O Cão Viajante – Whiskies para comprar no Duty Free

Sabe, eu adoro viajar. Conhecer lugares novos, cenários e culturas é uma coisa fantástica.  Cada viagem tem seus pontos fortes, seus charmes. Talvez sejam as ruas de uma bela cidade, as ruínas de uma antiga catedral ou mesmo a praia de areia fininha daquela ilha paradisíaca. Ah, e a gastronomia. Para um Cão como eu, que é absolutamente fascinado por tudo que pode ser deglutido, experimentar novos temperos é uma das melhores experiências do mundo. Tudo sobre viajar é ótimo. Exceto, claro, a parte de chegar ao seu destino. Voar é um saco. Só para esclarecer, não é que eu tenha medo de aviões. Eu não tenho. Não tenho qualquer temor que o avião entre em estol e se arrebente no chão, nem que exploda porque havia alguma rachadura microscópica na fuselagem, muito menos que algum terrorista resolva tomar conta da cabine usando aqueles talheres ridículos de plástico. O que me incomoda mesmo é o voo. Do ponto A ao ponto B, há horas de desconforto, câimbra e uma intimidade nem sempre desejada com o passageiro do lado. Isso sem falar no ar-condicionado. Todo tipo de moléstia – e odor corporal – transmissível pelo ar circula livremente. E esse mesmo ar […]

Do Autocontrole – Black Grouse

Hoje vou falar sobre autocontrole. Autocontrole – ou melhor, a ausência dele – é o que te faz comer aquele quarto (ou quinto) pedaço de pizza. Ou tomar a terceira saideira no bar. Ou mesmo continuar comendo aquele rodízio de sushi até acabar, ainda que o correspondente à fauna inteira do oceano pacífico já esteja, lentamente, se liquefazendo em seu estômago. A vida moderna oferece uma infinidade de oportunidades áureas para se despir totalmente do autocontrole. Maratonas da sua série preferida, rodízios infinitos de comida, lojas com descontos progressivos, smartphones e internet quando se está bêbado. E, finalmente e fatalmente, bares. Bares são uma espécie invertida de videogames de autocontrole. Porque toda vez que você perde – ou seja, toma mais uma – fica mais difícil de exercer o autocontrole para a próxima. E, assim como videogames, existem bares mais difíceis do que outros. Para meu azar – e iminente insolvência – um dos meus preferidos provavelmente seria classificado “hard as hell”. É que naquele bar, ao invés do garçom te servir uma dose, ele deixa a garrafa na sua mesa, com umas marcações. E você mesmo deve ser o juiz de seu bom senso, e colocar o quanto quiser […]

Do Zênite – Johnnie Walker Blue Label

  O desejo é uma coisa interessante. Porque, na maioria das vezes, a satisfação é nada além de efêmera. Para mim, isso vale para quase tudo na vida. Um livro concluído, um prato experimentado, uma música descoberta. Mas quando pensamos em bens materiais, a coisa fica ainda mais estranha. Porque, curiosamente, as maiorias das coisas que desejo absurdamente são, na verdade, versões diferentes daquelas que já tenho. Por exemplo, eu tenho uma coqueteleira. Mas adoraria um Cardington Shaker do Cocktail Kingdom Reseve. Tenho também uma televisão. Mas uma SmartTV 4K não seria nada mau. Eu tenho um carro, mas ficaria bem mais feliz com um Maserati Quattroporte ou um Aston Martin Vanquish. E ainda que a razão me diga que qualquer destas coisas não faria a menor diferença – porque eu continuaria chacoalhando meus coquetéis do mesmo jeito, assistindo a mesma Galinha Pintadinha com a Cãzinha, e preso no mesmo engarrafamento – esta força schopenhauriana que sempre me faz desejar mais é implacável. Isso, fatalmente, se reflete nos whiskies. E na aurora de meu interesse, o Johnnie Walker Blue Label ocupava espaço de destaque. Aquele, imaginava, era o blended whisky mais caro da mais famosa linha de blended whiskies do […]

Do Eterno Retorno – Chivas Regal 18 anos

Quinta-feira cheguei em casa mais tarde. A querida Cã já havia jantado, e estava deitada na varanda, completamente absorvida por alguma leitura. Aproximei-me e tentei introduzir algum assunto prosaico, ao que ela me respondeu apenas com grunhidos, sem descolar os olhos do livro. Aí resolvi perguntar o que estava lendo. E ela, por duas horas, discorreu sobre a teoria do Eterno Retorno de Nietzsche, combinada com a do multiuniverso. O que, basicamente, minha melhor metade me explicou, traduzido para uma linguagem de boteco, é o seguinte. Segundo a teoria do multiuniverso, não há apenas um universo. Mas infinitos universos paralelos. Haverá universos paralelos absolutamente idênticos. Outros drasticamente diferentes. E alguns, apenas um pouco divergentes daquele em que vivemos. Soma-se a isso o Eterno Retorno, que ensina que, dentro de um leque virtualmente infinito de possibilidades, mesmo o evento mais insólito e improvável se repetirá infinitamente. Neste universo. E também em outros. Difícil? Então deixe-me ilustrar. Por exemplo, em certo universo paralelo, você está vivendo este mesmo sábado, tomando café e lendo este blog. Em outro, talvez não seja café sua bebida, mas whisky. E em outro talvez você esteja ainda lendo este texto, mas flutuando sentado em uma cadeira antigravitacional, […]

