Especial de St Patrick’s – Irish Maid

Este é um post especial de St Patricks. Eu poderia falar, mais uma vez, de São Patrício. Comentar que ele é o padroeiro da Irlanda, e que o consumo de álcool durante as festividades em sua homenagem teve origem em uma restrição etílica no século dezessete. E depois falar tudo que o país tem de característico, como trevos, o Colin Farrell e uma dezena de escritores geniais. Mas, não vou fazer isso, porque já falei nos anos anteriores. Hoje, vou falar de pepino. Pepino, facilmente, é meu vegetal de dupla conotação preferido. Ele dá um pau na beringela e arregaça a cenoura em benefícios, versatilidade e sabor. Pepinos, por exemplo, te deixam hidratado. Eles possuem 96% de água, que é inclusive mais nutritiva do que água normal. Além disso, cotém um punhado de vitaminas. O vegetal cilíndrico é tão pica (ops) que você nem precisa comer ele. Colocar uma fatia na pele ou nos olhos ajuda a aliviar dores de queimaduras e olheiras. Além disso, ele fica uma delícia num sanduíche, com coalhada ou cream cheese. Em conseva, nem se fala. Introduza um pepino em conserva em seu sanduíche ou hambúrguer para uma versão muito melhorada do lanche. Naturalmente, com […]

Suburban Cocktail – Dos cavalos

Este é um daqueles posts cuja introdução já vem pronta. O Suburban Cocktail tem uma história tão legal, que é desnecessária qualquer digressão introdutória. Entretanto, em nome da coerencia narrativa, meu preâmbulo envolverá cavalos, investimentos em mineração e uma copiosa quantidade de álcool. Para entender de onde veio o coquetel, é preciso conhecer James Robert Keene. Um britânico expatriado, que se mudou com sua abastada família para os Estados Unidos, em 1852. Sua vida foi relativamente agitada. Keene começou como jornalista, mas abandonou a profissão para investir em mineração. A estratégia deu certo. Em pouco tempo, Robert possuía uma fortuna. Em pouco tempo, mas não por muito tempo. Perdeu tudo que tinha ao diversificar seus investimentos, focando em grãos. Entretanto, em 1884, ele fez um retorno extraordinário. Foi contratado pelo investidor William Havemeyer para gerenciar fundos de investimento. Naquele ponto, Keene já conhecia uma ou outra estratégia de manipulação do mercado – como por exemplo espalhar rumores sobre companhias para inflacionar o preço de suas ações. Logo recobrou sua notoriedade, e foi contratado pelo J. P. Morgan e Rockfeller para gerenciar seus fundos. Apesar de extremamente talentoso, Keene tornou-se notório não por seu trabalho com fundos de investimento. Mas, sim, […]

Red Hook – Autoparáfrase

Eu já falei uma vez aqui da jornada do herói. É uma estrutura narrativa clássica, dividida em três etapas principais, cada elas, com subdivisões. Harry Potter, Perseu, Rei Leão, Iron Man e Matrix são exemplos de filmes e livros que se inspiram na estrutura, conhecida como Monomito. Aqui, vou pela primeira de duas vezes neste texto, fazer uma digressão arriscada, e me auto-parafrasear. “O termo monomito foi descrito pela primeira vez por Joseph Campbell em seu livro “The Hero With a Thousand Faces”. Campbell pegou o termo emprestado de uma obra de James Joyce, chamada Finnegan’s Wake. O monomito é dividido em três atos: a partida, a iniciação e o retorno. Cada um deles possui subcapítulos, como o mundo cotidiano e a chamada À aventura, a estrada de provas, o momento em que tudo está perdido, a apoteose e o retorno.“ Se você pensar na coquetelaria, um drink que funciona exatamente como o monomito é o Manhattan. Ele é um dos coquetéis mais inspiradores de toda a história, com dezenas de variações. É curioso como ele mesmo foi inspirado num Old-Fashioned, mas estendeu seus afluentes por um delta etílco quiçá mais vasto que seu antecessor. Nele estão o Brooklyn, Bronx, Rob […]

