O Cão Viajante – Whiskies para comprar no Duty Free

Sabe, eu adoro viajar. Conhecer lugares novos, cenários e culturas é uma coisa fantástica.  Cada viagem tem seus pontos fortes, seus charmes. Talvez sejam as ruas de uma bela cidade, as ruínas de uma antiga catedral ou mesmo a praia de areia fininha daquela ilha paradisíaca. Ah, e a gastronomia. Para um Cão como eu, que é absolutamente fascinado por tudo que pode ser deglutido, experimentar novos temperos é uma das melhores experiências do mundo. Tudo sobre viajar é ótimo. Exceto, claro, a parte de chegar ao seu destino. Voar é um saco. Só para esclarecer, não é que eu tenha medo de aviões. Eu não tenho. Não tenho qualquer temor que o avião entre em estol e se arrebente no chão, nem que exploda porque havia alguma rachadura microscópica na fuselagem, muito menos que algum terrorista resolva tomar conta da cabine usando aqueles talheres ridículos de plástico. O que me incomoda mesmo é o voo. Do ponto A ao ponto B, há horas de desconforto, câimbra e uma intimidade nem sempre desejada com o passageiro do lado. Isso sem falar no ar-condicionado. Todo tipo de moléstia – e odor corporal – transmissível pelo ar circula livremente. E esse mesmo ar […]

Drink do Cão – Wood Aged Boulevardier

Quando fiz quatorze anos resolvi que tocaria um instrumento. Minha escolha foi tão improvável quanto infeliz. Escolhi o violoncelo. Até hoje os motivos que me fizeram tomar esta decisão desafiam minha lógica. Porque é difícil demais. Tocar violoncelo foi provavelmente a coisa mais difícil que eu me propus a fazer durante minha vida inteira. Violoncelo exige disciplina, tempo e estudo. E o meu eu recém púbere não atendia nenhum destes prerrequisitos. Eu era indisciplinado, preguiçoso e preferia ocupar meu tempo com todo tipo de futilidade efêmera. Além de que minha coordenação sempre foi comparável àquela de um canhoto bêbado escrevendo com a mão direita. Por essa razão, nunca fui um bom violoncelista. Depois de muitos anos, o máximo que consegui foi, orgulhosamente, executar de uma forma porca o primeiro movimento do concerto de Elgar. Mas minha versão da peça do compositor clássico inglês mais se assemelhava a uma briga entre um serrote e um pterodátilo. Um pterodátilo com olhos de laser. Pablo Casals, no entanto, foi um dos maiores mestres do violoncelo de todos os tempos. Suas execuções, mesmo das peças mais difíceis do repertório erudito eram absolutamente irretocáveis. E apesar de já ter atingido a perfeição há muito tempo, […]

Drops – Struise Cuvee Delphine e Four Roses Bourbon

Aí vai mais uma cerveja maturada em barricas de whiskey para a sua quarta-feira. Esta é a Cuvee Delphine, produzida pela cervejaria Struise, da Bélgica. A Cuvée Delphine foi criada pela Struise bieren/Struise beers (Cervejaria Struise) utilizando sua Black Albert Imperial Stout, e maturando-a por doze meses em barricas que antes foram usadas para maturar o bourbon Four Roses. É isso mesmo. Um ano inteiro! O rótulo, onde se lé “Truth Can Set You Free” (“A Verdade Poderá Te Libertar”) é uma obra de arte de Delphine Boël, artista plástica belga e – alegadamente – filha não reconhecida do Rei Albert II. Até hoje Delphine luta na justiça para que seja reconhecida como legítima descendente do rei. Caso vocês não tenham notado a sutileza da piada, a Cuvée Delphine é uma Black ALBERT maturada. Ou seja, uma descende da outra. Esta expressão do bourbon Four Roses que aparece na foto é maturada entre cinco e seis anos em barricas virgens de carvalho americano. A mesma barrica que, mais tarde, é usada para maturar a Cuvée Delphine.