Drops – Kavalan Sherry Oak

O whisky dessa semana vem de um lugar improvável. Da ilha de Taiwan. É isso mesmo. Além do seu notebook, do seu celular e, muito provavelmente, o seu roteador, Taiwan também produz whisky. E bom. Este é o single malt Kavalan Sherry Oak, produzido pela King Car Distillery. O Sherry Oak é maturado exclusivamente em barricas de ex-jerez Oloroso. Além disso, não sofre qualquer processo de filtragem a frio nem adição de corante caramelo. Apesar de não ter idade definida, o Sherry Oak – assim como os demais whiskies da King Car – é maturado nos armazéns da própria destilaria. O clima subtropical de Taiwan contribui muito para o processo de maturação. Há menos evaporação, e por conta da variação térmica, a maturação ocorre mais rápido do que em climas mais frios. A destilaria foi fundada em 2005 por um destemido senhor chamado Tien-Tsai Lee. De lá pra cá, seus whiskies tem recebido inúmeros prêmios em competições internacionais importantes, como a WWA. O Cão Engarrafado já fez a prova de uma das mais famosas expressões da marca. O Kavalan Solist Vinho Barrique.

Drops – Chivas Regal Chivas Revolve

Na semana passada o Cão Engarrafado teve a oportunidade de participar de uma degustação às cegas de blended whiskies, sob o comando do mestre Cesar Adames, e com a participação dos amigos Maurício Salvi, do canal Whisky em Casa, Roberto Montemor, do blog O Toneleiro e Carlos Zibel Costa. Após a prova, Cesar pediu que os participantes escolhessem o melhor. E o eleito foi esta curiosa garrafa da foto. O Chivas Revolve, um blend super-premium da Chivas Regal Brasil, produzido em quantidades limitadas e disponível para compra apenas em Duty-Free shops de aeroportos internacionais. O preço médio é de US$ 85,00 (oitenta e cinco dólares). Apesar de não ter informação de nenhuma fonte confiável, este Cão suspeita que os principais maltes de sua mistura são Strathisla e Aberlour. O Chivas Revolve apresenta sabor de especiarias, mas sem perder o aroma floral característico da marca. Além de ser uma delícia, a garrafa é quase, diremos, lúdica. Ela possui um pino ao centro, tipo um peão. Um peão cheio de um whisky delicioso. Um peão para adultos. Uma variedade de edições do Chivas Revolve foi lançada ao longo dos anos. Havia versões com graduação alcoólica de 50%, e outras com idade estampada […]

O Cão Econômico 3/3 – Famous Grouse Finest

Este é o último post de uma série de três provas sobre whiskies abaixo de R$ 100,00(*). Os outros foram Glen Grant e Teacher’s Highland Cream. Além dele, o Cão já visitou outros três whiskies nessa faixa de preço. Foram White Horse, Johnnie Walker Red Label e Suntory Kakubin. A criatividade do homem é infinita. Ela se manifesta em tudo produzido por nossa mente, seja tangível ou intangível. Das pinturas rupestres a Duchamp, das primeiras tendas aos arranha-céus de Dubai, estamos imersos em um oceano de criatividade. E isso não é novidade para ninguém. Mas há um ramo da inventividade humana que sempre me surpreende. Um ramo em que o homem realmente emprega todo seu potencial. O de nomear produtos. Dê uma olhada nas gôndolas de supermercados. Há uma miríade deles. Cachaças João Andante, torradas Peter Pão, croissants Croasonho, carnes Boi Vivant, tapete higiênico para cachorros Super SeCão. E meu preferido, talvez pelo mau gosto aliado à sutileza de uma britadeira: papeis higiênicos Pacu. Além do nome, há a embalagem. A embalagem é quase um convite para adquirir aquilo que ela carrega. Na época daquela promoção da Coca-Cola, sempre procurava meu nome nas latas. Se encontrasse, não titubearia em levar para casa. Mas […]

Inu Engarrafado – Suntory Hibiki 17 anos

Vou confessar a vocês algo difícil. Um desejo profundo, que tenho certeza que todo mundo tem, mas que quase ninguém admite ter. Talvez vocês me condenem depois de saber, ou julguem que seria melhor se eu visitasse um psicanalista. Mas não me importo. Preciso tirar isso do meu peito. Preparem-se, porque aí vai. Às vezes eu queria ser outra pessoa. Mas não qualquer outra pessoa. E não, eu não queria ser um cachorro, apesar do nome do blog. E nem um sheik árabe bilionário, tampouco um astronauta. Quem eu realmente, mas realmente queria ser, se pudesse escolher entre todas as pessoas do mundo inteiro, seria o Bill Murray. E aí você vai argumentar comigo que isso é realmente insano. Afinal, porque alguém quereria ser o Bill Murray, se você pudesse ser, sei lá, o Neymar? Ou o Donald Trump? E aí eu vou responder que é porque nem o Neymar, nem o Donald Trum possuem licença para serem completamente malucos – ainda que ultimamente o Donald Trump tenha tentado bastante – e todo mundo achar normal. Mas o Bill Murray tem. E ele faz isso sem precisar mexer nem um músculo da face. Quase como uma vaca hindu. Para você […]