New York Sour Clarificado

Plantar feijão no algodão e prender gelo no barbante usando sal são dois experimentos que quase toda criança já fez. Mas, a preferida, sem dúvidas, é o chafariz de Coca e Mentos. O experimento é tão famoso que há até composições artísticas, com fotos elaboradíssimas. A Coca-Cola com Mentos não é só um experimento científico infantil. É quase uma lenda. E como quase todas as lendas, ela pode ser moldada ao prazer do interlocutor. A vovó diria que olha só, esse negócio explode porque é tudo porcaria, feito de borracha e produto químico. Meu filho, inquisitivo, indagaria o que aconteceria com o estômago dele se bebesse o refrigerante e engolisse uma balinha logo em seguida. Será que eu ia explodir também, papai? O mais curioso é que até pouco tempo, não havia consenso sobre a razão do curioso fenômeno. Atualmente, a teoria mais aceita envolve tensão superficial e carbonatação. O mentos não é perfeitamente liso. Suas reentrâncias fazem que as ligações entre o líquido e o dióxido de carbono (o gás) se desestabilizem, causando o aparecimento de bolhas. Essas bolhas provocam mais bolhas, em uma reação em cadeia que culmina numa erupção curiosamente fascinante e ao mesmo tempo meio nojenta. […]

Mark Twain – Muito de qualquer coisa

“Muito de qualquer coisa é ruim, mas muito de um bom whisky jamais é o suficiente”. A frase é de Samuel Langhorne Clemens, mais conhecido pelo seu pseudônimo, Mark Twain. Sob a alcunha, Clemens escreveu livros que se tornaram clássicos da literatura norte-americana, como As Aventuras de Tom Sawyer e Huckleberry Finn. Além de ser considerado um dos mais importantes romancistas dos Estados Unidos de todos os tempos, Twain era um inveterado apaixonado por Scotch Whisky. Pode parecer estranho, para um natural do Missouri, preferir whisky escocês ao americano. Mas era, justamente, o caso. Depois de uma temporada em Londres, Twain se apaixonou pela bebida. Além da frase que abre esta matéria, ele tem outra excelente máxima. “Eu sempre tomo whisky escocês a noite para prevenir dor de dente. Eu nunca tive dor de dente, e vou lhe dizer mais, eu não pretendo ter também” Naturalmente, tamanha paixão deveria ser consagrada com um coquetel. Ocorre, entretanto, que neste caso, foi o próprio Mark Twain que alçou seu homônimo líquido à fama. A receita – mais ou menos – aparece eum uma carta que ele escreveu à sua esposa, em 1874, enquanto visitava Londres. “Livy, minha querida, quero que se assegure […]

Pete’s Word – Folk Music

Às vezes tudo que você precisa é de um pouquinho de tédio e nenhum planejamento. Meu sábado foi assim. Na sexta-feira, tinha corrido com tudo que precisava fazer só para ter agenda livre no fim de semana. Não achei que fosse dar certo. Nunca dá, porque sábado sempre aparece alguma desgraça de última hora, tipo acompanhar os filhos numa festa, arrumar alguma tralha em casa que quebrou ou visitar alguém que eu não quero visitar. Mas, acontece que dessa vez deu. E eu fiquei perdido. Com mais de oito horas livres, era como se uma enorme planície de possibilidades se estendesse à minha frente. Não tenho maturidade pra ter tempo livre. A felicidade é o cabresto. Decidi ver um filme, mas não tinha nada que eu queria ver. Comecei a assistir Inside Llewyn Davis pela décima vez. Esse filme deve ser o milionésimo roteiro inspirado por Homero, mas é um clássico. “tudo que você encosta vira merda, você é tipo o irmão idiota do rei Midas“. Sou meio assim. Mal Davis começou a cantar a música final, percebi que nem se visse todas as obras baseadas na Odisséia naquele dia, conseguiria vencer o tédio. Precisaria inventar outra coisa. Fiz o […]

Toronto Cocktail – Gosto Adquirido

Na semana passada levei a Cãzinha para experimentar sushi pela primeira vez. Dei todas as coordenadas básicas, inclusive sobre como segurar o hashi. Notei, no entanto, que essa parte exigia uma certa prática, e pedi que o garçom a ajudasse. Isso foi até engraçado, porque ele trouxe um mini pikachu de borracha que, quando espetado nas partes baixas, fazia uma espécie de mola que segurava os palitinhos abertos. Mas, enfim, não é isso que importa. Mas papai, isso é bem esquisito, é arroz grudado com peixe cru, não é bom não. Levantei as sobrancelhas. Olha, cria, eu não tinha muito critério sobre o que comer quando era criança, mas, reconheço que eu também não gostei da primeira vez. E continuei. Acho que sushi é tipo anchovas, gorgonzola ou relacionamentos de longo prazo, é o que a gente chama de gosto adquirido. Se você insistir, vai passar a gostar tanto que até vai ficar com saudades. Ela acenou com a cabeça, fez plec-plec com os palitinhos presos pelo pokemon e pegou mais um hossomaki. Missão cumprida. Depois, fiquei pensando como é engraçado esse lance de gosto adquirido. Tem coisas que eu detestava. E hoje, até corro atrás pra comprar. Dizem que […]

