Do Eterno Retorno – Chivas Regal 18 anos

Chivas 18

Quinta-feira cheguei em casa mais tarde. A querida Cã já havia jantado, e estava deitada na varanda, completamente absorvida por alguma leitura. Aproximei-me e tentei introduzir algum assunto prosaico, ao que ela me respondeu apenas com grunhidos, sem descolar os olhos do livro. Aí resolvi perguntar o que estava lendo. E ela, por duas horas, discorreu sobre a teoria do Eterno Retorno de Nietzsche, combinada com a do multiuniverso.

O que, basicamente, minha melhor metade me explicou, traduzido para uma linguagem de boteco, é o seguinte. Segundo a teoria do multiuniverso, não há apenas um universo. Mas infinitos universos paralelos. Haverá universos paralelos absolutamente idênticos. Outros drasticamente diferentes. E alguns, apenas um pouco divergentes daquele em que vivemos. Soma-se a isso o Eterno Retorno, que ensina que, dentro de um leque virtualmente infinito de possibilidades, mesmo o evento mais insólito e improvável se repetirá infinitamente. Neste universo. E também em outros.

Difícil? Então deixe-me ilustrar. Por exemplo, em certo universo paralelo, você está vivendo este mesmo sábado, tomando café e lendo este blog. Em outro, talvez não seja café sua bebida, mas whisky. E em outro talvez você esteja ainda lendo este texto, mas flutuando sentado em uma cadeira antigravitacional, enquanto conversa com um tigre adestrado, seu recém-adquirido bicho de estimação. Porque, naquele universo, tigres falam. E talvez, ainda, em outro, você não esteja lendo nada, porque o tigre comeu você. Gastronomicamente falando, claro.

Pode acontecer em um universo paralelo.
Pode acontecer em um universo paralelo.

E aí me pus a pensar sobre isso. Que é muito doido, na verdade. Em algum universo paralelo, este blog não existe. Nem este texto. E talvez, em outro, nem eu mesmo exista. Em algum universo paralelo, o mundo foi completamente dominado por ursos panda, que resolveram largar o celibato e procriar loucamente para destronar os humanos do controle do mundo.

Mas uma única certeza eu tenho. Uma certeza pétrea em todos os universos em que eu e Chivas Regal 18 anos existem. A certeza irrefutável e imutável de que ele é um dos meus blended whiskies preferidos. Aliás, assim como o Black Label para muitos, o Chivas Regal 18 anos foi um dos meus primeiros blended whiskies, que estabeleceu o benchmark – no meu caso – pelo qual todos os outros seriam julgados. E, provavelmente, aquele que sempre recorri como um porto seguro.

O Chivas Regal 18 é uma mistura de algo entre dez e sessenta single malts e grain whiskies (o número real é um segredo muito em guardado), todos eles maturados por, no mínimo, dezoito anos em barricas de carvalho. O blend foi elaborado por Colin Scott, master blender da Chivas Regal, e criador do também excelente Chivas Regal Extra, já visitado nestas páginas canídeas.

A base do Chivas Regal 18 anos é o single malt Strathisla, que lhe empresta um claro perfume floral e frutado, comparável a jasmim. Strathisla é uma das mais antigas destilarias da Escócia. Localizada na região de Speyside, ela é também o lar espiritual da Chivas Regal, e uma das destilarias mais vistosas de toda região. Seus whiskies são extremamente aromáticos, e possuem sabor frutado, floral e de especiarias. Nas palavras de Colin, “este clássico single malt de Speyside é profundamente frutado, com uma gama de sabores de nozes e flores, e é o coração de todos os blends da Chivas Regal

Chivas, logo abaixo do nome da destilaria, afixado em seus portões.
Chivas, logo abaixo do nome da destilaria, afixado em seus portões.

Além de Strathisla, o blend emprega uma boa quantidade de Longmorn, além de uma discreta quantidade de um single malt de Islay, que não é divulgado.  Segundo a Chivas Regal, há um verdadeiro multiuniverso de sabores identificáveis no Chivas Regal 18 anos. Oitenta e cinco ao todo. E ainda que seja impossível isolar todos eles, pode-se dizer que é um blend equilibradíssimo. Há um pouco de fumaça, combinado com um claro aroma floral, um adocicado frutado e de mel, que se complementa com sabor de especiarias e vinho jerez.

