Degustação com Robin Coupar – Global Brand Ambassador Wild Turkey

  Quinta-feira, 14:30. Três taças de whiskey posicionadas à minha frente. Na sala contígua, bartenders preparam coquetéis com whiskey para convidados – entre eles, uma espécie de smash, criado por Paulo Freitas, embaixador brasileiro de Wild Turkey e Campari. Dado o horário e a assemblage etílica, este não é um dia normal de trabalho. É que Robin Coupar, embaixador global da Wild Turkey, esteve no Brasil para uma série de degustações da marca, e este Cão teve o prazer de participar de uma delas. Durante a apresentação, Robin – que é escocês e apaixonado por tudo relacionado a whisky – contou alguns detalhes sobre a história e produção de Wild Turkey. As degustações fazem parte do concurso Behind The Barrel, que contou com 30 participantes brasileiros. A competição é um convite do bourbon Wild Turkey, marca do Campari Group para que bartenders criem um “Coquetel Verdadeiramente Seu”, utilizando Wild Turkey 101. Uma das características mais interessantes é a pouca diluição. O produto da destilação – o white dog – entra nas barricas quase com a força que sai dos destiladores contínuos. Isso faz com que o sabor trazido pela mashbill do whiskey fique mais evidente, mesmo depois de totalmente maturado. Durante o evento, […]

Commodore – O lado doce da vida

Ah, o excesso. Como diria Oscar Wilde, a moderação é algo fatal. Nada tem tanto sucesso quanto o excesso. E ainda que a frase de Wilde deva ser vista com reticências, e não como uma carta branca para cometer todo tipo de atrocidade, tenho que concordar com ele. O excesso melhora bastante tudo aquilo que já é naturalmente prazeroso. Se você não concorda, deixe-me fartamente exemplificar, com abundâncias corriqueiras. Dormir até as duas da tarde no domingo. Comer meio bolo de fubá numa sentada. Assistir oito episódios seguidos da sua série favorita na companhia de um pote de sorvete ou pipoca. O clássico quarto – ou quinto – pedaço de pizza. Só mais uma cervejinha de saideira e a gente vai embora. O oitavo cafezinho do dia, depois do jantar. Mas é claro que eu quero a batata e a coca-cola grande com o duplo quarteirão, que pergunta mais óbvia. E coloca aí um chorinho na caipirinha, fazendo favor. É engraçado como somos atraídos pelo excesso, mas o renegamos. Entendo que em muitas situações, o exagero pode ser extremamente danoso, e nada mais natural do que buscar o equilíbrio. Mas em outras, às vezes, o excesso é bom. Há uma […]

Wild Turkey 81 – Sobre aves granjeiras

  Não é segredo pra ninguém que eu odeio frango. Não é que eu não como frango, porque eu como quase qualquer coisa. Sério, se você me servir algo bem nojento, como, sei lá, olho de bode ou aquele ovo verde chinês, talvez eu tenha alguns segundos de ponderação. Mas, depois disso, há uma enorme possibilidade que eu vá provar. Aí, talvez, depois, eu vá dizer que aquele negócio é bem ruim ou absolutamente asqueroso, e ele entre no rol de coisas que eu provavelmente vou comer de novo porque sou teimoso, mas não gosto. E o frango está aí. Eu como frango com desgosto. Não é um preconceito – preconceito seria se eu nunca tivesse provado – mas um pós-conceito. Eu já comi frango. Várias vezes. Em. Infinitos. Lugares. E é sempre ruim. Eu odeio tanto frango que uma vez fui pra uma fazenda no interior e visitei um galinheiro. Uma galinha, talvez farejando (galinhas farejam?) o ódio no ar, não pensou duas vezes. Me atacou em um voo tão agressivo quanto ridículo. E aí passei a não gostar de frango vivo, também. Mas a beleza do mundo é a diversidade. Do outro lado do espectro da ojeriza por […]

