North Sea Oil – Economia

Pequenas fatias alaranjadas, cuidadosamente aplicadas sobre um arroz glutinoso. O salmão, atualmente, é o campeão de vendas dos restaurantes de culinária oriental. Ele está – quase – por toda parte, da temaqueria na loja de conveniência do posto de gasolina, até o omakase. Mas, nem sempre foi assim. O salmão prativamente não era consumido cru no Japão, até lá pela década de oitenta. Os japoneses consideravam o peixe sujo, porque o salmão pescado no Pacífico era propenso a parasitas. Era preciso aquecê-lo para garantir a segurança. Quem mudou essa história foi a Noruega. O país lançou o “Projeto Japão” em 1986, com o objetivo de duplicar o consumo do peixe no Japão em três anos. O norueguês Bjorn Eirik Olsen capitaneou a empreitada, que consistia em convencer os japoneses que o salmão de cativeiro norueguês era limpo e diferente do japonês. O projeto envolveu dar um nome diferente para o bicho e se aproximar do consumidor, menos detalhista do que a indústria, sobre o perfil de sabor e textura do salmão. O projeto deu tão certo que hoje, menções à Noruega remetem a geralmente três assuntos: frio, vikings e salmão. Mas engana-se quem acha que o produto mais importante do […]

Elk’s Own – Genialidade

Há alguns anos, András István Arató, um engenheiro de meia idade da cidade de Koszeg, na Hungria, recebeu a ligação de um fotógrafo desconhecido. O homem havia encontrado as fotos do Sr. Arató no Instagram, e lhe convidou a fazer um ensaio fotográfico – e não do tipo que você está pensando. András, que provavelmente vivia bem entedidado numa cidade provinciana no meio de um país sem muita coisa para fazer, aceitou. O fotógrafo fez imagens de Arató desempenhando diferentes profissões. Médico, pintor, professor e até mesmo engenheiro – algo bem autêntico para o Sr. András. Satisfeito, o fotógrafo agradeceu, pagou o cachê e foi embora. Meses depois, András se deparou com uma imagem e ficou chocado. Era ele, segurando uma caneca, com uma expressão que – apesar do sorriso – parecia reservar uma dor excruciante. Aliás, seu rosto estava por todo canto na internet. E seu nome havia mudado, também. Agora era Harold. Hide Your Pain Harold. Esse mesmo, do meme. No começo, Harold, quer dizer, Arató, ficou aborrecido. Afinal, ninguém quer virar meme na internet. Mas, depois de algum tempo, percebeu que aquela era uma oportunidade perfeita. Ele passou a aceitar – e buscar – oportunidades comerciais. Fez […]

Lone Oak – St Patrick’s Special

Ontem eu tomei três banhos. Foi o mínimo necessário, considerando o calor de trinta e sete graus, com sensação térmica de trezentos e setenta. Ar condicionado se tornou a prioridade número um para todos os lugares que frequento. Convidem-me para sair somente para lugares confinados com Elgin, Daikin, LG ou Fujitsu com mais de dezoito mil BTUs. Se sofrer um acidente em casa, cair da escada, bater a cabeça, deixe-me morrer lentamente, mas no fresco. Morrer no frio tem muito mais dignidade. Em vista das temperaturas absurdas, dizer que hoje é St Patrick’s Day soa até irônico. Lá em Dublin está nublado. Máxima de quatorze graus, mínima de confortáveis sete. Por lá, um whisky puro seguido de uma Guinness à temperatura ambiente parece um excelente programa. Aqui, entretanto, provavelmente a única forma de consumir whisky é em um coquetel. Um coquetel refrescante. E é aí que entra o Lone Oak. Ele foi criado por Jillian Vose do famoso Dead Rabbit, de Nova Iorque. O bar – ou melhor, Irish Pub – que pegou fogo, e voltou. Os ingredientes são todos verdinhos, também. Então, não há necessidade de usar aquele corante alimentício que parece plutônio. Nele vai irish whiskey, chartreuse verde, […]

