The Glenlivet 21 Anos – Tríade

Tese, antítese, síntese. Passado, presente, futuro. Corpo, mente e espírito. O número três tem um tipo de prestígio estranho — ele sempre aparece, sem muita explicação, e de forma natural. Eu, aqui, já coloquei três exemplos de três coisas. E foi quase sem querer, só porque meu instinto parassimpático de escrita relembra minha professora de português do ginásio. A cadência fica sempre melhor com três – dizia. O primeiro primo ímpar é também a base de muita coisa. Com três pernas, um banquinho não balança; com três atos, uma história não desaba. Cada pé, uma parte – começo, meio e fim. Ou, na formalização aristotélica, prótase, epítase e catástrofe. Não sem relação, a mesma estrutura aparece graficamente nos antepassados das histórias em quadrinhos: os trípticos medievais. Por fim, séculos depois, Joseph Campbell – que recentemente estudei, para um devaneio no Caledonia – pegou o mesmo esqueleto e rebatizou de Partida, Iniciação e Retorno, em sua famosa Jornada do Herói. A estrutura tripla é irrepreensível. Grego, medieval ou moderno; ateu ou religioso, o público tem o horizonte de atenção de um ouriço. E eu aqui, no terceiro parágrafo de tergiversação, já corro o risco de perder quem só veio para beber, […]

The Glenlivet 12 anos – Revisto em 2025

“Como chegar em casa num dia gelado, virar só a torneira fria do chuveiro e entrar de roupa e tênis”. Foi assim que descrevi a experiência de visitar, às seis horas da madrugada, as Cataratas do Iguaçú, na noite mais fria de 2025 até então. Fazia saudável 1ºC. É que fui convidado pela The Glenlivet para viajar até o luxuoso hotel Belmond das Cataratas, para testemunhar, em primeira mão, o lançamento de dois rótulos recém-chegados ao Brasil. O The Glenlivet 21 Anos e o 12 anos – que voltou, depois de um hiato de cinco anos. O dia anterior – tão gelado quanto aquele – tinha sido cheio. Um almoço com coquetéis de The Glenlivet Caribbean, um jantar na área externa, com traje tradicional escocês; e uma das experiências mais inusitadas que já vivi numa degustação. A The Glenlivet Sonic Tasting – desenvolvida por Dave Broom, em parceria com o Art of Disappearing. A experiência apresenta uma combinação única de três expressões da The Glenlivet. Cada participante recebe um bloco de anotações, uma caneta e uma “roda de sabores”, que traz algumas sugestões de notas aromáticas. Também são fornecidos um livreto de degustação, uma máscara azul para os olhos e […]

Glenlivet Caribbean Reserve – O Amor

A Céline Dion tem uma música que diz que o amor pode mover montanhas. Com todo respeito, eu acho que a Céline errou. O amor é muito superestimado. Sem a menor sombra de dúvidas, o álcool supera qualquer forma de afeto como força-motriz da humanidade. Pegue, por exemplo, a história das ilhas caribenhas e do Reino Unido. Em 1655 a Grã-Bretanha capturou Jamaica, e começou um caso de amor (talvez ele mova montanhas) com o rum. A bebida já era produzida naquela ilha, que possuía abundância de cana-de-açúcar. A Marinha Real britânica não hesitou em substituir o aristocrático brandy francês pelo refrescante e tropical rum. Os marinheiros eram diariamente abençoados com doses de destilado, muitas vezes combinadas com limão. Os marinheiros viam no rum não apenas um antídoto contra o escorbuto, mas também uma fonte de alegria em suas vidas a bordo de navios desprovidos de luz, com comida escassa e o constante medo de criaturas marinhas lendárias. O rum tornou-se tão famoso que passou a ser usado como moeda de troca pelos corsários britânicos. Esses, um tanto menos comedidos do que os militares da respeitosa rainha, geralmente consumiam quantidades copiosas de bebida. Não era raro o caso de um […]

