Lone Oak – St Patrick’s Special

Ontem eu tomei três banhos. Foi o mínimo necessário, considerando o calor de trinta e sete graus, com sensação térmica de trezentos e setenta. Ar condicionado se tornou a prioridade número um para todos os lugares que frequento. Convidem-me para sair somente para lugares confinados com Elgin, Daikin, LG ou Fujitsu com mais de dezoito mil BTUs. Se sofrer um acidente em casa, cair da escada, bater a cabeça, deixe-me morrer lentamente, mas no fresco. Morrer no frio tem muito mais dignidade.

Em vista das temperaturas absurdas, dizer que hoje é St Patrick’s Day soa até irônico. Lá em Dublin está nublado. Máxima de quatorze graus, mínima de confortáveis sete. Por lá, um whisky puro seguido de uma Guinness à temperatura ambiente parece um excelente programa. Aqui, entretanto, provavelmente a única forma de consumir whisky é em um coquetel. Um coquetel refrescante.

E é aí que entra o Lone Oak. Ele foi criado por Jillian Vose do famoso Dead Rabbit, de Nova Iorque. O bar – ou melhor, Irish Pub – que pegou fogo, e voltou. Os ingredientes são todos verdinhos, também. Então, não há necessidade de usar aquele corante alimentício que parece plutônio. Nele vai irish whiskey, chartreuse verde, limão, bitters e um interessante xarope de pistache. Já que pistache está na moda. É sobre ela que falaremos a seguir.

Oscar Wilde, famoso escritor irlandês, uma vez disse que a simplicidade é a máxima sofisticação. Para obter o xarope de pistache, então, você tem duas opções. A primeira é adicionar 255 gramas de pistaches crus, sem cascas, em um tupperware. Encher de água, até cobrir, e deixar descansar por 30 minutos. Coar, e depois bater os pistaches em um liquificador com 590ml de água quente, no pulse. Despejar a mistura em um outro tupperware, deixar descansar por duas horas e depois coar com um chinois, espremendo. Assim você obterá um leite de pistache.

parece difícil, e é.

Aí, você precisará cozinhar este leite de pistache numa panela, junto com 400g de açúcar demerara, para cada 355ml de leite de pistache. Tem que aquecer, mas não pode ferver. Se ferver, tem que voltar pro parágrafo do Oscar Wilde e fazer tudo de novo. Quando estiver frio, adicionar 7ml de água e 7ml de álcool neutro de cereais. Todo esse trabalho – que será muito maior a quarenta graus na sombra – dura duas semanas na geladeira.

A segunda opção é ir ao supermercado ou pedir um xarope de pistache no delivery – exceto se você tiver um bar inteiro de coquetelaria ao seu dispor. Há alguns bem decentes, como o da Monin e da Mathieu Teisseire. Para reduzir o dulçor excessívo destes xaropes prontos, basta diluir com água. A proporção vai do gosto do bebedor. Oscar Wilde, em toda sua sabedoria, certamente escolheria esta alternativa. Que, inclusive, é termicamente mais agradável.

Recomendo beber o Lone Oak de frente para o ar-condicionado, de cuecas, em casa. Se tiver algum adereço de St. Patricks, pode vestir. Um chapéu, talvez, seja o mais indicado. Nada que vá atrapalhar o aprazível conforto térmico conquistado.

LONE OAK

INGREDIENTES

  • 60 ml irish whiskey (a única opção no Brasil é Jameson, infelizmente. Se tiver algo diferente, use)
  • 7,5 ml de Chartreuse Green
  • 22,5 ml de suco de limão siciliano
  • 22,5 ml de xarope de pistache (já concordamos sobre isso!)
  • 2 dashes de Angostura bitters
  • quantidades copiosas de gelo (aproveite e passe uns na nuca, para refrescar)

PREPARO

  1. Adicione todos os ingredientes em uma coqueteleia (menos os gelos que você passou na nuca)
  2. Bata vigorosamente até ficar com calor – vai levar uns três segundos
  3. Desça em uma taça coupé previamente resfriada
  4. Aproveite!

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