Left Hand Cocktail – Mashup

Perdoem-me pelo título impreciso. Mas o tema desta matéria não é coquetelaria. Mas Mashups. Se você nao conhece o jargão, mashup é um trabalho criativo – que pode ser uma música ou um filme – criado a partir da combinação de dois ou mais outras músicas ou filmes. O termo é também usado por webdevelopers para definir “uma aplicação que que usa conteúdo de mais de uma origem para criar um novo serviço disponibilizado em uma única interface gráfica“. Mas, para evitar sonolência, deixarei de discorrer sobre a derradeira definição. Mashups podem ser feitos, virtualmente, de qualquer material audiovisual. A única regra é que combinem, de alguma forma. E, mesmo assim, às vezes, nem precisam. A grande sacada é que, no começo, o mashup traz a impressão de ser algo já conhecido. Mas, aos poucos, ao revelar sua natureza híbrida, distorce essa impressão. Caso não tenha entendido ainda, veja a música abaixo – um mashup de Soundgarden com Green Day. Recomendo fortemente que ouçam à medida que avançam neste texto. De certa forma, mashups podem ser usados na culinária e na coquetelaria, também. Não quando alguém faz uma pizza de sushi, por exemplo. Ou um acarajéburguer, ainda que este último […]

Greenpoint – Aral contra Dudinka

Seis amarelos no Aral contra quatro verdes em Omsk. Ou no Omsk. Tá bom, vai lá, mas vai ter troco, tô com dez na Dudinka. War era divertido, mas era um desserviço pra geografia. Se você me perguntar o que está entre a Russia e a China, vou demorar uns três minutos para lembrar do Cazaquistão. E isso, porque tem o Borat. Mas, na hora, a televisão mental projetará uma imagem do Aral. Very nice! As horas na frente do tabuleiro criaram uma espécie de memória fotográfica falsa de como o mundo é dividido. E nem é só na Asia, não. Aquela Califórnia enorme, esticando até os Grandes Lagos, e Nova Iorque que vai até Miami não ajudam muito. Tampouco a Colômbia, que anexou todos os países do norte da América do Sul. Ou o Chile que finalmente resolveu a celeuma sobre qual melhor pisco, incorporando o Peru. Aliás, falando em nova Iorque, eu aprendi geografia mundial com o War. Mas regional – mais especificamente, de Nova Iorque – com a coquetelaria. E nem foi porque eu viajei pra isso. Foi por causa do Manhattan. É que o coquetel tem infinitas variações – está quase dominando 24 territórios à sua […]

Live Free or Die – Amigo Secreto

Preciso confessar para vocês uma pequena vitória, que acabei de notar. Já estamos em dezembro, e, até agora, não fui convocado para nenhum amigo secreto. Isso é uma novidade para mim, porque, todo ano, alguém que eu não vi desde o ano anterior, me chama para um convescote desses. Além de ser um evento fastidioso, tem o presente. Eu sempre dou presente bom, e sempre ganho um vaso, ou um perfume. E eu raramente uso perfume, porque atrapalha na degustação de whisky. E aí a turma diz que eu sou difícil de agradar. Eu sou a pessoa mais fácil do mundo. É só dar qualquer coisa alcoólica. Esse negócio de muito whisky não existe. É sempre bom ter mais um. Ou algo de cozinha. Uma faca, por exemplo. Sempre tem utilidade para mais uma faca lá em casa, nem que seja esfaquear o miserável que me deu um vaso no ano anterior. Mas a verdade é que eu fiquei um pouquinho preocupado com essa ausência de amigo secreto. De certa forma, é libertador. Mas, por outro lado, pode significar que não tenho mais amigos. Ou que cheguei naquela idade em que todos nossos relacionamentos sociais arrefecem, e a gente não […]

Frisco Cocktail – Mergulho

Quando eu tinha uns vinte e poucos anos, decidi, durante uma viagem, que ia tentar mergulhar. Na verdade, não decidi. Fui delicadamente coagido pela Cã, que, àquela altura, era minha recém consorte, e eu faria tudo para agradá-la. Na vertical, eu não fazia o menor sentido. Snorkel na boca, calção florido, pés de pato. Não poderia estar menos à vontade em uma camisa de força. Na horizontal, cabeça no mar e costas ao sol, tudo fez sentido. Mergulhar de snorkel era bem legal. Dava para ver um pequeno recife de corais e peixes que deslizavam graciosamente pelas cores do leito marítimo. Passei uma boa meia-hora lá – ou talvez umas três – e prometi que repetiria. Até, claro, descobrir que minhas costas haviam adquirido um curioso tom salmão, e ardiam ao primeiro toque. E, também, que meu ouvido, ao menor sinal de água, tornava-se uma enorme bexiga capaz de explodir, por pura pressão, meu canal auditivo. No final das contas, adorei e destestei a experiência ao mesmo tempo. Mas descobri que, às vezes, não é preciso muito esforço para descobrir algo completamente novo. Só uma certa boa vontade e uma natural inconsequência. Que, reconheço, é bem mais fácil de ostentar […]

