Especial de St Patrick’s – Irish Maid

Este é um post especial de St Patricks. Eu poderia falar, mais uma vez, de São Patrício. Comentar que ele é o padroeiro da Irlanda, e que o consumo de álcool durante as festividades em sua homenagem teve origem em uma restrição etílica no século dezessete. E depois falar tudo que o país tem de característico, como trevos, o Colin Farrell e uma dezena de escritores geniais. Mas, não vou fazer isso, porque já falei nos anos anteriores. Hoje, vou falar de pepino. Pepino, facilmente, é meu vegetal de dupla conotação preferido. Ele dá um pau na beringela e arregaça a cenoura em benefícios, versatilidade e sabor. Pepinos, por exemplo, te deixam hidratado. Eles possuem 96% de água, que é inclusive mais nutritiva do que água normal. Além disso, cotém um punhado de vitaminas. O vegetal cilíndrico é tão pica (ops) que você nem precisa comer ele. Colocar uma fatia na pele ou nos olhos ajuda a aliviar dores de queimaduras e olheiras. Além disso, ele fica uma delícia num sanduíche, com coalhada ou cream cheese. Em conseva, nem se fala. Introduza um pepino em conserva em seu sanduíche ou hambúrguer para uma versão muito melhorada do lanche. Naturalmente, com […]

Tipperary – Passaportes

O Jean Reno não é francês. Quer dizer, ele é francês, mas é o ator mais essencialmente francês menos francês que eu conheço. Seu nome verdadeiro é Juan Moreno y Herrera-Jimenez. Seus pais eram espanhóis. Quando o pequeno Jean nasceu, o casal vivia em Casablanca, no Marrocos – na época que o país ainda era um protetorado da França. O que o torna francês, tecnicamente falando. E apesar da ascendência espanhola, é difícil imaginar um ator que represente melhor alnguém nascido na terra do queijo e vinho. Talvez Gérard Depardieu, Alain Delon ou Vincent Cassel. Pensando bem, não. Pra ser mais francês do que o Jean Reno, tem que ser o Gérard Depardieu vestido de Obélix, segurando aquele terrier que representou o Dogmatix no filme do Astérix de 2002. Cliché assim. Aliás, a palavra “cliché” também me parece menos francesa que o Jean Reno. Um fenômeno parecido acontece com um coquetel chamado Tipperary. O Tipperary é o coquetel com irish whiskey menos irlandês que eu conheço. O Tipperary é aquele tipo de clássico pouco conhecido, mas bem documentado. Ele fez aparições no Recipes for Mixed Drinks de 1916, de um obscuro Hugo R. Ensslin, que não era irlandês, e que […]

Jameson Caskmates IPA Edition – Simbiose

Eu não vejo muita televisão. Normalmente, quando me sento à frente do aparelho, é para ver um filme ou – mais raramente – série em algum serviço de streaming. Não tenho nem o costume e nem a disciplina necessária para acompanhar qualquer programa transmitido em horário fixo. Tanto que tenho uma contraditória relação de desprezo e admiração por quem consegue, religiosamente, acompanhar uma novela, por mais prosaica que seja. Mas na semana passada, sei lá por que, resolvi ligar a TV. E logo fui absorvido por um documentário no Discovery Channel que mostrava a relação entre os crocodilos e uma destemida ave chamada tarambola. Que você conhece, apesar de não saber que conhece. É aquele passarinho que fica palitando os dentes do réptil, que, por sua vez, se abstém de transformá-lo em tira-gosto em troca da satisfação de limpeza bucal. E olha, acho que é um tradeoff bem bom, porque, pra um jacaré, satisfação bucal deve ser algo bem importante. A relação dos dois é conhecida como uma espécie de simbiose. Uma cooperação animal, onde espécies diferentes se relacionam para o benefício de ambas. Há outros infinitos exemplos, como a anêmona e o peixe-palhaço, e a moreia e aquele peixinho […]

