apenas recentemente. Uma toranja é uma fruta. Mais especificamente, uma fruta híbrida, resultado do cruzamento entre uma laranja e um pômelo – outra coisa que eu nunca tinha ouvido falar. Se você é afeito a americanismos, talvez a conheça pelo nome internacional: grapefruit. A toranja – como quase toda fruta – possui um punhado de vitaminas e substâncias benéficas à saúde. Ela ajuda no emagrecimento, e há até uma dieta baseada nela (ainda que exista dieta baseada em tudo hoje em dia). Ela também ajuda a prevenir doenças do coração, como infarto do miocárdio. Como se não bastasse, reduz também a chance de algumas moléstias bem nojentas e feias, como a gota. Por fim, também evita o envelhecimento precoce, por ter propriedades antioxidantes. A toranja é um milagre em forma de vegetal. No entanto, até a semana passada, ignorava totalmente a existência do fruto. Para mim, não passava de uma laranja que cresceu demais. Porém, meu desdém por ela desapareceu tão logo esbarrei em algo que muito me chamou a atenção. Um elixir da juventude. Um coquetel que une as maravilhas da toranja com a melhor bebida do mundo. o whisky. […]

Drink do Cão – Bobby Burns

Se você está procurando um pretexto para beber, chegou ao lugar certo. E na data perfeita. É que hoje é uma das noites mais especiais para os amantes de whisky. A Burn’s Night, criada em homenagem ao mais famoso poeta de toda história escocesa – Robert Burns. Se quiser saber mais sobre a comemoração, o bardo e sua paixão por embutidos de tripas e estômago de bode, leia nosso texto do ano passado sobre a Burn’s Night aqui. Senão, continue aqui comigo. Robert Burns nasceu em 1759 em Ayshire, e foi um dos precursores do movimento romântico. Ele escreveu sobre temas de grande intensidade – e atuais até hoje – como liberdade, identidade nacional, iniquidade e igualdade de gênero. Mas, além disso, Burns também tratou de assuntos corriqueiros. Bem corriqueiros. Mesmo. Um exemplo é seu poema “To a Mouse” (Para um Rato) que ele teria escrito após se sentir mortalmente arrependido de ter acidentalmente pisado em uma toca de ratos, durante uma de suas caminhadas. Ou “To a Mountain Daisy” (Para uma Margarida da Montanha), concebido por ele após, em outra feita, esmagar uma flor. De onde podemos concluir que Burns devia passar o dia pensando em poesia, e realmente não prestava […]