Jack Daniel’s Honey – Sobre hortaliças

Você talvez não saiba o que é Brassica Oleracea. Mas provavelmente já colocou na boca. Colocou na boca e mastigou. É que Brassica Oleracea é o nome científico da mostarda selvagem, uma pequena planta que cresce em rocha vulcânica, especialmente na costa do mediterrâneo e é muito apreciada por nós. Pode parecer uma descrição meio vaga de alguma erva que é obtida à margem da lei. Mas não é. A mostarda selvagem é na verdade a espécie original de uma boa variedade de vegetais que comemos hoje em dia, como o brócolis, a couve-flor, o repolho e a couve de Bruxelas. Estas variações – ou subespécies, para ser mais preciso – foram obtidas ao longo de centenas de anos, por cruzamento seletivo. Artificialmente selecionando mostardas selvagens de folhas cada vez maiores, ou mais suculentas, por exemplo. O engraçado – na verdade, o mais estranho – é que apesar de parecerem vegetais completamente diferentes, inclusive com gostos muitos distintos, eles dividem uma  (desculpe pela ambiguidade besta) raiz comum. Por outro lado, há vegetais que são bastante semelhantes, mas cuja origem é completamente diferente. Mandioca e batata doce, por exemplo, ou coentro e salsa. E, no mundo dos whiskies, o mesmo acontece com […]

Whiskey Mule

  Quando era criança, não ligava muito para modinhas. Nunca encostei em um tazo e nunca colecionei mini-coca-colas. Mas havia uma coisa que me pegava sempre. Kinder Ovo. Pensando friamente, talvez eu nem gostasse tanto do chocolate. O que mais queria era mesmo a surpresa. Porém, o engraçado é que se eu pudesse encontrar a surpresa sem o tradicional envolvimento de seu delicioso recipiente, eu provavelmente não me interessaria por ela também. O genial do Kinder Ovo é a combinação daqueles elementos. As duas coisas juntas, aliadas à expectativa daquilo que está dentro da capsula o tornam algo irresistível para qualquer criança, tenha ela três ou sessenta anos. Ninguém consegue ficar indiferente e não esboçar, nem que seja a menor curiosidade, ao abrir um Kinder Ovo. Ele é a perfeita fusão entre a obsessão gastronômica e a sede acumuladora. Na coquetelaria, um caso muito parecido é o do Moscow Mule, a versão tradicional do coquetel tema deste post. O Whiskey Mule. O Moscow Mule é a reunião de três elementos que ninguém prestava atenção. Mas que, reunidos, resultaram em um dos coquetéis mais famosos do mundo. Sua história começa na década de 30, com um senhor chamado John Martin, presidente da G.F. Heublein & […]

Drink do Cão – Whiskey Sour

Hoje, a caminho do trabalho, meu carro me disse que precisava de revisão. O módulo do controle eletrônico de amortecimento – ou algo assim – não estava funcionando. Chegando lá, liguei para a oficina enquanto preprava um café na nova máquina. Mas me confundi. A secretária atendeu bem na hora em que eu ajustava a temperatura e escolhia se meu expresso seria longo, normal ou ristretto. Acabei fazendo um chafé escaldante. Marquei a revisão do carro às pressas, e, irritado, fui à cafeteria. Pedi um café e um brigadeiro. A caixa então perguntou qual brigadeiro eu queria. Sei lá, brigadeiro não é tudo igual, retruquei. Não, agora temos uma seleção de mais de dez diferentes, tem, por exemplo, paçoca, chocolate belga, pistache, doce de leite, café. Sabe, não sou um nostálgico da desafetação. Mas naquele dia queria apenas um pouco de simplicidade. Um café espresso, um brigadeiro de brigadeiro e um carro que não sabe falar e que não tira peças com nomes esquisitos da sua metafórica cartola eletrônica. Mas eu sei que esse é um movimento natural das coisas em nossa sociedade. Elas começam simples, mas à medida que o tempo passa, vão se sofisticando. É uma característica que não […]

Jim Beam Bourbon – Sobre unanimidades

Talvez muitos dos leitores aqui não saibam disso. Já contei uma vez há algum tempo – sou advogado. Meu primeiro trabalho foi em um escritório relativamente grande de São Paulo, na área de Mercado de Capitais – talvez a segunda especialidade com a maior fauna de estereótipos, depois da famigerada trabalhista. A equipe era formada por quatro pessoas. Ou melhor, quatro personagens, todos com jeitos e gostos diferentes. O que, de certa forma, era enriquecedor, porque sempre conseguíamos abordar os problemas com diferentes enfoques, discutir e chegar à melhor saída. A equipe funcionava muito bem graças à essa diversidade. Quer dizer, quase sempre. Menos no almoço de equipe. O almoço de equipe era um conflito quase irresoluto. Um era apaixonado por uma hamburgueria tão cara, mas tão cara, que o preço só se justificaria se os hambúrgueres fossem feitos de carne do rebanho de gado do Senhor Todo Poderoso, se o Senhor Todo Poderoso tivesse um rebanho de gado. Outra sempre queria comida japonesa. O sócio, Sr. Roberto, preferia o árabe, por conta das esfirras de ricota. E eu, recém-formado, com minha carteirinha da ordem meramente ornamental, topava qualquer um que não me transformasse em um camponês medieval, preso à […]

