The Macallan Harmony Vibrant Oak

“Quando abalado, inevitavelmente, pelas circunstâncias, volte imediatamente para si mesmo e não perca o ritmo. Você terá uma melhor compreensão da harmonia se continuar voltando a ela.” postulou o imperador filósofo. O conselho busca atingir a ataraxia – o estado de compostura frente a situações perturbadoras. Em outras palavras quiçá não muito mais simples, à equanimidade. Ou, aproveitando um substantivo da moda, uma resiliência pacífica. Sendo um pouco mais direto: sustentar aquele semblante de capivara quando tudo está desmoronando a sua volta. Mas, afinal, o que é a harmonia? Na filosofia estoica, é mais do que um mero estado de equilíbrio; é a aceitação serena da ordem natural do mundo. É a coesão entre a razão e a emoção, entre o controle e à entrega. As vezes você segura, nas outras, se joga – mas, sem YOLO, claro. O conceito, porém, não é monopólio do estoicismo. E, arrisco dizer, guinando o texto para a filosofia de balcão, que cada ser humano tem sua própria harmonia existencial. Para mim, é trabalhar com whisky. Para outros, é fazer piruetas subrehumanas em alturas arriscadas. Como – e desculpem-me pela digressão um tanto fora de contexto – certo acrobata do Cirque du Soleil. É […]

Blue Label Ice Chalet – Ambivalência

Não sou desses de fazer foto na academia, então, talvez vocês não saibam. Mas pratico corrida ao menos cinco vezes por semana. No entanto, tenho sentimentos ambivalentes sobre a atividade. Sou da opinião que todo bicho minimamente inteligente prefere economizar sua energia, a percorrer quilômetros parado, com a treimosia de um hamster numa rodinha. Porém, entendo que é necessário. De todo modo, para tornar o exercício um pouco menos sacrificado, assisto filmes num tablet. Nunca filmes bons, mas sempre, eficientes – com explosões, destruição e diálogos terríveis. Isso, ao menos, é coerentemente cínico: se meu corpo vai se esforçar, que a mente faça o menor esforço possível. Neste contexto que assisti Baywatch – o filme, não a série. Faz um tempo, então, não me recordo muito do roteiro. Lembro que o Zac Efron tenta agradar o Dwayne Johnson, e que a Alexandra Daddario é incrível. E só. Mas, mesmo assim, fiquei surpreso com a ineficácia de minha memória ao me ver obrigado a googlar “Priyanka Chopra Jonas“, para a presente matéria. Acontece que ela – que, caso você não saiba também, é uma atriz que participou de Baywatch – é a embaixadora do Blue Label Ice Chalet. O whisky é […]

Lunatic Asylum: Crystal Mountain – Sobre a cautela

Audácia e falta de conhecimento são uma combinação perigosa. Exemplo máximo é Michael “Mad Mike Hughes. Entusiasta da autopropulsão norte-americano e paladino da dissidência científica, seu principal objetivo era provar que a Terra era plana. Para Hughes, a NASA e os astronautas estavam envolvidos em uma elaborada conspiração para ocultar a verdadeira forma de nosso planeta. E sua missão era desmarcará-los. Para isso, Mike empregou um método peculiar. Dedicou-se à construção e lançamento de foguetes caseiros tripulados. Tripulados por ele, obviamente, porque ninguém em sã consciencia, por mais lunático que seja, entraria voluntariamente num míssil a vapor construído no quintal de um maluco. Mas, enfim, sua crença era que, ao atingir determinada altitude, poderia fotografar, com perspectiva favorável, e obter evidência definitiva de que a terra era, na verdade, um enorme open-world plano do GTA. A tenacidade quixotesca de Mad Mike encontrou seu desfecho em 2020. Acontece que Hughes era autodidata na construção de tais propulsores. Porém, vapor e convicção não foram suficientes, sozinhos, para garantir seu sucesso. Em mais uma tentativa de alcançar o espaço, Mike atingiu quinhentos e setenta metros – altitude suficiente para levá-lo não diretamente ao espaço ou à fama, mas, definitivamente, ao solo. Até hoje, […]