Muitos acham o Chivas 18 anos um whisky insosso. Por ser suave e equilibrado demais, na opinião destes, ele careceria de personalidade. E ainda que a primeira parte da sentença seja verdadeira – ele é, realmente, suave e equilibrado demais – a conclusão é falsa. Ele bem que poderia ser um pouco mais intenso. Mas isso não significa que seja um whisky sem identidade, genérico.  É um blend com personalidade, bastante floral e aromático.

O Chivas Regal 18 anos é um dos mais premiados blended whiskies do mundo. Em 2014, recebeu o prêmio de melhor blended whisky do mundo pela International Wine and Spirits Competition, importantíssimo concurso do setor de bebidas. Um ano depois, foi premiado como melhor blended whisky 18 anos pela International Whicky Competition. Além disso, angariou também premiações pela revista Malt Advocate em 2008, e pela San Francisco World Spirits Challenge. Um currículo como poucos.

Pode ser que, infelizmente, em algum universo paralelo o Chivas Regal 18 anos não exista. Ou pode ser que eu mesmo não tenha nascido, e, portanto, não esteja escrevendo este texto. Mas em todos os outros – dentro da infinita e eterna recorrência de fatos que fundamenta a teoria do multiuniverso – o Chivas Regal 18 anos será, provavelmente, uma das minhas primeiras escolhas ao pensar em blended whiskies. O Chivas Regal 18 anos é meu Eterno Retorno.

CHIVAS REGAL 18 ANOS

Tipo: Blended Whisky com idade definida – 18 anos

Marca: Chivas Regal

Região: N/A

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: aroma claramente floral, com baunilha. Adocicado, com defumação muito, muito discreta.

Sabor: extremamente suave, com frutas em calda, chocolate, baunilha e um pouco de especiarias. É um whisky menos agressivo do que o Chivas Regal Extra, ainda que igualmente complexo.

Com água: A agua torna o whisky menos adocicado. É um blended whisky que funciona melhor sem gelo.

Preço: R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais)

26 thoughts on “Do Eterno Retorno – Chivas Regal 18 anos

  1. Toma-se este Whisky na temperatura ambiente? Eu faço uso de uma pedra de gelo para dar um fresco ao Blend.

    1. Pode tomar como quiser, Eduardo. Na foto estava tomando puro, aliás, junto com um charuto (que não aparece na foto). Se prefere adicionar gelo, sinta-se totalmente à vontade. Apenas lembre-se que o gelo irá tornar suas papilas menos sensíveis, assim, para se fazer uma “degustação analítica” do whisky, seria melhor mesmo em temperatura ambiente, puro, ou com algumas gotinhas de água.

      Mas, mais uma vez, você pode tomar como desejar e como lhe trouxer mais prazer. Whisky é para isso mesmo!

  2. No meu comentário, no post anterior, expressei o meu arrependimento por ter comprado apenas uma garrafa do “Chivas Revolve”. Na verdade comprei apenas uma garrafa, sim deveria ter comprado duas, porque comprei também um “Chivas 18”, que não pode faltar em casa, e o, também imperdível, “Brothers Blend”. Quanto ao “Extra” provei-o uma vez em um bar, mas não tenho ainda opinião formada, uma vez que na ocasião havia outras informações e distrações no ambiente. Cheers w/ chivalry!

    1. Mestre Antonio, pelo jeito o senhor realmente gosta de Chivas!! rs. Acho o Brother’s Blend um EXCELENTE custo-benefício. O Revolve é ótimo também, mas acho que ainda prefiro o 18 anos. Experimente o Extra mais uma vez, ele é bem diferente dos demais da linha, mas ainda guarda aquele DNA de suavidade floral da Chivas.

      1. Eu gosto bastante do Chivas. Gosto também de diversos outros, alguns Single Malts são imperdíveis. Bebo aquele que tá disponível no momento. O Chivas tem isso, ele é facilmente encontrável em qualquer parte do mundo, além do fato de ser bastante agradável de se beber puro ou com gelo num bate-papo com amigos, ou curtindo um blues.

  3. Como vai, Maurício?

    Eu não provei o Chivas Regal 18 anos (ainda), mas eu acho as expressões da marca excelentes e este com certeza não deve ser diferente.
    Se realmente existem vários universos, fico feliz em estar neste em que seu blog existe e ter recebido sua dica para pegar o Chivas Regal Extra hahaha.

    Abraço!

