Drink do Cão – New York Sour

NY Sour

Sabe, vou contar um negócio para vocês. Eu queria gostar mais de vinho. E eu sei que gostar de whisky também é bacana, e que whisky é a melhor bebida do mundo. Mas vinho é algo bem mais amplamente consumido. E, além de tudo, ainda faz bem à saúde.

Eu quase invejo aquelas pessoas, sentadas nos restaurantes elegantes, girando suas enormes taças bojudas com o líquido rublo dentro. Rodopiam, observam a bebida contra a luz e comentam sobre as lágrimas que escorrem pelas bordas do cálice. Aproximam suas narinas cuidadosamente dos copos e fazem um comentário de um verdadeiro connoisseur. É sempre um comentário digno de um sommelier.  Meu sonho é poder dizer algo como “meu deus, como adoro o blend entre Malbec, Cabernet Franc e Melot” e realmente entender o que estou falando.

Como disse acima, vinho também faz bem à saúde. Ele reduz as chances de infarto, doenças coronárias e diabetes. Auxilia na prevenção ao Alzheimer, à demência e uma porção de cânceres diferentes. O resveratrol, substância encontrada nas sementes e películas de uvas e vinho tinto, é um antioxidante poderoso. As propriedades terapêuticas do vinho eram conhecidas desde a antiguidade. Ele era considerado como uma alternativa segura a beber agua, além de ter sido usado como remédio contra diarreia e letargia. O vinho é praticamente o elixir da imortalidade.

Só que acontece que, ainda que eu goste de tomar vinho, ele nunca foi minha bebida de preferência. Sempre tive uma clara tendência pela cerveja e pelo whisky. O que é triste, porque ao longo de minha curta existência – graças ao baixo consumo de vinho – jamais poderei falar sobre o terroir da França ou sobre as parreiras em Napa Valley.

Queria ser tipo o Paul Giamatti
Queria ser tipo o Paul Giamatti

Quer dizer, isso é o que eu pensava, até ser apresentado ao New York Sour. O New York Sour é uma fusão entre aquela taça de vinho que você gostaria de ter tomado no jantar e um whisky sour. O New York Sour junta o melhor de dois mundos. Ele é um verdadeiro blend de bom gosto, que torna pacífico o convívio entre as duas bebidas mais elegantes do universo.

De acordo com David Wondrich, historiador especializado em coquetelaria, apesar do sugestivo nome, o New York Sour não foi criado em Nova Iorque, mas sim em Chicago. Um bartender daquela cidade, em meados de 1880, começou a decorar seus whisky sour com um poquinho de vinho tinto. Naquela época, o coquetel era conhecido como Continental Sour ou Southern Whisky Sour.

Mas durante a época da lei seca norte-americana, a invenção tornou-se popular na cidade de Nova Iorque. O vinho e o limão camuflavam a qualidade duvidosa do whisky disponível na época. Assim, o costume rebatizou a invenção de New York Sour.

Assim, caros leitores, abram suas melhores garrafas de Bordeaux e desçam seu precioso conteúdo em suas grandes e côncavas taças. Tomem um gole e preparem-se para conhecer um coquetel que faz o que todo mundo diz para você não fazer. Misturar um destilado com um fermentado. O New York Sour.

NEW YORK SOUR

INGREDIENTES

  • 1/2 dose de vinho tinto (não precisa ser o Bordeaux que você está degustando. Aposte em algo mais humilde. Um vinho mais encorpado como um Syrah será melhor do que algo mais delicado, como Pinot Noir. E não, eu continuo não entendendo muito de vinhos)
  • 2 doses de whiskey (este Cão usou Jack Daniel’s Sinatra Select. Mas o bom e velho Jack Daniel’s Old No. 7 ou um Wild Turkey funcionarão perfeitamente bem).
  • 1 dose de suco de limão
  • ¾ dose de calda de açúcar (leia aqui como preparar esta calda)
  • 1 colher de chá de clara de ovo (opcional – não vou complicar a vida de vocês ou esbarrar em preconceitos)
  • Gelo
  • Coqueteleira
  • Colher de sobremesa
  • Copo baixo

PREPARO

  1. Coloque na coqueteleira a calda de açúcar, o whiskey, a clara de ovo e o suco de limão, junto com algumas pedras de gelo. Bata vigorosamente por uns quatro segundos. Forte mesmo.
  2. No copo baixo, coloque três pedras de gelo pequenas ou uma bem grande, e depois desça o conteúdo da coqueteleira (filtrando o gelo que estava lá dentro, claro).
  3. Finalmente, aproxime cuidadosamente a colher de sobremesa da superfície do coquetel. Vá despejando delicadamente o vinho sobre a parte côncava da colher, para que ele fique na superfície do coquetel e não se misture com o resto.

Pronto. Agora só falta contemplar a fusão universal do que há de melhor no universo etílico. Tudo bem, guardem o resto do Bordeaux para mais tarde.

 

 

5 thoughts on “Drink do Cão – New York Sour

  1. Tendo em vista que a maioria dos drinks à base de whisky contém limão, eu , agora, me sinto mais confortável em tomar Glen Grant com gelo e refrigerante Citrus nos dias de calor infernal deste verão africano. Sem arrependimentos ou dor de consciência por aquilo que antes achava ser uma heresia.

  2. Essa receita dá uma quantidade final muito grande, da umas quatro doses “normais”. O melhor é reduzir proporcionalmente tudo à metade, para não desperdiçar.

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