Há alguns anos, András István Arató, um engenheiro de meia idade da cidade de Koszeg, na Hungria, recebeu a ligação de um fotógrafo desconhecido. O homem havia encontrado as fotos do Sr. Arató no Instagram, e lhe convidou a fazer um ensaio fotográfico – e não do tipo que você está pensando. András, que provavelmente vivia bem entedidado numa cidade provinciana no meio de um país sem muita coisa para fazer, aceitou.
O fotógrafo fez imagens de Arató desempenhando diferentes profissões. Médico, pintor, professor e até mesmo engenheiro – algo bem autêntico para o Sr. András. Satisfeito, o fotógrafo agradeceu, pagou o cachê e foi embora. Meses depois, András se deparou com uma imagem e ficou chocado. Era ele, segurando uma caneca, com uma expressão que – apesar do sorriso – parecia reservar uma dor excruciante. Aliás, seu rosto estava por todo canto na internet. E seu nome havia mudado, também. Agora era Harold. Hide Your Pain Harold. Esse mesmo, do meme.
No começo, Harold, quer dizer, Arató, ficou aborrecido. Afinal, ninguém quer virar meme na internet. Mas, depois de algum tempo, percebeu que aquela era uma oportunidade perfeita. Ele passou a aceitar – e buscar – oportunidades comerciais. Fez propaganda para a Coca-Cola, TEDx e LadBible, apenas para citar alguns. Em todas, sorrindo efusivamente. Ao menos, com a boca. Do nada, apenas por sua expressão facial marcante, András se tornou uma celebridade.
Uma história parecida aconteceu no mundod a coquetelaria, lá por mil e oitocentos. Havia um coquetel chamado Chicago Fizz. Levava rum, vinho do port tawny, suco de limão siciliano, açúcar e club soda, ou água com gás. Aqui há um paralelo engraçado. Quem conhece a história do New York Sour, sabe que ele não foi criado na conhecida Big Apple. Bom, o Chicago Fizz nasceu em Chicago, mas ficou popular em Nova Iorque. O que comprova, mais uma vez, que os americanos não têm a menor noção sociogeográfica ao batizar coquetéis.
Mas enfim, havia lá o Chicago Fizz. Um grande gênio, revolucionário da coquetelaria, chamado Peter Sindar, teve a impressionante ideia de substituir o rum por rye e renomear o coquetel “Elk’s Fizz“. E é isso. Só isso. Por conta desta revolução na coquetelaria, senão talvez na indústra da hospitalidade inteira, Sindair recebeu uma medalha. A “Bartender’s Medal of the National Police Gazette“. Algo porcamente traduzido como “Medalha de Bartender da Gazeta Policial Nacional“. O que torna o feito ainda mais assombroso. Afinal, qual o sentido de um jornal de polícia ter uma medalha de bartenders?
Finalmente, em 1927, no Barflies and Cocktails de Harry McElhone, surge o Elk’s Own. Uma versão do Elk’s Fizz, mas sem a soda. Uma mudança que transformou o antigo fizz em um sour. Este Cão, entretanto, só foi tomar conhecimento do drink em 2023, num papo com o bartender e embaixador da Bacardi, Romário Barbosa. “Esse eu sempre tenho na manga, pra quem já bebeu tudo“.
Dizer que há uma história de genialidade e criatividade na invenção do Elk’s Own, é, certamente, hiperbólico. Mas não só pela singeleza da troca de ingredientes. Havia, na época, um certo zeitgeist em coquetéis pesados. Alguns anos mais tarde, o Old Waldorf-Astoria Bar Book – que, diga-se de passagem, popularizou o Chicago Fizz – publicou uma receita próxima, mas, sem limão. O delicioso Suburban – que ja teve matéria nestas páginas caninas. Vamos à receita.
ELK’S OWN
INGREDIENTES
- 60ml rye whiskey
- 22,5ml Porto Tawny
- 22,5ml limão siciliano
- 15ml xarope de açúcar
- 22,5ml de clara de ovo ou aquafaba (explicarei isso em breve)
PREPARO
- Adicione todos os ingredientes em um mixing glass sem gelo. Bata vigorosamente. Isso é um “dry shake” e garantirá mais espuma na parte superior do seu drink.
- Adicione gelo e bata novamente
- Desça o conteúdo, filtrando o gelo, em uma taça coupe previamente resfriada
Sobre a aquafaba: aquafaba é, originalmente, a água proveniente do cozimento de algum grão. Na coquetelaria, geralmente, é grão de bico. Há um vídeo do bartender Rafael Mariachi explicando o preparo. Você pode também utilizar o soro do grão de bico em conserva, enlatado.