Whiskies Para Tomar Com Os Amigos – World Whisky Day & Feis Ile

Hoje é um dia duplamente especial para o mundo do whisky. Na verdade, triplamente especial. Primeiro, porque hoje é sábado. E, só por isso, já é um excelente pretexto para chamar os amigos e compartilhar aquela garrafa de whisky e um bom papo. Mas não é só isso. Hoje é também o World Whisky Day (O Dia Mundial do Whisky). E tudo bem que para este Cão – e talvez, para muitos de vocês – quase todo dia é dia do whisky. Mas é que hoje é oficial. O World Whisky Day foi criado em 2012 por um rapaz de apenas vinte e três anos de idade, chamado Blair Bowman. Sua vontade era criar um dia para que as pessoas pudessem se encontrar, comemorar e descobrir mais sobre a bebida nacional da Escócia. Cinco anos mais tarde, a data já é comemorada em todos os cantos do mundo. No ano passado, por exemplo, houve até um evento na Antártida! Mas talvez estes não sejam motivos suficientes para você. Porque, sei lá, sábado é um dia bem recorrente. Toda semana tem um. E um dia criado há apenas cinco anos por um ébrio rapaz talvez não tenha o necessário ar de […]

Drops – Bruichladdich Octomore Scottish Barley

Aí vai mais um whisky para valentes. Este é o Octomore Scottish Barley. Os Octomore são edições limitadas anuais da destilaria Bruichladdich, localizada em Islay, na Escócia. Islay é famosa por seus whiskies turfados, que possuem sabor defumado por conta do processo de secagem da cevada maltada em uma fogueira de turfa. Mas o Scottish Barley não é um defumado qualquer. Veja bem, sua graduação alcoolica é de 57%. Como se isso não bastasse, os Octomore são os whiskies mais defumados do mundo. É que a defumação de um whisky é medida em partes por milhão (ppm) de fenóis. Whiskies turfados, como o Johnnie Walker Double Black, por exemplo, possuem algo em torno de 30ppm. Outros mais defumados, como Ardbeg, entre 40 e 50 ppm. Já o Scottish Barley possui 167ppm. Mais do que o triplo do Ardbeg. E ainda há uma versão de Octomore que chega a 258ppm! O álcool e a defumação extrema dão ao Octomore sabor de bacon, fumaça, pimenta do reino e iodo. Aliás, se você é fã de bacon e sempre sonhou em encontrar uma versão líquida da iguaria, pode parar de procurar. O Scottish Barley é para você. O Cão já fez a prova de […]

Sobre o Necessário e o Supérfluo – Whiskies para seu bar em casa

Estamos no carnaval. O Carnaval é o feriado mais festivo do ano. A festa está em toda parte. Nos bloquinhos de rua, no sambódromo, no boteco na esquina da sua casa. Todo mundo – literalmente – transpira Carnaval. Há festas para todos os bolsos e gostos musicais. Para mim, entretanto, o grande apelo do Carnaval é o feriado. Quatro dias e meio para fazer o que bem quiser. E o que bem quiser, normalmente, significa trocar o calor e a cerveja quente na rua por um bom  whisky no conforto do lar. Ou isso, ou viajar com a Cã e a querida Cãzinha. Mas aí acabo desembocando em um problema. Eu não sei arrumar uma mala. É uma incapacidade que me acomete desde criança, mas que, por mais esquisito que seja, piorou à medida que fiquei mais velho. Provavelmente porque, quando eu era criança, minha mãe revisava minha mala. Ela tirava os dez gibis que coloquei lá dentro, e os substituía pela minha escova de dente e meia dúzia de cuecas, que eu sempre esquecia. Minhas malas são verdadeiras caixas surpresa. Mas a surpresa é quase sempre desagradável. Como, por exemplo, quando fui para um casamento, no interior, e esqueci de levar […]