Revolver – Dos Triciclos

Quando eu era criancinha, tive um triciclo. Eu ia da sala pra cozinha pedalando como se o capiroto tivesse possuído minhas pernas, tão rápido que meus braços gordinhos nem conseguiam segurar o guidão reto. O que, naturalmente, resutlava em toda espécie de pequeno acidente doméstico. Raspar uma parede, acertar um vidro – esse foi um pouco mais grave – e passar por cima do pé dos adultos. Até aqui, nada demais sobre isso, afinal, quase toda criança teve um. Faz sentido – é um meio de transporte que transpira infância. O que não cabe em minha cabeça, é o triciclo para o adulto que mora em cidade. E não tô falando de algo como um tuk-tuk, mas aquele bem caro, que parece que foi parido por um caça F-117. Há um sortilégio de modelos por aí, alguns bem bonitos. Aliás, tão belos quanto inúteis. O triciclo é o contrário da coxinha de calabresa, que une o melhor dos dois mundos. Ele reúne, sobre três rodas, todo desconforto de uma motocicleta com a impossibilidade de usar o corredor de motos. Em outras palavras, se começa a chover, você fica molhado e parado no trânsito igual um carro. Ridículo. Devo confessar que […]

Monte Carlo – Simplicidade

Uma a cada três pessoas que vivem em Mônaco é milionária – em dólares. É a segunda renda per capita mais alta do mundo, somente depois de Luxemburgo. Incrivelmente, é também um dos países mais densamente populosos do mundo. São trinta e oito mil pessoas, vivendo em dois quilômetros quadrados. O que sugere que, talvez, muitos locais vivam dentro do diminuto espaço em suas Ferraris. O lugar tem também um dos cassinos mais famosos do mundo – o de Monte Carlo. Curiosamente, Mônaco nem sempre foi a Praia Grande dos trilhardários do mundo. Essa história começou em 1866, quando o Príncipe Charles III resolveu transformar o lugar em um resort para os nobres e abastados da Europa. Antes, Monte Carlo – seu bairro mais proeminente – se chamava Speluges, e era um lugar onde cresciam oliveiras e algumas videiras. O nome antigo era inclusive meio que um motivo de piada por sua semelhança com a palavra alemã Spelunke (que tem o mesmo significado em português). Depois da decisão do príncipe, o lugar – especialmente Monte Carlo – se transformou. Uma luxuosa ópera, um cassino e diversos hotéis foram erigidos. Muitos anos mais tarde, Monte Carlo virou também cenário de uma […]

And To All a Good Night – Arriba, Adentro.

É curioso como a simples menção de algo faz nosso caldeirão de memórias e conceitos borbulhar. Whisky. O Joe comum – não vocês, obviamente – traz impresso em seu instinto a imagem daquele decadente senhor, sentado numa poltorna de couro capitonê. Em sua mão, um copo largo, com uma dose generosa de um líquido dourado, que tilinta com o som do gelo batendo em suas bordas. Esse é o clichê de whisky. E muda, de bebida pra bebida. Tequila, por exemplo, é outra história. Obviamente, a primeira coisa que quase todo mundo pensa, quando ouve a palvra tequila, é o México. E da América Central, nossa massa cinzenta nos teletransporta mentalmente e de forma imediata para restaurantes de cadeia tex-mex, daqueles que você ia com a turma do trabalho quando queria desbundar. Daí pra frente, a evocação das recordação depende de cada um. Muita gente lembra de sal e uma rodelinha de limão, de arriba-abajo-al centro-adentro. E margaritas também. Mais arriba, mais adentro. Falar cremoso, pisar fofo, dores de cabeça, náuseas. Arriba não dá mais, agora, é só adentro mas, inevitavelmente, abajo. É uma pena, porque pouca gente pensa na tequila como um ingrediente incrível para coquetelaria – como é […]