Campbeltown Cocktail – Especificidade

“Me vê com ketchup, mostarda, maionese, batata palha, um pouquinho de vinagrete e purê“, dizia pro Roger, que tinha uma van de hot dog na frente do colégio, na minha época do colegial. Van de hot dog, não foodtruck. E colegial, não segundo grau. Dois termos propositalmente aqui usados, para auntenticidade, que talvez denunciem um pouco minha idade. Toda quinta-feira, esse era meu almoço, e o preferido da semana. O Roger acenava com a cabeça, cortava o pão torto, pegava a salsicha que já estava lá na água há umas boas duas horas, e, em menos de trinta segundos, entregava o lanche prontinho. Apesar da época quase medieval – quando não havia segundo grau e nem dijon no foodtruck – o Roger já tinha um cuidado todo especial com padronização e composição. O Ketchup tinha que ser do mais barato, aquele, quase vermelho neon. A mostarda, amarelo enxofre. Podia parecer só economia, mas ele sabia que, se melhorasse, piorava. O Hot Dog do Roger custava o equivalente a meio litro de gasolina hoje em dia. Mas transbordava de sabor. No entanto, como quase tudo no mundo, há opostos. E no universo do cachorro quente, não é diferente. Do outro lado […]

Drunk Uncle – Metamorfose

Estamos em novembro, mas o comércio já sinaliza a – relativa – proximidade do natal. E com ele, vêm guirlandas, luzinhas coloridas, música brega e decorações verdes e vermelhas. Ah, e neve artificial num calor de trinta graus à sombra. Mas nada disso supera o mais temido personagem desta época do ano. Que não é o Grinch, caso tenham tentado adivinhar antes de chegar à próxima frase. Mas o tiozão do pavê. O tiozão do pavê vem em várias formas. Às vezes, ele nem é um tio. Mas um primo, uma tia, um amigo da família. É aquela pessoa que voce evita o ano inteiro, apenas para ter a insatisfação de ficar preso em uma conversa angustiante nas festividades de fim de ano. Sóbrio, ele já é desagradável, mas, manobrável. Bêbado – e você sempre o verá bêbado – fica pior. Porque lança mão de piadinhas como o tomate que foi no banco tirar extrato. Ou resolve que vai discutir política, religião, diversidade sexual ou a receita do dry martini como se aquela conversa fosse determinar o futuro da humanidade. O encontro com o tiozão do pavê é quase irremediável. Quase, porque há uma forma quase quântica de evitá-la. Algo […]

Kentucky Buck – Whiskey de bermudas.

Trinta graus. Trinta graus no meio do inverno, em São Paulo. Céu tão limpo que parece até que passaram aquele filtro do Photoshop que usavam na Playboy na década de noventa, e de vez em quando sumia o umbigo de alguma modelo. Cara, como eu odeio calor. Ainda mais um calor assim inesperado, no meio da mais deliciosa estação do ano, que é o inverno. Inverno é pra ser deliciosamente frio, cinza, nublado e taciturno. Aliás, já que abri a porta mimizenta, tem outra coisa que me dá raiva no calor. Quando alguém chega e diz que tá um dia tão lindo, só porque faz sol e tá quente. Não tá não, meu jovem, tá um tempo desgraçado de quente, propenso a todo tipo de coisa nojenta, tipo virilha suada, proverbiais pizzas debaixo do braço, meias úmidas e mullets pegajosos pingando. Não há elegância que resista a trinta graus no inverno. Se o príncipe William duque de Cambridge morasse aqui, a indumentária tradicional seria bermuda, chinelos e litrão na mão. É, eu sei que litrão é cringe. Sabe o que mais é cringe? Passar calor. A única vantagem desse clima incivilizado é a possibilidade de beber coisas refrescantes. O que, […]