Solo Suite – Laphroaig 10 anos

Hoje vou falar de coisa séria. Falarei de cultura. De música erudita. Falarei do Arvo Pärt (pronuncia-se Pért, caso você esteja se perguntando o que um trema está fazendo em cima de um “a”). Arvo Pärt é um compositor nascido na Estônia, em 1935, e vivo até hoje. Arvo é responsável por composições antológicas, que você certamente já ouviu. Certamente já ouviu, mas nunca soube que eram dele. O exemplo mais claro é Spiegel im Spiegel. Spiegel im Spiegel – que, em alemão, significa espelho no espelho – foi composto por Pärt em 1978, logo antes de abandonar a Estônia. A composição figurou em filmes como Gerry, de Gus van Sant e Dans le Noir Du Temps, um curta-metragem de Jean Luc Godard que trata sobre, bom, é difícil dizer com certeza sobre o que trata o curta de Godard. Mas este Cão suspeita que seja sobre a morte do cinema como arte, em uma era que tudo vira mercadoria. A peça clássica foi originalmente escrita para violino e piano, em um estilo chamado tintinnabuli. O estilo, criado pelo próprio Arvo, e cujo nome é uma onomatopeia que beira o ridículo, é caracterizado por duas vozes.  Ambas tonais. Uma delas, […]

Fumaça Negra – Johnnie Walker Double Black

Este texto foi originalmente escrito pelo Cão para a Single Malt Brasil no começo de 2015. Mas coisas boas sempre devem ser relembradas. Afinal, recordar é viver. Vou ser objetivo com vocês. Eu adoro qualquer coisa consumível que seja defumada. Isso inclui sólidos e líquidos. Quer me ver feliz? Faça um jantar que inclua, em algum momento, calabresa defumada, bacon ou salmão defumado. Ou os três. Com um bacontini. Sim, isso é um Martini com bacon. Inclusive, há uns meses atrás, durante uma visita ao supermercado, achei que tinha feito uma descoberta que mudaria para sempre minha vida. Fumaça líquida. Fumaça líquida é uma espécie de essência, que você pode borrifar em cima de alimentos, para deixá-los com um certo aroma de fumaça. Ou seja, delícia líquida. Comprei logo dois vidros. Na minha imaginação, eu poderia defumar tudo agora. Pense em um hambúrguer defumado, com pão defumado, queijo defumado e alface defumado. Perfeito! Meus primeiros testes com a fumaça líquida foram ótimos. Inclusive, fiz um espaguete com azeite, alho, pancetta, fumaça líquida e mais umas coisinhas que ficou bem decente. Só que aí eu comecei a ficar corajoso. E com a coragem, veio naturalmente a estupidez. Alguém aí já tentou […]

O Chef Canídeo – Filé Flambado com Whisky Defumado (e risoto de whisky)

Quem me conhece sabe que não tenho grandes restrições alimentares. Sou capaz de comer quase tudo que pode ser considerado um alimento. Quer dizer, quase tudo. Quase tudo porque eu nunca comi grilo, ou barata. E eu sei que na China se come isso como se fosse camarão sete barbas. Mas sabe, em condições normais, eu não vejo nenhum bom motivo pra comer um grilo. Na verdade, vamos impor alguns limites – não existe nenhum bom motivo para comer qualquer inseto. O que muita gente não entende é que, apesar de eu comer quase absolutamente tudo que seja humanamente comestível, eu tenho preferências. Por exemplo, adoro carne mal passada ou crua. Quer me ver feliz? Faça um steak tartar. Gosto muito também de peixe defumado. Aliás, gosto de qualquer coisa – qualquer coisa mesmo – que seja defumada. Sabe, pensando bem, talvez se me servissem grilo defumado, eu comeria. Mas eu também tenho ódios. Detesto frango. Veja bem, não é que eu não coma frango. Eu como. Com desgosto. Também odeio morangos. Morangos estão entre as frutas mais desprezíveis de todo o universo botânico. Eles existem com o único e exclusivo propósito de estragar alimentos que passariam perfeitamente bem sem […]

O Cão Didático – Um Micro-Manual para Entender o Rótulo de um Whisky

Este texto foi originalmente elaborado para nossos amigos da charutando.com.br, portal dedicado à cultura do charuto no Brasil. Mas por sua relevância, resolvi também que faria constar deste blog. Porque, afinal, não é sempre que whiskies e utilidade pública se reúnem. Pode ser óbvio o que vou falar,  mas adoro combinar puros e whiskies.  Por isso, inclusive, que aceitei com orgulho fazer parte do grupo de colunistas da Charutando. Aliás, tenho uma poltrona na varanda de meu apartamento, estrategicamente posicionada ao lado de uma mesa baixa, exatamente para que possa me dedicar a esta saudável e extenuante atividade. A de fumar um bom habano, acompanhado, quase sempre, de algum single malt e de boa literatura. E ainda que este programa já seja, em si, excelente, sempre sentia que faltava algo. Havia lá um metafórico espaço vazio a ser preenchido, para que aquela sensação quase kitsch de conforto efetivamente decantasse. Não sabia bem o que era. Até que um dia, sendo forçado a escutar a seleção da Valeska Popozuda que meu vizinho insistia em ouvir no volume mais alto, finalmente entendi o que precisava. Música boa. Encomendei, então, um bom fone de ouvido. Aliás, um excelente fone de ouvido, capaz de […]

