Red Hook – Autoparáfrase

Eu já falei uma vez aqui da jornada do herói. É uma estrutura narrativa clássica, dividida em três etapas principais, cada elas, com subdivisões. Harry Potter, Perseu, Rei Leão, Iron Man e Matrix são exemplos de filmes e livros que se inspiram na estrutura, conhecida como Monomito. Aqui, vou pela primeira de duas vezes neste texto, fazer uma digressão arriscada, e me auto-parafrasear.

O termo monomito foi descrito pela primeira vez por Joseph Campbell em seu livro “The Hero With a Thousand Faces”. Campbell pegou o termo emprestado de uma obra de James Joyce, chamada Finnegan’s Wake. O monomito é dividido em três atos: a partida, a iniciação e o retorno. Cada um deles possui subcapítulos, como o mundo cotidiano e a chamada À aventura, a estrada de provas, o momento em que tudo está perdido, a apoteose e o retorno.

Se você pensar na coquetelaria, um drink que funciona exatamente como o monomito é o Manhattan. Ele é um dos coquetéis mais inspiradores de toda a história, com dezenas de variações. É curioso como ele mesmo foi inspirado num Old-Fashioned, mas estendeu seus afluentes por um delta etílco quiçá mais vasto que seu antecessor. Nele estão o Brooklyn, Bronx, Rob Roy, Blackthorn, Remember the Maine e Rapscallion, dentre outros. Um deles é, justamente, o Red Hook, tema desta prova.

O nome, inclusive, é inspirado na cidade de Nova Iorque, assim como seus parentes, caso você não saiba. EU nao sabia. A delimitação sócio-geográfica de bairros norteamericanos não é um grande interesse meu. Mas, enfim, Red Hook é parte do Brooklyn. Foi uma área importante de atividade portuária no começo do século 20, mas, com o tempo, perdeu sua força. Atualmente, é onde está o Red Hook project, o maior projeto de moradias do bairro.

Eu sei que vocês vão googlar

De volta aos copos. Não parece, mas o Red Hook é um drink relativamente jovem. Ele foi criado em 2003 pelo bartender Enzo Errico do Milk & Honey em Nova Iorque. Sua receita leva Rye Whiskey, vermute tinto e licor de maraschino. Pode parecer fácil, mas equilibrá-lo é quase como resolver um cubo mágico. Use um vermute muido doce, e o licor de maraschino se sobressairá. Coloque um rye delicado, e o vermute dominará completamente o paladar. Exagere no licor, e um insuportável sabor de bala artificial virá à tona.

O que me leva à segunda digressão arriscada desta matéria. Abrirei uma exceção para recomendar produtos específicos – algo que tento ao máximo não fazer, para não induzir o querido leitor a comprar a centésima garrafa de alguma mistura que ficará lá, parada na prateleira. Como no capítulo do mentor, no começo da jornada do herói, recomendo seguir meus conselhos parcimônia. Mas saiba, também, que se seu coquetel ficar intragável, a culpa não será minha.

Falou, Gandalf

A parte mais fácil é o licor. Use Luxardo. Todo mundo usa luxardo. Você pode ser rebelde e usar algum outro, como o Bols. Mas não tem nenhum bom motivo pra isso, exceto rebeldia gratuita. Quanto ao vermute, vá de Punt e Mes. Não sou um grande fã da bebida, especificamente, mas ele é o que melhor funcionará na receita, por ser um tantinho mais amargo que a maioria dos vermutes do mercado.

E, por fim, a parte mais complicada e essencial. O Rye Whiskey. Use um rye intenso. Um desses que você provavelmente vai ter que viajar para comprar, como o Bulleit Rye, ou George Dickel Rye. Se for usar um rye mais delicado e equilibrado, como é o caso de nosso querido Jim Beam Rye, reduza a proporção de licor de maraschino. Eu sei que no final das contas você vai fazer isso. Eu fiz.

Mas vamos à virada final de nossa jornada do herói. O retorno com o Elixir. Depois de enfrentar o mixing glass com sua bailarina em punho, receba sua recompensa etílica. Anote aí a receita do excelente Red Hook:

RED HOOK

INGREDIENTES

  • 50ml rye whiskey (Bulleit Rye)
  • 25ml vermute (Punt e Mes)
  • 15ml licor de maraschino (se for usar Bulleit Rye, que eu duvido, pode subir um pouquinho).
  • Parafernáila para misturar

PREPARO:

  1. Adicione todos os ingredientes em um mixing glass, com bastante gelo. Mexa com auxilio de uma bailaria e coe para uma taça coupe resfriada.
  2. Finalize com uma cereja maraschino. Nem pense na bolota de xuxu. Se não tiver a cereja, vá sem.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *