Oscars 2023 – Relacionando filmes e Whisky

Este é um post sazonal. Para ler as edições passadas, de 2017 , 2018 e 2020 clique nos mencionados aqui.


Todos somos, em algum nível, hedonistas. O que mais muda, é a espécie de prazer. Não sou muito de grandes festas. Nem de shows. E ainda que adore sair, tenho uma séria tendência à eremitania. Aliás, tive que abrir um bar para descobrir o quanto eu gosto de ficar em casa. E nesse clima, facilmente minhas atividades preferidas são beber e ver filmes. Daí que surgiu a primeira edição deste post. De minha necessidade de relacionar duas coisas que amo mas não tem relação direta.

Quer dizer, médio. Provar um whisky novo é, de certa forma, como assistir um filme. Há uma abertura – seja ela metafórica ou física – que eleva, ou reduz, todas as expectativas. Já as primeiras imagens, assim como o aroma, indicam a atmosfera que encontraremos. E à medida que a história se desenrola e tomamos o primeiro gole, os pequenos detalhes aparecem. Referências, sentidos. Aroma e paladar em um, luz e som no outro. É quase complementar.

A verdade é que a arte e a bebida têm mais em comum do que imaginamos. Ambas exigem paciência, dedicação e precisão para se alcançar a perfeição. E é exatamente isso que vamos explorar hoje, nesta jornada sensorial que une a sétima arte ao universo dos whiskies. Escolhi quatro filmes indicados aos Oscars de 2023 – dessa vez, vi todos! – e os relacionei com seus pares líquidos.

Prepare-se para degustar os sabores mais refinados do cinema. Ou não.

Top Gun: Maverick

Antes de mais nada – inclusive, antes de assistir o filme – é importante deixar uma coisa clara. Top Gun: Maverick, não é sobre aeronaves. Ou guerra, ou bombas. Ou o clássico deus-ex-machina, drones versus talento humano ao comandar um caça. Estes elementos são meras formalidades para ressaltar seu real tema. O Tom Cruise.

E tudo bem, porque o cara, com sessenta anos de idade, dispensou dublês e assumiu um papel que ele mesmo, trinta e cinco anos atrás, provavelmente faria pior. Ou não. Se você pensar, há também outro tema escancarado: o poderio bélico das superproduções cinematográficas norte-americanas. Top Gun: Maverick só poderia mesmo ser feito nos EUA. Não faria sentido qualquer outro país produzi-lo. Por isso, ele é, o que seria Tom Cruise se fosse whisky. Jack Daniel’s.

Banshees of Inisherin

Banshees of Inisherin é dirigindo por Martin McDonagh – o mesmo cara de Three Billboards e In Bruges. E, na opinião deste Cão, bem melhor do que eles. Ele conta a história de dois irlandeses que vivem na ilha imaginária (não para o filme) de Inisherin. Padraic (Colin Farrell), é um criador de gado, e Colm (Brendan Gleeson), um violinista taciturno.

Inisherin não é exatamente um lugar fervilhante, cheio de coisas para fazer. Então, Colm e Padraic passam as suas tardes na estalagem local – eu não chamaria aquilo de um pub – bebendo Guinness e fazendo small talk. Fizeram isso por anos, até que Colm, unilateralmente, declara que não gosta mais de Padraic. Este, incrédulo, começa uma campanha para ganhar novamente a amizade do músico – com resultados um tanto improváveis.

O filme apresenta uma série de discussões interessantes, como mortalidade, isolamento, solidão, ego e herança – cultural, mais do que material. Há um ar de fábula, também, e um leve toque histórico. Mas é a construção dos personagens e o cenário inegavelmente irlandês que ganham o espectador. Se Banshees fosse um whisky, seria um Redbreast – irlandês raiz, com um toque de refinamento e uma leve irreverência. Jameson? Não vejo Colm e Padraic num festival de música megalomaníaco.

Avatar: O caminho das Águas

Quinze minutos. O que matam, são os quinze minutos, porque depois de três horas assistindo um filme sobre smurfs aquáticos, cada segundo da sua vida é precioso. Não há nada novo sobre Avatar: O Caminho das Águas. O papo é o mesmo de 2009, assim como os efeitos visuais – que eram ótimos e melhoraram substancialmente, mas, agora, não impressionam tanto mais.

Mas o filme tem seus predicados, também. Ele é feito para agradar a todos. E apesar de durar uma era geológica (será que Pandora já continua um megacontinente?), consegue atingir seu objetivo. Com duas horas a menos, seria bem divertido. Ele é didático, também. Por exemplo, quando um personagem está animado, ele faz “woohoo”. Quando fica aborrecido, grunhe. Por conta de sua didática, e da tentativa de agradar a todos, diria que Avatar é um Buchanan’s 12. Mas que fique claro – prefiro muito mais beber o whisky do que rever essa obra. A primeira, eu faço sem esforço.

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo

Eu tenho opiniões relativamente impopulares, como, por exemplo, não ser fascinado por Nutella, não ligar muito pra pizza e detestar frango, mesmo aquele frango da televisão de cachorro. Mas acho que essa corre o risco de causar mais polêmica. Eu me esforcei muito para gostar de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo – doravante simplesmente referido como “Tudo”, para fins sintético e estéticos deste texto – mas não rolou.

O filme tem vários elementos legais. A temática inclusiva, por exemplo. E as referências cinematográficas: 2001, Matrix, os Goonies e até “In The Mood for Love” de Wong Kar-Wai. Mas, é também justamente o que o título prega. É uma farofa que se espalha por sua duração de uma forma meio maluca, sem sentido e acaba virando um troço automaticamente e imediatamente esquecido no momento que os créditos começam a rolar.

Se fosse um whisky, Tudo não seria um só. Seriam vários. Tipo aquela infinity bottle, que você fica misturando os restinhos das suas garrafas. Tem single malt, tem bourbon, tem whisky defumado, tem blend. É gostoso, é divertido, mas é também uma bagunça meio sem sentido.

2 thoughts on “Oscars 2023 – Relacionando filmes e Whisky

  1. Grande, Maurício! Sua linha textual é profundamente diferenciada, sofisticada, além de imensamente inspirada. Esse comentarista de bateria de escola de samba aqui é amante do Cão Engarrafado há muitos anos. Suas avaliações, além de servirem como base pra aquisições, fazem bem a alma! Gratidão por toda sua dedicação linguística em produzir textos que mesclam comédia, muito conhecimento e um senso de percepção extremamente apurado! Sou fã incondicional desse portal de longa data e resolvi tomar coragem para expressar minha mais sincera admiração! Você foi completamente cirúrgico na definição de Avatar! Choro de tanto gargalhar de suas conclusões bem humoradas, sempre recheadas de informações pertinentes e dicas pra lá de coerentes! Satisfação imensa poder elogiar quem acompanho há muitos anos! Grande abraço, obrigado por ser meu mentor virtual de apreciação de uísque e muito sucesso!

    1. Opa! Que baita elogio, Freddy! Muuito obrigado. Fico de verdade feliz – e me divirto muito – compartilhando meu entusiasmo por whisky e outras coisas aleatórias, rs! Um grande abraço!

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