  4. Oi grande Maurício. Não podia deixar de visitar este tópico sobre o Chivas Regal 18. Concordo plenamente com alguns comentários sobre a profundidade deste blended tão suave e gostoso de tomar. Para alguns que o apreciam puro, como é o meu caso, percebe-se o aroma floral logo ao derramar no copo. O sabor remete a caramelo e chocolate ao leite, por mais incrível que pareça o Chivas 18 tem um leve toque de bala de gengibre. Bem, esta foi minha impressão. Sinceramente, acho também que não é o blended apropriado para misturar com gelo, no entanto, paladar é uma coisa muito peculiar. Enquanto ao Chivas Extra ainda não o tomei, mas tenho curiosidade, conheço apenas o irmão mais novo, 12 anos, que também é muito bom. Abraços.

    1. Edmilson, gengibre, talvez. Bem pensado, agora vou ter que abrir minha garrafa fechada para comprovar. Para mim, ele tem aroma de jasmim. Ou dama da noite! Tô doido?

      Chivas Extra é uma curva acentuada em relação aos outros chivas. Ele troca suavidade por intensidade, e é bem puxado para o sabor do vinho jerez. Uma delícia também!

      1. Olá caro Maurício. Doido? Haha, Jamais! Gostei da expressão “Dama da Noite”, nostálgica se assim me permitir o complemento. O Chivas 18 pra mim foi como uma magia, um realce paradisíaco no ímpeto de minhas experiências gustativas. Na realidade o considero como um blended sofisticado! Foi uma das minhas primeiras garrafas de whisky com idade superior a 12 anos, e, veja só, foi uma passagem marcante! Assim como o JW Green Label ele é inesquecível! Você precisa sim, dar mais uma chance ao Chivas 18 amigo, aprecie e me diga se conseguiu atingir aquela dormência sutil, doce e gostosa na língua (eis a bala de gengibre rsrs).
        Enquanto ao Chivas Extra, já tive várias oportunidades de comprá-lo, porém ainda não quis me aventurar. Li em outro post seu sobre ser um whisky bom se apreciado com gelo. Vou experimentar depois, sem culpa rsrs. Por enquanto estou aguardando uma garrafa do Glenfiddich 15 Solera Reserve e outra do Laphroaig Quarter Cask. Felicidades e muito sucesso.

  5. Olá, Maurício. Preciso de uma ajuda. Meu tio vai fazer 65 anos mes que vem, ao mesmo tempo em que vai inaugurar sua nova casa. Então pensei em presentea-lo com um bom whiskey, daqueles em que se compra pra alguém especial em uma ocasião especial, já que eu vejo que ele adora beber um Red Label. Enfim, gostaria de saber, qual o whiskey perfeito voce recomendaria que eu presenteasse pro meu tio? Pensei nesse Chivas, mas tenho medo que seja muito suave ou muito intenso pro gosto dele, pois eu não entendo nada do assunto.

    Abraço.

    1. Oi Bernardo, tudo bem?

      Bom, aí vai depender de quanto você quer gastar. Ele gosta do Red Label? Eu iria para um whisky mais seco então. Talvez um Buchanan’s 12, um Old Parr 12, ou – sendo mais sofisticado – o Ballantine’s 17. O Chivas 18 é mais adocicado, bem menos agressivo, mais floral e bem menos defumado do que o Red Label. Como diriam os americanos “apples and oranges”…rs

  6. Pra quem gosta, está a 250 na americanas.com, caindo para 200 se usar o cupom sorria20 (só funciona para 1 garrafa por cpf).

  7. Sobre o chivas 18 anos, entendes que este é o melhor blended ou indica algum outro? Queria saber seu top 3. rsrsrsrs. Abs

    1. Felipe, considerando blends de distribuição grande, fáceis de achar por aí e com preço, acho o Chivas Regal 18 um dos melhores. Top 3 depende do dia, do clima. Mas te digo que ele sempre está lá entre os mais queridos, facilmente.

      1. Aproveitando o embalo, qual seria a melhor indicação para presentear o sogrão adorador de charutos? Chivas Regal 18 anos ou The Macallan 12 anos?

        1. Fala Filippe! Desculpa o mês de demora. Vacilamos.

          Certamente o Macallan. A oleosidade e intensidade equilibrarão mais o charuto. Chivas 18 é um whisky absolutamente maravilhoso, mas é delicado, e dependendo do charuto, vai ser eclipsado.

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