É curioso como a simples menção de algo faz nosso caldeirão de memórias e conceitos borbulhar. Whisky. O Joe comum – não vocês, obviamente – traz impresso em seu instinto a imagem daquele decadente senhor, sentado numa poltorna de couro capitonê. Em sua mão, um copo largo, com uma dose generosa de um líquido dourado, que tilinta com o som do gelo batendo em suas bordas. Esse é o clichê de whisky.
E muda, de bebida pra bebida. Tequila, por exemplo, é outra história. Obviamente, a primeira coisa que quase todo mundo pensa, quando ouve a palvra tequila, é o México. E da América Central, nossa massa cinzenta nos teletransporta mentalmente e de forma imediata para restaurantes de cadeia tex-mex, daqueles que você ia com a turma do trabalho quando queria desbundar. Daí pra frente, a evocação das recordação depende de cada um.
Muita gente lembra de sal e uma rodelinha de limão, de arriba-abajo-al centro-adentro. E margaritas também. Mais arriba, mais adentro. Falar cremoso, pisar fofo, dores de cabeça, náuseas. Arriba não dá mais, agora, é só adentro mas, inevitavelmente, abajo. É uma pena, porque pouca gente pensa na tequila como um ingrediente incrível para coquetelaria – como é o caso do coquetel tema desta matéria, o And To All a Good Night.
A mistura de nome sugestivo leva bourbon whiskey, tequila reposado, cherry heering e bitters aromáticos e de laranja. Ele remete a drinks clássicos, como o Remember The Maine e Vieux Carré. Não tem nada de arriba-abajo-adentro. É um coquetel para ser bebido em pequenos goles, à medida que ganha temperatura e revela seus sabores. Mesmo porque, para deglutir Cherry Heering irresponsavelmente, é melhor se certificar da solidez gástrica e financeira antes.
O And To All a Good Night foi criado pelo bartender Tim Stookey, do Presidio Social Club de San Francisco. Ele leva uma quantidade razoável de Cherry Heering, mas, é incrivelmente seco. Provavelmente, devido à combinação do bourbon whiskey com a tequila. Tanto que a recomendação deste Cão é a de usar um bourbon mais adocicado. Jim Beam Black funcionará bem, e Buffalo Trace o deixará simplesmente magnífico.
A receita pede uma tequila reposado. Este Cão usou Herradura – simplesmente porque era o que tinha. Mas, de acordo com o website Tuxedo No.2, que traz um incrível detalhamento sobre a receita, o coquetel ficará bom também com uma anejo. Basta repensar a quantidade de bitters. Dito isso, prepare o copinho e vamos direto abajo. Uma boa noite a todos.
AND TO ALL A GOOD NIGHT
INGREDIENTES
- 45 ml de bourbon
- 22,5 ml de tequila reposado
- 22,5 ml de Cherry Heering
- 2 dashes de bitter de laranja
- 1 dash de Angostura bitters
- Casca de laranja para decorar
- parafernália para misturar
PREPARO
- Mexa todos os ingredientes num mixing glass com bastante gelo
- desça na taça
Que receita massa, Cão. Vou replicar em casa, mas usando Luxardo no lugar do Cherry Heering, porque é o que tenho à disposição, e um tequila cristalino porque os demais ingredientes merecem. Quanto ao Bourbon, vou de Bulleit. Acho que não tem como dar errado. Ou será que tem?
Acho que vai dar bom, Bruno. Mas reduz bem o luxardo. O Cherry Heering é ácido, o luxardo é floral!
Cão, acabei usando o Buffalo Trace mesmo, Tequila 1800 Cristalino, os bitters, e Luxardo misturado com calda de cereja amarena. Ficou excelente, valeu pela força!