Sobre Excessos – Ardbeg Ten

Existe uma tênue linha entre a insanidade e a genialidade. Um dos maiores exemplos disso foi Donatien Alphonese François, mais conhecido como o Marquês de Sade. Donatien nasceu no século dezesseis, quando normalmente as pessoas – especialmente os aristocratas – eram muito mais do que uma coisa só. Além de nobre, o Marques de Sade era um político revolucionário, escritor e filósofo. Enfim, um cara versátil. Tipo uma modelo-atriz-cantora-e-apresentadora dos dias de hoje. Mas Donatien também era um libertino sexual. Um homem com sérios problemas de respeito com o sexo feminino – e muitas vezes, com o masculino também – e com os limites do que seria uma prática sexual saudável. E saudável, aqui, é para ser interpretado num sentido bem amplo. O cara era tão doente, tão doente, que criaram uma palavra para ele: sadismo. A combinação de suas preferências sexuais com opiniões políticas extremas renderam ao marquês diversos encarceramentos, somando vinte e três anos de prisão. No tempo livre entre revoluções políticas, escândalos sociais e práticas sexuais bizarras, Donatien escrevia. E bem. Uma das citações que mais gosto do marquês é uma provocação a Sêneca: “tudo é bom quando é excessivo”. Mas vamos admitir aqui que nem tudo […]

Dilema – Laphroaig 18 anos e Lagavulin 16 anos

Escolha rápido: Rolling Stones ou Beatles? Ferrari ou Lamborghini? Batman ou Iron Man? Eva Green ou Scarlett Johansson? E se sua preferência for por homens, Brad Pitt ou Tom Cruise? Você provavelmente ficou em dúvida com alguma das escolhas anteriores, certo? Existe um nível de excelência em que fica realmente difícil apontar um vencedor. Ou argumentar, com propriedade, qual é melhor. Eu preferiria não ter que escolher. Sério mesmo que eu não posso comer um spaghetti carbonara com pancetta e outro com bacon? Aliás, escolher entre duas coisas excelentes é ainda mais difícil do que entre duas coisas péssimas. Tipo, sei lá, fazer um tratamento de canal sem anestesia ou passar o resto dos meus dias ouvindo apenas Anitta no rádio. Eu não teria dúvidas. Ficaria com o canal, fácil. Pelo menos o tratamento acabaria em umas duas horas no máximo, e seria bem menos doloroso. Já que falei da Anitta, para elevar o nível desse blog, citarei o filósofo existencialista francês Jean Paul Sartre, que certa vez escreveu que “cada escolha é uma angustia”. Sartre, ao conceber essa frase pela primeira vez, provavelmente olhava com indecisão para a prateleira dos whiskys de uma magasin d’alcool, tentando escolher entre o […]

Sobre mulas e momentos efêmeros – Laphroaig Quarter Cask

Existem muitas coisas boas na vida que duram muito pouco, e quando menos percebemos, já acabaram.  O pôr do sol, um beijo, sua música preferida no rádio (exceto se você for fã de Emerson, Lake & Palmer), e o sossego entre comer um acarajé na praia e correr para um toalete. São momentos efêmeros, que logo se extinguem, mas nos trazem boas memórias sempre. Isto se aplica perfeitamente também à minha primeira garrafa de Laphroaig Quarter Cask. Ela durou exatamente nove dias. De quarta-feira à outra sexta. Na época, havia experimentado poucos whiskies da região de Islay, famosa pelos maltes defumados, e não havia encontrado nada ainda que aliasse meu gosto por whiskies mais encorpados ao aroma de fumaça. Como você já deve ter presumido – ou não – o nome quarter cask vêm dos barris utilizados para maturar o destilado. Após algum tempo nos barris tradicionais de ex-bourbon, o whisky é transferido para o chamado quarter cask, que é uma barrica menor. Isso aumenta a área de contato entre a madeira e o líquido, acelerando o processo de maturação. Segundo a Laphroaig, a utilização dos quarter casks era frequente no final do século 19, quando o whisky era transportado […]