A História da Glenlivet – Dos Abacaxis

Este é o primeiro de uma série de posts eventuais sobre histórias de marcas de whisky. Quando outras matérias surgirem, você poderá acessá-las por aqui. Hoje fui ao supermercado e vi um abacaxi. Aliás, um não, vários. Pensei em comprar, mas achei caro. Dez reais. Gosto bastante de abacaxi, mas não tenho nenhum grande fascínio pela fruta. Porém, se eu vivesse na Europa do século dezoito, certamente teria uma opinião bem diferente. É que naquela época o abacaxi era considerado o supra (desculpem-me pela ambiguidade cretina hifenizada)-sumo do luxo. A mera presença da fruta exalava requinte. Muitas vezes, o abacaxi nem era comido – era apenas uma peça de decoração. E quem não podia comprar um, alugava. Mas tinha que tomar cuidado, porque era capaz de algum convidado comer a peça de decoração. O abacaxi se tornou tão desejado na Europa do século dezoito, que virou símbolo de hospitalidade. Tanto é que muitas mansões construídas naquela época exibiam esculturas de abacaxi na entrada, para dar as boas vindas a seus visitantes. O abacaxi figurou também em brasões, cabeceiras de cama e pratos de porcelana. Imaginem, então, o sucesso que um whisky com notas de abacaxi teria feito. Bom, e foi […]

Glenlivet Code – Spoiler

Cã para mim, na farmácia. Você não vai comprar os Cotonetes? Claro que vou, olha aqui. Mas isso não são Cotonetes. Olhei intrigado, talvez por não ter notado o cê maiúsculo próprio da marca na frase falada. Não são Cotonetes, são hastes flexíveis genéricas, será que são tão boas quanto? Expirei de insatisfação. Olha, são palitinhos com algodão na ponta, acho que meu ouvido não é muito discriminatório em relação a marca das coisas que eu enfio nele. Pode parecer uma discussão boba, mas não é. A marca de um produto influencia diretamente em como o percebemos. Recentemente a Nielsen, empresa especializada em estudar o comportamento de consumidores, fez uma descoberta interessantíssima. Seis em aproximadamente dez consumidores preferem comprar novos produtos de marcas familiares, simplesmente porque inspiram confiança. Faz sentido – na maioria das vezes, nós, humanos, buscamos segurança. Segurança essa, representada por algo que já nos é familiar. Nós já sabemos o que esperar. Mas não são apenas marcas. Quando conhecemos algo, criamos um conceito ao redor daquilo. Conceito que usamos de base de comparação para outras coisas da mesma natureza. Antes de experimentarmos o novo, acessamos essa biblioteca de conceitos e criamos um, bem, pré-conceito sobre aquilo. Por […]

(travel) Drops – Glenlivet Master Distillers Reserve Small Batch

Há nove anos viajei com a Cã para o Peru. Foi uma viagem incrível, apesar de alguns nauseantes detalhes. Coisas bobas, tipo não conseguir respirar, comer ou beber água durante quatro dias a tres mil e trezentos metros de altitude, na maravilhosa cidade de Cuzco. Naquela oportunidade, conhecemos também Macchu Picchu, Lima e a região de Paracas e Ica – o que compensou um pouco o estado vegetativo trazido pela soroche. Gostamos tanto da viagem que resolvemos repeti-la, nove anos depois. Menos a parte de Cuzco, porque, bom, porque a gente é teimoso, mas valorizamos nossa liberdade respiratória e cardíaca. E como não poderia carregar todos meus whiskies comigo, resolvi escolher um companheiro de viagem etílico. A decisão foi fácil – logo no aeroporto comprei um Glenlivet Master Distiller’s Reserve Small Batch. Um single malt polivalente e muito saboroso, perfeito para uma pletora de situações, como aquelas proporcionadas por essas incríveis viagens internacionais. O Glenlivet Master Distiller’s Reserve Small Batch é o mais sofisticado dos maltes da linha Master Distiller’s Reserve da The Glenlivet, vendida exlcusivamente no travel retail – os nossos conhecidos freeshops. Além dele, há a versão de entrada, o Master Distiller’s Reserve original, e uma versão intermediária, […]

Irmão do Meio – Glenlivet 15 anos

Sou filho único. O que, para falar a verdade, não quer dizer muita coisa. Crescer sem irmãos não significa que tenha conseguido tudo que quero. Nem que seja mimado ou estragado, e tampouco egoísta. Quer dizer, exceto com comida. Comida é algo realmente difícil de dividir. Ser filho único, porém, significa que tive que responder mais de um sem fim de vezes a clássica indagação. Se eu não sinto falta de ter irmãos. E minha resposta, desde a mais tenra idade, sempre foi a mesma. É claro que não, afinal, não poderia sentir falta de algo que nunca tive. Minha mãe, no entanto, possui irmãos. E ela está na pior posição possível. Ela é a irmã do meio. O que, para ela, significava ter as refeições roubadas pelo irmão mais velho enquanto era solenemente ignorada pelos pais, em favor do irmão mais novo. Significava não ter idade para fazer algumas coisas que o primogênito fazia, mas ser velha demais para se envolver com as atividades de criancinha do caçula. Segundo ela, galgar espaço como a irmã do meio não era nada, nada fácil. Relembrei disso ao experimentar novamente, após bastante tempo, o Glenlivet 15 anos. O Glenlivet 15 é a expressão […]