Method and Madness Single Pot Still

Esses dias sonhei que tinha ido a uma festa, de pijama. Caso você não tenha se atentado ao artigo, deixe-me ressaltá-lo. Não uma festa do pijama, o que já seria bem estranho na minha idade. Mas uma festa convencional, só que vestindo um pijama. Aliás, um desses bem clássico, listradinho, com um calção azul marinho. No sonho, eu parecia ser o único ciente de que estava com roupa de dormir. O que, independente da opinião alheia, me dava bastante vergonha. Tentava me convencer que podia ser pior. Que eu podia estar fantasiado. Fantasiado de frentista de filme pornô ou de Barney – o dos Flintsones, claro, não o Stinson. Mas aquilo não adiantava. É uma espécie de sentimento de reluzente inadequação. Fiquei pensando, depois, como seria se isso acontecesse no mundo real. Se eu fosse de pijama pro trabalho, por exemplo. Imagino que as pessoas me mandariam para casa, ou me dariam algo pra vestir. Ou secretamente tirariam fotos para postar nas redes sociais. Ou, talvez, me respeitassem. Eu estaria lá, vestido confortavelmente para desafiar tradições e mostrar que eu poderia ser melhor usando pijamas. Talvez o pessoal da destilaria irlandesa Midleton tenha sonhado isso também. Ou talvez tenham simplesmente decidido, […]

Monomito – A História do Whiskey Irlandês – Parte 2

Esta é a segunda parte da saga do whiskey irlandês, nosso herói etílico. Se perdeu o começo da jornada, leia aqui. Naquela oportunidade, congelamos a história quando a bebida encontrou suas primeiras dificuldades em seu percurso. O fogo amigo do whisky escocês, que se popularizou com a invenção do destilador contínuo. Retomaremos a partir deste ponto. Em 1919 ocorreu a independência da Irlanda, que se separou do Reino Unido. Um acontecimento histórico importante, mas que causou instabilidade para o Irish Whiskey. A independência tornou o acesso dos irlandeses aos mercados lucrativos do império britânico mais difícil. Para piorar, o governo irlandês, que considerava as destilarias favoráveis à coroa, impôs taxas pesadas sobre a bebida, tornando seu consumo caro, mesmo dentro da Irlanda. Soma-se a isso o fato de que o whisky irlandês era importado em massa, dentro de barricas, e engarrafado e cortado no destino. Isso – ainda que fosse uma prática mais econômica – facilitava sua falsificação ou adulteração. O whisky escocês, por outro lado, era importado em garrafas, o que atrapalhava bastante este trabalho. Mas nem tudo estava perdido. Nosso protagonista, um pouco abalado pelos últimos acontecimentos, ainda andava de cabeça erguida. Afinal, o Whiskey Irlandês ainda possuía […]

Monomito – A História do Whiskey Irlandês – Parte 1

Você sabe o que A Pequena Sereia, O Senhor dos Anéis e Harry Potter tem em comum? Não, não é um protagonista irritante, ainda que isso seja verdade para as três sagas. É o monomito. Também conhecido como a Jornada do Herói, ele é uma estrutura narrativa bastante usada na ficção e, claro, em mitos, como o de Perseu. Se você analisar cuidadosamente, essas histórias – e uma porção de outras – possuem exatamente o mesmo esqueleto. O termo monomito foi descrito pela primeira vez por Joseph Campbell em seu livro “The Hero With a Thousand Faces”. Campbell pegou o termo emprestado de uma obra de James Joyce, chamada Finnegan’s Wake. O monomito é dividido em três atos: a partida, a iniciação e o retorno. Cada um deles possui subcapítulos, como o mundo cotidiano e a chamada À aventura, a estrada de provas, o momento em que tudo está perdido, a apoteose e o retorno. E talvez seja porque a Irlanda possui alguns dos mais importantes escritores do mundo – Como Joyce, aliás – ou não. Mas o whiskey irlandês, ao longo dos séculos, descreveu um caminho muito semelhante àquele do monomito. Das portas dos monastérios à gloria e ao posterior […]

Palestra – O Renascimento do Whiskey Irlandês

Prezados leitores, interrompemos nossa programação normal para um anúncio de enorme importância. Na próxima quinta-feira, dia 14, este Cão realizará uma palestra sobre a história e o renascimento do Irish Whiskey na Livraria Martins Fontes da Av. Paulista. A palestra é parte de um projeto conjunto entre O Cão Engarrafado e a agência de viagens Freeway: Uma viagem para a Irlanda, com foco no whiskey irlandês. Durante a palestra, este Cão também abordará o roteiro da viagem, que conta com visitas a destilarias como Jameson, Teeling, Tullamore D.E.W. e Waterford – uma destilaria que é fechada para visitantes, mas que aceitou nos acolher. Mas nem tudo é whiskey. Visitaremos castelos incríveis, faremos uma parada estratégica na fábrica da mundialmente famosa cerveja Guinness, e aprenderemos sobre o Poitin, um curioso destilado produzido no país. Se quiser saber mais detalhes, ou ouvir um pouquinho sobre Irish Whiskey, é necessário confirmar presença encaminhando e-mail para confirmacao@freeway.tur.br . Mais detalhes sobre o evento e a viagem abaixo ou clicando aqui. Você gosta de viajar? Apreciar Whiskey? Viver novas experiências? Conhecer novos amigos? Tudo na companhia de um especialista…então essa palestra e viagem são para você! A Irlanda. O país de James Joyce, Oscar Wilde, Samuel […]

