6 perguntas para Luciana Lamas – Sócia da Lamas Destilaria

Publicado originalmente em 1969, o livro mais famoso de Mario Puzo permaneceu no topo dos Best-Sellers do New York Times por mais de um ano. Foram vendidas mais de dez milhões de cópias. A obra também deu origem a uma notável trilogia de filmes, que talvez você conheça. Eu nem preciso falar o nome, assistir é quase uma oferta que não se pode recusar.

A dúvida de Michael em assumir os negócios da família é justificada. Especialmente porque envolvem traição, manipulação, chantagem e assassinato. Apesar disso, o rapaz parece ter um talento nato para o ramo, com frieza e calculismo. Tradição era a chave, mas a inovação trazida por Michael foi a que garantiu a sobrevivência de sua família num ramo bem pouco ortodoxo.

No caso da Lamas Destilaria, fundada por Marcio Lamas em Minas Gerais, a transferência da batuta foi bem mais tranquila. Afinal, a natureza do negócio envolvia entusiastas de whisky, e não a máfia siciliana. Inobstante, há uma dificuldade latente. A de seguir com a tradição da destilaria, mas procurar sempre inovação.

Um dos primeiros engarrafamentos do Lamas Nimbus

E é exatamente isso que vamos conhecer hoje. Nessa entrevista com Luciana Lamas, sócia da destilaria, vamos descobrir como a tradição familiar se mistura com inovação para produzir o que este Cão poderia definir como “craft whisky brasileiro”. Então, pegue um copo, sente-se confortavelmente e prepare-se para uma viagem pelo mundo das tradições familiares. E do whisky, óbvio.

Luciana, um prazer ter você aqui hoje conosco, neste auditório virtual! Me conta um pouquinho sobre a Lamas? Como surgiu a ideia de abrir uma destilaria de whisky?

Ei Maurício! Obrigada por me receber aqui. O prazer é meu (só é uma pena que não dá para tomar um “Deus e o Diabo” enquanto batemos esse papo, haha).

Bom, falar da Lamas é algo que me emociona e me enche de orgulho. Nós somos uma destilaria familiar mineira que surgiu inicialmente como um hobby a partir da união de 3 irmãos por uma paixão em comum: as bebidas, mais precisamente o whisky.

Tudo começou de forma bem amadora, mas o perfeccionismo e o desejo de se desafiar são traços de família que acabaram por transformar essa aventura no que hoje é uma empresa séria e comprometida com um vasto portfólio de bebidas destiladas que já somam mais de 50 prêmios conquistados nos mais diversos concursos ao redor do mundo. De todos essas premiações, mais de 40 pertencem aos nossos whiskies!

Como você se envolveu na Lamas?

No início de 2019 eu percebi que a Lamas estava começando a nascer enquanto negócio e que o que se originou como um sonho de 3 irmãos precisaria contar com o apoio de mais pessoas. Quando eles optaram por dar o sobrenome da família à empresa foi como se eu ouvisse um chamado! Foi nesse momento que eu me envolvi, inicialmente assumindo a parte do digital com as mídias sociais e, posteriormente, assumindo também o marketing e o e-commerce.

A responsabilidade dobra de tamanho uma vez que hoje os 3 fundadores passaram o bastão para mim e meus irmãos. Nós temos uma longa trajetória pela frente e muito o que aprimorar para sofisticar ainda mais a nossa operação e potencializar a experiência do nosso consumidor com a nossa marca e produtos. Cada nova conquista nos motiva a querer, cada vez mais, compartilhar a nossa história e produtos com outros apreciadores da bebida.

Alguns whiskies da linha permanente da Lamas, com nosso Caledonia III.

Qual a maior dificuldade de uma destilaria de whisky no Brasil?

O segmento de bebidas é brutalmente competitivo e o mercado é, de forma geral, dominado pelas grandes marcas.

Nós somos uma destilaria muito pequena de modo que a economia de escala é bastante desfavorável quando nos comparamos com as gigantes multinacionais do segmento de bebidas. Alia-se a isto a alta carga tributária sem incentivos fiscais no caso das destilarias nacionais. Tudo isso torna a disputa por mercado e espaço nas prateleiras algo extremamente moroso.

Contudo, é incrível ver que existem pessoas e empresas que estão vorazmente interessados no trabalho que fazemos aqui e que mesmo com tantas marcas tradicionais e consagradas há espaço para o que é novo e diferente. Poder ser um dos agentes disruptivos causadores dessa quebra de paradigma e ajudar a colocar o Brasil no mapa dos produtores de whisky tem valor imensurável.

Defina pra gente em umas poucas (ou muitas!) frases a Destilaria Lamas. Qual a essência da Lamas?

A Lamas prima pelo novo, sem abrir mão da qualidade. Eu diria que a ousadia está no nosso DNA e, por isso, fazer o mesmo que a Escócia já faz tão bem há mais de 500 anos, nunca foi uma opção. O caminho que mais nos atrai é a inovação, a raridade. O compromisso de atingir padrões sensoriais de excelência e que satisfaçam o gosto dos nossos seletos e exigentes clientes.

Além disso, estamos em um estado que tem como marca a qualidade e tradição. Minas Gerais se destaca na produção de bebidas e comidas, na cultura e no artesanato. Essa raiz da qualidade, do valor da produção artesanal, da busca pela perfeição é algo que vimos desde cedo em nossa família e entorno. É com esse cuidado que produzimos tudo aqui. Das montanhas de Minas, já saíram muitas joias e queremos produzir aqui ainda mais raridades.

Alambique da Lamas

Atualmente, a Lamas tem um portfólio bem diversificado. Rum, whisky, gim. Vocês tem planos de expandir este portfólio no futuro?

Sim! Muitos planos, inclusive. Além de nos propormos a trazer sempre alguma inovação em edições limitadas, especialmente na nossa linha de whiskies, uma outra vertente que já estamos testando são as bebidas mistas (tipo licores) e drinks prontos para consumo (RTDs). Ainda são “cenas dos próximos capítulos”, então não vou me delongar muito por enquanto.

Last, but not least. Qual seu produto preferido da Lamas?

Essa pergunta acaba comigo sempre! Haha Vou revelar um “segredo” que talvez não seja tão secreto assim… Eu, particularmente, não tenho o hábito de consumir bebida alcoólica, especialmente destilados. Nesse sentido, eu sou mais da turma do vinho e do espumante.

Contudo, eu frequentemente degusto os rótulos da Lamas (ossos do ofício) e sempre que tenho a oportunidade de ir ao Caledonia me divirto com a carta de drinks (talvez esse seja um momento propício para lembrar o amigo leitor: coma o seu garnish), mas devo admitir que o rum Norma Ouro tem um lugar especial no meu coração!

Coma seu garnish SEMPRE! Exceto se ele for algodón. Muito obrigado por seu tempo, Luciana! Na próxima, será com nosso Deus e o Diabo!

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