Sobre a Força – Glenlivet Founder’s Reserve

Este não é um post sobre whisky. Me desculpem pela decepção. Este é um post sobre um modesto filme que transformou a internet em uma convulsão maníaca. Este é mais um post sobre Star Wars. Mas pode continuar lendo. Eu prometo que não contarei nenhum spoiler para estragar sua experiência. Ou talvez um só. Nada grave. Prometo que valerá a pena. Quando soube que J. J. Abrams dirigiria um novo filme da saga, fiquei apreensivo. Apreensão que só aumentou quando descobri que alguns personagens dos episódios IV, V e VI apareceriam. É que eu realmente gostava dos três primeiros filmes, e não queria ninguém estragando a imagem de Han Solo, Leia e mesmo Luke para as gerações vindouras. Mas assim que me sentei na cadeira de cinema, percebi que meus medos eram completamente infundados. O Despertar da Força é um caso raro de sucesso absoluto. Os números estão aí para comprovar. Ele arrecadou, só nas primeiras semanas, um bilhão de dólares. Foi a abertura de maior sucesso da história do cinema. Na modesta opinião deste ébrio Canídeo, o sucesso reside no equilíbrio. Mas não no equilíbrio da Força. No equilíbrio irretocável entre os elementos clássicos da saga e a inovação […]

Clássico Moderno – Glenlivet 18 anos

Sabe qual o maior problema dos remakes? É que raramente são melhores que os originais. Um claro exemplo disso é o filme Cidade dos Anjos. Caso você não saiba, Cidade dos Anjos é baseado em um filme europeu chamado Asas do Desejo, dirigido por Wim Wenders. Asas do Desejo esteve, por muito tempo, no meu top dez filmes preferidos de todos os tempos. Já Cidade dos Anjos, bem, esse passou longe. O argumento dos dois filmes é praticamente o mesmo. Um anjo que decide abrir mão da existência eterna para tornar-se humano. Em Asas do Desejo, sua motivação é compreender o significado da vida e experimentar e o prazer – e o sofrimento – de ter carne e osso. Essa experiência é personificada em uma bela trapezista de circo, pela qual o anjo se apaixona. O filme é de um existencialismo extremamente sutil, todo em preto e branco, e conta com as antológicas atuações de Bruno Ganz e Solveig Dommartin. Já Cidade dos Anjos é um pouco diferente. Em Cidade dos Anjos, um querubim estrelado por Nicholas Cage desenvolve uma paixão platônica pela Meg Ryan, que é uma médica. Ele não dá a mínima para o significado da vida ou […]

O Cão Clássico – Glenlivet 12 anos

Meu trabalho traz a oportunidade de conhecer uma boa dose de loucos. O mundo corporativo está cheio deles, de todas as espécies e graus de loucura. Um dos mais interessantes foi o Sr. Roberto, sócio de um escritório em que trabalhei. O Sr. Roberto era extremamente articulado, relativamente elegante e muito educado. Trabalhava bem e era muito eficiente. Enfim, o Sr. Roberto parecia um cara absolutamente normal. Até você ir almoçar com ele. Na hora da refeição, o Sr. Roberto tinha todo tipo de mania. Uma das mais estranhas era de, durante reuniões mais longas, comer esfihas de ricota, cortadas por nossa copeira em oito pedaços milimetricamente idênticos, como uma pizza. O Sr. Roberto passava reuniões inteiras com um minipedaço de esfiha na mão, e, eventualmente, o comia, pegando outro logo em seguida. Outro cara que tinha manias alimentares tão estranhas quanto as do Sr. Roberto, foi Napoleão Bonaparte. Reza a lenda que Napoleão não comia nada antes das batalhas. Por conta disso, voltava delas com uma fome monstruosa. Seu prato preferido – criado por seu chef pessoal após a batalha de Marengo – era Frango à Marengo. Napoleão gostava tanto daquele prato que sempre o pedia após a luta, […]