Lamas Rarus – Musicalidade

Normalmente, levo algum tempo para criar a introdução aos posts deste blog. Outras vezes, porém, a inspiração já vêm da própria marca de whisky. “Para se criar uma música, não há uma fórmula pronta. É possível misturar sons mais suavez com melodias graves e robustas, por exemplo. Mas para que essa mistura resulte em algo gostoso e atrativo, não pode ser feita de qualquer forma. Exige cuidado, talento e muita dedicação” – dizia um post no Instagram sobre o Lamas Rarus.

Aliás, essa é uma analogia interessante. Whiskies são, de certa forma, como música. Barris (ou single malts, dependendo de onde você quer chegar) são um único violoncelista, tocando um solo. Você pode ouvir com clareza todas as notas. Mas, exceto se forem as súites de Bach, talvez sinta falta de algum outro instrumento para dar bojo à composição. Blends – de whiskies ou de diferentes barris – por outro lado, são uma orquestra. Você talvez não ouça todas as notas com tamanha nitidez. Entretanto, o conjunto se torna muito mais harmônico.

As vezes você faz tudo sozinho mesmo.

A dificuldade é, justamente, equilibrar os sons. Garantir que os instrumentos de sopro não se sobreponham ao violino, e que o violoncelo possa ser ouvido e contribua para a melodia. O proglema é que cada instrumento tem sua intensidade – partes iguais não resolve. Barris funcionam assim também. E é este o grande mérito do Lamas Rarus, single malt brasileiro recém-lançado pela Destilaria Lamas, de Minas Gerais.

O Lamas Rarus possui dupla maturação. Primeiro, passa por barris de carvalho americano. Depois, é finalizado em barris também de carvalho americano que previamente contiveram o Rum Norma – que também é produzido pela Lamas. O tempo de maturação não é divulgado pela destilaria. Mas, de acordo com fontes, a média de tempo de finalização é de um ano – sendo que alguns barris finalizaram por quase dezoito meses.

A finalização em rum é algo relativamente comum fora do Brasil – especialmente na Escócia. O rum traz notas de melaço, baunilha e frutas tropicais, especialmente coco, para o whisky. Exemplos são o Glenfiddich 21 Reserva, Balvenie 14 Caribbean Cask, Dewar’s Caribbean Smooth, Ardbeg Drum e o absurdamente maravilhoso Talisker 8 anos dos Special Releases da Diageo de 2020, que basicamente parece que você está bebendo óleo de lampião queimado em uma praia caribenha, só que bom. Mas, voltemos ao assunto dessa prova. O Lamas Rarus

Um dos maiores desafios da maturação em rum é o equilíbrio. Por conta da potência sensorial do rum, há um grande risco de se criar um whisky desequilibrado, puxado para o destilado de cana – daí minha analogia musical. Este, felizmente, não é o caso do Rarus. Há um equilíbrio muito bom entre a maturação e o destilado da Lamas. O rum desceu bem como um gole de mojito num dia quente: ao invés de criar conflito, trouxe suavidade e complexidade ao single malt.

Rum Norma

De acordo com Luciana Lamas “Os irmãos Lamas visitaram a Balvenie na Escócia onde degustaram e trouxeram de volta na mala um malte finalizado em barril ex-rum da região da América Central. Como nós também temos rum no portfólio da Lamas, que é inclusive um dos queridinhos da Família, eles decidiram se inspirar nessa ideia e testar algo semelhante com o nosso próprio barril. Podemos dizer que os irmãos Lamas, em especial o Márcio, é uma fonte inesgotável de novas ideias e tem sempre alguma experimentação em andamento.Tanto que, por similaridade, no momento estamos testando algo semelhante com barril ex-cachaça. São vários testes e inovações na expectativa de oferecer ao mercado a possibilidade de novas experiências e, mais do que isso, ajudarmos a fomentar a história do whisky brasileiro.”

O Lamas Rarus é engarrafado a 43%, não passa por filtragem a frio e não tem adição de corante caramelo. A cor do destilado é 100% natural. É um single malt brasileiro bastante elegante – e talvez, o mais equilibrado do portfólio permanente da Lamas. Para aqueles que querem experimentar a evolução dos whiskies nacionais, o Lamas Rarus é como uma sinfonia – equilibrado e surpreendente.

LAMAS RARUS

Tipo: Single Malt

Destilaria: Lamas

País: Brasil

ABV: 43%

Notas de prova:

Aroma: frutado com coco e baunilha.

Sabor: Mel, caramelo. Açúcar mascavo, coco. Final médio e adocicado.

One thought on “Lamas Rarus – Musicalidade

  1. Fala Mauricio, boa noite.
    Sou apaixonado no Balvenie Caribean Casa, ja vou procurar esse lamas pra provar.
    PS: Adorei a analogia entre o equilibrio do whisky e uma sinfonia.
    Abc forte.

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