Suntory Toki – Inversão

Quando em 13 de Novembro de 1940 as luzes do Broadway Theatre se acenderam depois da primeira exibição pública de Fantasia, não houve qualquer ovação. O filme, com sua mistura de animação e música clássica, deixou o público atônito. Aqueles, que poucas horas antes se acomodaram nas belas cadeiras avermelhadas do cinema, esperavam uma experiência bem mais convencional do que tiveram. Algo na linha de Branca de Neve e os Sete Anões. Ou Pinóquio. Algo com diálogos. Com diálogos e cronologia. Com diálogos, cronologia e narrativa. Três coisas que Fantasia não tem. Mas o que ele tinha era música. Aliás, muita música. Tanto que a Disney desenvolveu uma tecnologia nova, toda própria, para o filme, chamada Fantasound. Um precursor do sistema surround, com faixas de som diferentes para cada instrumento, com o objetivo de envolver a platéia ao máximo na experiência musical. De fato, Fantasia era um filme quase experimental. Ainda que tivesse personagens – em alguns trechos – os protagonistas não apareciam na tela, ainda que estivessem presentes em cem por cento do tempo do filme. Eram, justamente, obras clássicas de compositores como Stravinsky – que, diga-se de passagem, era também um entusiasta do whisky – Bach e Beethoven. […]

Lamas The Dog’s Bollocks III

Daewoo, Mercury, Oldsmobile. Se você participar de qualquer conversa sobre carros, é bem provável que estas marcas demorem a ser mencionadas. Ou nem sejam. Foram importantes produtores no passado, mas que caíram no oblívio. Outra que, lentamente, se direcionava para este limbo era a Jaguar. Quer dizer, isso até um mês atrás, quando lançaram um vídeo de trinta segundos. Por conta desse vídeo – bizarro, convenhamos – de trinta segundos, a Jaguar passou a ser um dos assuntos mais comentados da internet. Sem mostrar produto nenhum. Não é para menos. A mini película abre com pessoas vestindo roupas multicoloridas cheias de pompons, com semblantes sisudos. Elas se comportam de formas esquisitas – pintando um vidro, quebrando uma parede, posando para uma foto num deserto rosa imaginário. E, pronto, acaba. Sem carros, sem explicações (necessárias), e sem qualquer traço do felino que dá nome à marca. Copy Nothing, aparece. Tá fácil, considerando que esses trinta segundos são tão aleatórios que desafiariam até a criatividade de uma inteligência artificial. Acontece que a Jaguar está passando por uma metamorfose comparável a de uma borboleta. Há vinte anos, possuía uma linha diversificada de carros. Com o tempo, ceifou seus modelos mais nichados, para manter […]

Royal Lochnagar – Herói Anonimo

26 de Setembro de 1983 foi uma data histórica para o iatismo. Depois de cento e trinta e dois anos de hegemonia dos Estados Unidos no America’s Cup, uma equipe Australiana finalmente gannhara a competição. Foi uma vitória gloriosa – mas, nem de longe, o acontecimento mais importante do dia. Este ocorreu algumas horas depois, do outro lado do Atlântico, no centro de comando Serpukhov-15, Rússia. Ele foi protagonizado por um tenente-coronel chamado Stanislav Petrov. Petrov trabalhava como analista de sistemas e especialista em alerta precoce. Seu – tedioso – trabalho era monitorar o lançamento de misseis balísticos intercontinentais pelos Estados Unidos que pudessem ser direcionados à USSR. Se detectasse algum míssil, deveria alertar seus superiores, que seriam responsáveis por retaliar com centenas de ogivas nucleares, desencadeando a terceira guerra mundial. Que desembocaria no fim da humanidade. E, posteriormente, numa versão realista de Fallout, sem pseudo-zumbis e axolotes gigantes. Naquele dia – ou melhor, no meio da noite – os computadores monitorados por Petrov identificaram cinco mísseis nucleares americanos, que voavam em direção a Moscou. Incrédulo, o tenente-coronel resolveu quebrar o protocolo, e não avisou ninguém. Os cinco minutos seguintes foram de agonia. Mais quatro alertas surgiram. Mesmo assim, Stan […]

5 Lançamentos de whisky no Brasil (um mal começou!)

A fortuna favorece os audazes, teria escrito Virgílio. Só quem arrisca ir longe demais descobre até onde pode chegar, completaria T.S. Eliot. Destemido foi aquele que primeiro comeu uma ostra, arremataria Jonathan Swift. Com tanta gente importante dando conselhos motivacionais, duvido que o leitor não se sinta compelido a tentar algo novo. E por algo novo, não quero dizer nada imprudente. Mantenha seus documentos bem guardados, evite dar – e receber – cadeiradas, e sempre olhe para os dois lados antes de atravessar a rua. Consuma seu espírito de aventura provando um whisky diferente, por exemplo. Para o mercado brasileiro, os últimos meses foram bastante prolíficos, em lançamentos. Tivemos o primeiro bourbon maturado em barris de vinho; um whisky japonês raríssimo; um blend inovador, dentre outros. Essa lista reúne alguns destes lançamentos, para que você, querido leitor, possa extinguir o décimo terceiro que nem recebeu. Viva perigosamente. Glenmorangie 18 Infinita Por muito tempo, a Glenmorangie apostou em sua linha básica no Brasil. 10 anos, e mais três whiskies com finalizações diversas. Atualmente, o portfólio foi expandido, com a adição do Glenmorangie 18 The Inifnita. É o mesmo líquido do antigo 18 Extremely Rare, mas com uma roupagem mais coerente com […]