Drink do Cão – New York Sour

Sabe, vou contar um negócio para vocês. Eu queria gostar mais de vinho. E eu sei que gostar de whisky também é bacana, e que whisky é a melhor bebida do mundo. Mas vinho é algo bem mais amplamente consumido. E, além de tudo, ainda faz bem à saúde. Eu quase invejo aquelas pessoas, sentadas nos restaurantes elegantes, girando suas enormes taças bojudas com o líquido rublo dentro. Rodopiam, observam a bebida contra a luz e comentam sobre as lágrimas que escorrem pelas bordas do cálice. Aproximam suas narinas cuidadosamente dos copos e fazem um comentário de um verdadeiro connoisseur. É sempre um comentário digno de um sommelier.  Meu sonho é poder dizer algo como “meu deus, como adoro o blend entre Malbec, Cabernet Franc e Melot” e realmente entender o que estou falando. Como disse acima, vinho também faz bem à saúde. Ele reduz as chances de infarto, doenças coronárias e diabetes. Auxilia na prevenção ao Alzheimer, à demência e uma porção de cânceres diferentes. O resveratrol, substância encontrada nas sementes e películas de uvas e vinho tinto, é um antioxidante poderoso. As propriedades terapêuticas do vinho eram conhecidas desde a antiguidade. Ele era considerado como uma alternativa segura […]

Sobre o Necessário e o Supérfluo – Whiskies para seu bar em casa

Estamos no carnaval. O Carnaval é o feriado mais festivo do ano. A festa está em toda parte. Nos bloquinhos de rua, no sambódromo, no boteco na esquina da sua casa. Todo mundo – literalmente – transpira Carnaval. Há festas para todos os bolsos e gostos musicais. Para mim, entretanto, o grande apelo do Carnaval é o feriado. Quatro dias e meio para fazer o que bem quiser. E o que bem quiser, normalmente, significa trocar o calor e a cerveja quente na rua por um bom  whisky no conforto do lar. Ou isso, ou viajar com a Cã e a querida Cãzinha. Mas aí acabo desembocando em um problema. Eu não sei arrumar uma mala. É uma incapacidade que me acomete desde criança, mas que, por mais esquisito que seja, piorou à medida que fiquei mais velho. Provavelmente porque, quando eu era criança, minha mãe revisava minha mala. Ela tirava os dez gibis que coloquei lá dentro, e os substituía pela minha escova de dente e meia dúzia de cuecas, que eu sempre esquecia. Minhas malas são verdadeiras caixas surpresa. Mas a surpresa é quase sempre desagradável. Como, por exemplo, quando fui para um casamento, no interior, e esqueci de levar […]

Insanidade Coletiva – Maker’s Mark

Loucura é um tema recorrente aqui no Cão. Hoje, vou novamente falar de loucura. Mas de loucura coletiva. Daquelas vezes que todo mundo enlouquece, e você não entende bem a razão. Porque, afinal, na sua cabeça, aquele é um motivo banal, que não deveria tirar ninguém do eixo. Ou não. Para ilustrar meu ponto, vou falar sobre o McRib. Ele já foi vendido no McDonald’s aqui no Brasil, mas, caso você não tenha tido a oportunidade de degustar esta revolução da baixa gastronomia, elucidarei do que se trata. O McRib consistia em um pão tipo baguete, recheado de cebola, picles, e um paralelepípedo feito de uma substância que se assemelhava a carne suína. Segundo a lanchonete, o sanduíche era produzido com as costelas do porco. Para finalizar, algo parecido com molho de churrasco era utilizado para dar liga à iguaria. Acontece que o McRib fora criado na década de oitenta, quando as pessoas achavam normais coisas como um chocolate voltado ao público infantil em forma de cigarro e não tinham a mais rasa ideia do que era colesterol. Mas com a redescoberta do bom senso nos anos noventa, as vendas do McRib foram diminuindo, e culminaram em sua extinção em […]

Drink do Cão – Rat Pack Manhattan

  Esses dias estava conversando com um amigo sobre o Rat Pack. Você sabe o que foi o Rat Pack? O Rat Pack foi um grupo de artistas americanos – cantores e atores – cujo líder era o lendário Humphrey Bogart. O nome Rat Pack foi criado durante a década de cinquenta, provavelmente por Lauren Bacall, esposa de Humphrey, que se referiu a ele e seus amigos como “um grupo de ratos” ao vê-los completamente transtornados e embriagados após uma das incontáveis noitadas em Nova Iorque. O grupo teve diversas formações ao longo do tempo. Alguns de seus membros mais proeminentes foram Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Joey Bishop, Lauren Bacall, David Niven, Peter Lawford e, obviamente, Bogart. Os mais jovens incluíam Marilyn Monroe e Angie Dickinson. O Rat Pack foi, provavelmente, o grupo de amigos mais talentoso que já existiu na história moderna. Seus membros reuniam uma gama variadíssima de interesses e talentos. Mas havia uma habilidade comum a todos eles. O poder quase sobrehumano de entornar absolutamente qualquer coisa que continha álcool. E em quantidades leviatanescas. Naturalmente, tamanha habilidade não poderia passar sem o devido reconhecimento. Já no novo milênio, no ano de dois mil, quando […]