Drink do Cão – Blackthorne

Às vezes as coisas precisam apenas ser resgatadas para alcançarem o sucesso. Foi o que pensei, após assistir o filme The Disaster Artist, dirigido pelo ator James Franco. The Disaster Artist conta a história de outro filme, por muitos considerado o pior do mundo. The Room, escrito e dirigido por um curioso indivíduo chamado Tommy Wiseau. O filme de Franco – que é bem legal – me deixou genuinamente curioso para assistir àquele de Wiseau. E eu não fui o único. A internet está povoada de relatos de pessoas que viram este depois daquele. E olha, eu não poderia afirmar que The Room é o pior filme do mundo, porque eu não vi todos os filmes do mundo. Mas vou te garantir que ele é bem ruim. A pior parte é o roteiro. O roteiro não faz o menor sentido. Sabe, a próxima informação que vou passar vai parecer meio aleatória. Mas enfim. Aqui em casa a gente tem um gato, e às vezes eu noto que ele me olha meio angustiado quando estou fazendo algo que ele não entende a razão, como tomando banho ou escovando os dentes. Acho que se o gato em algum momento ficasse mais inteligente e […]

Especial de St. Patrick’s – Cinco Ótimos Irish Whiskeys

Antes de estudar sobre whiskies, a Irlanda para mim era um país quase caricato. Meu conhecimento se limitava a duendes, trevos de quatro folhas, Bono, chapéus pontudos, cerveja – desagradavelmente – verde e o Colin Farrell. Ah, e claro, uma dezena de escritores geniais. Acontece que a Irlanda não é apenas talentosa na parte literária. Na verdade, para um apaixonado por whiskies, ela é um dos mais importantes players no mercado. A ilha possui tradição na produção da bebida, inclusive, com técnicas e identidade próprias. A Irlanda é tão importante que até mesmo compete com a Escócia pelo título de quem inventou a chamada “água da vida”. Deixando as especificidades muito técnicas de lado, a maior diferença entre whiskies irlandeses e escoceses é o processo de destilação. Tradicionalmente, o whiskey irlandês é triplamente destilado, enquanto o whisky escocês é apenas duas vezes. Isso torna os irlandeses notavelmente mais leves e menos oleosos. Há, no entanto, exceções à tradição nos dois países. Mas vamos parar com o whisky-geeking e voltar ao assunto. Do Brasil, é difícil enxergarmos a diversidade de whiskey – sim, com o “e” mesmo – que a Irlanda produz. O único irlandês que desembarca em nossas terras é […]

Sobre o Frio – Irish Coffee

Não sei se vocês estão sentindo. Mas aqui está bem frio. E ainda que eu claramente prefira essa congelante brisa invernal – apesar de não estarmos ainda no inverno – ao calor senegalês do verão, há uma série de coisas que eu realmente prefiro fazer quando está mais quente. Como, por exemplo, ir ao banheiro. Eu odeio ir ao banheiro de casaco. Aliás, vou contar uma coisa mais ou menos porca para vocês. Nada relacionado a higiene pessoal é legal no frio. Escovar os dentes exige que se bocheche e, consequentemente, suas mãos sejam congeladas. Acordar de manhã e percorrer a distância até o chuveiro – e aguardar o chuveiro esquentar – só para passar frio novamente ao sair é torturante. No entanto, há uma infinidade de atividades que ficam bem melhores no frio. Cole Porter já descreveu uma delas, ao dizer que “de acordo com os Estudos de Kinsey, todo homem médio que se conhece, prefere praticar seu esporte favorito, quando a temperatura está baixa”. As outras são, por exemplo, dormir, assistir filmes no conforto do lar e, claro, beber whisky. Aliás, o frio é um ótimo pretexto para se consumir a melhor bebida do mundo. Acontece que, às vezes, […]