Royal Salute Miami Polo Edition – Jardinagem

Quando eu tinha uns treze anos, viajei com meus pais para Miami. E eu adoraria dizer que lembro-me de descer Miami Beach numa Ferrari Daytona preta, à la Miami Vice, ouvindo a música do Will Smith ou do LMFAO, enquanto apreciava a bela arquitetura Art-Decô das boates daquela praia. Mas eu não fiz nada disso. O que eu fiz foi falar portunhol com todo mundo – ainda que tentasse antes o inglês – e comer horrores. Lembro-me também de passar horas entediado, ao lado do meu pai, em alguma Wallgreens, enquanto minha mãe se regojizava entre os milhares de cremes e maquiagens. Então, não vou falar da minha fastidiosa viagem. Mas vou falar de uma coisa que todo mundo gosta em Miami – e em todo lugar, pra falar a verdade. Ficar pelado. Aliás, vi uma matéria recente no Miami Herald que a cidade foi nomeada a Capital da Jardinagem Nua da América. A honra foi concedida pelo site LawnStarter, especializado no cultivo de plantas. O prêmio decorreu de uma extensa pesquisa em mais de cem cidades, capitaneada pelo portal. E descobriu-se que os habitantes da maior capital brasileira fora do Brasil amam utilizar grandes tesouras de jardinagem ao lado […]

Glenmorangie 16 The Nectar – Maçãs e Laranjas

Hoje vou convidá-lo a um exercício diferente, mas interessantíssimo. Pule até a imagem dos sucos abaixo, e tente encontrar ao menos uma maçã em cada um dos rótulos. Alguns são bem fáceis. Outros, uma verdadeira obra de arte em forma de marketing. É que boa parte deles contém maçã, mesmo sendo de outra coisa completamente diferente, como uva e laranja. A maçã funciona como um agente natural de dulçor, e também reduz o custo de produção da bebida. Quando isso acontece, as produtoras devem, por lei, incluir a imagem de uma maçã. Para, discutivelmente, mostrar ao consumidor que o suco contém mais de uma fruta. A regra, entretanto, nao especifica muito como. Então, as marcas encontraram formas – as vezes maravilhosamente ardilosas – de atender à obrigação. Volte à imagem do peixinho abaixo e preste atenção às barbatanas. Nem se Van Gogh, Brueghel e Manet se juntassem, fariam uma natureza morta deste nível. Mas, às vezes, o que não está no rótulo é tão importante quanto o que está. É o caso do – mais ou menos – novo The Glenmorangie 16 The Nectar. Previamente denominado Nectar D’Or, e sem idade declarada, o whisky maturava em barricas de carvalho americano, […]

Glenmorangie 18 The Infinita

Em 1726, Jonathan Swift descreveu em As Viagens de Gulliver um curioso território insular que flutuava sobre o ficcional reino de Balnibarbi. A ilha, com sua base magnética de adamântio, era habitada pela realeza e nobreza de Balnibarbi. Seres extremamente inteligentes, mas totalmente desconectados da realidade prática. Absorvidos por ideias abstratas e complexas, se viam incapazes de preparar uma refeição sem algum auxílio de humanos mais pragmáticos. Swift, que escrevera a obra em inglês, nomeou a ilha de Laputa. O nome, entretanto, teria passado despercebido pelos anais literários, não tivesse sido resgatado pela Mazda. Em 1999, a fábrica japonesa de automóveis lançou um novo carro, e, inspirada pela erudita referência, decidiu que seria uma boa ideia batizá-lo de Laputa. O que, na cabeça de seus executivos – que muito bem poderiam ser habitantes da ilha ficcional – evocava um ar de inovação e sofisticação flutuante. Assim surgiu o Mazda Laputa, que rapidamente se tornou uma piada pronta para nós, afortunados falantes de línguas latinas. Diante do constrangimento, a Mazda tomou a decisão de reintroduzir o carro com o nome de Verisa. Que foi escolhido pela sonoridade, não significa nada, e – nem de longe – é tão legal quanto Laputa. […]