Drink do Cão – Boulevardier

Você já tomou Negroni? Negroni é um drink feito, essencialmente, de gim, vermute tinto e Campari. Hoje, acho uma das coisas líquidas mais deliciosas que existe fora do universo do whisky. Mas minha relação com aquele coquetel nem sempre foi assim. A primeira vez que tomei um Negroni tinha pouco mais de dezoito anos. E queria morrer. Achei uma das piores coisas que já tive o desprazer de beber. Incluindo uma vez que acidentalmente tomei um pouco de gasolina tentando fazer um sifão para abastecer meu carro. Sério. Teria preferido fazer qualquer coisa a terminar aquele coquetel. Se, naquele momento, alguém me desse a escolha entre ser atravessado por um cutelo gigante em brasa ou bochechar aquele Negroni, teria preferido o cutelo escaldante. Fácil. Eu devo ser muito teimoso ou absolutamente estúpido, porque aquela experiência horrível não me dissuadiu de experimentar o drink mais uma meia dúzia de vezes. E o mais estranho é que, à medida que tomava, passava a gostar cada vez mais daquele negócio amargo. Até que passei a adorá-lo.     Mais recentemente, comentei com Fernando Lisboa, barman por trás do Bar Cuttelo e dos Coquetéis Treze, que era uma pena que o Negroni não tivesse […]

O Cãoboy – Woodford Reserve Distiller’s Select

Se você já acompanha o blog há algum tempo, sabe que hambúrguer é um problema para mim. Na verdade, um problema não, pelo contrário. É uma solução. Adoro qualquer tipo de hambúrguer. Gosto especialmente daqueles mal passados, bem altos e suculentos. Mas mesmo um baixinho sola-de-sapato funciona, se devidamente temperado. Aliás, aquela frase “pizza é como sexo, até quando é ruim, é bom”, não devia ser com pizza. Devia ser com hambúrguer. Porque pizza nem sempre é bom. Pizza pode ser de alguma coisa nojenta, como brócolis, berinjela ou sardinha. Enquanto que a única base admissível para um hambúrguer é carne, que é sempre bom. Ou, em alguns raros casos, calabresa e cordeiro. Fora isso, não é hambúrguer. E nem comecem a falar de frango. Hambúrguer, mesmo quando é ruim, é bom. Nesse sentido, ele se aproxima bastante de outro produto originário da terra da liberdade e do frango frito. O whiskey. Não tem como um whiskey ser ruim. Eles são, no mínimo, decentes. Mesmo porque, com algumas exceções, são sempre variações sobre um tema mais ou menos constante. Um tema delicioso. Um tema que envolve baunilha, caramelo e pimenta. E pelo fato de todo whiskey ser no mínimo decente […]

O Coelho Engarrafado – Whisky e Chocolate

  Quando eu era criança, adorava a páscoa. Esperava pela data com semanas de antecedência. Isso provavelmente tinha a ver com o fato de que eu era uma criança absolutamente onívora. Não, na verdade, onívora seria uma bela suavização do que eu realmente era. Eu era uma draga. Um verdadeiro avestruz humano. Na minha cabeça de criança, comida boa era sempre sinônimo de muita comida. E a páscoa, para um verdadeiro triturador de alimentos como eu, era – perdão pelo trocadilho cretino – um prato cheio.   Hoje em dia, para ser absolutamente sincero, não ligo muito para a significância gastronômica da data. As refeições são boas, mas não são melhores do que aquelas de outras datas comemorativas. Além disso, ainda que goste, não sou mais tão fascinado por chocolate. Na verdade, hoje meu chocolate preferido é o amargo ou meio amargo. E o fascínio que o chocolate branco exercia sobre minhas glândulas salivares, atualmente, é quase nulo. Mesmo assim, há uma certeza sobre a Páscoa. Vou ganhar chocolate de alguém. É uma tradição. E convenhamos, isso não é nada ruim, mesmo porque ganhar chocolate é bem melhor do que receber, sei lá, um Vale-CD em pleno ano de 2015. […]