Drops – Woodford Reserve Double Oaked

Se você gosta de corridas de cavalos, ou se é fã de Hunter S. Thompson – o jornalista bêbado – há grandes chances de já ter ouvido falar do Kentucky Derby. De toda forma, deixe-me aqui defini-lo com uma auto-paráfrase: O Kentucky Derby é conhecido como a mais famosa corrida de cavalos do mundo. O tempo rendeu-lhe o título de  “os dois minutos mais emocionantes do esporte”. É a primeira das três disputas que compõe a Tríplice Coroa, juntamente com o Preakness Stakes e Belmont Stakes. Realizada em Louisville, Kentucky, o Derby é um festival de roupas extravagantes e indivíduos excêntricos. Chapéus vitorianos dividem espaço com fraques, monóculos e cartolas. O Kentucky Derby é, na verdade, uma espécie de festa a fantasia universitária, onde todo mundo bebe loucamente e faz de tudo um pouco. Só que no Kentucky Derby também há cavalos. Muitos justificam que os belos equinos são, na verdade, os protagonistas do espetáculo. Eu, no entanto, tenho minhas dúvidas. Afinal, o evento possui um coquetel oficial – o Mint Julep. O que sugere que os animais de grande porte estão lá apenas para justificar uma coisa ou outra. Essa impressão fica mais forte ao saber que a corrida possui também um […]

Whiskies para comprar no Duty Free III

Esta é a terceira edição de um texto sazonal com novidades nos Duty Free shops de aeroportos brasileiros que valem a pena. Confiram aqui o primeiro, e neste link o segundo texto sobre este tema. Esses dias estava vendo uns desenhos com a Cãzinha no YouTube. Depois de alguns episódios de Sara e o Pato e Masha e o Urso (afinal, o que há com jovens meninas e animais?) resolvi mostrá-la alguns desenhos da minha época. Percorremos em bons quarenta minutos coisas como Tom e Jerry, Papa Léguas e Caverna do Dragão. Desenhos que eu julgava adorar. Mas aí eu percebi como eles eram irritantes. Porque o Frajola nunca conseguiu pegar aquele passarinho. E o Coiote descobriu mais de uma centena de formas de morrer – explodido, dilacerado, esmagado, dividido, entre outras – tentando transformar o papa-léguas em almoço. Passei anos e anos de raiva esperando que eles tivessem sucesso. Sucesso que nunca veio. Eu devia ser uma criança estúpida, esperançosa ou muito masoquista mesmo. Mas o pior deles era o que eu julgava ser meu preferido. Caverna do Dragão. Tudo que aquele pessoal queria era voltar para casa. Só que por mais próxima e mais palpável que parecesse a oportunidade, algo sempre acontecia. […]

Como Bourbon (e Tennessee Whiskey) é feito – Parte II

Esta é a segunda parte de um texto sobre o processo de fabricação da maior contribuição norte-americana para a humanidade. O Bourbon Whiskey. Não, meus caros, não foi o iPod. Nem o automóvel, tampouco o telefone. Muito menos o termostato ou a metralhadora. No texto anterior paramos justamente no processo de destilação. O white dog acabara de sair dos destiladores. Continuaremos hoje com esta incrível história. É neste momento, logo após a destilação, que nosso cãozinho branco pode tomar dois caminhos. O primeiro é ir para as barricas, onde passará alguns anos até emergir um whiskey. O segundo é passar pelo que se chama Lincoln County Process. O Lincoln County Process é o que diferencia bourbons de Tennessee Whiskeys – além, claro, do fato dos Tennessee whiskeys serem produzidos no Tennessee. Por este processo, o destilado passa por um filtro de carvão de bordo antes de ir para as barricas. O destilado pinga vagarosamente por pequenos tubos em um grande tanque contendo o carvão. Para que consiga atravessar o filtro, o white dog pode levar dias. Também conhecido como charcoal mellowing, muitas pessoas julgam que este processo adiciona sabores ao whisky. Porém, na opinião deste canídeo, o processo é subtrativo. […]